A Viagem



Era noite. Não se via ninguém na rua dos Alfeneiros. Harry olhou o relógio ao lado da cama. Pensou que deveria dormir. Não era nada saudável ficar sem dormir por tantos dias. Mas nada adiantava. Não conseguia! Ficava revirando na cama de um lado pro outro. Sua mente não queria descanso. Pensava na profecia, e no que teria de fazer. Seria ele capaz de derrotar Voldemort? Pensava que não. Tinha tanto a aprender ainda. “Salvar o mundo”.
No profeta diário o descreviam como O Escolhido. Às vezes desejava voltar no tempo, na época em que não sabia sobre os bruxos, e era só um garoto estranho que morava com os tios. Mas esse pensamento logo saia de sua mente. Adorava ser um bruxo. Sua vida só passou a fazer sentido quando descobriu isso.

Pelo quarto se via livros espalhados pelo chão, restos de frutas, pares de meias sujas e jornais. Era estranho como tudo estava tão calmo. A última vez que leu sobre ataques de Comensais havia sido há quase um mês. O que estaria acontecendo? Para Harry essa pausa significava que Voldemort estava planejando algo, e isso o assustava. Tinha medo de perder as pessoas que amava, como aconteceu com seu padrinho dois anos antes.

Já fazia um mês desde que voltara de Hogwarts. Dedicou todo o seu tempo estudando magias defensivas e ofensivas também. Não podia praticá-las, por ser ainda menor de idade e não poder usar magia fora da escola, mas lia tudo com muita atenção e estava ficando bom em fazer magia sem usar a varinha. Conseguia convocar objetos, abrir portas trancadas e agora tentava desamarrar cordas, estando quase bom nisso também.

Resolveu pegar um livro e estudar um pouco, já que não conseguia dormir. Optou por ler sobre legilimência. Achou que se aprendesse a ler o pensamento dos outros o ajudaria a se defender. Sentou-se na cama e abriu o livro aonde tinha parado anteriormente. Depois do que pareceu a ele uma hora de leitura, as letras foram ficando embaçadas, as pálpebras pesadas e ele adormeceu.

Acordou assustado. Sonhara com homens encapuzados formando um círculo, um deles mais ao centro. No chão tinha uma mandala desenhada, e uma garota estava deitada sobre ela. Quando tentou se aproximar e ver quem eram essas pessoas acordou.

Olhou o calendário na parede. Era seu aniversário. Enfim se tornara maior de idade! Não via a hora de sair daquela casa, onde as pessoas sequer falavam com ele. Trocou-se e desceu para tomar café. Sentados a mesa estavam seu tio Valter e seu primo Duda. Sua tia estava terminando de servir a mesa. Sentou-se no lugar de sempre e comeu silenciosamente. Preferia assim. Já estava se levantando para voltar a seu quarto quando o telefone tocou. Sua tia foi atender de onde ele estava conseguia ouvir a voz da pessoa que ligara. Foi ver o que estava acontecendo. Se dirigiu até a sala, onde os outros também estavam, curiosos.

- O senhor pode parar de gritar! Eu não sou surda. – disse Petúnia.

Harry ouviu a resposta do homem.

- Me desculpe. A senhora pode chamar o Harry para mim? – disse o homem ainda gritando.

- Não tem ninguém aqui com esse nome... – dizia a tia de Harry, mas nesse momento ele foi mais rápido e tomou o telefone da mão da tia.

- Aqui é o Harry. Quem está falando? – disse ele ao telefone.

- Harry! Aqui é o Sr. Weasley. Você está me ouvindo bem? – disse ele ainda gritando.

- Muito bem, pode falar um pouco mais baixo.

- Ah sim. A propósito, feliz aniversário meu jovem.

- Muito obrigado. Desculpe-me a curiosidade, mas por que o Sr está me ligando?

- Já ia me esquecendo. Dumbledore me pediu para lhe dizer que ele irá te buscar amanhã de manhã.

- Hum, mas por que não me mandou uma coruja?

- É perigoso, se ela caísse em mãos estranhas... Então sua amiga Hermione me ensinou a usar esse aparelho trouxa, como se chama mesmo? Tele...

- Telefone.

- Incrível essas coisas que os trouxas inventam não? Bom, era só isso mesmo. Nos vemos amanhã.

- Até amanhã então.

Assim que Harry desligou o telefone as vozes dos seus tios encheram seus ouvidos. Nem um pouco interessado em dar atenção a elas, disse simplesmente que quem tinha ligado era o pai de um amigo dele e que viriam buscá-lo na manhã seguinte. Tão logo disse isso subiu as escadas de volta ao seu quarto.

Passou o resto do dia praticando as magias que tinha aprendido, já que agora podia usar a varinha. Depois de muito treino ficou realmente bom em conjurar um círculo de fogo em volta do adversário (que no caso usou uma caixa vazia de abacaxis cristalizados), que se aproximava e se tornava mais forte se o oponente se movesse (para isso ele tentava convocar a caixa). Assim que anoiteceu começou a arrumar seu malão, pois partiria pela manhã. Dessa vez teria que pegar tudo o que o pertencia. Era o último dia dele naquele quarto. Tinha se decidido que assim que terminasse o sétimo ano, alugaria um quarto no caldeirão furado, enquanto se preparava até o duelo final entre ele e Voldemort. Somente após isso é que pensaria em ter uma casa e quem sabe uma família.

O relógio já marcava onze horas quando terminou sua arrumação. Não que tivesse muitos pertences, mas a bagunça do ambiente o atrasou. Deitou-se na cama e, pela primeira vez em muitos dias, dormiu rapidamente.

O sol iluminava o quarto quando ele acordou. Se trocou e desceu para tomar café pela última vez na presença dos Dusley. Estavam todos silenciosos como sempre. Terminou e decidiu esperar por Dumbledore em seu quarto.

A campainha soou no andar de baixo e Harry se apressou em descer as escadas. Encontrou Dumbledore parado diante da porta com seu sorriso suave. Vestia um terno trouxa cinza, e essa era sem dúvida uma coisa rara de se ver, pois sempre que bruxos tentavam se vestir como trouxas exageravam na roupa.

- Bom dia. Você deve ser o Sr. Dusley, certo? Eu sou Dumbledore, e vim buscar Harry. – disse ele afavelmente.

- Certo. – foi só o que Valter Dusley conseguiu dizer.

- Aconselho o senhor a me convidar a entrar. – disse Dumbledore, ainda sorrindo.

O Sr Dusley se afastou, dando passagem ao velho bruxo e indicando com a cabeça o sofá da sala, para que se sentasse. Logo após tia Petúnia apareceu e se sentou no outro sofá ao lado do marido.

- Bom, vou ser breve, pois ainda temos uma longa viagem pela frente. Harry, a partir de ontem, se tornou maior de idade. O feitiço que sua mãe fez se acabou, portanto o motivo pelo qual Harry mora com vocês também. Há dezessete anos atrás o deixei aqui na intenção de que fosse bem cuidado e protegido. Mas é fato que somente a segunda opção ocorreu, mesmo assim por que para ela se manter vocês só tinham que recebê-lo aqui nas férias. Mas não vim aqui para repreendê-los. A conseqüência dessa atitude não sou eu quem vai lhes mostrar, mas sim o destino. – disse Dumbledore sério. – Harry, meu jovem, onde estão suas coisas?

- A sim. – com um simples movimento de mãos do garoto, o malão de Harry desceu as escadas, fazendo Dumbledore sorrir e os Dusley reclamarem.

- Vejo que andou treinando, muito bem. – disse o diretor, fazendo Harry ficar encabulado. – Tudo pronto? Então vamos. Adeus.

O velho professor se levantou e foi em direção a porta. Harry olhou para os tios, que continuavam sentados.

- Adeus.

Dizendo isso deu as costas aos Dusley e segui Dumbledore porta a fora. O sol brilhava no céu azul. Dumbledore apontou para o malão, murmurando algumas palavras, fazendo-o sumir.

- Será mais tranqüilo sem bagagens.

- Nós vamos como, professor?

Dumbledore sorriu.

- Ônibus.

- Noitebûs?

- Não. O dos trouxas mesmo. É mais seguro, já que você ainda não tem permissão para aparatar. Vai ser uma longa viagem. Pronto?
- Claro. Disse ele quando chegaram ao ponto de ônibus, que ficava na esquina da rua dos Alfeneiros com a rua Magnólia. Em poucos minutos o ônibus chegou e os dois seguiram viagem.

A viagem foi tranqüila. Dumbledore havia levado vários doces para eles comerem. Conversaram sobre coisas leves, como quadribol e os estudos. Dumbledore contou algumas histórias de sua infância e de seu período escolar, e Harry viu que ele não havia sido um aluno tão exemplar assim como pensava. Divertiram-se muito. Chegando em Londres tiveram que pegar outro ônibus para o vilarejo mais próximo da Toca. A conversa entre eles mudou de rumo, passando agora para coisas mais sérias.

- Creio que você tenha acompanhado as notícias do Profeta Diário. – disse o professor.

- Sim.

- E o que você acha?

- É muito estranho que Voldemort e seus comensais não estejam mais atacando ninguém. Acho que ele está planejando algo grande.

- Concordo com você. Por isso tenha muito cuidado. A Toca recebeu proteção extra, mas mesmo assim pode ser que algo aconteça.

- Certo. Prometo que não vou me meter em confusões. – disse ele, e Dumbledore sorriu.

- Creio que isso fuja de sua natureza. Mas venha, esse é o nosso ponto.

Desceram numa rua pouco movimentada, onde só havia algumas casas simples. Seguiram até o fim dessa e entraram numa trilha, que subia uma colina. Andaram alguns minutos por ela até avistarem os conhecidos jardins da Toca. Já passava das duas horas, e a fome tomava conta de Harry. Bateram na porta da cozinha, e rapidamente uma senhora de cabelos ruivos veio atendê-los.

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