O Festival de Wall



Sombras do Passado
escrito por BastetAzazis



Sumário: Recuperado do susto no Salgueiro Lutador, Severo e os demais sonserinos mostram sua lealdade ao Lorde das Trevas...

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

Tirstran Thorn e a cidade de Wall são invenções do Neil Gaiman, eu não tenho nada a ver com isso !

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!




Capítulo 17: O Festival de Wall

Isabelle despertou com os primeiros raios de sol que invadiram a ala hospitalar aquela manhã. Ela sabia que estava protegida pela capa da invisibilidade que Sirius deixara com ela, mas mesmo assim não queria correr o risco de ser encontrada por Madame Pomfrey. Espreguiçou-se para livrar-se da sensação dolorida em seus músculos, adormecidos numa posição tão desconfortável. Severo dormira profundamente a noite inteira, ao contrário dela, que no meio de um sono inquieto, despertara várias vezes com o mínimo ruído, verificando se Severo estava bem e se suas feridas estavam cicatrizando. Sirius lhe garantira que o lobisomem não o alcançara, mas ele não era de total confiança. Olhando a faixa envolta no braço do Severo, onde o cachorro o mordera, ela pensava preocupada o que aconteceria se aquilo não fossem as presas de um cão; se alguma coisa acontecesse a Severo ela jamais se perdoaria.

Olhando mais uma vez para o amigo que dormia profundamente na maca à sua frente, Isabelle passou levemente a mão no peito dele. Nas poucas horas em que estiveram ali, os vergões e arranhões já haviam desaparecido completamente, e ela contemplava o peito nu e pálido dele, agora curado. Como ela desejava poder voltar no tempo e ter dado ouvidos a ele, confiado nele e garantido que ele jamais se arriscaria na Floresta Proibida por sua causa. Talvez devesse voltar no tempo e jamais ter se tornado amiga dele, ou talvez devesse ser sincera com ele e desde o início mostrar seus sentimentos. Entretanto, agora era tarde demais, ela sabia que o perdera para sempre.

Isabelle recolocou a capa da invisibilidade e saiu da ala hospitalar diretamente para a sala comunal da Sonserina. Ainda faltavam algumas horas para o castelo voltar à ativa e Madame Pomfrey aparecer para retomar os cuidados com o Severo, mas ela não queria correr o risco de chegar ao quarto com suas amigas já acordadas e vendo-a chorando por causa do Mestiço.




Severo acordou com Madame Pomfrey o examinando meticulosamente para ter a certeza que não haveria mais nenhuma conseqüência séria da sua aventura na noite anterior. As feridas em seu peito não eram tão profundas nem tão sérias quanto pareciam e, apenas em uma noite de repouso, já estavam curadas. O mesmo podia se dizer da mordida em seu braço; parecia que Sirius Black falara a verdade quando garantiu que o lobisomem não o havia atacado.

Depois de examinado, Madame Pomfrey lhe passou uma bandeja com seu café da manhã e o dispensou de seus cuidados, entretanto, avisou que ele era esperado na sala do Diretor Dumbledore. Severo mastigou o último pedaço de torrada sorrindo com a voz que ouvia do lado de fora da ala hospitalar dizendo para Madame Pomfrey que não sairia dali até ter certeza que ele estava bem. Esse tom exigente e inflexível só podia vir de Isabelle. Com a lembrança dela, Severo finalmente começou a refletir nos acontecimentos da noite anterior. Ele lembrava-se claramente de ter visto um lobisomem no final do túnel abaixo do Salgueiro Lutador. E lembrava-se do Potter querendo tirá-lo de lá. Depois disso, tudo ficou estranho, e ele achava que tinha sido arrastado até a floresta por um animal enorme, até que ouviu Isabelle. Ele queria ajudá-la, mas estava imobilizado pelo animal que o arrastava, até que não se lembrou de mais nada. Isabelle estava bem? Pela cara de Madame Pomfrey ao finalmente dar passagem para que ela chegasse até a maca onde ele estava, sim.

– Mestiço? Você está bem? – ela perguntou assim que chegou ao lado dele. – Eu só vim ter notícias suas antes de seguir para a sala de Dumbledore – acrescentou com uma careta ao pronunciar o nome do Diretor.

– O que aconteceu? – ele perguntou. – Eu fui atrás de você até onde Sirius disse que a encontraria e depois... – ele mordeu o lábio inferior, não sabia exatamente o que dizer. Que encontrara um lobisomem em Hogwarts? Não, ela não acreditaria nisso. – Eu acho que não lembro direito.

Isabelle respirou fundo e, depois de uma longa pausa, respondeu:

– Sirius não estava preparando uma armadilha para mim, mas para você. Quando o Potter percebeu o que tinha acontecido, nós fomos até a Floresta Proibida atrás de você. Eu fiquei esperando na entrada da floresta, e logo depois, Sirius e Tiago apareceram com você desmaiado. Tome – ela disse estendendo um braço com a varinha dele em mãos –, Sirius a encontrou na floresta e me pediu para devolvê-la.

Severo não sabia o que dizer. Ele fora enganado tão facilmente que agora sentia-se um completo idiota. Alcançou sua varinha e guardou-a em suas vestes, observando Isabelle atentamente. O que ela estava fazendo com o Potter? Ela estava envolvida naquilo de alguma forma? Junto com o Potter e o Black? Mas manteve suas dúvidas para ele mesmo assim que ouviu a voz de Madame Pomfrey.

– Srta. Malfoy, Sr. Snape, o Diretor já deve estar esperando por vocês na sala dele.

Sem dizer nada, os dois sonserinos deixaram a ala hospitalar e seguiram até a sala de Dumbledore. Isabelle ainda sentia-se envergonhada por não ter dado ouvidos ao amigo e, talvez assim, ter impedido a aventura da noite passada. Severo juntava as peças de informação que recebera para tentar entender o que exatamente havia acontecido. Quando chegaram em frente à gárgula, encontraram Tiago e Sirius esperando para entrarem também. Os quatro se cumprimentaram apenas com o olhar, Sirius mal se atrevendo a levantar a cabeça. Antes que a gárgula desse passagem para a escada em espiral que subia até a sala do Diretor, Isabelle estendeu a capa da invisibilidade para Tiago murmurando apenas um obrigada meio sem jeito. Severo estreitou os olhos quando viu aquilo, mas não disse nada. Foi Tiago quem quebrou o silêncio.

– Você está bem, Severo?

– O que você acha, Potter? – ele respondeu seco. – Embora seu amiguinho preferisse que eu ainda estivesse na ala hospitalar.

Ouvindo isso, Sirius levantou os olhos, encarando Severo.

– Eu realmente não imaginei que as coisas sairiam daquele jeito, Ran... Severo – ele disse sinceramente. – Eu peço desculpas.

– Claro – Severo respondeu desdenhoso –, seria esperar demais encontrar um brutamontes com bom senso.

Foi o olhar austero de Tiago que impediu que Sirius sacasse sua varinha. Felizmente, na mesma hora, o Diretor deu ordem para que a gárgula deixasse os alunos entrarem, e os quatro subiram em silêncio as escadinhas em caracol.

Quando encontraram o Diretor, Sirius fez questão de explicar com detalhes tudo o que aconteceu, sem mencionar, é claro, o envolvimento de Pedro. Ele contou como convenceu Severo a seguir Lupin até o Salgueiro Lutador, imaginando que ao visualizar o lobisomem, ele sairia correndo. Entretanto, as coisas não saíram como ele planejara, e graças à chegada de Tiago, eles puderam tirar Severo da Casa do Grito sem que maiores danos fossem feitos. Dumbledore ouviu a tudo com interesse, sem interromper uma única vez. Quando Sirius finalmente terminou, ele pareceu considerar por um momento e então perguntou para os outros alunos à sua frente:

– Mais alguém tem alguma coisa a acrescentar? Srta. Malfoy, Sr. Potter?

Isabelle e Tiago se olharam, mas não disseram nada. Dumbledore então, dirigiu-se a Severo:

– Sr. Snape?

Severo refletia em tudo o que ouvira de Sirius. Segundo o que ele dissera, Lupin era um lobisomem, e se ele tivesse sido atacado, haveria grandes chances dele se transformar num lobisomem também.

Parecia que Dumbledore estava lendo seus pensamentos, pois, como ele não disse nada, o Diretor acrescentou:

– Sim, Sr. Snape, essa brincadeira infeliz do Sr. Black poderia ter lhe trazido sérias conseqüências. Felizmente, parece que o Sr. Potter e a Srta. Malfoy finalmente entenderam que seus ideais não estão acima da vida dos seus amigos. Devo admitir que os senhores me surpreenderam – disse com os olhos piscando para os dois. Depois, voltando-se para Severo, continuou: – Acho que você entende que deve sua vida ao Sr. Potter.

Severo olhou de soslaio para Tiago, murmurando um obrigado que saiu como uma simples obrigação e nenhuma sinceridade.

– Entretanto – o Diretor continuou –, eu ainda tenho um pedido a fazer para o Sr. Snape e a Srta. Malfoy.

Isabelle e Severo levantaram os olhos e olharam curiosos para Dumbledore.

– O Sr. Lupin não tem culpa da sua condição e foi envolvido nesse acidente por culpa da ingenuidade de seu amigo. – Sirius encolheu-se em sua cadeira. Dumbledore prosseguiu: – Infelizmente, ele pode ser o único a sofrer as conseqüências dessa brincadeira estúpida. Se a notícia de que há um aluno lobisomem em Hogwarts se espalhar, eu terei que expulsá-lo; será que posso contar com a discrição de vocês?

Severo e Isabelle se olharam, ele não tinha a menor intenção de proteger o lobisomem; culpado ou não, ele quase o atacara. Entretanto, parecia que Isabelle tinha uma preocupação maior.

– Nós não vamos ser expulsos, vamos? – A voz dela cortou o silêncio quando se lembrou da ameaça do dia anterior.

– Não, Srta. Malfoy – Dumbledore respondeu com um sorriso. – Se você prefere trabalhar nestes termos, nós faremos um trato. E também estão dispensados da detenção que a Profa. McGonagall designou-lhes até o fim do mês. – Os quatro alunos se olharam num misto de alegria e dúvida, e Dumbledore elaborou: – Não faz sentindo continuar com isso com o Sr. Lupin no estado em que está. Entretanto, acredito que o Sr. Potter e a Srta. Malfoy ainda precisam entender as responsabilidades inerentes ao posto de liderança que assumiram para si mesmos. Vocês cumprirão detenção com o Sr. Filch no final de semana e estão proibidos de irem à Hogsmeade nestes dias.

– O quê? – Tiago e Isabelle perguntaram ao mesmo tempo.

– Mas eu disse que sou o único responsável – Sirius interveio. – Não é justo que eles cumpram detenção por minha causa.

– Não se preocupe, Sr. Black – Dumbledore respondeu, um observador atento diria até que com um certo divertimento. – O senhor fará companhia aos seus colegas. Acredito que um final de semana sozinhos no castelo, refletindo sobre seus atos, será suficiente para que acontecimentos como esse não se repitam.

Os três sentenciados suspiraram inconformados. No próximo final de semana, a vila bruxa estaria realizando o Festival de Wall, uma festa comemorada apenas a cada cinqüenta anos para relembrar a lenda do jovem Tristran Thorn, um mestiço criado entre trouxas e que um dia resolveu se aventurar no mundo bruxo atrás de uma estrela cadente. A idéia original da festa era reviver a história do jovem Tristran e celebrar os anos de paz entre bruxos e trouxas, algo que vinha muito a calhar em tempos como aqueles e, por isso, fez com que o Diretor liberasse todos os alunos, inclusive os do primeiro e segundo ano, para visitar Hogsmeade no sábado e no domingo. Todos os bruxos esperavam ansiosamente pelo festival, e proibir três jovens adolescentes de comparecer à festa podia ser considerado um dos castigos mais severos já designados pelo Diretor Dumbledore.





Quando foram dispensados da presença do Diretor, as últimas aulas da manhã já estavam terminando e alguns alunos já se dirigiam para o almoço no Salão Principal. Isabelle e Severo seguiram até a mesa da Sonserina, Isabelle sem pronunciar uma palavra no caminho, ainda desanimada com a notícia de que perderia o festival em Hogsmeade.

Logo depois que os demais alunos chegaram, enchendo o Salão, Dumbledore levantou-se de seu lugar e pediu silêncio. Quando tinha a atenção desejada, começou a falar:

– Eu sei que todos vocês ainda estão surpresos com a notícia do Festival de Wall, espero que os alunos do primeiro e segundo ano comportem-se e não façam me arrepender desta decisão. – Os alunos mais novos se olharam surpresos e envergonhados, mas então o Diretor sorriu com seus olhos brilhantes. Antes que o Salão voltasse a ser preenchido pelo burburinho dos alunos conversando entre si, ele continuou: – Entretanto, um fato muito triste aconteceu esta noite. Um aluno desavisado resolveu se aventurar pela Floresta Proibida e quase foi atacado pelas criaturas singulares que habitam por lá. – Os alunos olhavam entre si, perguntando-se de quem Dumbledore estava falando, mas o Diretor fez outro pedido de silêncio e continuou: – Felizmente, ainda existem alunos nesta escola capazes de discernir que a vida de um colega é muito mais importante que o fato dele pertencer a uma Casa diferente da sua. Eu conversei com os demais professores e decidimos, unanimemente, que o Sr. Tiago Potter merece ser reconhecido por sua bravura na noite passada.

Tiago arregalou os olhos quando ouviu o Diretor pronunciar seu nome. No mesmo instante, a mesa da Grifinória se levantou e começou a aplaudir ferozmente. As demais mesas também aplaudiram, exceto a da Sonserina. O Diretor acenou para que Tiago subisse até a mesa dos professores, onde lhe foi entregue mais um troféu para juntar ao que lhe fora entregue ano passado pelo seu excelente desempenho no Quadribol. Quando voltou para a mesa, notou que Lílian Evans ainda o aplaudia com um sorriso sincero no rosto; aquilo o fez corar ainda mais.

Assim que Tiago se sentou e os alunos aos poucos pararam de aplaudir, o almoço foi servido como sempre. Entretanto, um burburinho crescente invadiu o Salão, com os alunos se perguntando o que havia realmente acontecido e quem era o sonserino, pois isso ficara óbvio no discurso de Dumbledore, que fora salvo pelo grifinório.

Na mesa da Sonserina, os alunos do sexto ano pareciam ter matado a charada, já que Severo e Isabelle não foram vistos na sala comunal na noite anterior. Entretanto, os dois não falaram nada; ver Tiago Potter ser homenageado por ter salvo a vida de Severo já era vergonhoso demais. Felizmente, pouco tempo depois, ninguém mais parecia interessado no Potter, o único assunto na mesa era a chegada do Festival de Wall.

– Eu não acredito que o Ministério aprovou a realização do festival – Evan disse cochichando. – Vai ser o lugar perfeito para o Lorde mostrar seu poder, e nós vamos estar lá para presenciar tudo – acrescentou animado.

Paulo e Roberto juntaram-se à conversa e continuaram falando baixo sobre seus planos para o festival. Como eram filhos de Comensais, já haviam sido alertados pelos pais dos planos de Voldemort para o festival. A idéia de celebrar a paz entre bruxos e trouxas era uma verdadeira afronta ao Lorde das Trevas, e ele não perdoaria isso facilmente. Como foram liberados para participarem das festividades, os jovens sonserinos faziam seus próprios planos para mostrarem sua competência para seu mestre e assim, quem sabe, serem aceitos prontamente em seu grupo de Comensais da Morte.

E foi assim que o resto da semana passou rapidamente. Alunos de todas as Casas esperavam ansiosíssimos pelo sábado, fazendo planos e contando as histórias ouvidas pelos seus pais ou avós sobre o último festival. Proibida de partir para Hogsmeade junto com seus amigos sonserinos, o humor de Isabelle só piorou ao longo da semana, e por isso, Severo evitou conversar sobre o que acontecera no Salgueiro Lutador, limitando-se apenas a discutir os seus deveres de Poções. Quando o sábado chegou, ela recusou-se a aparecer no Salão Principal antes dos alunos partirem para Hogsmeade. Severo sentiu-se mal por deixá-la sozinha e pensou em voltar até a sala comunal antes de partirem para animá-la, mas a relação entre os dois estava tão estranha desde o que acontecera no Salgueiro Lutador que resolveu que era melhor não importuná-la.




Enquanto seguia até a sala do Filch para cumprir sua detenção do final de semana, Isabelle pensava melancolicamente como gostaria que Severo tivesse ao menos se despedido dela antes de partir para Hogsmeade. Ela estava certa de que finalmente conseguira afastá-lo da sua vida, mas não tinha mais certeza se era isso mesmo que ela realmente queria.

A detenção com Potter e Sirius foi tranqüila. Os três estavam decepcionados com a proibição de irem à Hogsmeade, e ninguém falara uma palavra enquanto esfregavam troféus sob os olhos atentos do Filch. Após o almoço, eles foram enviados à biblioteca, onde deveriam passar o resto da tarde escrevendo frases. Eles agüentaram o silêncio e a monotonia até o meio da tarde, quando Sirius finalmente largou sua pena e, suspirando, lamentou não estar na vila bruxa. Tiago e Isabelle largaram suas penas também, juntando-se ao lamento. Nem Madame Pince estava no castelo, e apenas concordara que os três permanecessem ali porque a biblioteca era magicamente protegida para ninguém entrar ou sair enquanto ela não estivesse presente.

– Eu tenho certeza que o Filch nos deixou aqui para poder ir ao festival – Sirius comentou. – Aposto que não tem ninguém no castelo além de nós.

– Eu sei o que você quer fazer, Sirius – Tiago respondeu –, mas ainda é perigoso. Não ia adiantar nada se nós chegássemos em Hogsmeade e fossemos descobertos por alguém lá.

Isabelle riu.

– E como vocês esperam chegar em Hogsmeade? Nós estamos presos aqui, esqueceram?

Sirius piscou um olho e respondeu:

– As proteções que Madame Pince coloca na biblioteca não são sensíveis a uma capa da invisibilidade.

– Ah, claro – ela disse estreitando os olhos. – E como você espera chegar até lá. Com certeza, as proteções de Dumbledore nos portões do castelo detectariam uma capa da invisibilidade.

– E quem disse que nós vamos precisar atravessar os portões? – Sirius replicou divertido.

Isabelle não respondeu, ficou olhando para Sirius e para Tiago sem entender o que eles queriam dizer.

– Você não está pensando em mostrar o mapa para ela, está? – Tiago perguntou para Sirius.

– Se nós quisermos ir à Hogsmeade depois, vamos ter que levá-la junto – ele respondeu –, ou ela vai contar tudo para o Filch depois.

– Vocês querem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? – Isabelle interrompeu os dois, gritando. – É claro que eu não vou deixar vocês impunes se forem à Hogsmeade e me deixarem aqui sozinha. E que mapa é esse que vocês estão falando?

Depois de quase um ano perambulando à noite com a capa da invisibilidade ou transformados em animais nas redondezas do castelo, os quatro grifinórios já conheciam mais sobre Hogwarts que talvez o próprio Diretor. Isso, mais o conhecimento deles em magia, fez com que criassem um mapa encantado do castelo, mostrando todas as passagens secretas que levavam à Hogsmeade que descobriram e as pessoas que perambulavam nas suas redondezas.

Isabelle olhou o mapa admirada; onde estava a biblioteca, viu três pontinhos assinalados com os nomes: Isabelle Malfoy, Tiago Potter e Sirius Black. Olhou para os cômodos próximos e depois para toda a planta do castelo; mais nenhum pontinho se mexia. Sirius estava certo, eles foram deixados sozinhos no castelo.

– Nós podemos esperar até o anoitecer – Tiago começou, formulando um plano para a sua fuga. – A Dedosdemel vai estar lotada hoje, e será fácil chegarmos por lá sem sermos notados. Nós podemos usar a capa da invisibilidade para chegar até a Casa do Grito e levar o Lupin conosco.

Isabelle recuou com a menção do lobisomem. Ela ainda não estava acostumada com a idéia de que Tiago, Sirius e Pedro eram animagos e se juntavam a um lobisomem todas as noites de lua cheia.

– Mas você vai ter que se virar sozinha, Isabelle – Tiago continuou, virando-se para ela.

– Não se preocupem comigo – ela respondeu. – Vocês me levam até a Dedosdemel e depois, cada um segue o seu caminho.

Quando observaram o céu ficar avermelhado da janela da biblioteca, Isabelle, Sirius e Tiago se amontoaram em baixo da capa da invisibilidade e finalmente fizeram seu caminho até a estátua da bruxa de um olho só que marcava a entrada da passagem secreta para a Dedosdemel. Caminharam pelo túnel escuro, iluminado apenas pelas pontas das suas varinhas, pelo que pareceram horas para Isabelle, que nunca fizera aquele caminho antes. Finalmente, o túnel foi ficando mais claro, e logo não precisavam mais de suas varinhas para enxergarem que estavam dentro de um porão. Subindo as escadas, observavam atordoados a multidão que enchia a famosa loja de doces. Tiago estava certo, ninguém notaria a presença dos três fugitivos ali. Entretanto, o que ele não esperava era encontrar Lílian abraçada com o Diggory assim que pisou no saguão da loja.

– Tiago? O que você está fazendo aqui? – E então, olhando curiosa para os outros dois alunos, continuou: – Vocês não estavam em detenção?

Isabelle nem esperou para ouvir a resposta de Potter, escondeu-se dentro de uma capa preta que levava consigo e saiu apressada para a rua, escondendo o rosto.

– Eu... – Tiago tentou encontrar uma resposta, mas ficou sem ação na frente de Lílian.

De repente, a loja ficou mais tumultuada que o normal, e vários bruxos olhavam assustados para a rua através da vitrine.

– Olhem para o céu – Carlos Diggory chamou a atenção, apontando para a Marca Negra que acabava de se formar no céu escuro e estrelado de Hogsmeade.

– Comensais da Morte! – Sirius exclamou. – Aqui, em Hogsmeade? No dia do festival? Eu não acredito! – E saiu correndo para a rua, a varinha em punho.

– Sirius, espere! – Tiago tentou chamá-lo, mas foi em vão. Vendo que o amigo já estava do outro lado da rua, sua única opção era segui-lo. Lutou contra a multidão que tentava entrar na loja para se esconder e nem percebeu que Lílian o seguia, e Diggory também, logo atrás dela.

– Lílian, é melhor você ficar aqui. – Tiago ouviu a voz do Diggory assim que saíram da loja e o burburinho diminuiu. – Você é uma nascida trouxa, é o alvo deles.

– Eu não vou ficar aqui parada, olhando esses monstros fazerem o que bem entenderem porque se acham melhores que nós – ela respondeu soltando-se do namorado que a segurava pelo braço. Depois olhou para Tiago, que assentiu levemente, indicando para que os dois o seguissem.

Os três correram atrás de Sirius que, metros a frente, estacou de repente quando uma fumaça densa e preta surgiu do nada, na praça principal da vila, interpondo-se entre ele e um grupo de jovens encapuzados em capas grossas e pretas.




Severo e seus amigos passaram o dia entretidos com as atividades do festival na vila bruxa. Hogsmeade estava toda enfeitada, as ruas principais lotadas de bruxos e bruxas de todas as idades que esperaram ansiosos pela chegada desse dia. Barraquinhas de diversas cores e tamanhos foram montadas nas calçadas, vendendo desde os mais peculiares itens bruxos, como também vários objetos trouxas. Severo se divertiu ao observar um grupo de bruxos olhando atentamente para uma televisão em chuviscos, tentando entender como e para quê aquilo funcionava. Depois, na barraca ao lado, observou uma bruxa produzindo flores de vidro finíssimas, de todas as cores, exatamente como sua mãe descrevia todas as vezes que lhe contava a história de Tristran antes de colocá-lo para dormir. A lembrança da mãe fez seu sorriso desaparecer, e mais uma vez, ele se pegou pensando se o convívio entre bruxos e trouxas era algo que realmente deveria ser comemorado. Talvez fosse melhor mesmo que o Lorde das Trevas aparecesse logo e acabasse com tudo aquilo, e quando isso acontecesse, ele estaria lá para apoiá-lo.

Conforme o dia passava, os sonserinos ficavam ainda mais ansiosos esperando pelo ataque previsto de Comensais da Morte. Com a desculpa do frio trazido pelo entardecer, vestiram capas pretas que os deixavam indistinguíveis e acomodaram-se numa mesa perto da janela no Três Vassouras, esperando a Marca Negra aparecer no céu. Não precisaram esperar muito. Assim que o último raio de sol se escondeu atrás dos muros do castelo, o céu estrelado de Hogsmeade foi preenchido pela imagem mais temida nos últimos tempos: uma serpente enroscada numa caveira. A imagem por si só já foi suficiente para deixar os bruxos mais experientes apreensivos, e logo uma correria absurda tomou conta da vila. Os seis rapazes encapuzados levantaram-se do bar e seguiram contra a corrente de pessoas assustadas que tentavam entrar atrás de refúgio. Em pouco tempo, as ruas da vila estavam lotadas de seguidores do Lorde das Trevas; Comensais da Morte trajados a caráter ou simples admiradores da sua causa. A decoração do festival foi destruída em segundos, e os bruxos desavisados que permaneciam na rua eram atingidos por raios que vinham de todas as direções e com os efeitos mais variados.

Severo era o último do grupo, seguindo os demais sonserinos até a praça principal. Ainda estava confuso com a correria que tomou conta da cidade quando sentiu um aperto forte no braço. Ele virou bruscamente para trás, pronto para lançar uma azaração no seu agressor, quando se deparou com uma figura preta encapuzada.

– Você não acreditou realmente que Dumbledore conseguiria me impedir de vir ao festival, não é?

Foi como se a voz de Isabelle tivesse o poder de retardar os acontecimentos à sua volta. As pessoas correndo, as azarações lançadas, tudo parecia em câmera lenta e com o som abafado. A única coisa que sua atenção conseguia focar era a bruxa encapuzada, vestida de preto como ele, à sua frente. Ele estava realmente feliz por Isabelle ter conseguido chegar até a vila, por estar com ele no momento que todos estiveram esperando avidamente a semana inteira.

– E parece que cheguei bem na hora certa – ela disse, apontando para a praça.

Quando Severo se virou, uma fumaça densa e preta começou a se formar bem no centro da praça. Por poucos instantes ele conseguiu visualizar Sirius e Tiago por trás dela, mas depois, ficou tão densa que parecia sólida. Então, não apenas ele, mas toda a cidade olhou assombrada quando a fumaça tomou a forma de uma serpente enrolada, exatamente igual à Marca Negra, e depois, um bruxo materializou-se no centro dela.

Era ele: Lord Voldemort, o Lorde das Trevas. Se alguém ainda achava que a existência de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado era apenas uma lenda, agora tinha sua prova derradeira. Ele estava lá, o homem alto e pálido como a neve, os olhos amarelados e o rosto distorcido, macilento, assustador; como apenas os bruxos mais experientes sabiam, sua figura mostrava claramente como as Artes das Trevas eram capazes de sugar lentamente a energia de seus praticantes, e sua aparência mórbida era mais uma indicação de quanto poder das Trevas aquele homem era capaz de manipular.

Assim que surgiu na praça, protegido por sua serpente Nagini, Voldemort foi cercado pelo grupo de aurores encarregados da segurança da vila. Uma enxurrada de azarações foi lançada na direção dele, mas nenhuma com sucesso. A fumaça preta que ainda fluía em volta dele e da serpente parecia funcionar como um escudo, e os raios coloridos eram refletidos para todas as direções. Logo à frente do Lorde, Severo reconheceu sua antiga professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ela pareceu reconhecer seus antigos alunos da Sonserina, mas não teve tempo de imaginar o que eles estariam fazendo ali, no instante seguinte um raio verde saiu da varinha de Voldemort, e Severo viu Morgana Linvingstone cair dura no chão.

Os aurores olharam entre si atordoados, sem saber exatamente o que fazer ou dizer. A risada alta e doentia do Lorde das Trevas invadindo seus ouvidos e deixando-os ainda mais desarmados e abatidos. Do outro lado da praça, um Comensal da Morte trazia uma garota pelo braço até a frente de seu mestre. Os sonserinos reconheceram-na prontamente, Lílian Evans, a monitora sangue ruim da Grifinória.

– Essa é a afronta deles, mestre. – Isabelle arregalou os olhos ao ouvir a voz do irmão, apenas um pouco abafada pela máscara que ele usava. – Sangues-ruins comemorando entre nós, como se fossem bruxos de verdade.

Voldemort olhou dentro dos olhos de Lílian, mas ela não recuou. Lúcio Malfoy ainda a segurava, mas ela lutou contra todas suas emoções para não demonstrar nenhuma intimidação ante o chamado Lorde das Trevas.

– Largue-a já! – Tiago Potter moveu-se de onde estava e exigiu do Comensal agora à sua frente.

Foi seguido por Carlos Diggory, que empunhava sua varinha ameaçadoramente para Lúcio Malfoy.

O Lorde das Trevas finalmente se moveu, caminhando entre seu Comensal e os dois jovens garotos, Nagini enroscada em seu torso, e a cortina de fumaça preta o acompanhando. Ele considerou os dois rapazes por instantes que pareciam séculos e então, voltando-se para seu Comensal, comentou desdenhoso:

– Eu não sei o que é mais lastimoso, ser afrontado por uma sangue-ruim ou ver dois jovens de sangue puro dispostos a morrer por uma qualquer. Livre-se deles!

Voldemort virou-se de costas, voltando a sua posição original, quando ouviu uma voz que há muito o intimidava: Alvo Dumbledore.

– Largue-a, Lúcio! – E depois de uma pausa. – Tom, você não pensou que não estaríamos preparados para você, não é?

Com o susto da aparição repentina do Diretor de Hogwarts, Lílian conseguiu se desvencilhar de Lúcio e correu para os braços de Carlos.

Voldemort virou-se para seu inimigo e respondeu:

– Você não passa de um velho tolo, Dumbledore. Eu não tenho medo de você!

Dumbledore e Voldemort iniciaram uma guerra de olhares. Observavam um ao outro, medindo-se, procurando o ponto fraco do seu oponente. Enquanto isso, Lúcio, humilhado por ter sido enganado por uma adolescente, sacou sua varinha em direção a Lílian, Carlos, Tiago e Sirius, que também se juntara a eles. Do outro lado da praça, os sonserinos se aproximavam para mostrar seu apoio ao Lorde das Trevas.

Os aurores em volta de Dumbledore, assim como as demais testemunhas da cena, observavam calados enquanto o Diretor entoava baixinho um feitiço que parecia muito antigo, e a fumaça que envolvia Você-Sabe-Quem parecia ser aspirada pela sua varinha. Mas Voldemort não seria pego tão facilmente. Quando percebeu o que Dumledore estava fazendo, apontou sua varinha para a varinha de seu rival e começou a entoar outro feitiço. Entretanto, sua voz não era calma e controlada, era uma voz doentia, agitada, e que só trazia aflição a quem a ouvia. A fumaça que o protegia ficava cada vez mais densa, mas Dumbledore não se intimidou. Os dois bruxos continuaram naquela guerra de encantamentos, enquanto as palavras de Voldemort pareciam incitar ainda mais seus Comensais da Morte.

Sem perceber, o grupo dos três grifinórios e o lufa-lufa estava cercado por Comensais da Morte de um lado, e aspirantes a Comensais do outro, Severo e Isabelle entre eles. Enquanto Tiago e Sirius estavam virados para o grupo de Comensais adultos, que pareciam receosos em atacar um membro da família Black, Lílian e Carlos enfrentavam com olhares seus colegas encapuzados. O clima em toda a vila era pesado e parecia piorar ainda mais com a entonação do feitiço de Voldemort, como se as palavras pressionassem seus corpos e a fumaça negra aumentasse ainda mais a escuridão da noite. Era apenas uma questão de tempo até que alguém fizesse algo precipitado.

E Evan Rosier finalmente se precipitou. Apontando sua varinha para a sangue-ruim, ele lançou o feitiço que acabara de aprender com seu amigo:

Sectumsempra!

Mas Carlos Diggory estava atento aos movimentos do sonserino e, seguindo seus instintos lufa-lufa, precipitou-se na frente de Lílian, protegendo-a da azaração.

Carlos caiu instantaneamente no chão com um corte sangrando abundantemente na barriga. Lílian ajoelhou-se no chão na vã tentativa de usar diferentes feitiços para estancar o sangue. Ao verem um aluno de Hogwarts ferido no chão, os aurores, que pareciam hipnotizados pela guerra de feitiços entre os dois bruxos à frente deles, finalmente se moveram e, enquanto alguns correram para socorrer Carlos, a maioria saiu à caça de Comensais da Morte. O grupo de sonserinos que atacou o garoto dispersou-se rapidamente, a exceção de Severo, que ainda olhava admirado e apreensivo o que o seu feitiço acabara de fazer, e Isabelle, que esperava pelo amigo.

– O que você está fazendo parado aí? – Isabelle gritou quando percebeu que, mesmo com a aproximação dos aurores, Severo não se movia. – Vamos sair daqui! – E o puxou pelo braço, fazendo-o despertar de seu estupor.

Os dois saíram correndo sem rumo. A única coisa que Isabelle pensava é que deveria correr numa direção diferente da que seus outros amigos seguiram, para diminuir as chances de serem encontrados.

Enquanto os aurores se ocupavam dos Comensais da Morte, Dumbledore lentamente vencia a guerra de encantamentos que travava com seu ex-aluno. A fumaça que envolvia Voldemort aos poucos estava se esvaecendo e, antes que se tornasse vulnerável, o Lorde das Trevas desaparatou, e a Marca Negra desapareceu do céu de Hogsmeade. Vendo que seu líder deixara a vila, os Comensais remanescentes também desaparataram, e em pouco tempo, o silêncio e a aflição tomou conta do que sobrou do festival.

Dumbledore vencera a batalha contra Voldemort, mas infelizmente não conseguira salvar Carlos Diggory do feitiço desconhecido que cortara seu corpo. Ele tentou usar um feitiço antigo, um encantamento semelhante ao que usara contra a fumaça negra criada por Voldemort, mas era tarde demais. O rapaz já havia perdido muito sangue e logo faleceu em seus braços. O velho bruxo derramou algumas lágrimas discretas e fez um belo discurso sobre o jovem aluno que tentara proteger uma colega nascida trouxa. Entretanto, intimamente ele se lamentou por não ter conseguido se livrar de Voldemort mais rápido para socorrer o aluno sob sua responsabilidade. De todas as mortes daquele dia, a de Carlos Diggory foi lembrada como a mais honrosa, e foi também a que mais atingira a alma já tão calejada do Diretor de Hogwarts.

Lílian estava apoiada nos ombros de Tiago, chorando com os olhos fechados para não ser obrigada a ver mais uma vez a cena que assombraria seu sono por muitas noites no futuro. Tiago e Sirius, cuja presença foi deliberadamente ignorada por Dumbledore, a conduziram silenciosamente até a Dedosdemel, para que ela seguisse com eles até o castelo, evitando os olhares de colegas mais curiosos.




Isabelle correu puxando Severo atrás de si até que percebeu que a Marca Negra não brilhava mais sobre Hogsmeade. Quando parou, percebeu que não estavam muito afastados da cidade, mas nenhum auror os perseguia. Assim que recuperou o fôlego, encarou Severo e perguntou numa voz irritada:

– O que deu em você, Mestiço? Eles podiam ter nos descoberto!

Mas Severo ainda parecia estar no mesmo estado de torpor de quando Isabelle o arrancou de perto do Diggory. Ele não disse uma palavra, e os olhos dele estavam arregalados e sem vida, como se estivesse mirando no vazio.

– Severo, por favor – ela continuou num tom preocupado. – Fale alguma coisa.

Ele ainda continuou mirando o vazio, suas mãos suavam frio e tinha a sensação de que seu estômago estava embrulhado como se fosse vomitar.

– Evan – pronunciou vagarosamente –, ele a usou... Eu ensinei a ele...

O semblante de Isabelle mudou de preocupado para o de compreensão. Severo estava com remorso pelo ataque a Diggory. Ele não estava preparado para suportar a idéia de que criara um feitiço capaz de realmente matar uma pessoa. Nem ela sabia exatamente o que sentir naquele momento. A única coisa que sabia era que eles tiveram uma breve experiência de como seria seu papel na guerra ao lado do Lorde das Trevas e, se quisessem continuar em frente com isso, teriam que se acostumar a perdas dos dois lados. Severo precisava do seu apoio agora, e era isso o que teria. Depois ela tiraria suas próprias conclusões sobre o que acontecera.

– Você não fez nada – ela disse então. – Evan usou o feitiço naquela sangue-ruim. Se o idiota do Diggory se jogou na frente dela, isso não é problema nosso.

Depois de mais alguns minutos de silêncio, ele respondeu:

– Talvez você esteja certa. Você acha que ele vai ficar bem?

Isabelle o considerou com um olhar sombrio.

– Você criou a Setumsempra para fazer alguém se sentir bem?

Severo baixou os olhos.

– Você está certa.

Isabelle aproximou-se ainda mais e o abraçou. Severo retribuiu apertando-a ainda mais contra o seu corpo, precisava sentir que tinha alguém em quem se apoiar, alguém em quem confiar quando não tivesse mais a certeza se estava seguindo o caminho certo. Ficaram abraçados em silêncio até que Isabelle se afastou e o obrigou a encará-la antes de continuar a falar.

– Se você está preocupado com o que vai acontecer conosco, não vai acontecer nada. Ninguém nos reconheceu. Ninguém pode provar que éramos nós sob as capas. Você só tem que voltar para Hogwarts junto com os outros, e eu pela passagem secreta junto com Sirius e Tiago.

– Você tem razão – ele respondeu. Depois, refletindo nas últimas palavras de Isabelle, acrescentou: – Como você chegou aqui? O que Sirius e Tiago têm a ver com isso?

– Eles conhecem uma passagem secreta, e é claro que se quisessem sair do castelo hoje teriam que me levar, ou eu os dedaria para o Filch. Por quê? – Ela acrescentou imitando o sorriso malicioso dele. – Você está com ciúmes?

– Você parece ter ficado bem amiguinha deles na última semana – ele respondeu, tentando em vão fingir que não se importava realmente.

– Eu estava cumprindo detenção com eles; presa naquele castelo chato, enquanto você aproveitou todo o festival sozinho – ela respondeu indignada. – Agora vamos – disse dando-lhe as costas –, antes que comecem a desconfiar da sua ausência.

Mas Severo não seguiu com ela. Segurou-a pelo braço e a fez virar-se de volta para ele.

– Você nunca me contou exatamente o que aconteceu naquela noite. O que você estava fazendo com o Potter? Como o Black apareceu com a minha varinha? E por que você concordou em não falar nada sobre o Lupin?

– Eu não quero mais lembrar daquela noite – ela respondeu soltando-se dele. – Eu achei que você tinha morrido, ou pior...

– O que aconteceu? – ele repetiu lentamente.

Isabelle desviou o olhar. Sabia que ele conhecia legilimência muito bem e não queria ter sua mente vasculhada por ele. Não agora que suas emoções por ele estavam tão descontroladas.

– O que você não quer me contar, Isabelle? – ele insistiu.

– Você sabe o que aconteceu – ela respondeu na defensiva. – Não sei por que insistir em relembrar tudo de novo.

Severo a segurou pelo braço novamente e, com a outra mão, segurou seu rosto obrigando-a a olhar para ele. Foi mais repentino do que ela imaginara, e então, de repente, as imagens daquela noite passaram por sua mente, obrigando-a a reviver tudo o que sentira naquele dia. O sentimento de culpa por não ter acreditado nele e que o fez cair na armadilha de Sirius, o medo de que alguma coisa realmente grave tivesse acontecido com ele, e depois, o arrependimento por não ter sido sincera com ele desde que percebera o que realmente sentia por ele. Ela sabia que Severo estava vendo tudo aquilo, vendo como ela o beijara enquanto estava inconsciente e o quanto desejara naquela noite que ele voltasse a sentir por ela o mesmo que ela agora sentia por ele. Quando ele abandonou sua mente, seus olhos estavam úmidos, e ela não tinha coragem para encará-lo. Estava envergonhada, sentindo-se violentada, vencida.

Severo afastou-se dela lentamente, também se sentia envergonhado. Tinha perdido a paciência e ultrapassara os limites. Sabia que a magoara com o que acabara de fazer. Queria dizer-lhe alguma coisa, mas o quê? Que ela estava enganada, que ele jamais a esquecera, que estava apenas tentando esconder seus sentimentos? Tarde demais. Ela não o ouviria, não agora que os dois mal conseguiam se encarar.

– Eu tenho que voltar para a Dedosdemel, e você deveria encontrar os outros e fingir que estava escondido e não participou de nada – ela disse fazendo seu caminho para a rua principal da vila, sem olhar novamente para ele.





N.A.: A lenda de Tristran Thorn e sua Estrela Cadente é, na verdade, invenção de Neil Gaiman e é belamente narrada no livro Stardust (mesmo nome para as versões em inglês e português). Para os mais preguiçosos, o filme desta história tem data para ser lançado em março de 2007; para os mais curiosos, alguns trechos do livro podem ser encontrados no meu LJ (http://bastetazazis.livejournal.com/25128.html e http://bastetazazis.livejournal.com/25404.html)

Obrigada a todas as Snapetes que estão sempre dando opiniões e tem paciência para meus ataques de “spoilers” no MSN. Eu sei prometi um final fofo para esse capítulo, mas infelizmente, Severo e Isabelle são mais complicados que parecem, e a parte fofa teve que esperar mais um capítulo. 

Para acompanhar as atualizações basta acessar meu LiveJournal (link no meu profile). a

A seguir: Passado os terríveis acontecimentos no dia do Festival de Wall, a vida deve continuar...


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