A benção de Afrodite




A muito custo, Lílian conseguiu se concentrar um pouco durante as aulas, o que foi bom, já que até os professores estavam ficando preocupada com a garota. Porém, no fim da tarde, na aula de Aritmancia ela não pôde se controlar e de cinco em cinco minutos olhava no relógio, o que irritou a agressiva professora.
- Srta. Evans, se está com pressa, queira se retirar da minha aula, por favor - ordenou a professora se dirigindo até a porta da sala. - A srta. já está me dando nos nervos! Vamos, saia!
- Mas... desculpe professora! - “Droga!”
- Saia - ela apontou a porta - se não sair pegará uma detenção.
- Mas...
- Xô, Evans! Detenção. Espere na porta da sala até o fim da aula para discutirmos a sua detenção. SAIA!

Sem mais discutir - em parte por que estava envergonhada demais para falar agora, em parte por medo de perder a monitoria - ela saiu cabisbaixa da sala e sentou-se no corredor.
- Já que não posso atrapalhar a aula daqui... - ela sussurrou, enquanto tirava o pesado livro de dentro da mochila com um pouco de dificuldade.
Ia começar a ler, mas o sinal tocou em seguida e ela colocou o grande livro dentro da mochila rapidamente, liberando a passagem da porta em segundos. “Que coisa feia, Lílian! Você é monitora sabia? Deveria dar exemplo de perfeição e não pegar detenções por aí!” ralhou consigo mesma ao lembrar que ficara para discutir a detenção.

- Ok, Evans o que tem a dizer sobre o seu comportamento na sala? - a professora perguntou assim que ela entrou na sala já vazia, sem nem ao menos olhar para ela.
- Que estou envergonhada, deveria ser um exemplo...desculpe.
- Não pense que com suas desculpas você irá se livrar da detenção.
- Mas não quero me livrar da detenção. Foi merecida, não foi? - “Pare de ser toda certinha, garota! Saia da sala e deixe essa velha feia aí falando só!” reclamou a parte rebelde dela, que ela preferiu ignorar.
- Muito bem... você pode então - a professora parou um pouco e olhou para ela, como se visse a sua alma - você vai ajudar-me a arrumar as avaliações do pessoal do quinto ano, certo?
- Certo... mas alguma coisa?
- Ah, sim... tem sim. Você estará acompanhada do senhor... - ela abaixou os olhos para o pergaminho, a procura do nome, talvez. “Contanto que não seja do Tiago”, ela pensou - Malfoy.
- Que? Malfoy? Lúcio Malfoy??
- É, agora pode ir. Esteja aqui às nove.

Lílian nunca havia entendido o ditado “cuidado com o que deseja...”, mas agora sabia exatamente o que isso queria dizer. Estava irritada demais para pensar no livro, mas não pôde deixar de culpá-lo por ela estar pegando detenção, e ainda mais com uma pessoa tão... desagradável. Fugindo de qualquer possibilidade de encontrar alguém indesejável - Tiago, Cherr, Tiago, Clarie, Tiago, Remo, Tiago, Pollyana, , Tiago, Sirius, Tiago, Anne ou até Tiago - ela preferiu ir direto para o dormitório, e de lá direto para a detenção. Realmente não encontrou ninguém considerada indesejável numa situação dessas, mas tudo que é bom dura pouco...
- Lily? - “Caramba!! Eu acho que hoje não é meu dia de sorte...” . Era Tiago. - Hoje você não foi jantar, o que foi? Você está se sentindo bem?
- Ah, oi Tiago.. estou, estou bem sim... é que eu não estava com fome.
- Vai para os jardins? Eu tava indo pra lá, se você quiser a gente pode...
-Não, eu não vou para os jardins - o tem saiu um pouco grosseiro e ela logo adoçou-o - eu vou para a sala de Aritmancia...
- Quer companhia? - ele ofereceu
- Não, Tiago, obrigada mesmo... mas não precisa -“imagina o que ele faria se visse o Malfoy lá?” pensou assustada com a possibilidade.
- Tem certeza?
- Tenho... - sem esperar por alguma resposta, ela saiu rapidamente dali. Talvez ele insistisse e ela não conseguiria mais negar a companhia dele.

Caminhando rapidamente, ela olhou no relógio: 20:45. Virou aqui, ali, subiu umas escadarias, virou mais uma vez, e parou na porta da sala da professora de Aritmancia. Esperou mais alguns segundos, respirou fundo, e bateu.
- Entre! - a professora falou de dentro da sala. A prof. Vector estava sentada à mesa, com ‘aquilo que ela chama de aluno´ sentado ao lado dela, concentrado em organizar os rolos de pergaminhos.
- Boa noite. Por onde começo? - “Fale menos, discuta menos e acabe logo com isso...” pensou enquanto sentava ao lado oposto de Malfoy.
- Vocês agora ficarão aí, arrumando tudo nessas gavetas, enquanto eu resolverei outras coisas. Qualquer coisa pergunte ao Sr. Malfoy, que ele saberá te dizer. - então ela levantou e Lílian viu um sorriso maldoso se formar nos lábios do garoto. “Tô perdida!” - Boa noite, garotos. Quando terminarem, podem ir para suas Casas.


- Definitivamente essa é a minha pior noite do ano... - ela comentou para si mesma, com uma voz sombria demais pra ser a dela - Detenção com um Malfoy... tem coisa pior?
- Tem, lógico que tem... Pegar detenção com uma sangue-ruim. Então porque você não cala a boca e deixa essa noite ser um pouco menos ruim... pra nós dois, hein? - ele respondeu azedamente.
- Nossa, a praga tá irritadinha... - desdenhou dando ruidosas risadinhas, enquanto colocava mais alguns pergaminhos numa gaveta.
- CALA A BOCA GAROTA!! - ela olhou assustada para ele. Ele começou a rir e sem poder mais agüentar, ela riu também. “Talvez a noite realmente não seja a pior do ano...” pensou, admirada por estar rindo COM um Malfoy. Pior...com o cara que sempre fez questão de lhe dizer que era sangue puro, enquanto ela era uma sangue ruim. - Do que você está rindo?
- Do seu gritinho histérico... e porque você estava rindo?
- Não é da sua conta! - ele respondeu secamente, e voltou a arrumar os pergaminhos. “Doce ilusão, Lílian... nada mais do que uma doce ilusão...” pensou. - Terminei!
- Doce ilusão, essa sua!! Se você sair e me deixar aqui, eu juro que te mato! Sem contar que eu digo à professora... - Malfoy, que já tinha levantado e ia em direção a porta, virou-se e encarou Lílian.
- Se ousar me dedurar, eu te mato!
- E eu te mato se você sair daqui! - ele olhou para ela com curiosidade e diversão e voltou arrumar os pergaminhos, com um fino sorriso nos lábios.


Lílian olhou para o relógio. Eram quase 10 horas, e ela já estava saindo da detenção, ainda estranhando a ‘obediência’ de Malfoy. Eles não se falaram mais durante a noite, mas ele não fez objeção nenhuma “e isso não é um coisa comum de se ver, não é?” Agora ela estava em frente ao quadro da mulher gorda, e tudo o que ela precisava era ficar sozinha com ‘seu’ livro. Mas, sabe como é... nada é exatamente como a gente quer, né?
Assim que entrou na Sala Comunal, encontrou com Cherr - a única que sabia da sua detenção, uma vez que fazia Aritmancia também - que estava esperando por ela.
-E aí, como foi lá? - perguntou quando elas começaram a subir as escadas.
-Se a gente desconsiderar a companhia do Malfoy - a garota olhou para ela, incrédula - é, esse mesmo... é foi aceitável!
-Nossa, meus pêsames a você... e aí, já leu o livro?
-Não... mas sabe o que é... eu não quero ler - revelou um pouco insegura.
-Porque? - ela perguntou baixinho, quando elas pararam na frente do dormitório.
-Eu não sei... tenho um mal pressentimento - mentiu. A verdade é que ela sabia que era orgulhosa demais para ser até OBRIGADA a gostar de alguém. “Ainda mais quando esse alguém é Tiago Potter”, pensou entrando finalmente no dormitório.

Ela não estava esperando pelo que viu a seguir. TODOS os seus amigos - até mesmo os das outras Casas - estavam no dormitório, esperando por...Ela?
-O que é isso? - perguntou olhando para Cherr.
- Parabéns, Lily!! 17 aninhos, hein?? - gritou Frank Longbottom, abraçado à sua namorada, Alice Murray, que também acenou pra ela.
-Que? Vocês estão malucos é? Meu aniversário é... - ela olhou para o calendário em cima da penteadeira. “4 de outubro! Meu deus... Como foi que já se passou um mês que eu cheguei e eu não reparei?” ela se perguntou “Você estava pensando em um certo Tiago Potter, não?” sua mente lhe indicou, sarcástica. - Gente, eu tinha esquecido!!- ela riu, nervosa.

Todos riram da cara dela, que provavelmente era de pânico total. Ela riu e recebeu os parabéns de todos, e estranhou não Ter lembrado do próprio aniversário. Enquanto todos se serviam de guloseimas - que provavelmente os garotos pegaram na cozinha - ela pegou o livro e saiu para dar uma volta nos jardins. Já era tarde e na verdade, se ela fosse pega do lado de fora do castelo, provavelmente ela seria mandada para uma nova detenção, mas ela sinceramente pouco se importava com isso. Ela sentou na beira do lago, e pousou o livro na grama, e abriu na página indicada pelo amigo. Ia começar a ler mas novamente sua atenção foi desviado, mas dessa vez por um grande cervo, que estava do outro lado do lago, olhando para ela. “Lilían, você definitivamente está ficando louca!”
O animal então começou a contornar o lago a galopes macios, e a se aproximar dela. Por alguma razão, ela não teve medo do bicho, mesmo sabendo que era muito estranho ver um cervo por aí, caminhando... ainda mais em Hogwarts. O cervo agora estava deitado ao lado dela, e ela acariciou dorso dele com muita confiança, o que ela mesma estranhou. Então o impetuoso animal se transformou em...
-TIA... - ela gritou, mas a sua boca foi tapada rapidamente pela mão dele. Recuperada do susto, ela arrancou a mão dele da sua boca e sussurrou - Tiago? Desde quando você é um animago?
-Oi prá você também, Lilían - ele brincou. Mas vendo a cara que esta lhe fazia, ficou sério novamente. - Desde os 15 anos.
-Mas eu nunca soube...
-Eu sou um animago clandestino. E eu confio que você não vai contar a ninguém, né?
-Não, lógico que não...mas...
-O que você está lendo, hein? - ele pegou o livro aberto na página. O coração dela gelou. - A benção de Afrodite?
-Você quer ler em voz alta prá mim? É que também envolve você... - “Só Deus sabe o que eu tive de enfrentar para dizer essas simples palavras...”
- Tá bom... pois bem - ele sentou -se mais próximo dela, e começou:

“ O amor e o ódio
Tal como o bem e o mal
Andam juntos, mãos dadas
Num universo astral

Assim como diz o verso acima, as bênçãos e maldições também andam juntos em um universo diferente do mágico e não mágico. Porem mais do que isso, algumas bênçãos trazem consigo a sua própria maldição.
Há algumas maldições que podem ser anuladas por uma bênção. Poucas as bênçãos que podem ser quebradas por uma maldição. Raras então, as bênçãos que falaremos nesse capítulo.
As bênçãos que trazem consigo a sua própria maldição, são conhecidas como bênçãos obrigatórias, porque são aceitas, mesmo a contragosto - casos raros - devido ao fato delas jogarem uma maldição muito poderosa e impossível de ser quebrada, quando não são aceitas.
Em suma apenas uma bênção obrigatória foi provada até hoje.

A benção de Afrodite

Muitos sabem que Afrodite e Eros eram amantes, e que depois de serem ‘pegos’, cada um foi, envergonhado, para o seu lado. Sabem também que ela teve uma filha, chamada Hermione. O que poucos sabem é que antes de Hermione, Afrodite teve outra filha, fruto de seu amor com Xanthus, um guerreiro mortal, que era muito forte e orgulhoso. Seu nome era Duvessa. Com medo da reação dos Deuses do Olimpo, ela entregou a menina ao pai, para viver com os mortais. Ela seria observada de longe, sem saber que Afrodite era sua mãe. Duvessa cresceu, e herdou a beleza da mãe e o orgulho do pai, e alimentava um sentimento recíproco por Órion, um valente caçador que vivia na mesmo cidade que ela. Irritada com a filha ( ‘Como pode a filha da Vênus ter ódio por um rapaz tão bom e bonito como Órion?’ Pensava a Deusa, observando Duvessa), ela fez com que os dois se apaixonassem.
Órion, então, se declarava para Duvessa todos os dias, o que a irritava ainda mais e aumentava o seu ódio pelo rapaz. Apaixonada ela estava, sim, mas o seu orgulho era muito grande para que ela assumisse o seu amor por alguém. Então, lembrando desse detalhe, Afrodite pediu que Oneiros, o Deus dos Sonhos, pertubasse os sonhos da filha, pois com isso esperava que Duvessa entendesse que felicidade estava a seu alcance.
- Assim como fiz com que se apaixonasses por Órion, posso fazer também com que jamais tenhas amor por qualquer outro homem que não seja ele. A ele, que não é tão orgulhoso com tu, farei com que se apaixone e seja feliz com a mais feias das moças, enquanto tu, a mais bela, ficarás sofrendo eternamente por ele. Agora vais até ele, e diz que lhe ama, e eternizarei o seu amor, ou ficas aí, enquanto vê o seu orgulho e coração serem feridos.
Duvessa acordou assustada, e sem ao menos pestanejar, correu de encontro a Órion, que incitado por Vênus, estava indo em direção á casa da moça. Eles se amaram eternamente e sem saber, eternizaram também a bênção de Afrodite.

Mas como saber se está sob a Benção de Afrodite? A Deusa do Amor, era também a Deusa das flores, e ao saber que a sua benção estava sendo imortalizada, se condoeu dos que nada sabiam a respeito do ocorrido, e manda como aviso dessa benção, as flores. Não se sabe ao certo qual a função delas na história, mas Vênus disse:
- Aos mortais deixo o aviso: as flores. As flores indicarão o amor eterno.”


Ao fim da narrativa, Lilían não sabia o que falar. Abriu a boca, mas dela não saia som algum. Tiago, porém pareceu mais calmo.
- Lily, é isso que... que tá acontecendo com a gente? - a boca dela secou, e ela simplesmente assentiu com a cabeça. - Então... - sabia o que ele ia dizer, mas achou que deveria ser ela a falar, afinal, eram os sentimentos dela. “Não adianta mais esconder, não é?”
- Tiago, eu estou mesmo gostando de você. Mas até do que acho que deveria - terminou num sorriso.

Ele sorriu também, e ela quase desmanchou. Então ela sentiu a proximidade deles diminuírem, diminuírem, até que apenas um centímetro os separava. Um centímetro, meio... os lábios se tocaram e finalmente eles se beijaram. Um beijo calmo, a mais pura expressão de carinho. Carinho não, amor, porque talvez já fosse esse o sentimento entre os dois. Amor. Eles se afastaram e ela abriu os olhos, extasiada. Tiago olhava para ela, com um sorriso divertido no rosto.

- E aí, agora você vai sair comigo né?

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