A madrinha
Nota da autora: É recomendado que se tenha lido todos os livros de Harry Potter (do 1º ao 5º) antes de ler esta fic. CONTÉM SPOILERS!!!
O terceiro dia das férias de verão chegava ao fim com uma noite luminosa. Milhares de estrelas clareavam o céu sobre a Rua dos Alfeneiros, que parecia a mesma de sempre. As vizinhas curiosas deixavam suas janelas e começavam a se recolher em casa, assim como as crianças que brincavam na rua e os jovens que passeavam com seus amigos.
No número 4 porém, a paz estava longe de chegar.
- Eu disse que ele só traria problemas para esta família! disse que ele era estranho e não era bem vindo! -Valter gritava com a mulher na sala.
- Mas meu amor, ele era só um bebê! Nós achamos que podíamos torna-lo normal e...e não podíamos tê-lo deixado na porta, ou, o quê os vizinhos pensariam de nós!- Petúnia tentava acalmar o marido, diminuindo o tom de voz e fechando as janelas.
- Ele devia ter sido mandado para um orfanato! -gritava Valter.
- Eu prometi que ficaria com ele, Valter, se não cumprisse eles viriam atrás de nós! Isso é que seria um problema enorme, e você sabe disso... agora se acalme pois é apenas um telefonema.
No cômodo ao lado Harry Potter falava ao telefone com sua amiga Hermione Granger:
- Eu sabia que não seria uma boa idéia ligar, mas Lupin nos disse que essa é a maneira mais segura de conversarmos.
- Tio Valter ficou maluco quando você disse que queria falar comigo... está gritando que nem um louco na sala ao lado...
- Dá para ouvir daqui,Harry...mas e então, como você está?
- Bem. Depois da conversa que Moody teve com meus tios as coisas melhoraram um pouco por aqui.
- Isso é realmente bom Harry!Mas você sabe que na primeira oportunidade tiramos você daí.
- E você sabe que eu não vejo a hora disso acontecer! Mas eu entendo que eu tenho de ficar aqui mais um tempo.
- Olha, Harry, não venha com nenhuma idéia maluca de fugir que nós...
- Eu não vou fugir, Hermione! Não agora, não ainda...
- Nem pense nisso,ok? Eu vou passar algum tempo com meus pais e viajar... eles não disseram nada, mas ficaram realmente chateados pelo último natal...
- Divirta-se por mim.
- Harry, não fique assim...Você vai se divertir nessas férias, nós todos vamos!
- Não sei. Diversão parece algo perdido.
- Harry, não é só por que Sirius...você sabe... é difícil pra nós também! Além do mais você deve se animar!
- ok Hermione, não comece, tá? Já é difícil pensar no que aconteceu quanto mais falar sobre isso.
- Desculpa, eu não quis... olha, deve ser muito difícil pra você e eu entendendo que...
- Você não sabe o que eu estou passando!
- Tudo bem, tente se acalmar, eu só...
- EU ESTOU CALMO!!!
- Tá bom! Eu só queria ajudar. Se precisar, eu estarei aqui, ok?
- Ok. Acho melhor desligar, tio Valter está ficando vermelho
- Até logo! Se você não ligar, alguém ligará para você
- Tchau.
Harry estava nervoso. “Afinal, por que ela tem sempre de tocar no assunto? Por que todos sempre pensam que sabem como eu me sinto, quando nenhum deles faz idéia do que eu estou passando?” pensava enquanto corria para seu quarto. Fazia cerca de um mês que Sirius havia morrido, porém ele não conseguia acreditar: não era possível que ele estava sozinho, que seu padrinho havia lhe deixado.
A forma como ele morreu é que o deixava mais confuso; por que ele não saiu do outro lado do véu? As vozes que ele ouviu de lá de dentro, o que Luna Lovegood havia lhe dito... A Sala da Morte era um lugar estranho, incompreensível... por isso estava no Departamento de Mistérios...
Sua cabeça agora estava latejando. Entrou no quarto e fechou a porta. Edwiges piava inquieta:
-Tudo bem, eu deixo você sair para caçar, mas vai ter de esperar aquelas pessoas saírem da rua antes -e Harry apoiou-se no parapeito da janela para ver o movimento na rua.
Na casa da frente uma família parecia estar indo viajar, lotando um carro velho com malas; um casal de namorados se beijava em frente o jardim de um vizinho; Duda e sua gangue sentaram na calçada da frente e começaram a conversar.”Sobre o que será que eles estão falando? Eles nunca levam nada a sério, mas parecem preocupados com alguma coisa. Se ao menos eu pudesse chegar mais perto para ouvir”. Uma idéia fez seu rosto iluminar por um segundo, correu ao seu malão no outro e, de dentro de sua mochila tirou um barbante cor de carne.”Foi bom ter comprado esse extensor de ouvidos do Fred e do Jorge. Agora será bem útil”. Harry colocou uma das pontas do barbante em seu ouvido e a outra ele jogou pela janela, observando o barbante se esticar e aproximar de Duda por cima de uma árvore do jardim.
- Eles estão se mudando para longe. Minha mãe conhece essa mulher e ela contou que eles iam se mudar para outro país, pelo que parece -um garoto magro e alto, que andava meio torto cochichava para os outros.
- Será que eles estão se mudando porque nós perseguimos os filhos deles no último ano? -Duda indagou com os olhos arregalados, respiração ofegante. Era sempre um covarde, apesar de se meter com todo mundo.
- Não. A mulher disse para a minha mãe que é por causa do trabalho do marido. Ele trabalha para uma multinacional -os outros olharam curiosos e Duda aliviado.
- Quem será que vai se mudar para cá? Será que é mais alguma criança idiota para perseguir e ganhar dinheiro fácil? -Agora Duda parecia animado e estava recuperando o fôlego.
- Não sei, mas a casa já estava vendida há algum tempo. Meus pais queriam se mudar do meu bairro e eu sugeri vir para perto da casa do meu amigão aqui, não é big D? -agora quem falava era Pedro Polkiss: um dos amigos de infância de Duda que costumava ajuda-lo a atormentar a vida de Harry quando pequeno.- Falaram que a casa já estava vendida e que não tinha nenhuma disponível...
- Eu ouvi meu pai conversando com o dono antigo ontem. Ele disse que devia ir hoje pois a nova família mudará amanhã cedo -um garoto de olhos arregalados, pequeno perto dos outros, dizia com cara de quem conta um segredo a alguém.
“Que maravilha...provavelmente esses vizinhos serão como todos os outros trouxas dessa rua: sempre espionando e julgando os outros sem conhece-los. Aposto que antes mesmo de guardarem suas coisas estarão pensando que eu sou um delinqüente, como meus tios espalharam para todos” e Harry recolheu o prolongador de ouvidos e o guardou no malão novamente. Deitou na cama e ficou observando o teto por algum tempo. Doía pensar em Sirius, mas por mais que ele tentasse fugir o pensamento o encontrava e perseguia.
Fechou os olhos e acabou dormindo, levado pela memória a todos os pensamentos em que Sirius aparecia: quando o viu pela primeira vez, quando descobriu quem ele era, quando ele fugiu voando no Hipogrifo, as visitas secretas em hogsmeade, o natal do ano anterior, e sua morte.
Acordou assustado ao chegar nesse pensamento. O quarto escuro era meio iluminado pela luz da rua. Edwiges piava desesperadamente em sua gaiola. Harry foi até ela e a soltou para seu passeio noturno. Vestiu seu pijama e voltou para a cama.
Com a primeira luz da manhã, Harry já estava de pé. Havia barulho na rua. “Os novos vizinhos chegaram”. Ele correu para a janela, procurando Edwiges para recolhe-la, já que os trouxas não deveriam vê-la.
Um caminhão de mudanças estava parado na frente da casa,e na garagem havia um carro azul. Edwiges estava parada no telhado dos vizinhos, mas quando viu Harry voou para sua janela. Ele olhou rapidamente para fora e viu na casa da frente uma moça -provavelmente a vizinha nova- observando-o.
Harry sentou-se no chão, procurando fugir da vista da moça, e fechou as cortinas. Devolveu Edwiges à gaiola e desceu para o café da manhã.
”Espero que ela não tenha nos visto. É claro que ela nos viu! Agora vai dizer a tia Petúnia e eu vou acabar de castigo de novo... Mas ela poderia estar olhando para outra coisa, é! Ela estava olhando para o sol, é isso!” Ele sabia que se os vizinhos o vissem, Edwiges provavelmente seria proibida de sair para caçar. Ela não poderia tê-lo visto, afinal foram apenas cinco segundos que ele passou em frente à janela.
Sua preocupação era o café da manhã: os ovos e o bacon deveriam ser fritos, já que seus tios já estavam descendo. Harry costumava odiar esta tarefa antigamente, mas agora era algo com que não se importava mais. Sua comida estava realmente ficando boa. Nem um pouco comparável à de Hogwarts, mas mesmo assim já estava muito melhor que a da tia.
- Ande logo que quero usar a cozinha -Petúnia chiou e correu para a janela.- Os novos vizinhos já estão aqui, precisamos levar gelatina de boas vindas para conhece-los.
Harry riu da cena: o tio, enorme na frente da janela, a tia esticando o pescoço por cima do marido e Duda empurrando-os para ver o movimento lá fora. Era uma tradição da Rua dos Alfeneiros levar gelatina para os novos vizinhos: assim poderiam conhece-los e ao mesmo tempo dar uma espiada em sua casa e bens.
- Mãe, quem serão essas pessoas? Elas parecem estranhas, olhe! -Duda espiava pela janela lateral e puxava o braço da mãe- ’Eles estão levando outro baú para dentro da casa! Esse já deve ser o terceiro!
- Devem ter muitas antiguidades herdadas de seus parentes. -Petúnia dizia ao filho enquanto empurrava Harry para pegar os ingredientes para a gelatina.
- Parecem ricos. Há ha, finalmente algum morador importante nesta rua! -Valter estava vibrando com suas suposições.
- O café está pronto. Venham comer. -Harry se sentia enjoado por ver o quanto seus tios eram mesquinhos até mesmo com quem não conheciam.
Enquanto comiam o planejamento do dia era feito e, como sempre, Harry ficara encarregado das tarefas mais chatas (cortar a grama, encerar o chão, pintar a cerca...) enquanto os outros da diversão: Valter iria ensinar Duda a dirigir e depois iriam começar a comprar seus presentes de aniversário. Mas nada seria feito enquanto não visitassem os novos vizinhos.
Alguns minutos depois, Harry começou seus afazeres. Isso durou boa parte da manhã, mas o pior foi ter de agüentar Petúnia reclamando da saída dos vizinhos antes mesmo da sua visita.
Harry estava no quintal, cuidando do jardim, quando viu o carro azul estacionar na frente do jardim vizinho. A porta do motorista se abriu e uma mulher saiu do carro. Seus cabelos longos loiro-escuros brilhavam dourados conforme o sol atingia suas ondulações. Sua pele era bem clara e tinha as bochechas rosadas. Como usava óculos escuros, não se tinha uma visão direta de seus olhos, mas mesmo assim seu formato grande era claramente percebido. Ela vestia jeans escuros e uma blusa amarela, o que Harry certamente pensou que causaria algum tipo de problema naquele lugar: qualquer coisa que chamasse atenção era abominada, ainda mais se usada por um adulto.
Alguns segundos após trancar o carro, enquanto ela se dirigia para a calçada, Duda quase a atropelou. Ele não podia manter a atenção no carro e na moça ao mesmo tempo, e acabou escolhendo pelo mais fácil: observa-la. Valter, entre berros e vermelho como um pimentão, saiu do carro e foi ver se nova -e quase falecida- vizinha estava bem.
- Sim, estou. Ainda bem que tenho reflexos rápidos, mas infelizmente não podemos dizer o mesmo do garoto... -Disse ela apontando para Duda que, ainda dentro do carro, a observava pasmo.
- Desculpe o garoto, ele ainda está aprendendo a dirigir. Sou Valter Dursley, meu filho se chama Duda e em breve conhecerá minha esposa, Petúnia.
- Sou Margareth Collins. Acabo de me mudar para cá.
- Seja bem vinda. Aposto que você gostará daqui, é um ótimo lugar: tranqüilo, normal, com ótimos habitantes. Nossa casa é esta em frente. -Margareth virou-se para olhar a casa e viu um garoto em meio às plantas espiando- E quem é aquele? Seu filho?
Valter parecia ter sido esmurrado no estômago:
- Não! É meu sobrinho. Seus pais morreram num acidente de carro quando ele era bebê, por isso mora conosco. Mas é um delinqüente! Um garoto terrível!
Ela tirou os óculos e olhou para Harry, que tentou fugir, mas algo o prendeu àquele olhar penetrante e brilhante, àqueles olhos negros, e ele não conseguiu se mover. De alguma forma eles lhe eram familiares e o confortavam. Um sorriso escapou dos lábios dela, que se virou para ouvir o final do que Valter falava.
- Minha mulher está terminando algo para você e sua família. É tradição aqui recebermos os novos vizinhos com um presente de boas vindas.
- É realmente muito gentil de sua parte, mas eu vivo sozinha.
- Então você não é casada? Uma voz saiu de dentro do carro e Duda olhava esperançoso para a moça.
- Não. E não pretendo me casar, muito menos com alguém que quase me matou atropelada... -Margareth sorriu e balançou a cabeça.- Se vocês me dão licença, preciso arrumar as coisas.
- Certamente -Valter olhou-a esperançoso- Podemos passar aí mais tarde? Para deixar o doce?
- Claro. E vocês poderiam vir jantar comigo e me explicar sobre os costumes desta vizinhança. Apareçam lá pelas oito. -E voltando-se para Harry acenou - Até mais tarde! - E correu para dentro de sua casa.
- Ajeite esta roupa! Valter, querido, por que motivo devemos levar o garoto? -Petúnia chorava ao ver o sobrinho pronto para o jantar na casa da vizinha- ‘E se ele aprontar alguma de suas... você sabe! Não podemos correr o risco!’
- Eu não vou fazer nenhuma magia. -Harry estava curioso para saber mais sobre a nova vizinha. Algo nela a fazia tão próxima dele, mas como era possível?
- Não diga esta palavra! E comporte-se! E nem pense em levar aquela coisa! -Valter urrava novamente. Harry não disse nada, mas estava com sua varinha no bolso de sua camisa. Após o conselho de Moody, no último ano, o garoto a mantinha longe do bolso de trás de suas calças.
Valter tocou a campainha da casa da frente e, em frente à porta, Petúnia segurava uma tigela de gelatina colorida. Duda acertava Harry com o cotovelo quando a porta se abriu.
Margareth abriu meio surpresa, mas sorridente. Seus cabelos estavam soltos e molhados, e caiam sobre seus ombros formando cachos nas pontas. Vestia um vestido azul, sem mangas, que ia até seus tornozelos e tinha botões de estrelas por toda a sua frente.
- Entrem! Não sejam tímidos! Vamos! -Com uma ajuda das mãos colocou todos para dentro. Repousou-as nos ombros de Harry, que fora o último a entrar, e olhou-o carinhosamente. Após alguns segundos voltou-se para os outros convidados e guiou-os para a sala.
Harry ficou imóvel por algum tempo, pensando naquele toque e no olhar. Ele teve certeza que ela quisera abraça-lo, mas o fez com o olhar: doce e profundo, brilhante e emocionado, materno. Quando voltou a si, correu para juntar-se aos outros.
Estavam numa sala iluminada por abajures de canto, que a deixavam levemente escura e muito aconchegante. Haviam poltronas coloridas cheias de almofadas por toda sua volta; no centro uma mesinha com apenas uma caixa em madeira trabalhada; perto da lareira havia uma estante cheia de potes coloridos; pendurados nas paredes havia vasos de plantas: alguns com flores e outros com folhagens. Sus tios estavam sentados esperando Margareth, que voltou da cozinha e sentou-se numa poltrona verde-limão.
- O jantar está quase pronto. Espero que vocês gostem de pizza, pois esta é minha especialidade...
- Eu adoro! -Duda falou em tom faminto.
- Foi muita gentileza sua convidar-nos para jantar. -Petúnia parecia satisfeita por ter conseguido entrar na casa da nova vizinha sem esforços, e agora pretendia se aproveitar ao máximo da situação- Então, de onde você veio?
- Ah... Mudei-me tanto nos últimos anos que não tenho um lugar fixo para ter vindo, mas minha última casa ficava na Irlanda. -Margareth fechou os olhos por alguns segundos e começou a falar sobre sua casa antiga- Ela ficava na orla de uma floresta, próxima a um lago cristalino. Era antiga e rústica, mas por dentro parecia um palácio, e era como se tivesse saído de um conto de fadas. Acho que foi o lugar onde mais gostei de morar.
- E por que você saiu de lá? -Valter não gostara da parte em que a casa parecia um conto de fadas, e Petúnia lançou um olhar intimidador ao marido por causa de sua pergunta grosseira, apesar de que gostaria de dizer o mesmo.
- Não tive escolha. Minha família precisava de mim, portanto acabei voltando. -Margareth sorriu e se levantou.
- O jantar está pronto. Acompanhem-me!
Eles a seguiram pelo mesmo corredor em que entraram na sala, mas viraram à direita. Estavam numa sala bem iluminada, com um lustre colorido e uma mesa de jantar no centro. Tanto a mesa quanto as cadeiras eram feitas de madeira clara, e haviam almofadas coloridas combinando com a toalha. A mesa estava arrumada e Harry observou o olhar de triunfo em sua tia Petúnia quando esta viu que tinha uma porcelana mais cara que a da vizinha.
Um instante depois de ter deixado a sala, Margareth voltou trazendo uma enorme pizza visivelmente diversificada. Cada pedaço tinha um recheio diferente, muitos que não podiam ser reconhecidos pela sua aparência.
- Não sabia qual sabor vocês gostavam, portanto fiz um pedaço de cada... Bom apetite! -Ela parecia entusiasmada com sua enorme pizza colorida, ao contrario dos Dursley, que a olhavam com um certo ar de nojo. Harry se apressou e pegou o pedaço de queijo, sorrindo para Margareth, que lhe retribuiu o sorriso e pegou o pedaço de cogumelos.
Eles comeram sem muita conversa. Para os Dursley não era certo criticar o mau gosto que a vizinha recém-chegada tinha para cozinhar. Harry estava adorando tudo aquilo, já que lhe lembrava muito o jeito extravagante dos bruxos de cozinhar. Em seguida do jantar, eles voltaram para a sala das poltronas coloridas para comer a gelatina de Petúnia.
- Nossa! Como isso aqui e bom! -Margareth estava maravilhada com aquela sobremesa colorida- Você precisa me dar a receita!
Petúnia olhou-a surpresa, pois nunca ninguém elogiara seu bolo de gelatina dessa maneira, e após algumas tentativas de respostas que não ofendessem, soltou de leve um “Claro...”
- Então, vocês moram por aqui ha muito tempo? -mais uma vez, Margareth tentava puxar conversa.
- Dezessete anos -disse tio Valter- Tínhamos acabado de nos casar quando compramos esta casa. Sempre foi um bom lugar para se viver, cercado de pessoas normais e sérias, que ajudaram nosso Duda a ser este garoto maravilhoso...
Harry deixou escapar uma risada, mas ao perceber o olhar furioso de seus parentes fuzilando-o, calou-se. Valter continuou a falar, após aquela pausa forçada:
- Ao contrário de Harry. Esse garoto não tem o mínimo de educação e respeito pelos outros...
- Ah, ele é apenas um adolescente...É normal que ele queira chamar a atenção, e além disso, tem sido um garoto adorável desde que o conheci. -Margareth piscou para Harry, que se sentiu embaraçado e ao mesmo tempo alegre: “Ela gosta de mim. Mesmo com todas as mentiras do tio Valter, ela gosta de mim” e sentiu seu rosto enrubescer.
Tia Petúnia, parecendo inconformada, soltou uma exclamação:
- Normal! Até parece! Você sabe qual escola ele freqüenta? -e calou-se ao perceber que entregaria o jogo da “anormalidade” do sobrinho. Para não comprometer a integridade da família, Valter completou a frase da esposa:
- Instituto St. Brutus para jovens irrecuperáveis! Isso não é algo bom, com certeza!
- Aposto que ela fará muito bem para ele. Quando se formar, será um grande homem. -Margareth sorriu novamente.
- E você? No que você trabalha? -Petúnia queria saber se ela era realmente normal, após suas últimas respostas.
- Sou escritora -Margareth sorriu- Publico meus textos em pequenas revistas e jornais, e quem sabe um dia publicarei um livro...
As conversas que se seguiram não foram tão relevantes, já que os Dursley contaram como era maravilhosa a vida na rua dos Alfeneiros o resto da noite, e quase não mencionaram Harry, por mais que Margareth fizesse perguntas e também não o deixavam sequer abrir a boca.
Quando Harry repousou sua cabeça no travesseiro naquela noite, só conseguia pensar no olhar de Margareth, aquele olhar intrigante que o fazia se sentir tão bem. Passaram-se alguns minutos e ele acabou dormindo, embalado pelos sons da noite, e teve um sonho que, apesar de desconhecido, parecia uma lembrança distante e há muito esquecida.
Ele viu sua mãe, com seus olhos verdes e alegres sorrindo para ele. Em seguida seu pai, arregalando os olhos castanhos, lhe fez uma careta e foi empurrado por Sirius, que moveu suas sobrancelhas e seus olhos negros de maneira engraçada, querendo sua atenção. Sua mãe surgiu novamente, empurrou os dois com cara de repreensão, sorriu novamente para Harry, e uma moça apareceu e lhe sorriu. Seus olhos negros cintilavam e ela o pegou no colo, abraçando-o e beijando sua testa.
Harry acordou assustado. “Era ela! A nova vizinha. Ela que me pegou no colo no sonho... Mas será possível? Ela é... uma bruxa?”. Não havia mais condições de dormir, após aquele sonho. Primeiro pode ver seus pais, jovens e sorridentes, depois Sirius com seu sorriso maroto... todos haviam morrido e ele estava sozinho agora. Mas havia a moça dos olhos negros, que ele não sabia quem era, apesar de reconhecer o mesmo olhar na vizinha.
Ouviu batidas na porta e logo tia Petúnia começou a gritar para ele:
- Levante-se! Não há mais pão, e preciso que você vá buscar para o café da manhã.
- Mas e a dieta de Duda? Vai deixa-lo comer pão agora?- Harry perguntou enquanto se vestia apressado.
- Após aquele jantar de ontem precisamos comer alguma coisa... Quem em sã consciência comeria uma pizza tão horrível quanto aquela? - Petúnia demonstrava nojo ao mencionar a pizza de Margareth.
- Eu achei muito boa. -Harry abriu a porta para sair e a tia, nervosa, entregou-lhe o dinheiro.
- Vá logo e traga-me o troco de volta. Estamos de olho em você, garoto.
Harry estava desligado, andando pela rua sem cuidado, quando ouviu uma buzina em seu ouvido e pulou para a calçada, olhando em seguida para o carro que passava. Margareth acenou, desceu o vidro e sorriu, perguntando se queria uma carona. O garoto, sem jeito, aceitou e subiu no carro.
- Harry Potter -Margareth exclamou com um sorriso- Como você cresceu!
- O-o q-quê? -Harry não sabia como agir.
- Olhe para você! Tão lindo e crescido... já é quase um homem!
- Srta. Margareth, nós já nos conhecemos antes?
- Oh claro! -Ela e seu sorriso terno se voltaram para o garoto abismado e se fecharam tristemente em seguida- Não lhe disseram, não é? Você não tem nem idéia de quem eu sou...
- Me-me desculpe, mas não... -Por um segundo a idéia que lhe veio à cabeça era de contar seu sonho, mas as palavras lhe faltaram
- Eu suspeitava. Dumbledore quando me chamou disse que você não sabia, e Sirius nem sequer se lembrava de mim... -Os olhos de Margareth se encheram de lágrimas- Desculpe, Harry, mas ainda não posso acreditar no que houve... Sinto muito por você...
- Você conhece Dumbledore e Sirius?-O coração do garoto acelerava cada vez mais, apesar dos apertos que sentia ao mencionar o padrinho.
- Sim, desde que era garota... -Ela estacionou o carro, virou-se para Harry, segurou seu braço e disse- Eu sou uma bruxa, como você já deve ter percebido, mas mais importante que isso para você: Harry, eu sou sua madrinha.
Harry não sabia o que dizer e nem como, mas milhões de perguntas surgiam em sua mente a cada palavra que ela lhe dizia. - Madrinha?
- Isso mesmo... Você nunca se perguntou como você tem um padrinho e não uma madrinha? Nunca teve essa curiosidade?
- Claro, mas nunca pensei que existisse uma resposta...
- Aqui está ela. - Ela sorriu novamente, apertou-lhe a mão e disse- Maggie Collins, ao seu dispor.
- E como você existiu todo esse tempo e nem... nem apareceu antes? Quantas vezes eu precisei de alguém e me disseram que minha única família é os Dursley? -Harry em meio à confusão do momento lembrou-se do pão, mas não queria deixar de ouvir as repostas de Maggie.
- Eu estava afastada. Após o incidente em que seus pais morreram e você ganhou isto -Maggie tocou-lhe a testa com o dedo- eu fiquei perdida, praticamente louca... Não confiava em ninguém, não ouvia ninguém... tudo o que me preocupava era você e o que seria feito de você, sozinho no mundo. Naquela noite, tive uma sensação horrível, uma espécie de premonição. No mesmo instante corri para sua casa, que havia virado um monte de entulho... E lá encontrei Sirius pela última vez. Ele estava tão mal quanto eu, mas ele tinha forças para lutar, forças para ir atrás do culpado, e me chamou para segui-lo, mas eu era fraca. Fraca para lutar, enfrentar meus medos e conseguir aquilo que queria. Como lamento por não ter ido. Tudo que consegui fazer foi chorar, e ele me abraçou. Pela primeira e última vez ele me abraçou. -Uma lágrima escorreu por sua face e seus olhos se apagaram- E foi embora. Fui até Dumbledore, mas ele disse que você deveria ficar com os trouxas, e eu não poderia fazer nada... Depois disso eu me mudei muitas e muitas vezes, sempre procurando por um lugar onde me sentisse bem, mas só consegui encontra-lo há poucos meses... E agora estou aqui, no melhor lugar onde poderia estar, com você...
- Eu não fazia idéia... -Harry estava impressionado com a história que Maggie lhe contou e como ninguém nunca o informou de que tinha uma madrinha, então se lembrou de como descobriu que tinha um padrinho e percebeu que não o teriam contado se pudessem evitar- Mas eu não entendo por quê ninguém nunca me disse nada... nem Sirius...
- Durante a guerra eu me afastei, fui embora pela primeira vez, dominada pelo medo. Todos que conhecia passaram a me rejeitar, já que não tive coragem de ajudar, fui fraca... Mas sua mãe não. Mesmo distante nos comunicávamos freqüentemente, contávamos tudo uma a outra... Éramos as melhores amigas do mundo... E quando ela engravidou, chamou-me para ser sua madrinha, Harry, apesar de todos quererem alguém melhor. Lílian resistiu até o último segundo e acreditou em mim. Acreditou que eu poderia cuidar de você e trata-lo com tanto amor quanto ela própria, mas as outras pessoas não me davam importância... Acho que esse é o motivo, provavelmente Sirius se esqueceu de mim... De qualquer forma, você precisa ir à padaria, não?
- Ah, é mesmo...Mas eu não quero! Conte-me mais histórias, por favor! -Harry sentia-se bem com Maggie, não queria deixa-la para voltar à casa dos Dursley.
- Outra hora nós conversamos, ok? Tenho que visitar algumas pessoas mas logo estarei de volta, e você é bem vindo em minha casa a todo o momento! -Maggie inclinou-se para frente e beijou a face de Harry que, sem jeito, saiu do carro e correu para a padaria.
Tudo parecia tão inacreditável para Harry naquele momento. Primeiro ele estava sozinho, completamente órfão, agora descobriu que tinha uma madrinha... Quase dezesseis anos haviam se passado de seu nascimento e ainda não conhecia toda sua família. Sentiu-se bobo, mas percebeu que, para uma pessoa que passou onze anos dormindo no armário da casa dos tios mais terríveis do mundo, até que sabia bastante.
- Você demorou! - Disse Petúnia irritada, arrancando o saco de pães e o troco das mãos de Harry.
- Tinha fila para pegar o pão, e tive de esperar outra fornada sair. -Harry inventou qualquer desculpa e sentou-se à mesa.
- Que fome! -Duda enfiara um pão inteiro na boca e já preparava outro- Aquela mulher pode ser bonita, mas a comida que ela faz é horrível...
- Se continuar a convidar os vizinhos e servir algo tão ruim vai acabar por se mudar logo daqui. -Valter fazia seu sanduíche e reclamava.
Harry não disse ou fez qualquer coisa. Tendo sua madrinha tão perto, precisava parecer que não dava a mínima a ela, ou os Dursley não permitiriam que a visse. Passou o resto do dia em seu quarto, sempre espiando pela janela, atrás de Maggie. Eram quase quatro horas quando a campainha da casa tocou e Valter atendeu a porta.
- Olá sr. Dursley. Sou eu, Margareth Collins.
- Ah, sim... -Valter ficou preocupado ao ver a vizinha, pensando que ela os convidaria novamente para um jantar excêntrico.
- Desculpe incomodar assim, mas será que seu filho poderia me ajudar a carregar alguns móveis e levar umas coisas pesadas para o sótão? -Perguntou ela embaraçada.
- Meu garoto não está... você sabe, saiu com seus amiguinhos. Mas leve o inútil do meu sobrinho, quem sabe lhe é serve para alguma coisa - Valter gritou para Harry descer, pediu licença à moça e puxou-o no canto- Olha aqui moleque, eu não quero nenhum comportamento estranho, ouviu bem? A vizinha nova precisa de ajuda com a mobília pesada...
- Tudo bem. Prometo que não farei nada estranho. -Disse Harry com um olhar de pouco caso, mas ao abrir a porta e ver que era Maggie, se animou instantaneamente.
- Obrigada sr. Dursley. Vamos garoto? -E ambos atravessaram a rua e entraram na casa.
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