Yesterday




Yesterday




Sinopse:
Ontem ela era feliz. Ontem ela o tinha. Ontem, ela podia contar com o sorriso dele. Ontem, ela podia amá-lo. Hoje, ela só consegue sentir sua falta.

Música:
Yesterday, Leann Rimes.


Capítulo Único


Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they’re here to stay
Oh I believe
In yesterday
Suddenly
I’m not half the girl I used to be


Suspirando, ergueu as íris do livro que lia, sentada á beira do lago de Hogwarts, somente para ver o sol se pondo lentamente no horizonte, fazendo as águas cristalinas do lago absorverem as cores do fim de tarde.
O silêncio pairava no grande jardim do castelo, onde era somente habitado pela mulher de vinte e cinco anos, seu livro e os pássaros.
O barulho das vozes de alunos que vinham da estação ficava cada vez mais baixo, mostrando que, agora, faltava pouco para os estudantes irem para suas casas, aproveitarem as primeiras férias de verão, após a escola ter sido reaberta, ao final da guerra.
A guerra... Acabara há exato dois anos. Dois anos que ela não podia mais contar com o sorriso torto dele, mas ainda assim lindo; dois anos que ela já não podia mais ouvir a voz rouca do homem que amava desde que era apenas uma criança; dois anos sem poder sentir-se irritantemente frustrada com as faltas de atenção dele, as quais ela repreendia ferozmente, mesmo que internamente estivesse rindo feito uma boba, achando graça na mais idiota das piadas que ele contava.
Merlim, o amava desde que o vira sentado ao lado do garoto mais famoso do mundo bruxo há catorze anos; o amava desde que o vira comendo feito um condenado á morte na última refeição, no primeiro banquete que tiveram na longa mesa de Grifinória há anos. Amava-o desde que o vira andando pelos corredores, com seu jeito descolado, enquanto conversava com vários amigos do primeiro ano, enquanto ela era apenas a CDF da turma; ela era apenas a senhorita que nos ajuda na prova.
Amava-o cada vez mais, depois que ele e seu amigo famoso a salvaram de um trasgo, ainda no seu primeiro ano. Amava-o a cada crise de ciúmes mal contidos; amava-o a cada aventura que passavam juntos; Amava-o a cada sofrimento que ele fazia-a sentir, mesmo que o que mais desejasse fosse odiá-lo.
Merlim sabia o quanto ela sempre desejara poder provar o sabor dos lábios dele; o quanto ela queria poder sentir os braços fortes ao arredor da sua cintura num abraço, que não fosse de amigos. Como ela queria poder finalmente dizer á ele tudo o que sentia em seu peito desde que o vira pela primeira vez na sua frente.
Queria poder voltar no tempo e refazer todas as burradas que já cometera com ele, mesmo que fosse somente para tentar fazê-lo uma pessoa melhor, enquanto não admitia para si mesma o que sentia. Achava que queria que ele mudasse, mas apenas queria uma maneira de se enganar por mais tempo, dando a si mesma um motivo para negar que o amava.
Afinal, como que ela, a certinha e CDF Hermione Granger, poderia amar o desastrado e arrumador de confusões, Ronald Weasley? Não, isso estava fora de cogitação, definitivamente.
Pelo menos, fora isso que pensara até seu sexto ano, quando ele começou a sair com Lilá Brown; a idiota que o estava roubando de si. A idiota que tentava mudá-lo apenas para ter um idiota a seus pés que fizesse todas as suas vontades. A idiota que a estava fazendo perder a atenção do, então, melhor amigo.
Jurara a si mesma que não suportaria mais essas decepções que o imbecil do Rony lhe fazia passar, não notando o amor que sentia. Jurara a si mesma que iria tirá-lo de seu coração e, para isso, tentara convencer-se de coisas que se provaram inúteis. Tentara convencer-se de que o que sentia por Rony era um amor fraternal, tentara convencer-se que aquele amor que tinha dentro de seu peito, lhe matando a cada dia mais, era por Harry, que saia com Gina e estava muito feliz. Mas isso não durara mais do que algumas poucas horas, quando vira o ruivo idiota, aos beijos com Lilá. Tentara se enganar durante as poucas semanas que ficara na casa dos pais no verão, antes de ir com os amigos na caça aos Horcrux, imaginando que amava loucamente seu correspondente; Vitor Krum.
Mas isso também havia sido inútil. Tão inútil que no momento em que vira Rony novamente no verão, mais lindo do que nunca, todo sério, tentando acalmar Harry, que estava uma pilha de nervos por Gina querer ir com eles. E, naquele momento, em que o vira conversando aos sussurros com o melhor amigo, acalmando-o, enquanto Molly Weasley gritava aos quatro ventos que Gina era doida e que nem que sua vida dependesse disso, não deixaria sua caçula ir, Hermione soube que o amava loucamente e que, por mais que quisesse, não seria capaz de esquecê-lo nunca.
Riu de si mesma; era patética e sabia disso na época, apenas não queria admitir.
Se houvesse se tocado que eram dias difíceis que estavam vivendo e que isso iria somente se agravar no momento em que deixassem a Toca, teria se jogado nos braços do ruivo muito antes; teria se declarado aos quatro ventos o que sentia. Teria criado coragem para roubar um beijo dele, mesmo que ele a odiasse por isso.

There’s a shadow hangin’ over me
Oh, yesterday came suddenly
Why he had to go
I don’t know
He wouldn’t say
I said something wrong
Now I long
For yesterday.


Mas fora boba e ingênua o bastante para achar que tudo iria acabar bem e que, como sempre, eles sairiam daquela aventura com alguns poucos ferimentos, mas esquecera-se que as aventuras haviam se transformado em algo maior; haviam se transformado em uma guerra, onde muitos morriam para poder dar uma vida melhor aos que ficassem e aos que viriam.
Esquecera-se de que ela mesma poderia morrer. Esquecera-se que antes de voltar para casa, ainda teria que enfrentar o maior bruxo de todos os tempos, ao lado de Harry, ajudando-o, mesmo que isso significasse usar suas últimas forças para usar oclumência com Harry, lhe dizendo que feitiços usar, que táticas de defesa executar, enquanto sangrava profundamente, ao lado de um Rony desacordado, com um ferimento estranho e profundo na altura do peito.
Esquecera-se que antes de voltar a paz que sempre sentira dentro de si até aquele momento, teria que superar muitas perdas, muitos medos, muitas dificuldades e, principalmente, a morte do homem que mais amava no mundo.
Nunca sentira uma dor tão grande quanto a que sentira quando, várias semanas após a guerra, recebera a fática noticia que após tanto tempo de luta pela vida, esta havia abandonado o corpo de vinte e três anos de Ronald Weasley.
Ele tinha ido embora sem se despedir, sem saber o que ela sentia por si. Sem dizer a ela se sentia o mesmo ou não. Ele havia ido embora, antes mesmo que ela tivesse uma oportunidade de descobrir qual era o gosto de seus lábios sempre risonhos.
Ele se fora e deixara para trás a melhor amiga, sofrendo tudo o que não sofrera antes, ao saber as oportunidades que perdera; ao saber que jamais veria aquele antigo brilho de vida nos olhos azuis dele; ao saber que nunca mais poderia desejar-lhe boa sorte antes de um jogo de Quadribol. Ao saber que nunca mais poderia dizer a ele tudo o que sentia; nunca mais poderia descobrir se ele a amava como mulher e não somente como amiga.
Precisara de tantas coisas vinda dele, porém perdera tudo o que lhe motivava a viver na guerra, por achar que seria melhor somente construir sua vida quando os tempos negros acabassem. Quando Voldemort finalmente fosse derrotado. Quando finalmente poderia sentar-se em uma mesa do Três Vassouras, pedir uma cerveja amanteigada para si e ficar estudando, até que o horário que marcara com os amigos chegasse e estes aparecessem, impedindo-a de continuar a afundar-se em livros e, vivesse aquele dia, como ele não seria vivido se ela se mantivesse atrás de um livro grosso, amarelado e empoeirado.
Devia muito aos amigos, porém sua dívida era maior ainda com Rony, pois este lhe ensinara a amar, como ela jamais crera ser possível. O ruivo lhe ensinara a sorrir das coisas mais patéticas que poderia haver no mundo, assim como também lhe ensinou que, apesar dos estudos serem importantes, não deviam ser uma prioridade.
Ele lhe mostrara que os primeiros dez anos de sua vida haviam sido desperdiçados com leitura, estudo, respeito fiel ás regras. Ele lhe mostrara que ela poderia exercer tudo isso, mas que poderia aproveitar a vida intensamente, se isso fosse equilibrado com suas outras vontades.
Ele lhe ensinara tantas coisas, mas não tivera tempo de lhe mostrar como se vivia um amor tão intenso quanto aquele que sentia.
Suspirou e fechou o livro, apertando-o contra si, como se este fosse sua tábua de salvação.

Why he had to go
I don’t know
He wouldn’t say
I said… I must’ve said something wrong
Now I long
For yesterday


Desde que recebera a notícia da morte de Rony, não tivera um motivo realmente bom que a fizesse sentir-se verdadeiramente feliz. Sentia-se feliz no momento, porém cinco minutos depois, já se sentia deprimida novamente e, isso, vinha acontecendo há dois anos.
E, apesar de saber que podia contar com seus amigos, não era a mesma coisa, uma vez que Harry também lhe abandonara. Não que o moreno houvesse morrido, assim como Rony, porém na última batalha, algo acontecera, algo que fizera com que sua varinha e a de Voldemort executassem os feitiços imperdoáveis, matando, assim, Voldemort, mas sugando de Harry sua consciência e já fazia dois aos que o Menino Que Sobreviveu, estava deitado em uma maca escondida na Enfermaria de Hogwarts, em coma, enquanto todos esperavam pacientemente que o efeito do que quer que fosse que havia acontecido passasse, para então poder lhe abraçar e comemorar tudo o que vinha acontecendo desde a queda definitiva das trevas.
-Ah, Harry... – suspirou, pensando em como o amigo sofria. Desde que nascera ele não havia tido um único momento de paz. Primeiro; Voldemort lhe tirava os pais, depois ele tivera que passar dez anos com os tios Trouxas. Em seguida, tivera que enfrentar um novo desafio a cada novo ano na escola, ver pessoas queridas morrerem, até que abandonara o último ano de escola e fora atrás das peças que o ajudariam a matar Voldemort.
Tivera tantas batalhas, tantas desavenças com as pessoas a sua volta, que chegara a realmente tornar-se frio por um momento.
E, então, no dia da última batalha, ele ficara para trás para terminar de duelar com Belatriz Lestrange, a assassina de seu padrinho e, quando Harry chegara no local onde Voldemort estava, tivera que ver seus melhores amigos serem arremessados para trás com um feitiço incrivelmente poderoso e mortal.
E, quando finalmente a guerra acabara, ele entrara em coma e, até o momento, não pudera desfrutar da doce paz que reinava no mundo bruxo. Não pudera participar do último adeus á vários amigos; Rony, Hagrid, Lupin, Neville, Luna, Dino...
Tantas vidas haviam se perdido, apenas para dar um futuro melhor para a próxima geração. Tantas pessoas haviam entregado suas vidas á esta causa, que Hermione, às vezes, sentia-se mal por ter sobrevivido tão facilmente.
Mas, no fim... Ela não passava de uma nascida trouxa, que se tornara amiga de Harry Potter, porquê se não fosse por essa amizade, tinha certeza que não teria tido uma participação tão grande nessa guerra. Provavelmente, pegaria os pais e os levaria para outro continente, onde morariam até que essa guerra acabasse.
Realmente, devia muito a Rony e a Harry, que lhe ensinaram a ter coragem, a não fugir dos obstáculos e das dificuldades. Ensinaram-lhe os valores de uma amizade, o esforço que tinha que fazer pelas pessoas que lhe apoiavam em todos os momentos, e que ela amava, de formas diferentes, mas que amava.
Suspirou e, colocando o livro ao lado, abraçou os próprios joelhos, enquanto continuava a olhar para o horizonte.
Merlim, como sentia falta de Rony... E de Harry também, mesmo que fosse até a enfermaria todas as noites, ver como ele estava, mas isso não era a mesma coisa, pensou amargurada; mesmo que visse o físico do amigo, isso não queria dizer que ela pudesse matar a saudade do sorriso maroto que o moreno permitia ficar quase vinte e quatro horas em seus lábios; isso não matava a saudade que sentia da voz do melhor amigo; isso não matava a saudade que tinha do antigo brilho das íris verdes, brilhando intensamente, principalmente quando Gina aparecia em cena.
Gina também era outra que vinha sofrendo desde que a guerra terminara. Merlim sabia o quanto Hermione queria ajudá-la, mas isso não parecia se fazer possível e as esperanças que tinha dentro de si começavam a morrer, uma vez que já lera quase todos os livros de medicina – trouxa ou bruxa – sobre comas longos e nenhum dava esperanças para que a vitima voltasse a si após algumas poucas semanas.
Mas Hermione sabia que toda regra tinha sua exceção e Harry sempre fora à exceção ás regras de como ser um herói. Por quê ele não podia ser a exceção no funcionamento do organismo?

Yesterday
Life was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh I believe
In yesterday

Droga! Precisava do amigo, precisava de Rony... Mas sabia que somente o primeiro tinha a mínima probabilidade de voltar para sua vida; somente o primeiro ainda podia respirar.
O barulho de passos a trouxe de volta ao momento presente, a tempo de ver o vulto ruivo de Gina, sentar-se ao seu lado, usando as longas vestes de professora.
Ficaram um tempo em silêncio, somente observando o final do pôr do sol e as primeiras estrelas surgirem no céu, agora, azul marinho.
-Faz dois anos hoje, não é? – Gina perguntou, num murmúrio, ainda olhando fixamente para um ponto qualquer no horizonte.
-Sim. – Hermione respondeu; não eram necessárias explicações sobre o quê a ruiva estava falando. Era óbvio que estava falando do aniversário de morte de Rony.
Gina suspirou e finalmente olhou para a amiga; as íris amêndoas brilhando em saudades.
-Você já devia ter superado. – ela murmurou, olhando para a morena, como se esta não estivesse ali antes e houvesse aparecido ali, do nada.
-Eu sei. – suspirou, enquanto olhava para a ruiva ao seu lado, sentindo um nó formar-se em sua garganta. – Mas é tão difícil, Gi. É tão difícil saber que eu não vou mais ter o sorriso dele todos os dias. É tão difícil saber que eu sequer posso vê-lo novamente, na minha frente, falando aquele monte de besteiras, como somente ele sabia.
Gina suspirou profundamente.
-Eu sei, Mione. – torceu os lábios levemente, tentando conter o leve sorriso triste que queria espaçar. – Eu também sinto falta dele. Muita. Mas não posso fazer nada para mudar isso, apenas superar a minha dor e continuar a minha vida, com Harry... – completou, num murmúrio especulativo.
Hermione ficou um tempo em silêncio, pensando.
-Como Harry está hoje? – perguntou, simplesmente e a ruiva finalmente permitiu-se sorrir.
-Ele está começando a reagir! – exclamou, empolgada e Hermione sentiu que, imediatamente, a empolgação a invadia. – De acordo com Madame Pomfrey, agora no final da tarde, ele teve uma reação psicológica. – Hermione riu, diante o entusiasmo da amiga; ela só faltava dar pulinhos. – Paupola me jurou de pé junto que tem quase certeza de que, se ele continuar assim, teremos ele de volta no final de semana, no mais tardar.
Hermione riu, animada e abraçou Gina.
-Isso é tão bom, Gi! – exclamou, sentindo-se realmente feliz em anos. – Ah, eu não vejo a hora de poder conversar com Harry novamente. – Gina sorriu e afastou-se da amiga, enxugando as poucas lágrimas que escorreram pelo rosto de Hermione.
-Você bem que precisa rir um pouco da cara dele novamente. – Hermione gargalhou e balançou a cabeça, animada. Gina beijou a bochecha da amiga. – Bem, passei aqui somente para te por a par dos fatos. Eu tenho que ir. Madame Pomfrey acha que chegamos na fase que conversar realmente faz bem ao paciente.
-Tudo bem. – a morena sorriu, confiante. – Só vou ler as últimas páginas do meu livro e logo irei me juntar á você. – Gina sorriu, antes de voltar para o castelo.
Hermione suspirou e pegando seu livro entre os dedos novamente, antes de se levantar e sair debaixo da árvore, andando lentamente pelos gramados, olhando para a lua cheia, que já estava alta.
Tudo estava começando a se ajeitar. Sorriu.
Agora sim, finalmente poderia esquecer a dor de ontem e podia voltar ao presente.

I believe
In yesterday
I believe
In yesterday

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