voce sempre comigo



Now we have to face another day

You won't be alone

This life is forcing us to stay

- For how long?

Cold is the wind and thunder struck

on a stormy night

But can't you see, I'm by your side

We are marching on!...




Carry On - Angra

*~*


Achei que ia morrer. Meu coração não agüentaria mais. Por que eu sobrevivi? Que medibruxo tinha sido capaz de curar um vazio tão profundo, tão mortal? Naquele dia eu amaldiçoei meu próprio corpo por ter resistido. Preferia ter morrido. Era o único modo que eu enxergava de estar perto de você outra vez, Sirius, de mergulhar novamente no brilho de seus olhos, de me proteger do frio em seu abraço caloroso... Eu não teria mais nada disso. Nada. Nunca mais. Você se foi para sempre, para longe do meu alcance. Eu achava que talvez morresse no próximo mês, que talvez a lua cheia me levasse embora junto com ela, como já teria feito há muito tempo se eu não tivesse meu guardião no céu, impedindo que minha alma deixasse permanentemente meu corpo a cada mês. Sirius, em Cão Maior. Talvez fosse mais correto se meu coração tivesse escolhido Men, da constelação de Lobo. Ou talvez não, já que correta é a última coisa que a vida é. Nossas vidas mesmo não eram exatamente corretas. Entretanto, eu não me importava. Agora, será a morte correta? Se for, então tudo o que eu desejava naquele dia era ir contra as regras; você não podia ter morrido, não podia!

Eu te pedia todas as noites para não fazer nada arriscado, para estar sempre comigo nesse mundo tão vasto, para que eu não tivesse que reviver aqueles anos de solidão, de mágoa, de tristeza que vivi enquanto você se acabava em Azkaban... Para que eu sobrevivesse. E você não cumpriu sua promessa, você morreu. Você conhecia Bellatrix, sabia que ela estava disposta a tudo para atingir seus objetivos. Você sabia que ia morrer, não duvido que, na hora que subiu naquele estrado, você sabia.

Foi tão rápido, tão irreal, que na hora não reagi, não conseguir captar o que sua queda naquele véu significava para mim. Meus sentidos estavam bloqueados. Aos poucos sua ausência foi entrando em meu corpo, o cheiro do novo foi imperando sobre seu perfume em meus lençóis, e eu não podia mais suportar conter minhas lágrimas. Não tinha chorado ainda. Eu não conseguia, por mais que quisesse.

Eu dormia abraçado àquela fotografia que você tanto gostava. Aquela, daquele dia em que fomos à praia. Por algum motivo, aquele seu sorriso, especialmente aquele, me fazia conseguir fechar os olhos e dormir como se você mesmo estivesse ao meu lado afagando meus cabelos, respirando levemente na minha nuca. Eu amava quando fazia isso. Talvez fosse por isso. Na verdade, eu amava cada movimento seu, cada fio de cabelo que caía charmosamente em seus olhos, cada covinha do seu rosto! Amava tanto, tanto, que não entendia como conseguia pensar em outra coisa.

Não sei como sobrevivi da outra vez, quando achava que você era o culpado da morte de James e Lily. Por mais que meu coração soubesse que você nunca me enganaria daquele jeito, minha sanidade me impedia de acreditar. E talvez devido a esse equilíbrio entre o certo e o errado, o preto e o branco, como no yin yang, eu tenha continuado seguindo pelos caminhos tortuosos da vida. Agora era diferente. Eu sabia que você não era e nunca tinha sido culpado de nada. Eu sou o verdadeiro culpado por meu sofrimento. Porque eu te amo. Simplesmente por isso. Se houvesse uma pena, eu estaria condenado à pena de morte.

Eu não te censuro por não ter honrado sua palavra, por ter me feito sofrer quase fatalmente. Bem que deveria, mas não consigo. Não consigo ficar bravo com quem eu amo. Amo. Sim, e continuo amando, mesmo você fazendo parte de um passado imutável. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. Posso dizer isso quantas vezes quiser que nunca vou me cansar.

Aquele dia em que fomos à praia... Foi demais ver você de avental tentando cozinhar. Eu tinha que fazer tudo para você. Tudo à medida do possível, né, porque você sempre chegava por trás de mim com aquela sua risada maliciosa e eu nunca conseguia fazer nada direito. Naqueles dias eu passava o tempo todo sorrindo. Sorrir faz bem para a alma. A cada vez que eu te via rabiscando as nossas iniciais em seu caderno eu sorria. Você faz bem para minha alma. Vejo agora que você escrevia aquelas folhas e folhas de S & R com o maior capricho, fazendo as letras perfeitamente iguais a cada repetição, como se uma única imperfeição pudesse comprometer nosso amor.

Uma imperfeição. É a morte uma imperfeição? Não considero imperfeições coisas irrelevantes. Não; minha vida foi movida por uma, não foi? Algumas mudanças são para melhor. Não sei dizer se esta é uma delas. Eu continuo te amando, não? Não sofro mais tanto com sua ausência, mas te desejo ao meu lado. Isso é ruim? Talvez.

Não quero mais morrer. Ainda te amo, como sempre amarei, mas aprendi a conviver com sua ausência. Me permiti te guardar sempre vivo em meu coração, onde ninguém pode alcançar, sempre perfeito como eu me lembro. Sempre lá para me guiar como costumava fazer todos os meses. Sempre, sempre, sempre! Aprendi a gostar dessa palavra. Ela, agora, me lembra você. Sempre vivo, sempre presente, sempre perfeito, sempre sorridente, sempre, sempre... comigo. Vê? É perfeita, não?

O tempo passou e aprendi a dar o próximo passo. Agora posso ver novamente a luz iluminando um novo caminho à minha frente, como fazia todos os dias quando acordava ao seu lado. Consigo descer as escadas de manhã, e comer torradas com aquela sua geléia de cassis que eu não suportava. Posso te sentir ao meu lado, segurando na minha mão quando atravesso a rua, me guiando quando tenho que ir a uma missão da Ordem, limpando minhas lágrimas quando choro, me abraçando quando me sinto sozinho. Sempre.

Certo ou errado, independente da conclusão que eu chegue, que diferença vai fazer? Tudo isso pode ser um verdadeiro erro, você pode querer me mandar calar a boca diante desta exposição de realidade, mas no que isso vai mudar? Você não pode voltar. Eu não posso voltar. Posso viver minha vida. Posso viver por nós dois. Mas eu espero. Espero até o dia em que nossas almas se reencontrarem no vazio do infinito, ou numa outra vida quando eu for um trouxa vendedor de sorvete e você o dono da sorveteria, ou eu um aprendiz de auror e você meu professor... Eu sou eu e você é você. Eu te amo. Nossas almas fazem parte uma da outra. Eu já sabia disso desde que vi o pontinho brilhante em cima do seu ombro. Você é eu e eu sou você. Só isso. Sempre.

Até que estejamos juntos novamente.



*

N/A: Ai está a minha fic que mais gosto. Tive a idéia dessa fic na escola enquanto escrevia e parei para ler o encarte do CD do Angra. Eu nunca tinha prestado atenção na tradução da letra de Carry On, e quando li, a primeira coisa que me veio na cabeça foi uma short S/R. Eu podia ter feito uma song, mas não sei fazer. Além do mais que acho que isso ficou fofo demais para o ritmo da música. Ah, esse negócio do ponto brilhante em cima do ombro eu tirei de Brida, um livro do Paulo Coelho. Esse pontinho significa que as pessoas são almas gêmeas,


Dedicatória: Para uma amiga que eu amo muito, e que é a pessoa mais viciada em yaoi (slash) que eu conheço... Nica (eu sei que seu nome é Bruno, prazerrrr!! XD)

*

Copyright © Mar/2004

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