A Primeira Viagem



_Estive em St Mungus ontem, visitando Hermione. Falaram-me que Severus saiu de
lá muito abalado, estava irreconhecível. Até passei na casa onde ele costuma
ficar na Londres trouxa, mas não o encontrei. Ou ele não estava ou não quis me
receber. Sabe se ele veio para cá, Alvo? – Perguntava Minerva McGonagall, com ar
triste e preocupado. É muito engraçado o que o tempo pode fazer com as pessoas.
Por muitos e longos anos Severus Snape fora um desafeto para si, agora,
preocupava-se com ele, com seu estado de espírito, quase como uma mãe faz por um
filho. Tragédias realmente mudam as vidas e lastimavelmente é isso que aproxima
as pessoas, quando o bem estar é que deveria fazer. O ser humano é mesmo muito
estranho.



_Severus está aqui sim, Minerva. Provavelmente deve estar adormecido em seus
aposentos. Pelo visto, nem compareceu ao café da manhã, não é mesmo? É melhor
irmos acordá-lo para o almoço, não é bom ficar muito tempo sem se alimentar e é
quase certo de que ele passou a noite toda em claro.



Snape despertava com alguém cutucando em seu ombro. Estava tão exausto que
continuava ainda na mesma posição que dormira. Virou sua cabeça para ver quem
era, embora já o soubesse, e encontra um Alvo Dumbledore arqueado com um leve
sorriso nos lábios e olhos de otimismo.



_Boa tarde, meu caro. Como passou a noite?



_Tarde?!



Levantando-se e pondo-se sentado na cama, Snape leva a mão na nuca ao sentir uma
pontada no pescoço, um indicio de torcicolo por ter dormido o tempo inteiro numa
mesma posição nada confortável para sua coluna.



_Droga! Acho que estou mesmo virando um morcego! Isso já tá virando um hábito!



_Coisas das férias, garoto! Logo as aulas retornaram e a nossa rotina também.
Escravos do tempo e afins.



_Isso agora é incerto para mim... quero falar com o Senhor, Alvo, sobre algo que
pretend...



_...pretende fazer pela Srta Granger. Eu sei, Severus. Mas agora vamos almoçar.
Você precisa de força e energia sobrando se quiser ajudá-la em algo.



Snape apenas o olhava atônito. Mesmo com todas essas décadas de convívio com
Alvo Dumbledore, ainda se surpreendia com o velho mago. Era como se tudo que
estivesse a sua volta fosse de uma simplicidade e transparência impares, pois
ele sempre sabia de tudo e entendia a todos. Mesmo que não fosse isso tudo e ele
apenas tivesse o dom de usar as palavras certas para dar ânimo aos próximos,
ainda assim já era muito. Acreditava veemente que se houvessem mais seis como
ele espalhados pelo mundo, certamente tudo seria muito melhor.





*



Duas horas após, Snape estava de volta a sua sala particular nas masmorras,
acompanhado por Alvo Dumbledore. Diante de si estava um caldeirão pequeno de
barro, onde havia a poção que havia preparado durante a noite.



_...e você sabe exatamente os riscos que poderá correr, Severus?



_...não, isso não é explicitado no livro, mas certamente os danos serão físicos.
Realmente não sei o que poderá acontecer com minha consciência estando num lugar
onde não deveria. No livro, apenas são descritas as advertências, sendo uma
delas de não fazer este experimento por vezes seguidas e poderá ser letal após a
quinta tentativa.



_Severus, você tem plena consciência de que isso não é apenas arriscados porque
isso é dito nos escritos, mas também porque isso pode não funcionar como você
espera? Eu mesmo nunca ouvi falar de alguém que tenha feito algo parecido. Você
confia plenamente neste livro? – O Diretor olhava inquisitivamente para Snape,
enquanto segurava o tal livro, aberto na página onde estava descrita a poção.



_Bom, muitos dos elementos empregados têm propriedades alucinógenas, por assim
dizer. Eles realmente remetem a uma alteração de consciência, como a casca de
Santo Daime, que é até usado em rituais religiosos por alguns trouxas adeptos de
tal seita no Peru, se não me engano. E duas das ervas aí presentes também são
usadas na pela magia negra chinesa, para retirar a alma do corpo de uma pessoa e
transferi-la para uma forma humana feita de barro e ossos. Sem duvidas, todos
são elementos muito poderosos. Apenas espero que meu corpo e minha mente não
sucumbam antes de completar minha missão.



_Não acha que está se precipitando? Não que esperar mais algum tempo? Confie na
palavra dos medibruxos. A Srta Granger poderá acordar a qualquer momento sem que
você precise arriscar sua vida por isso.



_Mas é essa a questão, Alvo. Talvez Hermione não queira voltar...



Minerva adentrava a sala particular de Snape, pegando parte da conversa. Os dois
bruxos estavam tão envoltos de suas preleções que não perceberam que ela estava
já algum tempo parada na porta. Madame Pomfrey também a acompanhava.



_Temos uma chance mínima de trazer Hermione de volta e a usaremos. Mas, Severus,
não quero que você entregue sua vida a isso... não faça alem de sua capacidade.
Estaremos aqui para dar toda a assistência necessária. – Minerva dirigia um
olhar confiante à Snape, que apenas a olhava surpreso.



Enquanto isso, Madame Pomfrey alcançava das mãos do Diretor o livro da poção,
examinando a receita.



_Bem, vejo aqui que algumas ervas na proporção em que são pedidas, poderão lhe
causar taquicardia e queda de temperatura. Então fique sabendo, Sr Snape, caso
esses efeitos passem do nível aceitável, eu o trarei de volta imediatamente.
Está entendido?



_Sim, Madame Pomfrey, embora eu não concorde.



_Só mais uma coisa, Severus... – Alvo dirigia-se novamente ao seu Mestre de
Poções. _... qual a duração do efeito? É necessário que saibamos com exatidão
para termos a exata noção do nível tolerável por seu corpo.



_Um cálice de 100ml dará em torno de 30 minutos. É a quantidade máxima
aceitável, como é explicitada no livro. Mais que isso não ganharia mais tempo,
seria suicídio.



_Entao... boa sorte, meu filho! – Alvo dava dois tapinhas no ombro do rapaz,
enquanto as duas bruxas lhe diriam olhares que eram um misto de apreensão e
otimismo. Sentiu-se com ainda mais força para ir e fazer logo isso de vez!



_Dê um recado por mim, Severus.. – Minerva lhe sorria com sinceridade. _..diga à
Hermione que seus colegas da empresa onde trabalha estão angustiados com sua
ausência e que uma tal de Margareth só está esperando a volta dela pra se casar,
pois ela quer a menina como madrinha.



_Darei o recado de todos, Minerva. Farei com que ela entenda o quanto é querida
por todos aqui.



Snape encheu o cálice com a poção, acrescentando em seguida um fio de cabelo de
Hermione e com uma pequena adaga afiada, fez um corte mínimo no dedo mindinho,
deixando cair uma gota de seu sangue. Com o acréscimo dos dois últimos
ingredientes, a poção dentro do cálice começou a fermentar, fumegando levemente,
dando uma nova coloração a poção, algo como um tom amadeirado e um odor que
lembrava seiva... ali estavam a essência de ambos, misturadas.



Atravessando sua sala particular, adentrou seu quarto, sentando-se em sua cama.
Num só fôlego, bebe todo o conteúdo do cálice, deixando-o de lado e
acomodando-se em seus travesseiros, deitando-se confortavelmente. Era necessário
o corpo estar livre de todo e qualquer incomodo e, com certeza, ali estava.



Começou a sentir um formigamento nas suas extremidade, como mãos e pés. Ao mesmo
tempo em que sentia sua pele gelar, sentia um calor se alastrando a partir de
suas entranhas. Sentiu um rebuliço em seu estomago e por instante temeu que iria
devolver o que bebera, mas logo em seguida foi surpreendido pela sensação de
estar perdendo rápida e gradativamente seus sentidos. Já não sentia mais
qualquer cheiro, a vista estava escurecendo e seus ouvidos estava ficando
abafados, como se uma forte corrente de vento estivesse entrando em sua cabeça
através deles. Não sentia mais as mãos e os pés. Logo, não sentia mais suas
roupas tocando em sua pele e o colchão sob si. Um redemoinho enjoado se formava
em sua testa e começou a sentir como se uma força invisível puxasse com força um
emaranhado de fios de sua cabeça. Sentiu como se o ar tivesse cessado de seus
pulmões e que seu coração tivesse parado. Por breves estantes, um temor passou
por si, ao se ver mergulhado numa imensidão de trevas, como se tivesse submersos
no mar a quilômetros e quilômetros de distancia da superfície. Embora nada fosse
visto alem de um completo breu, havia uma pressão e um calor confortável que o
envolvia por inteiro. E sentiu-se muito bem, como, talvez, jamais tenha se
sentido na vida. Sentia-se liberto de tudo, sem qualquer dor, por mais que
mínima, sem qualquer sensação, sem qualquer peso, sem nada para encomodá-lo,
tudo havia se tornado inodoro, insípido, inaudível...



Repentinamente a breve onda de conforto surreal, sentiu um baque sob seus pés,
como se tivesse acabado de aterrissar de um salto e uma onda de choque se
espalhou por seu corpo de baixo pra cima. Havia uma pressão estranha em seus
ouvidos e começou a tomar novamente consciência de seu corpo. Sentiu o ambiente
bem mais frio, como se um vento de inverno o envolvesse. Sua visão começou a
clarear e o escuro que enxergava começava a ganhar cor e forma.



Respirou fundo, embora não tivesse sentido a mínima falta de ar. Com a vista
mais firme, começou a olhar a sua volta. Estava num lugar tediosamente
geométrico e de cores claras e neutras, como branco e bege. Percebeu como se
estivesse numa multidão alvoroçada, porém silenciosa, em pleno centro de alguma
grande cidade, embora apenas conseguisse ver breves vultos que se movimentavam
rapidamente, desaparecendo no ar.



Com mais atenção pode perceber que estava dentro de uma construção e estava no
alto, como se fosse um prédio e olhou para baixo, apoiando-se numa mureta. Viu
uma única plataforma que ficava entre dois trilhos. Foi então que percebeu que
estava dentro de uma estação de metrô. Olhando mais atentamente, observou os
breves vultos esbranquiçados como fantasma movimentando-se na plataforma e viu
algo que se destoava completamente: um banco com uma pessoa sentada nele, mas
não era um vulto, parecia tão sólida e palpável quanto ele. Então, se deu conta
de que era Hermione Granger que ali estava.



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Fim do 8º capítulo - continua

By Snake Eye's - 2004

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