Capítulo V
Harry nunca se sentira tão fora de seu elemento. A chuva caía forte por uma hora, apagando o que restava do fogo e deixando-os ensopados o bastante para estarem miseráveis. Felizmente a tempestade se afastara, deixando apenas a escuridão e o silêncio quebrado pelo som da respiração de ambos.
- Não vai haver nenhum tipo de ajuda esta noite vai? – perguntou Hermione desolada. Tinha de ser honesto.
- Duvido que alguém comece uma busca esta noite. – duvidava até que alguém começasse a busca no dia seguinte. Era melhor deixar os detalhes para mais tarde.
- Vamos passar a noite aqui. – A voz dela soava tensa, sombria.
- Se ninguém aparecer para resgatar-nos até amanhã de manhã, caminharemos até a cidade mais próxima. – Também não diria que não sabia se poderia andar na manhã seguinte. Sentia a dor que atingia até o osso do joelho, e sabia que agravara a velha lesão causada pela prática do quadribol, um problema que, no passado, já havia sido muito sério.
- Certo. Por enquanto, tudo que podemos fazer é ficarmos aqui sentados na escuridão. – disse ela. Gostaria de poder ver seu rosto. Talvez assim compreendesse aquele tom estranho.
- Sei que não será a noite mais confortável de sua vida, mas não tem alternativa.
- Não gosto do escuro.
Medo. Era isso que ouvira na voz dela, e estava surpreso com a constatação. A competente, inteligente e contida Hermione Granger estava com medo do escuro! Mas eles já haviam passado por tanta coisa juntos no escuro quando eram adolescentes.
- Não há nada a temer. – disse.
- Não é medo. Disse apenas que não gosto do escuro. – Apesar do protesto, ela se aproximou até apoiar o ombro no dele. E Harry não acreditava na demonstração de coragem.
Hermione tinha medo do escuro. Surpreendente. Uma das coisas que mais o irritaram nela fora aquele eterno ar de controle, aquela demonstração contínua de força e eficiência. No fundo, sempre acreditara que, se Hermione fosse mais suave, mais dependente ou carente, talvez Rony houvesse tido de amadurecer e aceitar a maior carga de responsabilidade dentro do casamento. Que outras fraquezas ela teria? Sentir-se interessado pelas peculiaridades daquela mulher era algo que o irritava. Ela era uma tentação proibida enviada para testar sua força de vontade. E mesmo assim, era impossível ignorar a curiosidade.
- Há quanto tempo tem medo do escuro? – perguntou.
- Já disse que não é medo. É… é…
- Tudo bem, esqueça. Vamos tentar dormir, está bem? Talvez tudo melhore amanhã.
- Não sei por que, mas não consigo acreditar nisso.
Foram as últimas palavras que trocaram naquela noite. Inundado pela adrenalina provocada pelo acidente, Harry não conseguia relaxar e dormir, e podia sentir que Hermione também estava muito longe do sono. Ela se virava a todo instante, tomando sempre o cuidado de manter um ombro ou outro em contato com o dele. Com o passar do tempo, os movimentos cessaram e Harry sentiu o peso de sua cabeça sobre o peito. O primeiro instinto foi de empurrá-la para longe. Não queria sentir o corpo provocante contra o dele, nem sentir o aroma de frutas que brotava de seus cabelos molhados. Mas tinha de admitir que o calor de outro ser humano era reconfortante naquelas circunstâncias. De olhos fechados, tentou relaxar, certo de que teria de ter forças e muita energia para enfrentar o amanhecer.
Com sorte, seriam encontrados por alguém que vira a vassoura caindo, ou localizariam uma cidade próxima. Sem nenhuma sorte, descobriram que estavam no meio da floresta sem ninguém num raio de centenas de quilômetros. E pela maneira como a sorte já se manifestara desde o início daquela viagem, estava mais inclinado a acreditar na segunda possibilidade. E se não conseguisse andar para ir procurar por ajuda? Harry sorriu. Competente como sempre fora, Hermione construiria uma maca com galhos e o arrastaria para fora da floresta. Essa foi a última coisa que ele pensou antes de adormecer.
N/A *com um lencinho na mão*... Gente comenta!!!
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