Capítulo XXXVI
Hermione gostaria de saber por que, ultimamente, tinha sempre de ficar sozinha vendo Harry afastar-se. Enquanto bebia o café, lembrou a conversa que haviam tido. O que havia tentado dizer era que não podia mais ser intimidada por um homem que passara noites tentando ampará-la e acalmá-la. Não podia temer alguém que, consciente de seus receios, comprara um abajur em forma de flor. Finalmente, era impossível se deixar intimar pelo homem que amava. E chegara muito perto de revelar esse amor.
As palavras haviam dançado em seus lábios, clamando pela coragem que as tornaria audíveis. Depois do café, Hermione retornou à sala de espera. Sozinha, constatou que apenas três horas haviam se passado. Muito tempo depois, Harry retornou mais tenso do que antes, a testa marcada por uma ruga de apreensão. Hermione o observava e sofria com seu aparente isolamento. Ou seria sua própria solidão que causava tanta dor? Sabia que ela e Harry eram muito parecidos. Fortes, independentes, auto-suficientes… só gostaria de saber se ele também sentia aquele imenso vazio no coração.
Luxúria. Era isso que Harry sentia por ela. E luxúria não tinha nenhuma relação com sonhos compartilhados, com a companhia e o conforto do ser amado nos momentos difíceis. Luxúria e amor eram coisas distintas. Os minutos passavam, nenhum médico havia aparecido para dar notícias de Rony. Ela fechou os olhos, rezando em silêncio. Hermione sentiu o perfume de Harry um segundo antes de vê-lo sentado a seu lado no seu banco.
- Alguma notícia?
- Ainda não. – ele respondeu com um suspiro cansado. Apesar de todas as resoluções em contrário, ela segurou a mão do homem que parecia exausto e angustiado.
- Não consigo imaginar a vida sem melhor amigo, meu irmão. Ele me faz ir e me deixa furioso constantemente, mas não consigo imaginá-lo… longe de mim.
Não havia o que dizer. Nenhuma palavra poderia amenizar a dor da possibilidade da perda de um amigo, um irmão como Harry dizia. Tentando ajudá-lo, continuou segurando sua mão em silêncio. Num instante seguinte o Dr. Johnson, anda no avental verde utilizado no centro cirúrgico, o rosto cansado e abatido, os cumprimentou com um sorriso vitorioso.
- Terminamos. Parece que conseguimos remover todo o tumor, mas marcamos algumas sessões de quimioterapia só por precaução.
- Graças a Deus! – Harry exclamou entusiasmado.
- Podemos vê-lo, doutor?
- Ele inda está na sala de recuperação. Mandarei uma enfermeira vir buscá-los dentro de quinze ou vinte minutos, e então poderão vê-lo rapidamente. O médico deixou-os e, emocionada, Hermione atirou-se nos braços de Harry, compartilhando de sua alegria.
- Rony vai ficar bom. – ela disse. – Vai continuar nos enlouquecendo com sua irresponsabilidade, vai ver Bryan crescer e… - lágrimas a impediram de concluir a frase.
- Ei, ei… não é hora de chorar. É hora de celebrar!
- Eu sei… eu sei. – Ela recuou, precisando colocar alguma distância entre eles. – Estou feliz por Rony ter superado o pior momento.
- Então, por que as lágrimas?
- Porque sei que chegou o momento de dizer adeus a todos vocês. – Era inútil continuar fingindo, tentando ignorar a verdade. – Estou chorando porque o amo, Harry, porque não sei como poderei viver sem você.
Nesse momento uma enfermeira entrou na sala.
- O Dr. Johnson disse que já posso levá-los para ver Ronald.
- Obrigado. – Harry respondeu. Depois tirou um lenço do bolso e entregou-o a Hermione. – Não o deixe vê-la nesse estado. – Sem encará-la, seguiu a enfermeira até a sala onde o amigo se encontrava, deixando-a sozinha com as palavras de amor que ainda ecoavam no silêncio.
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