3º Ano – Namorando?
3º Ano – Namorando?
Muito, muito estranho...
Acabo de receber uma carta do Albert. Nós paramos de fingir que somos apenas “conhecidos” no trem de volta, por que é muito mais divertido sermos amigos. Soltamos um sapo na cabine da Anna, uma meia hora antes de chegarmos. Foi hilário.
Mas desde então tudo foi uma chatice só! Quer dizer, foi bom ver minha mãe e tal, e ate meu pai levantou da poltrona para me dar um abraço e todos foram comemorar comendo um jantar maravilhoso que mamãe fez e tudo o mais. Nos primeiros dias até que foi interessante, eu revi os garotos da rua e nós nos divertimos muito, comemos sorvete, fomos ao cinema e tal. Os trouxas são mesmo muito porcalhões, há milhares de latinhas, guardanapos e embalagens de bala jogados no chão. Hogwarts é tão limpinha!
Mas então o tédio começou a bater e eu passei a ficar em casa todo o tempo, fazendo meus deveres – chato!! – ajudando minha mãe – muito chato!! – e perambulando pela casa como uma morta viva – preciso comentar? Chato!!!!!!
Mandei a Elyon para os garotos e perguntei se era possível alguém morrer, literalmente, de tédio, por que se a resposta fosse sim eu provavelmente estava com os dias contados. Mas eles disseram que não. Então não vou morrer, afinal. Que grande consolo, já que eu vou acabar mofando.
Ops... Do que eu estava falado mesmo? Ah, sim, da carta de Albert. Ele me mandou uma carta estranha. Mais... séria do que de costume. Veja só:
***
Querida Ninfa (comentário número um: QUERIDA?????)
Aqui está tudo muito chato também, mas acho que Thomas vem passar o fim do verão aqui. David não está escrevendo muito, acho que está sem pergaminho de tanto rabiscar poemas de amor para a Lena (hahaha) ou sua coruja não agüentou atravessar toda Londres de um para o outro durante todo o verão todos os dias para levar cartinhas românticas, e resolveu tirar umas férias em Miami (HAHAHA). (comentário número dois: eu imaginei a coruja de calções de banho e óculos de sol. Não que isso seja relevante, só para constar porque foi tão engraçado). Vai ser ótimo voltar para Hogwarts e poder fazer magia novamente, com quem vamos aprontar primeiro? Eu e Thomas fizemos uma votação e acho que vamos começar pelos monitores do sexto ano. Eles são muito chatos e ficam tentando mandar em nós, e da última vez aquela garota, Clara, me deixou em detenção! (óbvio, ele fez cabelos de quase trinta centímetros crescerem de suas orelhas no primeiro encontro dela com um outro garoto). Escute, você não vai mais ficar atrás do Ruy, não é? Já quase ficou de castigo da última vez! (comentário número três: desde quando ele se preocupa com isso? É o cara mais bagunceiro que eu conheço!). Esqueça ele, vai.
Estou com saudades (comentário número quatro: ele disse que está com SAUDADES???)
Até Hogwarts,
Albert.
Francamente eu acho que este garoto bebeu! Ele não podia estar em seu juízo perfeito para escrever isso! Acho que está tentando ser bonzinho depois de ter sido tão chato comigo naquela coisa de me vingar do Ruy. Aliás, porque, Merlim, ele odeia que eu faca qualquer coisa para o Ruy? Ele vive pregando pecas em todo mundo, mas é só eu começar a falar do Ruy que ele já fica todo irritado! Eu realmente não entendo os garotos, eles são criaturas totalmente diferentes de nós, meninas!
Ah, mas esquecendo o assunto, tenho uma novidade boa afinal! Este ano poderemos ir a Hogsmeade! É um povoado perto da escola e mandaram um formulário para os pais autorizarem, o que, é claro, eles fizeram. Minha mãe disse que é muito divertido e me contou tudo sobre o lugar. Tem uma loja de logros e brincadeiras, uma loja de doces maravilhosos, um bar ótimo que se chama “Três Vassouras” onde bebem alguma coisa chamada cerveja amanteigada – eu não faço idéia de que seja, mas ela garantiu que é ótimo – e a casa dos gritos, o prédio mais mal-assombrado da Grã-Bretanha. Combinei com o garoto de tentarmos entrar lá e ver quem (ou o quê) mora lá.
Estou louca para jogar quadribol outra vez. Este ano nós VAMOS vencer! Minha mãe me deu, de presente de boas vindas, um kit para a manutenção da vassoura. É bem legal, vem com uma bússola para prender no cabo, um liquido para polir o cabo, uma tesoura especial para apará-la, e um livrinho explicando tudo. Minha vassoura vai estar perfeita para o jogo e nós treinaremos muito. A vitória está garantida!
Estou indo comprar meus novos livros. Temos OUTRA VEZ um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Parece que nenhum dura mais de um ano...
Até logo.
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Estou morrendo, estou morrendo, sinto toda a vida se esvaindo do meu ser, vou mofar e ficar para sempre aqui, caída na minha cama desta casa idiota, nesta cidade idiota, cheia de vizinhos idiotas que me impedem de usar magia ou fazer qualquer coisa divertida. E um dia exploradores do futuro vão encontrar a casa e quando chegarem ao segundo andar verão meu quarto e então eles entram e verão meus ossos cobertos de teias de aranhas, na mesma posição de profundo tédio que estou no momento, com um pedaço de pergaminho do meu lado onde estará escrito “Ninfadora Tonks – Morta de Tédio”, que por sinal, eu já escrevi e colei na colcha da minha cama com cola líquida (leva séculos para secar, se eu pudesse fazer um feitiço adesivo teria sido bem mais rápido!).
Ainda falta uma semana para voltar a Hogwarts, eu não agüento mais isso! É tão, tão chato! Eu adoraria que Mandy ou Lena ou os garotos pudessem vir passar o verão aqui, mas acho que a única diferença seria que todos ficaríamos chateados juntos. Não há absolutamente NADA para se fazer por aqui.
Acho que vou comer alguma coisa e ler uma revista ou algo assim – graças a Deus mamãe ainda recebe o Profeta Diário e o Semanário das Bruxas, então eu ainda posso ter uma idéia de como está o mundo lá fora enquanto eu estou presa aqui dentro.
Alguém está subindo as escadas, deve ser a mamãe para me chamar para o lanche ou algo ass...
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Droga! Mamãe veio me avisar que eu tinha visitas. Adivinha quem era? Lena! Os pais dela estavam aqui na cidade e ela tinha meu endereço – passei para ela no final do ano – então resolveu vir me ver. Claro que eu fiquei muito feliz! O “droga” acima é por que quando mamãe entrou para me chamar e viu que eu tinha colado um pergaminho na colcha ela deu o maior escândalo, e teria dado um muito maior se não tivesse visitas. Eu disse a ela que não devia se preocupar já que era só ela balançar a varinha e tudo ficaria limpo e brilhante como antes, mas ela disse que a questão não era essa e eu devia ter mais respeito e cuidado com as minhas coisas e tudo o mais. Eu pedi mil desculpas, e ela pareceu se comover um pouco quando eu disse: “Eu sei que eu não sou uma filha perfeita, não sou tão boa quanto você. Você não gosta mais de mim? Todos erram de vez em quando!” fazendo cara de choro. Ela caiu – desculpe a expressão, mamãe – como uma pata. Ficou dizendo que não, que não era nada disso, eu era uma ótima filha e ela me amava muito, só queria que eu parasse de fazer tanta bagunça e disse que desta vez ela limparia para mim para eu ir brincar. Lena a essa altura, estava assistindo da porta. Quando nós saímos de casa para fora, então, nós nos entreolhamos e não pudemos conter as gargalhadas.
Lena ficou para passar o dia enquanto seus pais passeavam pela cidade, fazendo algumas compras. Lena vai ganhar um irmão em novembro, e os pais dela estão procurando coisas para o novo membro da família e seu quarto – do bebê, quero dizer.
Ela está muito mais bonita este agora. Os cabelos dela estão compridos até o meio das costas, ruivos bem brilhantes, sedosos, e meio que enrolam nas pontas. Ela não tem mais muita cara de criança, parece mais... moça. Os olhos azuis dela são mesmo muito lindos, e as sardas dela praticamente desapareceram. Ela está um pouco mais alta do que eu, e já tem seios e cintura. Parece mais mulher do que eu. Sequer aparentamos a mesma idade.
Ficamos o dia inteiro conversando, contando as novidades. Ela falou das cartas do David e de como ele era ótimo e me agradeceu por tê-los apresentado. Então eu me toquei que Lena entendia muito mais de garotos do que eu, e resolvi mostrar a ela a carta do Albert. Quando ela terminou de ler, eu perguntei.
- E aí, ele pirou, não é?
Ela me encarou com os olhos brilhando, um sorriso enorme nos lábios e disse meio histérica:
- Oh, meu Deus, é claro que não! Mal consigo acreditar, Tonks, é tão bonitinho! Ele está apaixonado por você!
Eu cuspi todo o suco que estava tomando na calçada.
- Você está maluca?
- Claro que não. Veja, David já tinha comentado antes como Albert ficava com ciúmes por você dar tanta atenção ao Ruy e ele ficou realmente chateado quando vocês brigaram. É tão perfeito!
- Não, não é tão perfeito. É claro que ele não gosta de mim, somos amigos, lembra? Eu também não gosto dele. Não deste jeito. Você deve estar pirando, bebeu alguma coisa suspeita ultimamente, pode ter te envenenado, ou... – eu pus a mão em sua testa, mas ela a tirou.
- Não mude de assunto – disse – Você não está querendo enxergar. Mas está na cara. Ele realmente gosta de você!
- Você está louca – disse balançando a cabeça, olhando para ela já meio irritada.
- Não, não estou. Oh, por favor, Albert é realmente bonito, Tonks, e gosta de você! Dê uma chance a ele!
- Eu não quero dar uma chance a ele! Eu nem gosto dele, eu gosto do... – calei a boca. Eu nunca tinha dito isso em voz alta. Mas ela já estava me olhando, as sobrancelhas erguidas.
- De quem? – perguntou totalmente animada – De quem - de quem - de quem?
- Ninguém – menti, corando.
- Não é ninguém. Vamos me conte.
- Eu nem sei se gosto dele mesmo, besteira – mas ela me lançou um olhar tão penetrante que eu não conseguia mais mentir – Oh, está bem. Do Paul.
- Ahhhhhhhhhhhhhhh! – gritou ela me abraçando – Eu sabia! Você sempre derruba tudo quando ele está por perto.
- Eu sempre derrubo tudo SEMPRE, Lena – repliquei – Isso não quer dizer nada.
- Mas – ela me soltou, parecendo se ligar em alguma coisa muito importante – ele está no sexto ano. É bem mais velho que você.
- Sei disso. Mas olhe, não conte a ninguém, está bem? NINGUÉM! Nem Mandy nem David nem ninguém.
- Está bem.
Depois disse voltamos a falar de outros assuntos, até que os garotos da rua chegaram e ficaram totalmente bobos quando viram Lena, convidaram-na para ir ao cinema. Ela olhou para mim rindo então virou para eles e disse: “Desculpe, acho que o MEU namorado não ia gostar muito, além disso, já estou indo embora”, e nós duas desatamos a rir como loucas deixando os garotos totalmente atordoados.
E agora ela foi embora e eu estou novamente no meu quarto, sozinha e sem o meu pergaminho de identificação, o que significa que se eu morrer ninguém nunca vai descobrir o porquê. Estava pensando no Albert. Lena devia estar louca, não faz nenhum sentido, ele obviamente não gosta de mim. Realmente, talvez seja EU quem esteja ficando louca.
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Acordei esta manhã, 1º de Setembro, dia do embarque. Estava feliz da vida, tomei um banho e resolvi escolher outra cor para o meu cabelo. Deixei-o cor de rosa chiclete, eu nunca o tinha deixado assim. Fica bem legal. Então, enquanto eu me vestia eu de repente me senti muito preocupada com o que eu diria ao Albert quando o encontrasse. O que é muito estranho porque eu falo com o Albert todos os dias praticamente. E eu NEM gosto dele. Mas eu resolvi esquecer isso e fui para a estação.
Cheguei lá e atravessei a barreira. Só de ver a locomotiva vermelha eu já fiquei toda arrepiada, era ótimo voltar para a escola. Fui até a ultima cabine, onde tínhamos combinado de nos encontrar e todos já estavam ali, exceto Albert. Eu fui guardar a gaiola de Elyon e minha mala, mas tive que subir em cima do banco para alcançar. Só que nessa hora o Albert entrou na cabine e disse “Oi, Ninfa”. E eu simplesmente corei como se tivessem me mergulhado em água fervente, escorreguei e caí no chão, e todas as minhas coisas desabaram em cima de mim.
Todos me ajudaram e Thomas guardou minhas coisas para mim. O resto da viagem foi bem divertida, Lena não parava de olhar para mim, depois para Albert, e dar risadinhas, mas tirando isso, foi ótima. Nós rimos muito quando Thomas e Albert começaram a pegar no pé do David por ele só mandar cartas para Lena e não nos dar nem notícia o verão inteiro. Ele revidou dizendo: “Estão com ciúmes?” e os garotos começaram a dizer: “Eca, não! Até parece” enquanto eu e Mandy estávamos às gargalhadas.
Mandy também está mais bonita, mas ainda parece ter a mesma idade que eu. Ela trocou de óculos, está com um modelo diferente muito mais bonito, que ficou lindo nela. Ela tem o cabelo preto que está cortado pelo ombro agora – o meu está no meio das costas já – e preso com umas presilhas douradas e vermelhas combinando com o uniforme. Ah, todos adoraram meu cabelo rosa! Disseram que ficou o máximo em mim. Quer saber? Eu concordo.
No fim da viagem Anna e Penélope entraram na nossa cabine, com suas carinhas antipáticas de sempre.
- Ora, vejam, se não são os malfeitores juvenis. Oh, olá Thomas – acrescentou corando.
- O que é isso, Ninfadora? – acrescentou Penélope – Derrubaram uma lata de tinta em seu cabelo?
Eu sacudi a cabeça, tirando os cabelos do rosto.
- Não. E no seu? Derrubaram uma lata de óleo? – ela ficou meio pálida. O cabelo é o maior orgulho dela. E é claro que não estava oleoso, eu só estava inventando.
- Muito espertinha – sibilou Anna – Estou muito ansiosa, sabe – continuou com a voz normal – Eu e Penélope apostamos em qual de vocês será expulso primeiro. Acho que será você, Ninfadora, mas ela disse que seu namorado irá primeiro.
- Namorado?
Ela indicou Albert com a cabeça. Ele pareceu petrificado.
- Oh, por favor – ri – Ele não é meu namorado. Por quê? – olhei para ela maliciosamente – Você o quer para você?
Ela me olhou com profundo nojo.
- Eu não mexo em lixo – disse antes de sair batendo a porta.
- Não teve graça – disse Albert para mim.
- O quê?
- Você sabe. O que disse a ela.
- Ah, Albert, só estava implicando com ela. Ela é muito chata, a metida.
- É e pelo visto você não gosta muito mais de mim do que dela, não é? – disse se levantando e saindo também.
Eu olhei ao redor, atordoada. Thomas estava rindo, David parecia chocado, assim como Mandy e Lena me olhava com aquela cara de “Eu te avisei”. Eu simplesmente não sabia o que tinha acontecido. Eu queria ter ido atrás dele e explicar que havia entendido tudo errado, e parar de se fazer drama. Dizer que eu, obviamente gostava dele. Não a ponto de ser meu namorado, mas como um amigo. Meu melhor amigo. Mas eu repeti para mim mesma: “Se eu sair Lena vai achar que eu o amo de verdade. E eu não o amo. Eu amo o Paul. Não é minha culpa se Albert resolveu pirar de repente”.
Nós meio que fizemos as pazes quando o trem chegou, ele entrou na cabine para pegar sua mala e eu me desculpei, disse que ele tinha entendido tudo errado que eu definitivamente não tinha querido ofendê-lo. Ele disse “tudo bem”, mas acho que continua meio chateado.
Então teve a cerimônia de seleção. Um garoto muito ruivo me chamou a atenção, porque me lembrava alguém. Seu nome é Percy Weasley, e é irmão de Carlinhos. Ele foi para Grifinória. Depois me disseram que todos os Weasley são ruivos assim, e TODOS vão para Grifinória. Depois, graças a Merlim, houve o banquete. Eu estava faminta.
No discurso – longo demais para o meu gosto – Dumbledore apresentou o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Seu nome é Sr. Doyle, e é bem jovem. Ele é auror há apenas dois anos, e é muito amigo do diretor por isso estará ensinando este ano como um favor a Dumbledore. Depois vai voltar ao seu emprego. Parece ser um professor bom, e até que é bonito também. Sem dúvidas o professor mais “apresentável” que tivemos como Mandy disse.
Tenho que ir dormir. Amanhã as aulas começam e tenho que estar no ritmo.
Boa noite.
P.S. Como é bom estar de volta!!!!!!!!!!!
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Foi uma semana bem complicada.
É óbvio que Snape nos deu a poção mais difícil que pudéssemos imaginar logo na primeira aula, e eu não fui, hum, assim muito perfeita, sabe? Snape tem o dom de me deixar nervosa. Acabei derrubando metade dos meus materiais e demorei a juntar tudo, então comecei bem atrasada. E ele não perdeu a oportunidade, é claro, de me descontar alguns pontos, o que fez o chato do Ruy – este ano temos poções com os Sonserinos – rir abertamente. Eu lancei a ele o olhar mais sujo que consegui.
McGonagall também não facilitou. Este ano estamos estudando animagos. Ela se transformou em gata na nossa frente e a turma toda aplaudiu. Depois passamos à aula toda escrevendo coisas sobre os animagos e ela nos deu o maior dever de casa que eu já vi.
Depois do almoço, tivemos aula com o professor Doyle. Ele foi muito simpático. Aliás, eu vou dizer como ele é: um pouco moreno, de olhos azuis e cabelos pretos, nem muito magro nem muito musculoso. Várias meninas atrás de mim suspiraram quando ele entrou (diga-se: Mandy).
A turma em geral gostou dele, ele nos ensinou um bocado sobre criaturas das trevas e a primeira que estudaremos será o bicho-papão. Nós apenas fizemos anotações, mas ainda assim ele fez o assunto parecer bem interessante. Disse que se puder trará um grindlow de verdade para vermos.
A aula mais estranha foi, sem sombra de dúvidas, adivinhação. A professora, Sibila Trelawney parece um tanto amalucada. Ela fala o tempo todo em uma voz etérea e distante, como se estivesse profetizando a coisa mais importante do mundo ou coisa assim. Acho que é meio louca, deve ter ficado tempo demais naquela sala cheia de perfumes e incensos enjoativos, e pode ter afetado o cérebro, ou sei lá.
A primeira lição foi sobre “borras de chá”. Temos que tomar chá, sacudir a xícara algumas vezes, e então coloca-la de boca no prato e esperar que toda a borra escorra, para podermos interpretar os desenhos que ela forma. Mas parece que a minha borra insistia em parecer... uma borra! Não quer dizer absolutamente NADA! Que grande besteira, é o que eu acho.
Mas professora Trelawney não acha. Ela, inclusive, vê muitos desenhos em borras de chá. Quando foi ver o prato de uma garota, Tammy, ela deu um gritinho abafado, e começou a tremer.
- Oh, meu Deus, oh meu Deus... querida, oh, meu bem... eu sinto tanto, tanto... pobrezinha, pobrezinha, tão jovem...
Nessa hora todos já estavam ao redor da mesa da garota. A professora ergueu os olhos cheios de lágrimas para ela – que a essa altura estava apavorada – e disse muito dramaticamente:
- Minha garota... você tem... o Sinistro!
Então, sabe-se lá por que, a garota começou a chorar desesperadamente. Percebi na hora que mais da metade da turma não entendera, por isso, muito educadamente (não se deve contrariar loucos), eu perguntei:
- Er... hum, professora, com licença. O que... o que é um “sinistro”?
- Você não sabe? – perguntou erguendo os olhos para mim com cara de espanto, os olhos esbugalhados – Não sabe? Oh, não é nada, nada bonito, menina. Não, não... um cão espectral que ronda os cemitérios... um agouro ruim, o pior de todos... o agouro de morte! – disse esganiçada.
Houve uma audível exclamação de terror pela sala, e Tammy passou a chorar histericamente, até que uma amiga dela veio e a ajudou a deixar a sala, dizendo que ia levá-la à Ala Hospitalar. Depois desse episódio inédito – e bem pouco divertido – a aula foi declarada encerrada.
Trato de Criaturas Mágicas foi divertida. Nós vimos pelúcios de verdade! São tão fofinhos, iguais ao meu bichinho de pelúcia. São bons em encontrar objetos brilhantes então brincamos bastante com eles, e morremos de rir quando um deles tentou arrancar o relógio de Anna com os dentes e ela começou a gritar dizendo que ele ia devorá-la. Até o professor riu, e ela ficou muito zangada.
No resto está tudo na mesma. Nada fora do comum. O primeiro passeio a Hogsmeade será daqui a três semanas, provavelmente eu só escreva depois disso. Ainda tenho quatro deveres para fazer e um feitiço para praticar.
Deseje-me sorte!
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Eu simplesmente não sei por que estou tão chateada. Quer dizer, Hogsmeade foi melhor do que eu jamais imaginei, a Zonko’s é o máximo, cerveja amanteigada é muuuuito boa mesmo, e tem muitas lojas legais para visitar e tudo o mais. Qual o problema comigo?
Estava indo tudo muito bem, nós tínhamos tentado entrar na casa dos gritos, mas está totalmente bloqueada, então compramos uma sacola de coisas na loja de logros, fomos até o Três Vassouras, ao correio, à Dedosdemel, e comemos um milhão de doces diferentes e tudo o mais. Tudo ótimo.
Albert sumiu em algum momento, eu não me lembro exatamente quando. O problema – eu acho – foi que quando o encontramos, ao lado de fora de um lugar onde, aparentemente, servem chá, ele estava conversando com Penélope. Penélope! A garota mais irritante que eu conheço, com exceção à Anna, e Albert estava de papo com ela!
Bom, depois disso, acho que o passeio perdeu a graça. Quer dizer, ver um dos meus melhores amigos conversando com uma garota como ela, bem... é um pouco traumatizante, se quer mesmo saber. E não estou com ciúmes. Claro que não.
Bom, ciúmes de amiga, talvez, por que eu realmente quero que Albert namore uma pessoa legal e não uma panaca feito Penélope, cuja maior preocupação na vida é ter um cabelo bonito. Ele não merece esse tipo de garota. Ele tem que ficar com uma garota divertida, que goste das mesmas coisas que ele, ou pelo menos não seja obcecada apenas com a aparência, que participe de suas brincadeiras (tipo entrar na Floresta Negra no meio da noite, aquilo foi bem legal), que o faça rir e que goste dos amigos dele, para depois não ficar de implicância. Esse é o tipo de garota que o Albert devia namorar. Não a Penélope!
Ah, sim, mas mudando de assunto, o professor Doyle realmente trouxe um grindlow para vermos, e foi uma aula muito boa. Ele tem uns dedinhos compridos que usa para tentar estrangular as pessoas, mas estava preso em um enorme aquário, então não teve perigo. Esta semana começamos os kappas e provavelmente estudaremos os hinkpunks nas próximas aulas. Está se tornando uma das minhas matérias preferidas, assim como Adivinhação. Não que eu consiga ver qualquer coisa em borras de chá, mas a Trelawney é maluca o bastante para parecer engraçada. Trato de Criaturas Mágicas é legal também, estamos vendo os ouriços agora, e como diferencia-los dos porcos espinhos.
Estou ficando com sono,
Boa noite.
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Eu odeio o Albert.
Ele é totalmente débil ou algo assim, não é possível alguém ser tão idiota!
Novamente ele estava conversando com aquela chatinha. Mas ele simplesmente não devia estar conversando com ela! Ele se atrasou para o treino de quadribol por causa dela! Meia hora foi o tempo que ficamos esperando, antes de eu resolver ir procurá-lo. E aí, quando ela me vê, ela dá uma de: “Ah, oi Ninfa!”. Penélope! Me chamando de Ninfa! Como se ela não passasse todos os dias da vida dela, desde que entrou em Hogwarts, me chamando de esquisita, aberração, arco-íris (desde que eu comecei a mudar a cor do meu cabelo toda semana – agora ele está de um ruivo, pela cintura), multicores (idem). Como se ela realmente acreditasse que ia chegar e ficar tipo “Ah, oi Penny, há quanto tempo!”. Até parece.
Então eu fui direto para o Albert, furiosa, que estava me olhando de um jeito esquisito. Como se meio que quisesse ver minha reação com aquilo tudo, que, obviamente, não foi nada positiva.
- Você tem idéia de que horas são? – perguntei esbravejando.
- Não – disse ele desinteressado.
- São exatamente três e meia da tarde, Albert, o que significa que podíamos estar a trinta minutos treinando, se o senhor “eu-não-uso-relógio” tivesse chegado no horário! O que você pensa que está fazendo?
- Eu perdi a hora conversando com a Penny – disse ele, sem parecer nem um mínimo constrangido – Também não precisa ter um chilique!
- Eu vou te mostrar o que é ter um chilique se você não for AGORA para aquele maldito campo de quadribol!
- Qual é o problema com você?
- Acho que não sou eu quem tem problemas aqui! Já viu COM QUEM você está conversando, Albert?
- O que foi, está com ciúmes?
- Ah, faça-me o favor! Eu não acredito que você estava aqui com a Penélope! Não acredito que você gosta dela, Albert! Ela e a amiga idiota dela fazem apostas para ver qual de nós será expulso, Albert, e o passatempo preferido delas é falar mal de mim o máximo possível, e você está saindo com ela! – nessa hora, infelizmente, eu estava quase chorando. Albert estava me olhando espantado.
Nessa hora Paul entrou na jogada. Fala sério, ele veio em minha defesa, e eu nem consegui ficar feliz. Um pouco antes disso eu teria ficado super alegre, mas eu nem consegui me animar por isso naquela hora.
- Ei, o que está acontecendo? – perguntou ele.
- Não é da sua conta – retrucou Albert.
- Deixa de ser estúpido, Albert! O que está acontecendo – eu virei para Paul – é que ele simplesmente esqueceu o treino e resolveu ficar namorando por aí!
- Eu não estou namorando a Penélope!
- Quem se importa? – eu gritei para ele. Paul nos observava, confuso – Eu não estou nem aí para você, Albert!
Ele ergueu a varinha, apontada diretamente para mim. Eu peguei a minha também, mas Paul, prevendo o que ia acontecer, se colocou na minha frente. Penélope estava com uma mão no ombro de Albert e a outra no seu braço, tentando segura-lo. Ah, eu podia matar os dois naquela hora!
- Vamos Tonks, vamos voltar para o treino – disse Paul segurando meu braço – Vamos, não adianta brigar, só vai deixá-la mais encrencada, não vale a pena. Deixe Albert decidir quais são as prioridades dele. Tenho certeza de que podemos encontrar um novo batedor.
- Ah, é bem isso que você quer, não é Paul? – esbravejou Albert – Que eu seja expulso do time, é isso?
- Eu bem que gostaria – gritei antes que Paul pudesse responder.
Alguns alunos do primeiro e segundo ano tinham parado em volta, observando. Eu respirei fundo, resistindo ao impulso de atacar Albert, e deixei que Paul me levasse embora de lá. É claro que não consegui treinar direito depois disso, deixei a goles cair centenas de vezes, mas acho que Paul explicou para Thayla o que havia acontecido, por que ela não brigou comigo nenhuma vez, e Albert rebatia os balaços com tanta força que quase acertou o nariz dela uma vez.
Não estamos mais nos falando, é obvio. Thomas me perguntou o que aconteceu e (coitado, eu estava nervosa) eu quase o deixei surdo de tanto berrar, mas tanto faz, não estou nem aí. David e Lena vieram, estilo “casal feliz”, para cima de mim, tentando me animar, mas eu não dei a menor bola. Mandy me convidou para jogar snap explosivo com ela (eu adoro, ela não gosta, eu devia ter sido mais grata), mas eu apenas saí batendo a porta para o nosso dormitório, e a deixei falando sozinha.
Droga, eu estou chorando! Odeio chorar!
Vou dormir.
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Já estou melhor, mas ainda não estamos nos falando e, na verdade, nunca ficamos no mesmo lugar quando possível. Os garotos já vieram me dizer que eu devia pedir desculpas e ir falar com ele, mas eu me recuso terminantemente a isso. Mandy e Lena estão tentando me fazer sentir melhor também, mas não adianta.
Bem, no treino de hoje eu estava bem melhor, fiz quatro gols, e Thayla me deu os parabéns, dizendo que eu estava ótima. Acho que também estava querendo me animar.
A novidade é que haverá um baile no Natal. Foi idéia dos alunos do sétimo ano, e o diretor autorizou. Todos os alunos estão convidados. Ainda falta mais de um mês, mas todos estão falando nisso. Também notei que Albert anda menos com Penélope agora, é quase como se só estivesse com ela para ver se eu explodiria ou não e agora que eu o fiz, não tivesse mais graça. Garotos são tão irritantes!
Aliás, Mandy está caindo de amores pelo professor Doyle. Ela e metade das garotas de Hogwarts, do primeiro ao sétimo ano. Ela sempre foi a melhor aluna da classe, mas agora passa o dobro do tempo na biblioteca, fazendo os melhores deveres de Defesa Contra as Artes das Trevas que eu já vi, e lendo sobre o próximo assunto para estar sempre um passo a frente, então quando ele pergunta alguma coisa ela é sempre a primeira a levantar a mão, e a resposta está sempre certa. Quando ele lhe dá parabéns, ou fala coisas tipo “Quem me dera ter mais alunos como você, Mandy” ela fica mais vermelha que a bandeira da Grifinória, sorrindo. É meio patético, porque, obviamente, ela não tem a menor chance com ele, mas não sou eu quem vai dizer isso a ela, ela anda tão feliz nos últimos dias!
Queria que felicidade fosse contagiosa, assim eu provavelmente estaria mais feliz, com tantas garotas dando pulinhos de alegria pelo castelo desde que o baile foi anunciado. O professor Flitwick disse que este ano aprenderíamos feitiço para animar, bom, é melhor ele andar logo, eu estou bem que precisando.
Aliás, Paul está sendo muito legal comigo nesses dias. Talvez ele até goste de mim. Talvez. Ah, como eu gostaria! Eu ia mesmo mostrar para o Albert que eu não estava com ciúmes dele afinal de contas!
Tenho que ir. Prometi ajudar Lena com o dever de transfiguração – eu estou ótima nessa matéria.
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Albert veio falar comigo hoje.
Acho que está arrependido por que pediu desculpas e tudo o mais. Eu aceitei por que estava mesmo muito sem graça sem ele.
Decidimos que vamos nós quatro, eu, Albert, David e Thomas, o grupo original, juntos para Hogsmeade no próximo passeio. E tentaremos novamente entrar na casa dos gritos! Nós sempre achamos um jeito.
Todos ficaram definitivamente felizes por eu e Albert nos acertarmos, acho que eu estava sendo mesmo muito chata. E Lena nem se importou que o namorado dela não fosse com ela a Hogsmeade no próximo final de semana.
Finalmente está tudo voltando ao normal!
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Acabamos de voltar do povoado.
Nós saímos depois do café, como da última vez. Demos um tempo no três vassouras, por que já estava muito frio e nevando, faltando apenas algumas semanas para o Natal. Compramos os presentes e resolvemos entrar em ação!
Chegamos até a casa dos gritos. As portas e janelas fechadas por tábuas, as telhas caindo, os tijolos esfarelando em alguns pontos. Era meio assustador.
Nós fomos em silêncio até a porta, com medo que algum professor chegasse e nos desse uma detenção, mas o lugar estava deserto. Thomas apontou a varinha para a porta e murmurou algum feitiço que eu não conheço, mas que cortou as tábuas da porta e nós as tiramos com cuidado dali, para não fazer barulho. É claro que podíamos usar o Reducto, mas ele causa uma explosão e provavelmente chamaria a atenção de todos. Então apontamos para a fechadura e eu murmurei “Alorromora” e a porta se abriu.
Nós entramos todos felizes, achando que havia sido super fácil, mas devíamos saber que havia outros feitiços protegendo a construção, além daquilo. Quando demos alguns passos para dentro da casa o chão começou a tremer e então BAM! nos jogou para fora de lá, uns cinco metros. Nós caímos derrapando no chão, sujos de neve e lama, e tentamos mais uma vez, e novamente a casa nos jogou para fora. Mas deve haver uma maneira de entrar. Tem que ter! Mas, infelizmente, nós não conseguimos pensar em mais nada, então voltamos.
Apesar disso pudemos dar uma rápida olhada lá dentro antes de sermos expulsos. Havia vários móveis quebrados, os vidros das janelas estavam estilhaçados no chão, as tábuas do piso quebradas e arranhadas. Dava a impressão de ser a casa de um monstro. Acho que, mesmo se encontrássemos um meio, eu não ia gostar muito de entrar ali.
Agora, mudando de assunto, eu comprei algumas coisas em Hogsmeade, inclusive presentes para minha mãe e para os garotos, além de Mandy e Lena, para dar no Natal. Acho que eles vão gostar.
Pensando nisso, eu ainda preciso de um par para o baile!
Eu realmente podia convidar Paul. Ele pode aceitar. Quer dizer, e se ele gostar mesmo de mim e for tímido? Isso significa que está tudo em minhas mãos, e eu deveria mesmo fazer alguma coisa... Mas e se for viagem minha e ele recusar?
Deus, isso é muito complicado!
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Burra! Burra, burra, idiota! Por Merlim, eu sou a pessoa mais besta que já pisou na terra! Não acredito que eu pensei mesmo que ele podia gostar de mim. Fala sério, eu estou no terceiro ano, ele no sexto. Ah, eu sou tão estúpida.
Faltam cinco dias para o baile. Eu já estava nervosa, e decidi falar com ele. Ele estava saindo da aula de feitiços quando eu o encontrei (a propósito, eu tinha acabado de quebrar metade do conteúdo do armário de poções, sem querer, quando fui pegar alguns ingredientes e o mala do Snape tinha gritado comigo por uns dez minutos diretos, então minha auto-estima já não estava lá essas coisas). Ele estava sozinho, estava lendo um livro sobre quadribol. Eu fui até ele e disse:
- Oi, Paul!
- Ah, oi – disse ele baixando o livro – E aí, qual é a boa?
- Bom, eu estava pensando... você vai ao baile? – ele pareceu meio incomodado, mas eu resolvi que tinha que continuar.
- Vou, vou sim. E você?
- Ahn, eu estava pensando, hum, se você queria ir comigo... – ele ficou em silêncio por um minuto, então começou a falar muito lentamente, como se eu fosse retardada (o que obviamente eu sou!) ou algo assim.
- Olha, Tonks... é que eu, hum, eu já prometi que ia com outra pessoa, sabe. Além disso, não dava para eu ir com você, né, você sabe.
- Por que não? – eu ergui uma sobrancelha, meio surpresa.
- Ah, é que, bom, é que você... você está só no terceiro ano, né, e tipo, todos esperam que eu vá com alguém, sabe, popular ou sei lá e, hum, mais, hum, bonita e...
Nossa, ele realmente tem jeito com as palavras, o Paul. Mas de qualquer forma eu fiquei bem mal pelo que ele disse.
- E o quê?
- Ahn... sabe, você é bem legal e tudo, Tonks. Só que não vai rolar.
- Oh – disse eu tentando fingir que não estava nem aí – Oh, bem, se você precisa ir com alguém mais popular, então eu entendo. Vou convidar outra pessoa, acho, e deixar você manter sua reputação intacta, ok? – falei meio sarcástica.
- Tá, tá legal – os garotos não têm mesmo um pingo de sensibilidade – Olha, eu sinto muito, valeu? Foi mal.
- Não, tudo bem – disse dando um sorriso forçado – Sério, eu vou chamar outra pessoa, eu só não estou a fim de ir ao baile, sozinha. Então, bom, eu tenho que ir, vou me atrasar para a próxima aula. Até mais!
E eu fui embora dali correndo. O que mais eu podia fazer? Depois de ter sido tão idiota? É claro que ele não queria ir comigo. Ele vai com alguma garota linda e popular e não uma pirralha de treze anos! O que eu tinha na cabeça?
Ah, e também eu não fui para minha aula. Eu fui para o meu quarto e fiquei lá, trancada, até que, na hora do almoço, Mandy e Lena chegaram e eu contei a elas o que tinha acontecido. O estranho foi que eu não chorei. Não chorei nem um pouquinho. E chorei quando briguei com Albert. Fiquei muito triste, é claro, mas não rolou nem uma lágrima. Não faz o menor sentido!
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OH MEU DEUS!!!!
Eu tenho que contar a história toda. Oh meu Deus, eu ainda não consigo acreditar!
Hoje era o dia do baile. Eu estava totalmente pronta para não ir e ficar aqui na sala comunal lendo ou jogando alguma coisa, conversando com os calouros, sei lá.
Mas então, enquanto eu conversava com Albert, que também tinha dito que ia ficar “por aí”, Lena me chamou para ajudá-la a se arrumar e eu, como não tinha mais nada para fazer, fui. Eu tinha notado que Albert estava meio estranho e não conseguia deixar de lembrar do que Lena tinha me dito no verão, sabe, sobre ele gostar de mim. Às vezes ele ficava um tempo em silencio, me olhando, como se estivesse decidindo o que fazer, então se dava conta e desviava os olhos, ou sorria, daquele jeito meio maroto, como se estivesse rindo de uma piada dele mesmo. Isso me irritava bastante, mas a gente tinha feito as pazes a pouco e eu não queria brigar outra vez. Porém, quando eu me levantei ele pareceu ficar meio... nervoso, ansioso. E quando eu estava na metade da escada, indo para o quarto ele veio correndo e disse, de uma vez só, sem me encarar diretamente “Ei, Ninfa, você quer ir ao baile comigo?”.
Cara, todo o ar pareceu sair dos meus pulmões, eu senti que estava cada vez mais vermelha e tinha absoluta certeza de que Lena estava ouvindo tudo, tipo, eu estava a poucos passos dela.
Será que era isso? Ele gostava de mim, exatamente como ela tinha dito? E agora, se eu dissesse sim, isso significava que eu também gostava dele? Por que ninguém ensina o que fazer em uma situação como essa?
Agora ele estava me olhando direto nos olhos. Eu ainda estava tão surpresa, a boca meio aberta, olhando para ele estupefata. Então, quando consegui reunir algum ar eu disse “Ah, claro, ia ser legal! Como amigos, você quer dizer?” perguntei antes que pudesse me conter. E ele disse “Claro, é, hum, como amigos” mas pareceu um tanto desapontado.
Eu corri escada acima o mais rápido que pude, e quase caí tropeçando nos degraus, mas tudo bem. Contei para Lena o que tinha acabado de acontecer e ela falou “Eu te disse”, mas eu falei que só íamos como amigos, e ela ficou com aquele sorrisinho bobo no rosto como se soubesse mais do que eu, o que é ridículo, levando-se em conta que EU ia sair com o cara.
Eu tive que correr para procurar o único vestido de baile que eu tinha que é mesmo muito lindo. Ele é azul da cor do céu, mais ou menos, bem justo no corpo, só ficando mais solto na saia, acima do joelho. Coloquei sandálias prateadas – eu sei que é inverno e está nevando lá fora, mas o Salão Principal é bem aquecido – e pulseiras da mesma cor.
Resolvi ir com o cabelo castanho, liso, até o meio das costas, e achei que ficou muito bem. Pus duas presilhas, também prateadas, mas só de um lado, para ficar mais legal. Olhei-me no espelho.
Foi aí que eu me dei conta realmente que eu sou uma garota. Quer dizer, eu sempre soube que era uma garota, mas, não tipo, que um dia namoraria MESMO um cara. Os meninos sempre foram meus amigos, nunca cheguei a pensar realmente neles como namorados. E ali estava eu, de vestido – eu NUNCA uso vestido – e salto alto – que eu também NUNCA uso – pronta para um BAILE, no qual eu iria com um garoto, que era o ALBERT!
Quando deram oito horas eu desci e encontrei Albert me esperando. Ele estava muito gato! Eu quase me matei quando percebi o que estava pensando, mas estava mesmo. Ele disse “Você está linda” e eu agradeci, e logo vi Lena olhando para nós e sorrindo, enquanto saía com David. Mandy tinha sido convidada por um garoto da Lufa-Lufa, mas disse que se ele tentasse beija-la ela iria azará-lo, por que ela só ia para ter com quem dançar já que todos tinham par.
No salão haviam colocado varias mesinhas cada uma para oito ou doze pessoas. Nós pegamos uma para oito e sentamos com David, Lena, Mandy, Kenny (o par da Mandy, um garoto de cabelos ruivos, do terceiro ano), Thomas e uma menina que eu não conheço, mas que disse que se Rosa. Ela é da Grifinória também, do mesmo ano que nós. Parece ser meio legal, mas meio fresca. É uma daquelas que me olhava irritada porque eu andava com Thomas e os garotos. Tem cabelos loiros compridos que havia prendido em um coque elegante, mas vamos pular essa parte.
Depois do jantar a musica começou a tocar. Era agitada, ótima para dançar, mas eu estava vendo que Albert nunca ia me convidar por conta própria. Então eu resolvi agir por conta própria, mesmo que da última vez que eu tinha agido por conta própria com um garoto eu tivesse me ferrado.
- Sabe dançar, Albert? – perguntei inocentemente.
Eu meio que tinha um plano. Se ele dissesse “sim” eu podia pedir que ele me ensinasse. Se respondesse que não eu podia ficar tipo “ah, é tão fácil, vem, eu te ensino”. Mas ele sorriu novamente, como se soubesse o que eu estava tramando, e disse:
- Um pouco.
Pronto. Ele tinha me pegado. Um pouco não é o suficiente para ensinar alguém, e, a não ser que a pessoa queira se tornar dançarina profissional, ela também não precisa de aulas. Droga. Mas então me ocorreu: Albert nunca recusa um desafio. Eu me aproximei dele, até nossos rostos ficarem distantes apenas alguns centímetros, um sorriso maroto nos lábios e disse em um sussurro:
- Prove.
Ele sorriu. Como se esperasse o tempo todo que eu fizesse aquilo. Então se levantou e me ofereceu a mão, e nós fomos para a pista de dança. A música era ótima, eu estava adorando. Mas então, depois de um tempo, começaram a tocar música lenta. Eu me preparei imediatamente para ir sentar, mas, inesperadamente (totalmente inesperadamente), Albert segurou meu braço e perguntou, sorrindo maliciosamente:
- Você não queria dançar?
E pôs as mãos ao redor da minha cintura. Eu, automaticamente coloquei as minhas ao redor do seu pescoço, e continuamos dançando, mas a minha cabeça estava louca de idéias. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu só sei que a música (e talvez o perfume do Albert – ah, meu Deus, não acredito que escrevi isso!) me envolveu de tal forma que não consigo lembrar direito o que houve depois disso.
Eu sentia a respiração dele, tão próxima, quente, enquanto nossos rostos se aproximavam cada vez mais um do outro. Meu coração batia acelerado, tão alto que achava que ele iria ouvi-lo a qualquer momento. A música agora era outra, mas eu não conseguia mais distingui-la. Era estranho, mas era bom ao mesmo tempo, como se pela primeira vez eu tinha me dado conta de que Albert e eu podíamos ser mais... mais que amigos. Era como se não houvesse mais ninguém lá além de nós dois e esses segundos em que nossos rostos se aproximavam pareceram séculos. Então os lábios dele tocaram os meus. Eu fechei os olhos, instintivamente e ele fez a mesma coisa. Mas havia uma voz irritante na minha cabeça que dizia:
Tonks! Tonks! Você está beijando Albert! Albert, seu amigo desde o primeiro ano!
Mas uma outra, muito mais alta disse:
E daí? Posso beijá-lo se quiser!
E foi basicamente isso. Eu não pude evitar, foi realmente muito bom. Acho que não é do Paul que eu gosto afinal. Aliás, ele não foi ao baile. Parece que a garota achou alguém “melhor” para ir com ela do que o Paul, e ele ficou sem par. Até sinto pena dele.
Quando nos separamos por fim, nós voltamos para nossa mesa, mas era realmente difícil pensar em alguma coisa para dizer agora, depois de termos nos beijado (muito, por sinal). Lena e David logo foram se sentar também, e ela não parava de nos lançar olhares maliciosos. Quem diria que ela era aquela garotinha tímida que eu conheci em Hogwarts no primeiro ano!
Agora estou aqui e só o que consigo pensar é no Albert e em como vou encará-lo amanhã. Tipo, se nós tivermos que fazer dupla na aula de feitiços e eu não conseguir pensar em nada para dizer. Isso será uma bela tragédia. Isso porque hoje a noite logo todos os outros foram se sentar também, então estávamos em turma, nem paramos para pensar muito. Todos conversamos normalmente até mais ou menos umas duas horas da madrugada, quando começamos a ficar com sono e cada um foi para seu quarto, dormir (no meu caso, escrever). Mas aposto que, se ficarmos só nós dois, eu vou ter uma pane mental ou algo do tipo e vou ficar lá parada, olhando para ele que nem uma idiota, sem saber o que dizer.
De qualquer forma eu agora não paro de pensar nele e em como foi tããããããããão bom beija-lo e em como ele estava cheiroso, e como era bom estar lá com ele, dançando, tão pertinho. Céus, eu devo estar louca. Não acredito que estou escrevendo essas coisas! Eu jurei para mim mesma que nunca viraria uma babaca apaixonada igual à Lena estava ano passado, e é exatamente assim que estou agindo agora. Eu devia me atirar da torre.
Mas é melhor não, eu provavelmente morreria e nunca mais poderia beijar o lindo do Albert outra vez...
Essa não! Estou pensando bobagens de novo!
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Acabei de me lembrar de um fato muito importante – não sou mais Boca Virgem!!!!!!!!!!!! Não sou mais BV! Não sou mais BV! NÃO SOU MAIS BV!!!!
P.S. são quatro e meia da manhã. Eu poderia gritar, mas provavelmente acordaria todo o castelo.
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Agora que voltamos às aulas, os professores estão nos sufocando com tanto dever de casa, já que os exames estão próximos. Só por esta semana já tenho que praticar o feitiço de expulsão, o de locomoção, fazer um trabalho sobre animagos para McGonagall, um sobre o efeito e modo de preparo correto da poção da Incoerência (acabei derretendo o meu caldeirão na última aula), e uma explicação detalhada sobre salamandras de fogo para a aula de Trato de Criaturas Mágicas.
O feitiço de expulsão foi o mais divertido. Treinamos com algumas almofadas fazendo-as voar até um armário do outro lado da sala. Jogaram varias pela janela, e algumas acertaram o professor Flitwick. Eu consegui realiza-lo direitinho, mas fui uma das poucas.
Agora, não estou me saindo tão bem em poções. Já derreti um caldeirão, explodi outro, e várias vezes o congelei ou o fiz quebrar em pedacinhos acrescentando o ingrediente errado ou demais ou de menos. Isso sem contar com às vezes em que acabo derrubando o armário de ingredientes, essas coisas. Snape com certeza me odeia, mas eu simplesmente não tenho jeito para a coisa. Perdi a conta de quantas vezes fiquei sem nota. Tenho urgentemente que melhorar se quiser passar de ano.
Mudando de assunto, eu não sei o que está havendo entre mim e Albert. Nós já ficamos mais umas duas vezes, mas no resto do tempo ele age normalmente comigo. Como amigos, como se nada tivesse acontecido. Isso está me deixando louca!
Eu falei com Lena e ela disse que os garotos são assim mesmo, e que tenho que ter paciência. Bem, eu não sei se ela sabe, mas eu não sou bem a pessoa mais paciente do mundo.
Eu gostaria de pedir o conselho de outra pessoa, mas Mandy está fora de cogitação. Ela agora vive em um mundo próprio, sempre na biblioteca, estudando para as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, só para responder às perguntas do professor Doyle. Eu estou com pena dela. Está perdendo o controle. Tem olheiras enormes e está comendo menos, dormindo menos, estressada... Ela vive para aquelas aulas! Gostaria mesmo de ajudá-la, mas já tenho o meu problema amoroso para resolver, afinal.
Oh, Anna não perdeu tempo para vir me incomodar – junto com sua fiel escudeira Penélope, é claro – sobre o negócio do beijo, é claro. Agora todo o tempo em que estamos próximas uma da outra sem um professor por perto, é tomado por frases do tipo “É claro, o Albert é tão feio, mas se você não consegue coisa melhor...” ou “Acho bom você ter aproveitado mesmo, por que duvido que vá encontrar mais alguém em toda a sua vida que queira beijá-la”. Mas eu não estou nem aí para ela! Lena me disse que ela NUNCA beijou ninguém. É pura inveja. Ela ouviu Anna e Penélope conversando esses dias no banheiro e me contou na hora. Hahaha, bem feito, ninguém vai querer colocar a língua na boca de uma pessoa tão intragável como ela.
Em todo caso, tenho que ir, como disse lá no inicio, tenho montes de deveres de casa para fazer.
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Pobrezinha da Mandy.
Ela se declarou para ele! Para o professor Doyle! No meio da aula!
Oh, meu Merlim, escrevo depois, tenho que consola-la!
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Ela já está dormindo agora. Lena e eu ficamos horas falando com ela, mas ela não parou nem um minuto de chorar, mesmo depois de ter apagado a luz e ter ido se deitar. Coitadinha.
Aconteceu o seguinte: o professor estava fazendo uma pergunta sobre lobisomens, mas eu não estava prestando atenção porque estava jogando forca em um pedaço de pergaminho com o Albert – eu disse que estávamos totalmente como amigos agora. E ela, como de costume, levantou a mão. Ele disse “E como sempre, nossa querida Mandy sabe a resposta, não é, Mandy?”. Ela se levantou para responder, enquanto ele a observava sorrindo, esperando a resposta. Mas de repente, ela corou que nem louca, engasgou e disse.
- Er... er, professor, eu estava pensando se o senhor gostaria de ir comigo a Hogsmeade no próximo fim de semana.
O professor Doyle ficou olhando para ela, totalmente abismado, sem entender nada. Então pigarreou e disse:
- Hum, muito bem, quem saberia a resposta correta para a pergunta? – e continuou a aula normalmente.
Mandy sentou-se em seu lugar e ficou rabiscando um pedaço de pergaminho o resto da aula, cheia de lágrimas nos olhos. Quando o sinal bateu, ela saiu correndo da sala, ao invés de se demorar o máximo possível para fazer alguma pergunta – que obviamente já sabia a resposta – só para ficar mais tempo perto dele, como ela fazia de costume.
Eu disse aos garotos que tinha que ir falar com ela, e que a gente se via depois. Eu e Lena a encontramos no Salão Comunal, chorando de soluçar e murmurando coisas que eram abafadas por ela estar com o rosto inteiro esmagado contra uma almofada. Cada uma ficou de um lado dela, e tentamos conversar um pouco. Acabamos perdendo o almoço e as duas aulas seguintes – poções e feitiços.
- Eu não sei o que aconteceu comigo! – ela disse entre soluços – Eu simplesmente não consegui me controlar. A resposta sumiu da minha cabeça, e ele estava lá, sorrindo e... – e aí não deu pra entender mais nada por eu ela começou a chorar desesperadamente.
Anna e Penélope vieram implicar e rir de Mandy, e eu azarei as duas – foi um momento inesquecível, usei a azaração do impedimento em Anna que voou alguns metros, e o Furunculus em Penélope, que saiu chorando para a Ala Hospitalar.
- Mandy... – comecei – Mandy, não chora, vai. Olha, ele é nosso professor, mesmo que quisesse ele não podia aceitar – eu disse mesmo sabendo que, mesmo se pudesse, ele não aceitaria – Não adianta chorar, vamos, você é forte, a garota mais inteligente que eu conheço, milhares de garotos ficariam honrados em...!
- Mas eu não quero milhares de garotos! – gritou ela, contra a almofada – Eu só queria que ELE gostasse de mim, mas eu sou tão chata, tão burra...!
- Você é a pessoa menos burra que eu conheço – falou Lena prontamente – Se você é burra, o que somos a Tonks e eu? Escuta, pára com esse choro, você é melhor do que qualquer garota que ele possa querer, mas, como a Tonks disse, é nosso professor, seria demitido se começasse a te namorar. Vai, por favor...
- Eu sou uma idiota mesmo – continuou ela, como se nem tivesse nos ouvido – No que eu estava pensando? É óbvio que ele não gosta de mim, por que iria gostar? Eu sou tão feia, e chata, e burra... aaaah, eu nunca, nunca mais vou gostar de alguém na minha vida, eu me proíbo de passar por isso de novo. Como eu pude fazer uma coisa tão estúpida como essa? Ele é professor, e é TÃO lindo, pode ter a garota que quiser, por que ia me querer? E na frente da sala inteira, ai, que idiota, idiota, idiota! Todos vão rir de mim para o resto da minha vida! Como é que eu vou continuar indo para as aulas dele, tendo que encara-lo até terminar Hogwarts, eu não posso mais nem olhar para cara dele, gente, que vergonha!
E por aí foi até a hora do jantar, quando eu e Lena (ambas famintas, já que não tínhamos almoçado) insistimos em ir comer alguma coisa. Ela foi de má vontade e ainda chorando baixinho, mas não demoramos nem dez minutos no Salão Principal, e ela quis voltar. Estou totalmente morta de fome à essa altura!
Acho que vou tentar entrar na cozinha para comer alguma coisa, o Thomas me ensinou como.
Até mais.
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Ganhamos o jogo contra Sonserina!
Nós fomos mesmo muuuuito bem! Eu fiz três gols no jogo!
Sem maiores detalhes, ganhamos de 180 a 130, e Thayla capturou o pomo bem debaixo do nariz do apanhador da Sonserina – aquele mala do Ruy. Por isso, a comemoração foi em dobro!
Nosso próximo jogo é contra Lufa-Lufa, e estamos super prontos!
Ah, bem, eu e Albert ficamos de novo, na comemoração do jogo, e tal. Gente, eu não sei o que fazer! É tão bom quando estamos “juntos”, mas depois ele vem como se nada tivesse acontecido! Isso está me deixando totalmente maluca.
Como eu ia dizendo, o time está igual ao ano passado, e estamos jogando muito bem. Acho que podemos até ganhar da Grifinória, agora que Carlinhos deixou o time. Eles não conseguiram um substituto muito bom, pelo que o Thomas disse. Estou realmente ansiosa para esse jogo!
Mandy ainda não superou o acontecido, e está há duas semanas sem levantar a mão uma vez sequer durante as aulas do professor Doyle, e tem ataques repentinos de choro vez ou outra. Achei que ela ia superar se déssemos um tempo, mas a coisa está ficando meio séria. Ela parou totalmente de comer, de estudar, não consegue dormir direito, está muito pior do que antes!
Bom, tenho que ir para o treino.
Tchau
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Exames chegando, e treino de quadribol quase todas as noites. Estou realmente ocupada ultimamente. Agora, só vim para falar de algumas coisas boas desta semana. Sobre o Albert.
Nós combinamos de nos encontrar no salão comunal na noite passada, durante a noite. Ele me mandou uma coruja, quando eu estava indo me deitar. Eu já estava bastante irritada, por que Anna e Penélope resolveram me atormentar em dobro desde o dia da azaração (mencionei que peguei uma semana de detenções? Bem, estou mencionando agora, foi uma chatice), e não paravam de fazer gozações por qualquer motivo, entre os assuntos preferidos delas estão: meus foras nas aulas de poções (“o que você pretende derreter na próxima aula?”), os garotos (“você é tão nojenta que mal posso te diferenciar de um deles”), e o meu cabelo – que agora estava azul (“vai ser palhaça aonde?”). Então, eu achei que seria alguma bobagem qualquer, tipo entrar na floresta, ou mergulhar no lago atrás dê sereianos, ou no máximo tentar ir a Hogsmeade e invadir a casa dos gritos, algo assim. Imaginei que David, Rogério e Thomas também estariam lá.
Mas não estavam. Nenhum deles estava no salão quando eu cheguei. Estava tudo muito escuro lá, mas eu podia ver o contorno de Albert lá, sentado em uma poltrona, me esperando. Achei que devia haver algo errado. Aproximei-me em silêncio – o que teria dado certo se eu não tivesse tropeçado em um vaso enorme e caído estatelada no chão, enquanto o vaso também se estilhaçava, o que, obviamente, despertou a atenção dele.
- Ninfa! – exclamou ele ajudando a me levantar – Ahn, oi.
- Oi. E aí, qual é o problema?
- Ah, não, não é um problema – ele parecia realmente nervoso, quase como antes de me convidar para o baile – Eu, bem, queria falar com você.
- Oh. Hum, bem, estou aqui, então, o que é?
- Vem cá – disse num sussurro. Ele passou os braços ao redor da minha cintura e me beijou. Um beijo muito, muuuuito longo. Depois se afastou um pouco seu rosto do meu e disse – Eu estava com saudades.
- Nós nos vimos o dia inteiro – disse meio rindo.
- Podemos... podemos parar de fingir... que somos só amigos? – ele me perguntou meio hesitante.
- O-o quê? – gaguejei totalmente confusa – Albert o que você está dizendo?
Mas acho que soei meio histérica, por que ele me soltou rapidinho. Estava parecendo meio pálido. Ele se afastou e ficou encarando o chão.
- Tudo bem, então – ele murmurou – Quer dizer, eu achei que você não ia querer, sabe, nada sério. Eu só pensei...
- Você está falando de... namorados? – perguntei incrédula.
- É, bem, foi. Mas eu entendo, total, Ninfa, a gente continua ficando de vez em quando então.
- Não!
- Hã? – dessa vez era ele quem estava sem entender nada.
- Não, Albert, eu nem acredito, quer dizer, eu achei que você só estivesse comigo por... sei lá, diversão. Eu nunca imaginei... é claro que eu quero... é claro que eu adoraria ser sua namorada! – eu falei me atropelando toda.
Ele sorriu, aquele sorriso maroto que nós dois temos tão parecido, divertido, malicioso ao mesmo tempo, e me pegou outra vez pela cintura, mas eu o beijei antes mesmo que ele pudesse fazer qualquer coisa. E nós ficamos um bom tempo nos beijando depois, e foi tão bom! Antes de subir, ele me perguntou:
- E aí, o que acha que vão dizer? – eu sabia que ele estava se referindo à nossa turma.
- Ah, eu não sei – falei meio sarcástica – provavelmente Thomas vai começar a cantar aquelas músicas bobas, tipo “tá namorando”, Lena vai começar a gritar histericamente, Mandy vai começar a chorar (tipo, não é preciso muito para fazer Mandy chorar, nesses últimos dias), David vai dizer que sabia o tempo todo que isso ia acabar assim... acha que já está bom?
- Acho que sim – falou rindo – É melhor irmos deitar. A mente maliciosa de Lena deve estar trabalhando um bocado e você não vai querer fazê-la esperar muito para contar a ela a decepcionante realidade, não é?
E ele estava cem por cento certo. Quando entrei no quarto lá estava Lena e a primeira coisa que ela disse quando passei pela porta foi “o que aconteceu?” e, exatamente como eu tinha previsto, quando contei a ela que estávamos namorando ela teve um acesso de gritinhos histéricos que quase acordaram todo mundo.
Eu só resolvi escrever por que não estava conseguindo dormir, mas agora estou com sono. Boa noite.
Nem consigo acreditar: estou namorando!
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Vencemos Lufa-Lufa!
Agora só nos resta a Grifinória.
Nós jogamos com bastante sol, mas não estava tão difícil, embora fosse meio difícil de enxergar. Haley fez sete gols maravilhosos, e Paul fez um. Eu consegui marcar apenas duas vezes, mas já foi suficiente. Ganhamos de 250 a 100, Thayla pegou o pomo depois de uma hora de jogo. Até que não foi tão mal, no jogo da Sonserina levou séculos.
As reações do pessoal sobre o namoro foram exatamente iguais ao que eu imaginava. Lena gritou, me abraçou e fez o maior escândalo. Mandy debulhou-se em lágrimas. Tudo nos conformes. Namorar é ótimo, sabe. Pelo menos, namorar o Albert é ótimo. Ele ainda é totalmente implicante e vive me desafiando, mas, se quer saber, eu sou bem parecida nesse ponto. Um não perde a chance de humilhar o outro.
Na outra semana, tentamos invadir a torre de astronomia, o Thomas e o David também foram. Como todos temos vassouras – menos o David que resolveu pegar carona comigo – apostamos em quem conseguiria entrar primeiro. Cada um entraria por uma janela e, se chegasse primeiro, iria usar o feitiço Sonorus e dizer algo tipo “Snape é um narigudo seboso, que devia lavar os cabelos!” ou “Trelawney é uma charlatã velha com cara de inseto gigante!”, esse tipo de coisa, e depois sair correndo – ou melhor, voando – para o dormitório. Thomas venceu e falou tudo aquilo sobre o Snape, sobre a Trelawney e acrescentou “O professor Doyle está saindo com a McGonagall e acha que ela é muito sexy de lingerie!” e aí todos tiveram um ataque de riso, por que isso é totalmente mentira, mas devíamos ter imaginado que não viria nada de bom da cabeça do Thomas.
Voamos rapidamente de volta para a torre, mas os professores também haviam sido acordados e fizeram uma espécie de barreira ou coisa assim, que nos desceu até o chão. Até foi meio engraçado, por que nós estávamos totalmente ferrados, mas nenhum de nós conseguia parar de rir. Thomas já estava de joelhos e dava murros no chão, engasgando de tanto rir. Eu estava apoiada no David – tínhamos caído da vassoura a uns dois metros – gargalhando e ele e Albert já tinham lágrimas nos olhos.
- Muito bem – disse a voz fina do professor Flitwick – Muito bem, acalmem-se todos vocês! – mas ninguém deu atenção.
- Silêncio! – gritou McGonagall furiosa, a boca mais fina que uma linha, as narinas dilatadas, as sobrancelhas unidas em uma única reta – Então – exclamou quando calamos a boca – Vocês acharam engraçado espalhar estórias inventadas e TOTALMENTE SEM FUNDAMENTO sobre seus professores, durante a madrugada? Eu não achei graça alguma! Acordaram todo o castelo! Você, Srta. Tonks, já está suficientemente encrencada, não acha, depois de ter azarado as suas companheiras de quarto há algumas semanas, para tomar parte dessas brincadeiras idiotas! O mesmo para vocês! Vou descontar cinqüenta pontos por cabeça e todos terão uma semana de detenções. Irão ajudar madame Pomfrey na Ala Hospitalar, limpar tudo, lavar as comadres, atender a cada pedido de Papoula a vocês. Serão obedientes e SILENCIOSOS! Nada de usar magia!
Cara, aquela foi uma semana nojenta! Parecia uma noite de tortura, ter que fazer tudo sem um pingo de mágica. Levamos horas, todas as noites, para terminar tudo. Mas valeu a pena. Quando voltamos ao Salão Comunal, todos estavam acordados, e riram – até Mandy admitiu que foi bem engraçado – elogiaram, e tudo o mais. Alguns garotos mais velhos quiseram dar sugestões de coisas que diriam se estivessem lá em cima. Ainda estão falando disso até hoje, duas semanas depois. Acho que foi uma espécie de recorde.
Tenho que ir, está tendo uma comemoração na sala comunal.
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A última partida – contra Grifinória – será amanhã. Estou tão nervosa que nem consigo comer, e mal falo com os outros. Passamos a tarde treinando, vendo esquemas de jogos – que são mesmo muito chatos – e estudando as táticas e jogadas que Thayla acha que devíamos usar no jogo. Se vencermos, seremos os campeões da Taça de Quadribol! Mal posso esperar.
Vou dormir, preciso estar bem disposta para o jogo!
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A Corvinal é tudo ou nada?
Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuudo!!!!!!
Vencemos o jogo! Vencemos, nem acredito, ganhamos a Copa, viva!
O time estava muito tenso antes de a partida começar. Se estavam se sentindo como eu, é uma sensação como se nosso coração estivesse entalado na garganta. Mas quando o jogo começou, foi dez! O time estava muito bom. Haley começou fazendo um gol, e já ia fazer o segundo, quando um balaço foi voando (literalmente) na direção dela, e ela teve que ficar pendurada na vassoura para desviar. A goles passou para a Grifinória e eles marcaram duas vezes. Então Paul marcou. Ele desviou de dois artilheiros e um balaço e fez o ponto. Estávamos empatados. Logo a Goles veio para mim. E os três artilheiros da Grifinória também. Nem sei como consegui desviar, por que estava cercada, só sei que eu virei a vassoura na direção das balizas, acelerei, desviei de um balaço, que acertou a jogadora que estava atrás de mim, passei por baixo de um jogador – que tentou segurar a cauda da minha vassoura, e levou uma falta. Pênalti para Corvinal, e eu marquei.
Consegui marcar mais duas vezes, em uma delas o batedor da Grifinória quase acertou minha cabeça, e eu tive que dar uma volta completa em torno da vassoura para conseguir ficar montada.
Mas isso não interessa, por que afinal, nós vencemos!! Duas horas de jogo depois – foi bem longo mesmo – eles estavam na frente por noventa pontos. Mas então, Thayla (eu já mencionei o quanto eu adoro essa garota?) capturou o pomo. E foi uma captura totalmente perfeita, tipo, com perseguição e tudo. Ela passou super rápida pelo campo atrás do pomo, que estava há alguns centímetros do chão, do lado das balizas adversárias. A bolinha minúscula saiu voando em disparada, e Thayla foi atrás, por cima das arquibancadas e tudo. Então ela capturou-o e foi uma alegria só! Todos os alunos da Corvinal invadiram o campo e ficamos séculos comemorando, e Dumbledore veio nos entregar a Taça, e tudo o mais.
Agora vou descer por que a festa está muito boa e o Albert está me esperando afinal de contas.
Nem posso acreditar: GANHAMOS!!!!
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Exames feitos, hora de arrumar as malas. Este foi mesmo um ano muito bom, em todos os sentidos. Ah, e adivinha: Professor Doyle foi demitido. Não nos disseram por que, mas teremos um novo professor de defesa contra as artes das trevas ano que vem.
Por falar em ano que vem, graças a Deus eu passei em todas as provas, INCLUSIVE poções. Passei raspando, é claro, mas passei. Estou só um pouco triste por que vamos embora amanhã de manhã. Vou sentir falta das minhas amigas e do meu namorado durante as férias, mas espero que eles apareçam para me visitar ou me convidem para ir à sua casa, sabe, para eu não me sentir solitária e mofando como no verão passado.
Agora não posso perder tempo escrevendo, porque ainda tenho metade das minhas coisas para procurar/guardar para a viagem de volta. E também, quero ficar o máximo de tempo possível com meus amigos, antes de termos que nos despedir.
Beijos, e até logo!!
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