Epílogo: Sombras do Passado
escrito por BastetAzazis
Sumário: Severo começa uma nova vida.
DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!
BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!
Epílogo: Sombras do Passado
Um vulto escuro surgiu do nada na margem do rio próximo à antiga fábrica. Ele olhou em volta, observando os barrancos cobertos de mato e lixo. Um sorriso fraco cruzou seu rosto. Sim, ele estava em casa. Embora o lugar parecesse ainda mais decadente que da última vez que estivera ali há dez anos, ele se surpreendeu com a sensação de conforto e familiaridade que sentiu ao pisar no mesmo bairro onde passara sua infância.
Severo Snape subiu o barranco até um gradil que separava o rio da estreita calçada de pedra. Ele franziu a testa, aquilo era uma novidade. Pegou sua varinha e olhou em volta. À sua frente havia uma fileira de casas em ruínas; aparentemente, todas estavam abandonadas, ninguém o veria fazendo magia. Uma luzinha fraca brilhou na ponta de sua varinha, e ele fez um pequeno corte no gradil e o atravessou. Embrenhou-se no meio das ruazinhas e becos estreitos do bairro abandonado sem precisar recorrer às escassas placas indicando os nomes das ruas. Estava no seu território, nada poderia enganá-lo ali.
Algumas casas ainda estavam habitadas, ele pode perceber pelas luzinhas fracas que saíam das janelas. As ruas que percorria eram escuras, muitos lampiões estavam quebrados, e ele calculou que isso seria excelente para se esgueirar de trouxas curiosos. Da mesma forma, dificilmente algum dos antigos Comensais da Morte que sobreviveram à Ordem ou à Azkaban se aventuraria atrás dele num lugar tão imundo e repleto de trouxas. Ele bufou sozinho com o pensamento, o que Lúcio Malfoy diria se soubesse que sua irmã descansava no cemitério no fim da rua?
Mas Isabelle deixara de ser uma Malfoy. Era incrível como Lúcio e Narcisa agiam como se nunca tivesse existido outra Malfoy na família, e como todos que os cercavam aceitaram isso naturalmente. Quanto a Dumbledore e os demais membros da Ordem da Fênix, eles juraram jamais falar sobre Isabelle novamente. Todos deveriam fingir que seu paradeiro era um mistério, que não sabiam que Severo Snape a matara na frente dos demais Comensais da Morte e que se mantinha escondido em Hogwarts, sob a proteção de Dumbledore, apenas para cumprir as últimas ordens de seu único e verdadeiro mestre. Ele bufou novamente, pensando com escárnio naqueles que ainda tinham esperança de encontrar o paradeiro do Lorde das Trevas.
Virando a esquina, deu o primeiro passo na Rua da Fiação. Mais algumas casas e estaria na sua casa, a última da rua. Severo deu um sorriso cínico quando examinou a casa pelo lado de fora. Ela estava abandonada há dez anos, mas estava exatamente como a deixara; sua falecida mãe devia ter um dedo naquilo. Nenhum vidro quebrado, a pequena cerca ainda em ordem, ninguém poderia dizer que estava abandonada. Por outro lado, a casa da antiga Sra. Brown parecia que cairia com um simples assopro. Bom, isso significava que não teria vizinhos enxeridos por perto.
Severo deu um longo suspiro e entrou na casa. Um cheiro acre de mofo atingiu suas narinas, e ele fez uma careta. Olhando em volta, estava tudo no mesmo lugar: na pequena sala escura um sofá ainda resistia ao tempo, junto com a poltrona e a mesa de centro, iluminados apenas pelo candeeiro preso ao teto que ele acabara de acender. Olhou para a parede com a porta oculta que levava ao antigo laboratório da sua mãe; era um lugar excelente para forrar com os livros que traria da Mansão Prince, a única coisa que ele se permitira trazer da casa do avô.
O jovem Prof. Snape, o mais jovem professor de Hogwarts, não era um homem de grandes necessidades. Na verdade, o Diretor Dumbledore jamais precisaria se preocupar com paixonites de jovens bruxas adolescentes pelo seu novo Mestre de Poções. O mais novo docente de Hogwarts era um professor sombrio, carrancudo, e carregava um grande peso nas costas apesar da pouca idade. Seus alunos não sabiam, mas as melhores lembranças da sua vida estavam entre as paredes do castelo, e passar por elas todos os dias o fazia revivê-las e lembrar que jamais seria feliz daquela maneira novamente.
Muitos questionaram a sanidade do Diretor quando ele aceitou que um ex-Comensal da Morte continuasse ministrando aulas na escola, mas Dumbledore atestara que Snape trabalhara como espião para a Ordem da Fênix e que estava totalmente arrependido de um dia ter se aliado a Você-Sabe-Quem. Severo ainda tentava entender o que fizera o Diretor defendê-lo com tanto fervor. Ah, claro! O velho bruxo lhe dissera que as próprias Artes das Trevas já o haviam castigado pelo seu uso indiscriminado e que a Ordem precisaria de um espião ligado aos antigos Comensais da Morte quando Voldemort voltasse.
Dumbledore sabia que ele estava preso à segurança de Harry Potter e Nevile Longbottom e lhe ofereceu uma maneira de estar perto dos garotos quando eles precisassem da sua proteção. Finalmente livre das ameaças e perseguições de antigos sonserinos que se tornaram Comensais da Morte, o Prof. Slughorn decidiu deixar Hogwarts e se aposentar, deixando o cargo de Mestre de Poções para Severo. Hogwarts era perfeito para protegê-lo contra antigos Comensais que pudessem tentar persegui-lo ou para fingir que continuava cumprindo as ordens designadas por seu antigo mestre. Cumprindo seu papel de espião, ele alertou Dumbledore quanto aos Malfoy, Crabe, Goyle, Carrow e Yaxley. Eles já eram suspeitos, mas conseguiram convencer – ou comprar – o júri, alegando que estavam sob uma Imperius. Entretanto, o Diretor proibiu Severo de testemunhar contra eles; era importante que os servos de Voldemort não tivessem provas de sua traição. Sim, porque nem Severo, nem o Diretor, acreditavam que o Lorde das Trevas fora derrotado para sempre. A Horcrux que Isabelle tentara retirar da câmara da Mansão Malfoy era a prova de que, cedo ou tarde, eles estariam lidando com aquele monstro novamente.
Severo largou-se no sofá, exausto, e começou a pensar nos últimos acontecimentos e o que faria com sua vida agora. Muitos Comensais da Morte foram capturados e presos naquela semana, incluindo Belatriz Lestrange com o marido Rodolfo e o cunhado Rabastan Lestrange, descobertos enquanto torturavam os Longbottom a procura do paradeiro do Lorde das Trevas. Seu antigo colega da sonserina, Bartô Crouch Junior, também fora preso logo depois, graças à traição de Karkaroff, que denunciara vários Comensais já presos ou mortos para negociar sua liberdade. Seu nome também fora citado, mas Dumbledore o livrara de Azkaban testemunhando a seu favor.
Entretanto, a descoberta mais estarrecedora fora a traição de Sirius Black. Apenas algumas horas depois do desaparecimento do Lorde das Trevas, Black fora preso e condenado a Azkaban sem julgamento pela morte do amigo Pedro Pettigrew. Depois de vários anos tentando convencer Isabelle que ele – Severo – era perigoso, fora Sirius quem a traíra. Black era o traidor da Ordem da Fênix, além de fiel do segredo dos Potter e único contato de Isabelle para entregar a Horcrux que ela tentara recuperar. O Lorde das Trevas não poderia ter escolhido um servo melhor; entregou-lhe de bandeja o paradeiro dos Potter e a identidade do traidor que seu mestre tanto procurava.
Isabelle... Pensar nela ainda era dolorido. Fazia apenas uma semana que Dumbledore arranjara tudo para enterrá-la no cemitério perto da sua casa, onde seus pais também estavam enterrados, mas ele ainda não tivera coragem de voltar lá depois do dia do enterro. Queria acreditar que era verdade o que lhe diziam, que o tempo curava qualquer dor, mas sabia que aquela dor não tinha cura. Era impossível imaginar sua vida sem a presença dela, suportar a culpa de ter sido o responsável direto por sua morte.
Dumbledore lhe explicara que a Maldição da Morte pode não ter funcionado instantaneamente devido à sua falta de resolução ao lançá-la, entretanto, Isabelle estava muito fraca e seu corpo jamais se livraria dos efeitos da maldição. Ele sentiu uma dor forte no peito ao lembrar-se mais uma vez de Isabelle e do seu filho, um filho que ele simplesmente renegou e que, agora, jamais conheceria. Não podia mais continuar vivendo na mesma casa que reformara para abrigar a família que agora não existia mais e, por isso, decidira se isolar de tudo que o fazia lembrar-se dela.
Procurou por uma garrafa de uísque de fogo perdida, na esperança de esquecer sua dor com o gosto forte do álcool, mas não havia nada ali e sentiu o desespero tomar conta do seu corpo novamente. Uma dor insuportável atingira seu peito, pior que dez Cruciatus lançadas simultaneamente. Ele sentia uma ânsia forte de vômito e seu estômago doía como se tivesse sido atacado por um pontapé. Correu até o banheiro e deixou que a bile amarga subisse sua garganta. Quando parecia que não havia mais nada para ser expelido do seu corpo, largou-se no chão do banheiro, apoiando as costas na parede fria, o olhar perdido para o teto. Ele não sabia viver sem a presença de Isabelle, não havia mais planos nem esperanças se não pudesse sonhar em estar com ela novamente. Ele a queria de volta, ela e o seu filho; queria voltar no tempo e jamais ter dito as coisas horrorosas que dissera quando descobriu que ela era a espiã e que estava grávida. O Lorde das Trevas tirara sua única chance de ter uma família normal ao lado da mulher que ele sempre amara. Agora, sua única razão de viver era cumprir a promessa que fizera a Isabelle e garantir que aquele que deveria derrotar o Lorde das Trevas para sempre tivesse sucesso no futuro. Mesmo depois de mortos, ainda eram eles – Isabelle e o seu antigo mestre, Lord Voldemort – quem guiavam sua vida.
Ele suspirou. Na verdade, sua vida acabara no momento em que Isabelle dera seu último suspiro. A partir de agora, Severo Snape era apenas um corpo vazio, desprovido de sentimentos que pudessem fazê-lo sofrer desta maneira novamente. Ele odiava Harry Potter e Nevile Longbottom por isso; enquanto os dois garotos precisassem da sua proteção, ele não deixaria esse mundo, não poderia se juntar a Isabelle. Eles estariam seguros com suas famílias até completarem onze anos, quando começariam sua educação em Hogwarts. Quando aquele dia chegasse, ele se preocuparia novamente. Quando o Lorde das Trevas deixasse de existir para sempre, ele estaria vingado.
Quase dez anos depois, numa noite clara de verão, o Prof. Snape caminhava tranquilamente pela Rua da Fiação. No dia seguinte ele estaria a caminho de Hogwarts, para só voltar no final do ano letivo, no próximo verão. A rua estava fétida com o cheiro de lixo que vinha da direção do rio. Nos dias mais quentes o cheiro chegava a ficar insuportável, mas ele caminhava sem se incomodar com isso.
Ao longo dos anos, o Mestre de Poções se tornara o professor mais temido e o mais odiado de Hogwarts. E ele não fazia a menor questão de reverter isso. Seus cabelos pretos e lisos estavam escorridos e oleosos, a pele envelhecera mais que o normal para a sua idade e que, juntamente com os dentes amarelados, evidenciava a familiaridade com as Artes das Trevas durante sua juventude.
Os primeiros anos como Mestre de Poções em Hogwarts foram os mais difíceis. Era obrigado a reviver sua juventude ao lado de Isabelle, as tardes passadas na biblioteca, as noites escondendo-se nos corredores escuros das masmorras. Cada aula de Poções era uma tortura; observar um aluno em dificuldade sendo ajudado por outro o fazia relembrar do sorriso dela cada vez que ele a ajudara, e ele odiava seus alunos por isso. Ele queria esquecê-la, mas Hogwarts não o deixava.
Ele também era capaz de sentir os cochichos e os boatos dos alunos sobre sua posição como espião e ex-Comensal da Morte durante os tempos do Lorde das Trevas. Mas felizmente, ninguém gostava de recordar dos tempos em que todos temiam Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e, conforme os alunos mais velhos se formaram, alunos mais novos chegaram sem saber do seu passado sombrio. Entretanto, seu mau humor e impaciência com os alunos mais desastrados não passaram despercebidos, e quando ele percebeu que isso trazia mais medo e respeito dos seus alunos, começou a praticar suas piadas desdenhosas com maior freqüência.
Os únicos que se salvavam eram os seus sonserinos. Ocupando também o cargo de Diretor da Sonserina quando Slughorn se aposentou, Severo se mostrou um Chefe de Casa condescendente e um tanto tendencioso, exatamente como seus ex-colegas Comensais da Morte esperavam que ele tratasse seus filhos. Graças aos privilégios que o Prof. Snape deliberava aos seus alunos, a Sonserina ganhara tanto a Taça de Quadribol quanto a Taça das Casas nos últimos anos, provocando as reclamações dos demais Chefes de Casa. Mas Dumbledore parecia não se importar, pois sabia que ele fazia isso apenas para manter seu bom relacionamento com as mais tradicionais famílias sonserinas e sabia, também, qual era o verdadeiro motivo para Severo continuar em Hogwarts.
Agora, depois de dez anos vivendo em Hogwarts, a lembrança de Isabelle ainda era dolorida, mas paradoxalmente, a única coisa que ainda o mantinha vivo. As rondas noturnas eram usadas como desculpa para poder caminhar solitário pelos incontáveis corredores do castelo. Ele quase podia sentir a presença dela, recordando-se de uma época em que partidas de Quadribol e ganhar pontos para a Sonserina eram suas únicas preocupações.
Finalmente ele chegou ao seu destino: o pequeno cemitério – agora abandonado – perto da sua casa. O gramado estava alto e mal cuidado, e apenas algumas lápides ainda continuavam visíveis. Entre elas, duas onde podia-se ler: Tobias Snape e Eileen Snape. Ele se aproximou das lápides e parou por um instante.
Há alguns anos, depois que voltou a morar na Rua da Fiação, Severo procurou seus avós paternos. O Sr. e a Sra. Snape estavam muito mais velhos do que ele se recordava, mas parecia que a solidão aplacara os corações dos dois lados da família, e neto e avós se entenderam como nunca haviam se entendido antes.
Infelizmente, a memória do Sr. Snape falhava muito, e a cada verão que Severo os visitava, ele achava que era seu filho Tobias que estava à sua frente. Severo divertia-se com as histórias que o avô lhe contava como se estivesse falando com o próprio filho e acabou descobrindo muitas coisas interessantes sobre seu pai. Sua avó, a Sra. Snape, sempre lhe preparava uma enormidade de bolos e bolachinhas, e eles passavam as tardes de verão tomando chá e revendo fotos de seus pais. Aquilo era o mais próximo que ele tinha de uma família agora. Com o tempo, as fotos trouxas e as histórias de seus avós, Severo finalmente entendeu porque sua mãe desistira do mundo bruxo e como era importante para ela estar perto de tudo que a fazia lembrar-se do marido. Pela primeira vez ele via seu pai como um ser humano e desejou tê-lo conhecido melhor, e ele encontrou mais um motivo para odiar o Lorde das Trevas, e censurou-se mais uma vez por ter se deixado cegar por idéias preconceituosas e com uma promessa falsa de poder. Pelo menos seus pais tiveram a chance de viverem juntos, mesmo que por pouco tempo, e construírem uma pequena família. Pelo menos sua mãe teve um filho para recordar-se dos momentos felizes com a única pessoa que amara. Ele fora negado deste direito.
Mas dez anos passaram rapidamente, e a saúde de seus avós foi denegrindo aos poucos. Hoje, ele era o único Snape vivo de que tinha notícias, e sua única família descansava naquele cemitério.
Ele seguiu mais adiante, onde uma lápide sem inscrições se erguia por entre o gramado alto sob uma árvore. Isabelle. Ela se fora há dez anos, mas a dor continuava; na mesma intensidade e com a mesma persistência que sempre o perseguira. Ao contrário de quando ela viajara para fora da Inglaterra, Severo não tinha mais suas cartas para aplacar a saudade, nem tinha para onde mandar as cartas que ele escrevia contando suas novidades. O único lugar em que ele sentia estar realmente perto dela quando não estava em Hogwarts era ali, onde uma lápide vazia marcava o lugar do seu derradeiro descanso.
Por várias vezes ele se ajoelhara naquele local, chorando e pedindo perdão, mas não desta vez. Desta vez ele estava ali para refletir, para encontrar forças para enfrentar o próximo ano letivo. Harry Potter – a mais nova celebridade do Beco Diagonal – e Neville Longbottom finalmente deixariam a segurança de suas casas e estariam em Hogwarts para iniciar sua educação bruxa. Coincidentemente, Dumbledore fora alertado para conservar a pedra filosofal em segurança, e isso significava mantê-la em Hogwarts. Ele sabia que teria que ser cauteloso naquele ano, a pedra filosofal era tudo o que o Lorde das Trevas precisaria para voltar a sua antiga forma, e ele não gostava nem um pouco do novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que Dumbledore contratara. Quirrel não lhe parecia confiável e, nas poucas vezes que se encontraram, já havia lhe dado algumas evidências de que também fora um Comensal da Morte no passado.
Mas haveria mais uma novidade em Hogwarts que o preocupava; seu afilhado – Draco Malfoy – também iniciaria seus estudos. Ele encontrara a família Malfoy pela primeira vez depois da queda do Lorde das Trevas há algumas semanas no Beco Diagonal, orgulhosos pela carta que tinham acabado de receber de Hogwarts. Ele e Lúcio Malfoy tinham um acordo de cavalheiros para jamais comentarem algo sobre Isabelle novamente, mas seu ex-futuro cunhado fizera questão de lembrar-lhe dos laços que o uniam a Draco, esperando que o garoto tivesse um tratamento especial do seu futuro Chefe de Casa.
Encontrar Draco crescido fora realmente uma surpresa para ele. O garoto era uma miniatura do pai. Os cabelos extremamente loiros e os olhos cinza característicos dos Malfoy, o mesmo nariz empinado e olhar altivo de Isabelle quando tinha a mesma idade dele. Ele não pôde deixar de indagar para si mesmo, caso a criança que Isabelle carregara no ventre fosse um menino, o quanto seu filho teria crescido parecido com o Draco. Ao contrário do que pensaria dez anos atrás, concluiu que preferiria que seu filho tivesse sido um autêntico Snape. Mas como não havia nenhum filho para se preocupar, tomara para si a tarefa de proteger seu afilhado contra a loucura de um pai capaz de torturar impiedosamente a própria irmã para provar sua lealdade a um mestre cruel e desumano.
De repente, teve a sensação de que, em algum lugar, Isabelle sorria para ele.
Severo Snape se levantou e deixou o cemitério. Amanhã estaria em Hogwarts para ajudar Dumbledore com a tarefa de proteger a Pedra Filosofal. Na semana seguinte as aulas começariam, e ele sentia que teria um longo ano pela frente.
Foram as gotas frias da chuva que caía sobre sua cabeça que o fizeram levantar do chão enlameado da beira do rio. Severo havia aparatado para perto da sua casa para fugir do ataque do hipogrifo. Fugir da vergonha de ter sido mais uma vez o responsável pela morte de um inocente. Desta vez, fora responsável pela morte do único homem que confiara verdadeiramente nele, do único homem que o ajudara a se levantar quando achara que seu mundo estava perdido. Dumbledore se fora pela ponta da sua varinha, e por mais que ele se convencesse que fizera aquilo para salvar Draco, sob as próprias ordens de Dumbledore, nada podia convencê-lo que, mais uma vez, ele agira como um tolo covarde.
Não estava chovendo em Hogwarts, e as gotas geladas escorrendo pelo rosto e pelas costas que ardiam com as feridas do hipogrifo o fizeram reagir. Ele levantou-se e seguiu em direção à rua, tomando o caminho que o levaria para casa. Depois de andar algumas quadras, Severo estancou no meio da rua. Não queria encarar Rabicho. Olhar para o verdadeiro traidor da Ordem, àquele que entregou Isabelle para o Lorde das Trevas, fazia seu estômago revirar de raiva e nojo. Certamente o rato estaria remexendo em suas coisas agora, procurando provas de que ele não era mais fiel ao seu mestre. Não havia outra explicação para a insistência do Lorde das Trevas em manter Rabicho como seu servo em sua casa; o Lorde desconfiava da sua real lealdade. Mas isto não seria mais um problema. Assim como matara Isabelle na frente do seu Lorde há dezesseis anos, ele agora tinha nas mãos a morte de Dumbledore para convencê-lo de que ainda era um Comensal da Morte fiel.
Ele seguiu em direção ao cemitério quase que intuitivamente, procurando pelo consolo que só tinha nos braços de Isabelle. Dezesseis anos, e ele ainda sentia a falta dela; era uma lembrança longínqua, mas que ainda doía, não importava sob quantas camadas de indiferença, sarcasmo ou amargura ele tentasse se esconder.
Continuou caminhando, tentando ignorar a ferida em suas costas e refletindo quais seriam seus próximos passos. Harry Potter o odiava e agora tinha um motivo plausível para isso. Desde que botara os olhos no garoto pela primeira vez, a imagem de Tiago Potter veio a sua cabeça. Ele entrara em Hogwarts como uma celebridade, exatamente como o pai. E assim como o pai, tinha o mesmo ar arrogante e o talento para quebrar as regras da escola e se meter em apuros sem pensar nas conseqüências para ele mesmo ou seus amigos. Sua mãe havia morrido para salvá-lo, e ele agia como se isso não importasse. Proteger aquele fedelho fora a tarefa mais árdua que recebera, e por muitas vezes ele quase chegou a desistir, não fossem aqueles olhos, os olhos de Lílian. Ela fora a única que acreditara nele, e ele a traíra; não podia abandonar o filho dela agora. Devia isso a ela tanto quanto devia a Isabelle. Mas agora, Harry acreditava que ele era um traidor, jamais confiaria nele; e em breve, Harry estaria com dezessete anos e sua tarefa estaria cumprida.
Ele se ajoelhou em frente ao túmulo de Isabelle; a Marca Negra já começava a arder em seu braço, mas o Lorde das Trevas que esperasse. Esta seria a última vez que ele seria visto naquele lugar, logo os demais membros da Ordem da Fênix poderiam vir atrás dele. Não se importaria de ser preso e mandado para Azkaban, sempre achou que pertencera àquele lugar, mas ainda tinha um último dever a cumprir. Agora que falhara em sua missão, Draco precisaria de toda sua ajuda para enfrentar a fúria do Lorde das Trevas. Era a última promessa que fizera a Isabelle, agora reforçada por Narcisa, e então, ele poderia morrer.
Ele virou-se, olhando de relance pela última vez para a única lembrança de Isabelle e dos seus pais. Há muito que eles eram apenas sombras que o perseguiam quando estava sozinho nas masmorras do castelo ou em sua própria casa. Agora, eles também teriam Dumbledore para lhes fazer companhia.
Dumbledore... a única pessoa que ele podia realmente chamar de amigo nos últimos quinze anos. Ele estava morto, assassinado pelas suas próprias mãos. Não importava que ele já estava envenenado, que ele lhe pedira pelo ato de misericórdia. Dumbledore havia desistido da própria vida para salvar Draco, e ele também. Severo jamais teve a mesma coragem. Sentia-se diminuído; foram sempre os outros que se sacrificaram para salvá-lo, para depois persegui-lo em suas lembranças. Sombras que não o deixavam esquecer dos erros que cometera, das promessas que fizera para tentar concertá-los. Ele sabia que a Marca Negra que agora ardia impiedosamente em seu braço era o que desgraçara sua vida. Ele se entregara às Artes das Trevas e estava pagando o preço por isso. Felizmente, sentia que muito em breve sua angústia acabaria. Faltava pouco para vingar a morte da sua família, e então, ele poderia se juntar aos seus naquele cemitério; ser apenas uma sombra, como eles.
Levantou a manga esquerda das suas vestes e tocou com a ponta da varinha na marca desenhada no antebraço. No instante seguinte, mais ninguém poderia ser visto no cemitério abandonado.
N.A.: Sim... é o fim... Agora resta-nos esperar o que a J.K. vai inventar para o Sev...
Muitíssimo obrigada a todas as Snapetes, que me acompanharam noites adentro nesta jornada; torceram, vibraram e choraram com as aventuras do nosso amado mestre de Poções! Vocês foram maravilhosas, e mesmo que não pareça, há muito de vocês e de suas sugestões nestas linhas!
(Esse melodrama foi para tentar convencê-las a não me sacrificar quando chegarem até aqui!)
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