Mentiras expostas, ou não...
Demorou um tempo até que Lupin conseguisse colocar Nimphadora sentada para que ela o escutasse, calar a boca demorou ainda mais. Os dois falavam juntos e cada vez mais alto, parecia uma discussão mas nenhum escutava o que o outro tinha a dizer. Tonks questionando em alto e bom tom o que Remus tinha feito, e ele por sua vez tentando acalmá-la. Por fim ele desistiu.
—Não acredito! Você não aceitou aquele emprego de cobaia para encantos anti licantropos?? Aceitou? Pior vai aceitar ser “cadastrado”?? Aí, por Merlin, você está doente e vai morrer, estão realizando seu último desejo...
Diante das absurdas idéias dela, Lupin seguiu rindo e negando com a cabeça, então decidiu servir a comida, pois de acordo com a mente criativa de Tonks o jantar iria esfriar antes que ela terminasse.
Com a mesa posta e as idéias de Tonks minguando, foi a vez dela desistir e se render.
—Está certo, acho que cobri todas as hipóteses ruins, e como você negou todas elas, só pode ser uma coisa boa! Vamos lá, o que aconteceu?
—Hoje apareceu na livraria...
—Poderíamos ir direto ao ponto? Isto está me cheirando a enrolação...
—Fui contratado pelo Ministério para negoci... foi interrompido, mas teve a impressão de que a idéia geral foi captada.
—Grrrrrrrrrrrrrrcrrrruuuuu (Tonks engasgando muito com feijões voadores)
Lupin teve que intervir, pois Tonks não estava conseguindo respirar, estava completamente engasgada, branca, começando a ficar azul.
—“Regurgitum”
Tonks começou a tossir e acabou por cuspir a comida que estava entalada, mas também começou a respirar e ficar vermelha, muito vermelha...
—Ótimo, ultimo desejo, você devia ter dito sim quando eu disse essa! Tínhamos— decidido que você não voltaria para lá nem que o próprio Dumbledore ressuscitasse só para te pedir isso! Como você pode aceitar? Já não foi o suficiente o ano que passou junto deles?
Lupin já estava preparado para o discurso, ele próprio criou nela o hábito de fazer “sermões”, ele mesmo já havia passado muitos nela, e sabia que ia ter que esperar por ela terminar. Uma pena que ele tivesse caprichado tanto no jantar...
—Aparentemente não né? Vai voltar pra lá de novo, vai me deixar aqui sozinha, e isso é a coisa menos importante, por que eu sei me virar, aliás muito bem, como você bem sabe. Mas você, junto daquele bando, perigoso e sem controle? Pode acabar morto por um daqueles coitados, ou pior atacar alguém.
Lupin dava vez ou outra uma beliscada no jantar, que pelo andar da conversa Nimphadora ia desperdiçar.
—Bom, poderia dar aqui mil razões para que você não faça isso, mas o senhor da razão aqui é você, e tenho certeza que você sabe todas e mais algumas, então eu vou me poupar, pois depois de tantas conversas você vai fazer isso!! Como você pode fazer isso comigo??
Lupin afastou a sua cadeira, seguiu até a lareira e pegou um pequeno embrulho que estava escondido atrás de um porta-retrato onde os dois se beijavam apaixonadamente (foto tirada no casamento de Gui e Fleur), foi em direção a ela e se ajoelhou na sua frente.
Tonks queria gritar, brigar, mas achou melhor não estragar o momento, ela já havia estragado o jantar, e sabia que poderia brigar com ele mais tarde.
Lupin abriu o embrulho e puxou de dentro um anel prateado cravejado de rubis, que havia pertencido a sua avó.
—Nimphadora Tonks, esta é a última vez que te peço isso, e desta vez é oficial, Quer se casar comigo?
Tonks assentiu com a cabeça e já tinha o rosto todo cheio de lágrimas, ela sempre chorava quando ele fazia isso (já tinha feito duas vezes), mas agora era diferente, era pra valer! E não é que Lupin havia guardado a aliança de sua avó para essa ocasião? Depois de tanto tempo ele ainda tinha esperança de conseguir a permissão.
Lupin colocou a aliança na mão direita dela, ela se ajoelhou junto a ele e cochichou em seu ouvido – Você sabe que a resposta é sempre sim! – Envolveu o rosto dele em suas mãos e o beijou.
Ficaram ali, ajoelhados, juntinhos e Tonks foi sentindo a vontade de brigar se esvaindo, ela se deixou se acariciada e beijada, também Lupin havia provocado seu ponto fraco, beijava seu pescoço e já começava a despi-la. Fizeram amor ali mesmo, no chão.
Mesmo estando cansados, nenhum dos dois conseguiu dormir, Lupin conjurou um cobertor e Tonks se aninhou em seu peito. Ele começou a enrolar o dedo em seus cabelos, que estavam curtos e da cor das pedras de seu anel.
—Sei que você não faz questão de um casamento mágico... – Começou ele percebendo que ambos ainda estavam incomodados. - Sabe, não é a mesma coisa, não vai ser tão arriscado como da outra vez.
Tonks permaneceu quieta, apenas abraçou-o um pouco mais forte, mas Lupin pode sentir o calor de suas lágrimas.
—Greyback aumentou muito o bando, recrutou novatos demais, e eles estão se voltando contra ele...
—Obrigada por me atualizar dos fatos, quase não ouvimos na central dos Aurores noticias sobre os Lobisomens, a questão lupina, coisas assim. Sabe que quase nem fazem mais questão de me dizer como eles são perigosos? De onde foi mesmo que você obteve essas informações?
Lupin prendeu a respiração e soltou um longo suspiro. Foi o suficiente para que Tonks se levantasse e o olhasse nos olhos.
—Mas que diabos! Vai desembucha! O que você está escondendo?
Lupin foi se levantando e os dois se vestiram enquanto ele falava:
—Há uns dois meses alguns membros do bando vieram me procurar na livraria.
—Certo, e eu estava em Marte, por isso você não teve a oportunidade de me contar?
—Bom, você anda ocupada e eu não queria te preocupar, afinal eles vieram atrás de mim, portanto não fiz nada de errado.
Tonks se jogou no sofá em frente da lareira e conjurou para si um pacote de biscoitos, daqueles bem grudentos de chocolate. – Pode continuar...- começou a devorar um deles.
Lupin sentou-se ao seu lado e tentou pegar um biscoito, mas diante do olhar fulminante dela, achou mais seguro se afastar e conjurar sua “ultima refeição”.
—Eles me vieram me pedir ajuda, pois sabem que para um Lobisomem até que tenho algum respeito no mundo mágico. Eu disse que já não possuía respeito algum desde que o homem que tornou possível eu ser um mago havia morrido, muitos confiavam em mim por causa dele.
—Mas ele insistiu para que eu os ajudasse, pois eu era diferente, era muito, humano... Que muitos deles me admiravam mas tinham medo de Greyback, e queriam minha ajuda...
—Ai que lindo! E você, claro que ajudou, não foi? – E enfiou mais um pedaço de biscoito na boca.
Quem visse a cena veria uma emburradíssima, devorando o pacote grudento embaixo do cobertor e quase rosnando para Lupin, e ele por sua vez todo desalinhado cabelos bagunçados e olhos brilhando, todo excitado contando sua última “traquinagem”, que seria sua salvação.
—Não, claro que não... A principio sugeri que fossem direto ao Ministério, mas quando eles retornaram fugidos, não pude recusar... Afinal eles tentaram, mas o ministério quis “cadastra-los” e você sabe o que isso significa!
—Ahã...
—Eles queriam ajuda, e tentaram... Se eu não ajudasse, ninguém mais iria! – Lupin se sentia um Maroto novamente e se levantou de tanta empolgação.– Foi uma oportunidade única, poder ajudar alguém, ser realmente útil... Mesmo na ordem, ninguém mais confia em mim depois que Dumbledore morreu...
—Tá, peguei a idéia e o entusiasmo juvenil, e aí? O que você andou aprontando? Começou a lamber os dedos para tirar o grude de chocolate.
—Bom, eles queria saber sobre a poção de mata-cão, e você sabe como eu tenho um certo tempo livre, mesmo naquela livraria, e você sabe que eu tenho treinado para preparar minha própria poção... Então comecei a preparar a poção para eles...
—Por isso passou a lua cheia com seus novos amigos, na livraria, né?
—Não exatamente... Imagine, pela primeira vez que você se mantém consciente durante a transformação, vai querer ficar trancado num quartinho.
—Certo, então vocês foram há um bosque ficar olhando a lua? - Tonks mantinha a cara feia, mas escondia um sorriso no canto da boca.
—Na verdade fomos fazer uma visita a um amigo...
—Claro que foram checar o bando, né? Greyback estava aproveitando para atacar aos que se recusavam a segui-lo! Foi a informação que chegou ao ministério... – tentou disfarçar – Como você pode ir até lá! Você sabe o risco que correu?
Lupin se aproximou dela o suficiente para pegar um de seus biscoitos grudentos sem medo. Sorriu para ela e lançou:
—A informação que mandamos para o Ministério era que eles estavam brigando entre si, mas se você tem algo a acrescentar... – Deu uma mordida do biscoito e indicou a ela que continuasse.
—Claro que teve dedo seu nessa história, até então todos os lobisomens eram submissos a ele, acredito que se você não tivesse influenciado aqueles dois lobos desgarrados, Greyback já teria feito um ataque decisivo no mês passado!
—Acho que subestimei o Ministério, está muito bem a par do que estava acontecendo, achei que eles tinham uma idéia bem superficial do que ocorreu, me contratando para fazer algo que eu estava fazendo de graça...
—Às vezes eles não sabem o que fazem, acabam fazendo besteira! E o que é pior tem gente que aceita fazer cada coisa...
Lupin chegou mais perto e se sentou ao lado dela, se enfiando por baixo da coberta também, e aproveitando para pegou outro biscoito.
—Certo você sabia esse tempo todo? Como?
—Digamos que você passou de desanimo total a completa empolgação para ir até a livraria, você parecia até mais jovem, e digamos que isso não foi de todo mal, para não dizer que foi até proveitoso – lançou um olhar malicioso. Você ficou todo empolgado com a chegada da lua cheia, e isso, isso foi o mais estranho.
—Então você me seguiu?
—Tinha razões para suspeitar de você, e afinal, você não deveria ter se envolvido em nada perigoso, não é mesmo? Quando vi vocês socorrendo os lobos feridos tive certeza que você não estava sob feitiço algum, mas não pude deixar de te acompanhar, para sua sorte! Por que tive que lançar uns dois feitiços estuporantes em um lobo que conseguiu seguir vocês! Ela parou para olhar ele lambendo os próprios dedos.
—Francamente Remus, você já foi mais cuidadoso!
—Vindo de uma auror que seguiu um lobo até o restante da matilha, sozinha, acho que até que fui bastante cauteloso... Porque você não disse nada?
—Eu posso lhe fazer a mesmíssima pergunta? “Lupin, não se misture com os lobos”, “Tonks, não me siga se eu estiver transformado”... Acho que temos aqui um problema de entendimento... Você estava tão empolgado! Não achei justo te impedir... Mas te apoiar já seria demais, então fingi que não vi...
—Então você sabe que não é tão perigoso quanto era antes, depois daquilo, muitos deles estão dispostos até a se cadastrar para não terem que viver com a culpa de terem transformado alguém.
—Mas ainda assim é muito perigoso, e se você me pedisse para fazer isso, eu ia dizer que não, não posso deixar você se arriscar desse jeito.
—Sorte que aceitei sem conversar... E não se preocupe, Grayback está em minoria e não acredito em uma entre o grupo, agora que eles estão cientes do que está ocorrendo, ele não tem chance em um confronto.
—Certo, então vamos amanhã mesmo legalizar o casamento, lá no ministério da Magia!
Lupin engoliu seco, essa bruxa o conhecia bem, e sabia que precavido como ele era não se casaria para deixar uma viúva.
—Bom, o ministério exigiu que eu fizesse um trato com os lobos antes... Como não está longe de que isso ocorra, achei que não seria problema... E também vai nos dar tempo para prepararmos uma bela festa... – Nem ele mesmo parecia estar acreditando no que estava falando...
Tonks achou que já era hora de seguir em frente, não iria conseguir fazer com que ele mudasse de idéia mesmo, ficou triste, mas ao menos Remus estava contente e orgulhoso do seu feito, então resolveu entrar na onda.
—Então está certo, meu companheiro de trabalho, cartas na mesa, decisões tomadas, então creio eu que é hora de comer algo... Se você tiver um tempinho para cozinhar, eu to com uma fominha... – E fez uma carinha de pidona, como se precisasse...
Lupin achou melhor não comentar que ela havia desprezado o jantar maravilhoso que ele havia preparado e começou a fazer ovos mexidos com queijo.
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