Museum



N.A.: Eu sei q J.K. disse que não existe faculdade para bruxos, mas eu já tinha escrito a fic antes de saber disso, portanto, vai ficar como está, afinal, é uma fic e esse fato não contradiz em nada os originais - já que isso não foi citado nos livros, mas numa entrevista. XD ----------------------------------------


Outubro chegou trazendo chuvas e ventos furiosos. Anoitecia cedo e a fria umidade estava presente em todos os cantos, principalmente nas masmorras, o que não era exatamente um problema para a Sonserina, em cuja sala comunal as lareiras queimavam e mais tapetes de peles haviam sido distribuídos pelo chão. Finalmente chegara o último dia do mês: a festa de Halloween, que para os alunos significava barulho, ótima comida e ir dormir mais tarde. E assim, as horas daquela noite passaram fugidias, colocando os pequenos, sem que percebessem, à fila de volta às salas comunais. A empolgação era tanta que só perceberiam que a festa acabara quando subitamente a fila parou e se formou um burburinho e uma aglomeração à frente de um dos corredores. Os segundanistas da Sonserina, na típica panelinha, abriram caminho e conseguiram chegar ao cerne da questão. Toda aquela bagunça por nada! Como de praxe, aqueles três grifinórios enxeridos haviam aprontado. O chão encontrava-se alagado em uma grande extensão, a gata do zelador, Madame Nor-r-ra, estava paralisada, pendurada pelo rabo num suporte para tochas e na parede lia-se, escrito numa tinta vermelho-sangue "A câmara dos segredos foi aberta. Inimigos do herdeiro, cuidado!". - Pff... Se ferraram! - dizia Allard balançando a cabeça - Que brincadeira de mau gosto! - Inimigos do herdeiro... Estavam tentando assustar-nos, decerto... - acrescentou Aurea idignada. - Uh! Inimigos do herdeiro, cuidado! Vocês serão os próximos sangues ruins! - gritou Draco, rindo muito. - Você é macabro! - ria desenfreadamente Pansy. Nisso, atraído pela balbúrdia, chegara Filch, que estacara chocado ao ver a gata e balbuciava acusações contra os três ao centro. - Pobre gata... Precisavam matá-la?! Pô, brincadeira tem limite! - dizia alguém atrás do grupinho de sonserinos, que se entreolharam concordando. Logo chegaram os professores junto de Dumbledore, que pegou a gata cuidadosamente e levou-a acompanhado dos réus, do zelador e de alguns dos mestres, enquanto outros tentavam fazer os alunos seguirem para suas salas comunais. - Tomara que sejam expulsos logo de uma vez! Matar a gata foi demais! - comentava indignado Allard. - E você acha que isso vai dar em alguma coisa?! - falava Draco irritado - Vocês lembram que no começo do ano Potter deixou um monte de trouxas verem-no voando num carro, quase arruinou o salgueiro lutador e mesmo assim Dumbledore não fez nada! - É, tinha me esquecido que o Potter é o queridinho... E assim seguiu-se a conversação entre eles. Na sala de Defesa Contra Artes das Trevas, a professora de História da Magia limitava-se a escutar curiosa a conversa - ou melhor: o monólogo - de Gilderoy Lockhart, que irritantemente lamentava-se por não estar presente para demonstrar todas as suas pretensas habilidades. Progressivamente a conversa ganhou novos participantes e tomou rumos mais interessantes. O pobre Filch se confessara um aborto e Dumbledore afirmara que a gata não estava morta, mas petrificada. Era demasiado estranho... Petrificação era realmente algo além das habilidades de um segundanista. Mesmo de Granger, que tinha conhecimentos admiráveis. Magia não era apenas conhecimento - pensou - e aquela em especial, exigia concetração e tamanha força de vontade que, em verdade, nem mesmo alguns bruxos adultos teriam... Snape tomara a palavra. Apesar de um tanto magoada com ele, Lunare não conseguia deixar de admirar seu jeito inquisitorial - o discurso ironicamente habilidoso arrancara do garoto uma mentira pessimamente disfarçada. Não era a verdade, mas era a confirmação de que escondia algo... Era óbvio que, de alguma forma, ele estava envolvido com o ocorrido. De outro modo teria contado o porque de não terem - ele e os amigos - comparecido ao jantar de Halloween, que era uma festa apreciadíssima pelas crianças. Seguiu para a torre intrigada. Não com a relação entre Potter e o caso, mas porque, passando pela "cena do crime", viu novamente a mensagem na parede. Câmara dos segredos... Herdeiro... Que diabos era aquilo? Se limitasse-se apenas a uma brincadeira dos alunos, histórias de terror espalhadas na noite de Halloween, porque tanta preocupação nos olhos dos professores? Aquilo tudo não era só por causa da gata. Ouvira Minerva comentar qualquer coisa com Dumbledore e disfarçar quando deu-se conta de sua presença. E foi então que perpassou-lhe rápida e discretamente pela cabeça a idéia de que aquelas coisas poderiam estar relacionadas com o tal ofidioglota que ouvia... Ela bem tentou convencer-se de que era brincadeira das crianças, mas a idéiazinha mordiscava lá dentro. Entrou no quarto batendo a porta. Sentia-se gelada. Aqueles pensamentos a incomodavam, o sono não queria vir, estava excitada, seus ouvidos se apuravam a cada mínimo ruído... O barulho da tubulação, mais próximo ou mais distante, continuava e ela sentiu uma pontada aguda no estômago à comparação com um monstro em movimento. Andava a esmo pelo quarto, agora. Observava seus objetos sem olhá-los realmente - as algemas penduradas, as várias garrafas dos mais diversos formatos contendo infusões, as pilhas de alfarrábios empoeirados, uma coleção de adagas antigas, uma balança demasiadamente decorada começando a enferrujar, pedras com runas e seus muitos, antigos e adorados fetiches das mais diversas tribos: cabeças encolhidas, pedaços de epidermes tatuadas, bonecos vodu e outros objetos feitos de madeira e decorados com penas, conchas, partes de animais e diversas pedras. Tudo exposto logo abaixo de um pergaminho pobremente emoldurado: A Universidade de l'Aquila certifica que Lacrima Argenta Romano concluiu o curso de especialização em História Antiga e Medieval. Assinaturas supostamente relevantes. À vista de seus objetos mais preciosos - e não só em termos de valor monetário - ela lembrou com certa satisfação dos tempos amargos, mas vitoriosos, em que esteve estudando. Não apenas para os cursos que fazia - História, História da Magia e, posteriormente, História Antiga e Medieval - mas por conta própria. A pós-graduação, mesmo sendo um curso breve e superficial, lhe garantira oportunidades incríveis de entrar em contato com sítios que seriam proibidos à qualquer outra visita. Alguns itens de sua coleção eram dignos de museus, artefatos de valor histórico. Outros haviam sido feitos na época em que os adquirira, mas todos tinham algo em comum: as propriedades mágicas. Eram todos artefatos utilizados para os mais diversos fins nas mais diversas culturas. Normalmente ligados à religião, fato que não impedira os novos conterrâneos dos antigos artífices de cobiçosamente trocá-los por uma quantia pouca de ouro. Tomara o cuidado de criar feitiços anti-furto sobre seus objetos sem interferir em suas propriedades originais - em alguns, isso nem fora necessário. Não pode definir quanto tempo passou observando os próprios pertences e devaneando em lembranças, mas acalmou-se e o sono veio. Tirou preguiçosamente a roupa, soltou os cabelos e encolheu-se na cama sob várias mantas. Apagou as luzes, deixando que apenas os astros celestes a observassem pelas estreitas janelas.

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