Labaredas derretidas
- A cicatriz ainda dói?- perguntou Hermione sem se virar para Harry.
- Não.- disse o garoto.
Silêncio. Os dois seguiam lentamente o caminho em direção à torre da Grifinória, a noite fria já caíra lá fora.
- Desde quando você está treinando Legilimência?- perguntou Harry.
- Desde a noite em que você se fez adoecer.- respondeu Hermione.
- Tem treinado sozinha?- perguntou Harry.
- Não.
Silêncio.
- Porque você quis nos mostrar que era uma Legilimente?- perguntou Harry.
- Na realidade eu queria mostrar exclusivamente para você.- disse Hermione.
- Porque?
- Uma forma de lhe mostrar que eu estou me adequando à sua nova situação desde antes mesmo de você ter me contado sobre a profecia.- disse Hermione.
- Como assim?
- Você precisa treinar oclumência até que tudo se acabe.- disse Hermione.- E eu estou disposta a ser a pessoa que estará ao seu lado até que tudo se acabe.
- Porque isso?- perguntou Harry.- Você tem medo que eles me vençam e que os maus assumam o controle?
- Eu amo você, Harry.- disse Hermione parando de repente.- E garantir que você domine sempre oclumência é uma forma de garantir que você sobreviva.
Harry também parou e se virou para Hermione que prontamente recomeçou a andar.
- Porque não me pergunta em que eu estava pensando?- perguntou Harry.
- Quando?
- Quando você pediu que nós pensássemos em algo que você não sabia.- disse Harry.
- Em que você estava pensando?- perguntou Hermione.
- Em você.- disse Harry com simplicidade.
Silêncio.
- Você e o Malfoy estão juntos?- perguntou Harry.
- Não.- disse Hermione com convicção.
- Você ainda está dividida?- perguntou Harry.
- Sim, eu estou.- disse Hermione parando novamente e se virando para Harry.- Escute Harry, eu não quero que você fique se remoendo na dúvida de “o que ele tem que eu não tenho”.
- Era exatamente isso que eu iria fazer antes de dormir.- disse Harry com simplicidade.
- Você é muito maior que ele.- disse Hermione.- Talvez não no poder, mas no coração.
- Então porque não larga mão dele e fica comigo de uma vez?- perguntou Harry como uma criança que pergunta porque o céu é azul.
- Eu não posso lhe responder.- disse Hermione virando as costas e recomeçando a andar.- Não ainda.
Silêncio.
- Tenho uma idéia!- disse Hermione.- Vamos recomeçar!
- Recomeçar o que?- perguntou Harry.
- Tudo!
- Ah! Aí estão vocês!- disse Rony parado do lado de fora do buraco do retrato.
- Por onde andaram?- perguntou Gina assim que os três entraram para o salão comunal um pouco movimentado às nove horas da noite de sábado.
- Na sala de Tonks.- disse Hermione assentando-se próximo a Gina.- Como eu disse antes.
- O que, exatamente, aconteceu aqui?- perguntou Rony olhando de Hermione para Harry.- Antes de vocês saírem.
- Eu sou uma Legilimente, Rony.- disse Hermione calmamente.
- E mais poderosa do que ela mesma imaginava.- disse Harry com veemência.
- Pois a coisa fugiu do meu controle.- disse Hermione.- Enquanto eu mostrava a vocês o que podia fazer, eu acabei tirando Harry de seu próprio corpo.
- Você o que?- perguntou Rony.
- Tirei Harry de seu corpo.- disse Hermione agora com impaciência.- O que atraiu uma certa Comensal que passava, não se sabe como, por aqui.
Rony parecia levemente horrorizado. Gina mantinha-se pensativa.
- Ela tentou tomar meu corpo para atacar Harry.- disse Hermione.- Só que eu consegui expulsa-la antes de tudo.
- Isso tem alguma relação com o fato de o fogo da lareira não ter queimado Harry?- perguntou Gina.
- Como?- perguntaram Harry e Hermione em uníssimo.
- Foi o seguinte: Vocês estavam aí, frente a frente...- começou Gina.-...Parecendo estranhamente hipnotizados um pelo outro, quando as poltronas começaram a se afastar.
- F- foi isso mesmo!- disse Rony.
- Até que a poltrona de Harry alcançou a lareira e começou a pegar fogo.- disse Gina.- Eu prontamente fui apagar o pequeno incêndio, mas o fogo já havia atingido Harry.
Harry arregalou os olhos.
- Eu não fui queimado.- disse ele.
- É exatamente isso o estranho.- disse Gina.- Era como se houvesse uma proteção invisível em volta de você. O fogo nem chegava a toca-lo de verdade.
- Como com Belatriz Lestrange.- murmurou Rony.
- Não.- disse Hermione.- Vocês disseram que com ela era como se o fogo queimasse sua pele sem provocar dor.
- Foi isso mesmo.- disse Harry.
- Mas com Harry foi diferente.- continuou Hermione.- Não foi, Gina?
Gina fez que sim com a cabeça.
Hermione fitou a lareira, uns cinco metros atrás, por algum tempo.
- Accio fogo!- ela murmurou.
Os quatro observaram uma labareda média de fogo verde atravessar o ar até Hermione que por sua vez ergueu a mão livre como se quisesse apanhar a labareda, mas quando estava a vinte centímetros de Hermione ela simplesmente se dissolveu.
- Hermione!- disse Rony.- A cada dia que se passa você consegue me apavorar mais!
- Eu sabia que o fogo não me queimaria!- disse Hermione dando um sorriso de auto-aprovação.- Eu sabia disse desde nossa segunda noite em Hogwarts.
- Espera aí.- disse Harry.- Eu me lembro de encontrar você próxima à lareira...
- Era por isso.- confirmou a garota ainda sorridente.
- E porque isso tem ocorrido?- perguntou Rony.
- É o que eu vou descobrir.- disse Hermione se levantando.
- Aonde você vai?- perguntou Harry.
- Quem sabe na biblioteca.- respondeu ela antes de atravessar o buraco do retrato.
- Vou com ela.- disse Harry se levantando, mas Gina o segurou.
- Você sabe muito bem que o cérebro da Mione funciona melhor quando ela está sozinha.- disse Gina com um sorriso amarelo.
Harry imediatamente entendeu onde Hermione havia ido. Dentro de dez minutos ela estaria ao lado de Malfoy e ele, Harry, não podia fazer muita coisa para impedir isso.
As conversas com Hermione ocorrida nos últimos dois dias haviam mudado muito em Harry. Ele não mais sentia raiva dela e algo dentro dele dizia que aquele podia não ser o momento em que eles ficariam juntos, mas o momento chegaria. Um dia chegaria.
- Eu realmente achei que eles mudariam de idéia.
Harry piscou e voltou a si. O lugar de Hermione havia sido tomado por Lilá Brown e o de Gina por Parvati.
- Bom, foi uma decisão tomada por Tonks.- disse Rony parecendo estranhamente sem jeito.- Eu ainda tinha esperanças sabe.
- Se vocês tivessem lido o final do aviso não estariam tão desanimadas.- disse Gina que vinha de braços cruzados e parecia incrivelmente amarga.
- O que diz lá?- perguntou Lilá com uma horrenda cara de superioridade.
- Baile de Inverno.- disse ela.- Não teremos visitas à Hogsmead, mas teremos bailes.
Harry e Rony se entreolharam levemente desanimados. O último baile do qual participaram não fora uma experiência feliz para nenhum dos dois.
- Espero que dessa vez haja bons dançarinos.- disse Parvati olhando pelo canto dos olhos para Harry e Rony.
- Pelo menos dessa vez não vai haver Vítor Krum.- disse Harry fitando Rony com certo ar de dúvida.
- Mas há um certo Draco Malfoy.- disse Rony.
- Ah!- fez Parvati olhando, agora, para Gina.- Dino Thomas é um ótimo dançarino! Você tem sorte, Gina.
Gina, aparentemente, não conseguiu se decidir entre uma cara de nojo e uma de desprezo para fazer e acabou fazendo um misto das duas.
- Convide-o para ser seu par, Parvati.- disse Gina.- Creio que você estará mais bem acompanhada ao lado dele que eu.- completou antes de ir se distanciando do grupo.
****
Hermione atravessou silenciosamente o saguão de entrada. Era estranho, mas sempre quando ela precisava ir a algum, lugar fora de hora, o caminho se encontrava sempre limpo para ela.
É claro que ela sabia que onde quer que ela fosse alguém no terceiro andar do castelo a estaria acompanhando pelo Mapa do Maroto, mas ela simplesmente não se importava. Toda aquela atmosfera de guerra a havia transformado em outra pessoa. Não que a antiga Hermione tivesse ficado para trás: Ela era como uma espécie que finalmente consegue atingir o auge da evolução.
Ela sentia-se melhor agora. Sentia-se mais livre. Mais leve e, sobretudo, mais capacitada. Ela não era mais a Hermione que obedecia aos regulamentos que lhe eram impostos. Que achava que livros eram a solução para tudo e acabava fechando sua mente ao sobrenatural. Descobrira que quando se trata de Magia isso não é possível. Afinal de contas a magia em si era algo sobrenatural.
Talvez, se não houvesse uma guerra, ela ainda seria a velha e boa sabe-tudo de antes. Mas a guerra lhe mostrara que querer é poder e que tudo é apenas um jogo cujas regras cabe a você aceitar ou não. Que desobedece-las não é questão de ter ou não caráter. Muitas das regras precisam a muito ser recriadas e que você pode ser ou não a pessoa que fará a diferença.
Heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Ela deveria honrar o seu papel. Talvez ganhasse um prêmio por isso. Talvez no fim ela e Harry se mudassem para o interior, tivessem alguns filhos e levassem uma vida calma e serena com muitas histórias pra contar. Talvez ela fosse obrigada a ficar em casa remoendo suas preocupações a cada vez que Harry saísse e demorasse a voltar. Talvez ela morresse. Talvez ele morresse. Talvez aquilo tudo nunca terminasse. Mas no fim, no fim de tudo, se tivesse doído, se deixasse cicatrizes e dolorosas marcas é porque tinha valido a pena.
Era estranho estar tentando imaginar o seu futuro e descobrir que em nenhum de seus possíveis futuros há um Harry ausente. Era mais estranho ainda estar imaginando seu futuro com Harry enquanto vai-se ao encontro de Draco Malfoy.
Ela logo alcançou a Sombra dos Sonserinos, mas não foi Draco quem ela encontrou ali.
- Hermione?
- Professor Lupin?- chamou ela ao identificar o homem.- O que está fazendo aqui?
- Lembrando.- disse o homem tristemente.- E você?
- N- nada.
Hermione fitou o homem por algum tempo. Um frio gélido lambia seus cabelos, ela podia ver a lua crescente estampando o céu daquele fim de outono.
- Amanhã eu estarei novamente trancado.- disse o homem.- Você sabe o que isso significa?
- Poderá haver uma nova invasão?- arriscou Hermione.
- Talvez.- disse Lupin.- Eu gostaria muito de saber onde ela está agora.
- Ela?
- A Cmensal.
- Belatriz Lestrange?
- Sim.
- Vocês foram amigos no passado, Lupin?- perguntou Hermione.
- Não sei se posso chamar de amizade.
Silêncio. Hermione não compreendia o que ele queria dizer.
- Foi aqui.- disse Lupin.- Fazem mais de trinta anos.
- O que aconteceu aqui?
- A Guerra começava.- disse Lupin.- Ela havia deixado a escola. Lílian havia me deixado. Sirius me pediu que o acompanhasse e ela veio se despedir. Iria se casar. Iria deixa-lo para sempre, seu destino começava a se mostrar.
- Ela foi a única comensal?- perguntou Hermione.
- Sim e não.- disse Lupin.- Muitos pensam que Lúcio Malfoy é o braço direito de Lord Voldemort. Todos se enganam.
Hermione fitou Remo Lupin por algum tempo. Ele não parecia estar em sã consciência.
- Ela sempre foi maior.- disse Lupin.- Sirius sempre soube disso. Ela, se quisesse, venceria seu próprio Lord. Se quisesse ela se postaria entre ele e Dumbledore. Ela poderia nos matar pelo pensamento. Eu creio friamente que quando Voldemort cair ele vai descobrir que o seu maior erro foi crer na fidelidade dela.
Lupin se assentou.
- Ela é uma rosa negra. Possui uma beleza única, mas contém espinhos.- murmurou ele.- Ela é maior que Lúcio, foi por isso que teve de ser trancada em Azkaban. Ela poderia ter se acovardado e mentido. Poderia ter mudado a memória de todos com um só feitiço. Mas ela preferiu se trancar em Azkaban. Ela sabia que ele voltaria, que a salvaria e que por mais que pudesse demorar ela própria ressurgiria ainda pior!
Silêncio. O vento uivava.
- Eu não compreendo totalmente o que você quer dizer, Lupin.- disse Hermione se assentando.- Por que não me conta, de forma clara, sobre a vida de Belatriz Lestrange?
- É claro.- disse Lupin.- Afinal de contas alguém precisa saber.
****
- O que você tem?- perguntou Zambini.
- Nada.- respondeu Draco secamente.
- Aconteceu alguma coisa?- insistiu o outro.
- Você sabe alguma coisa da vida do Weasley?- perguntou Draco.- Algum, hum, detalhe de sua rotina...?
- Talvez.- disse Zambini.- Porque?
- Algo secreto?
- Gina demonstra ciúmes por ele aparentemente ter um caso com uma Grifinoriana.- disse Zambini.
- Qual o nome dela?
- Lilá Brown.- disse Zambini.
- Descreva-a. - ordenou Draco.
- Ela está no sexto ano.- disse Zambini.- Você provavelmente sabe quem ela é. São três sextanistas, Granger, Patil e Brown.
- A metida?
- Ela mesma.- disse Zambini.
- Quero um encontro com ela.- disse Draco.
- Para que?
- Tenho um trabalho a fazer e não quero sujar minhas mãos.- disse Draco.
- Quando você quer o encontro?- perguntou Zambini.
- Ainda não sei exatamente.- disse Draco.- Lhe avisarei.
****
- Remo.- chamou alguém em um tom de voz que mais parecia um rosnado.
- Ah! Alastror.- disse Lupin se levantando.- Aí está você, pensei que não viria mais.
- Srta. Granger, o que faz fora da cama a essa hora?- perguntou Moody que estava agora suficientemente próximo para ser visto com sua tradicional perna de pau.
- Hum.- fez Hermione.- O de sempre.
Moody riu como se aquilo fosse uma ótima piada e em seguida tirou um frasco das vestes e o lançou para Lupin.
- Sua poção, Remo.- disse ele antes de se virar para Hermione.- Não deveria estar aqui.- disse ficando sério.- Não deveria estar fora da cama tão tarde.
- Lupin ia me contar uma história.- disse Hermione.
- Não acha que passou da idade de ouvir histórias?- perguntou Moody.
- Não.- disse Hermione irritada.
- Não se preocupe, Hermione.- disse Lupin sorrindo para ela.- Você ainda escutará esta história, agora volte para seu dormitório.
Hermione consentiu com a cabeça e foi se distanciando, mas não se dirigiu para o castelo, pelo contrário, ela seguiu até metade do caminho e seguiu para a cabana de Hagrid.
Deu três batidas à porta.
- Quem está aí?- perguntou o gigante lá de dentro.
- Sou eu, Hagrid.- disse a garota.- Hermione.
Ouviu-se o estrondo da porta sendo aberta e em seguida Hermione pôde entrar.
- O que faz aqui tão tarde?- perguntou Hagrid.- Não trouxe Harry com você, ou trouxe?- perguntou o gigante enquanto olhava a noite vazia lá fora.
- Não mesmo.- disse a garota.
O gigante lentamente fechou a porta. O minuto que se decorreu entre Hermione entrar na cabana e Hagrid fechar a porta foi o suficiente para a garota achar o que procurava. O fogo.
- Hagrid...- começou ela.
- Aceita chá?- perguntou o gigante indicando o bule fumegante sobre a mesa.
- Não, obrigada.- disse Hermione.- Eu estive pensando. Porque o fogo está verde?
Hagrid deu uma risada tímida.
- Não é o fogo que está verde.- disse ele.- Nesse caso ele é verde.
Hermione fitou as labaredas na lareira por algum tempo.
- Isso quer dizer que ele não é um fogo qualquer, certo?- perguntou ela.
- Corretíssimo.- disse Hagrid.- Mas se você veio até aqui me perguntar o que ele tem de mais creio que está perdendo tempo.
- Por que?- perguntou Hermione em tom de falso desânimo.
- Ah! Isso é coisa de Dumbledore com aqueles Inomináveis.- disse Hagrid.- Não gosto de ficar me envolvendo.
- Você não vai falar mesmo?- perguntou Hermione como se Hagrid já não tivesse dado informações valiosas.
- Não mesmo.
****
Rony estava em um lugar desconhecido. Estava frio, muito frio. Podia-se identificar a silhueta de uma grande construção por trás da neblina. Era uma noite sem lua. Ouvia-se o som de cascos que tocam violentamente o chão. O som de um flecha que corta o ar e em seguida o som de folhas que são amassadas por alguém que se locomove em meio a escuridão.
- Quem está aí?- perguntou Rony ao ver um vulto negro se aproximar.
O vulto gargalhou, Rony espremeu os olhos para tentar identifica-lo.
- Quem é você?- perguntou Rony quase que desesperado. Não sabia bem porque, mas estava em pânico.
O vulto não respondeu, estava cada vez mais próximo. Rony tentou recuar, acabou tropeçando numa raiz e caindo em meio à escuridão. O vulto se precipitou velozmente sobre ele e logo seus rostos estavam a um palmo de distância.
- Sou o anjo dos teus pesadelos, Weasley.- murmurou o vulto.
Era uma mulher e Rony teve a certeza, não se sabe como, de que era a mesma mulher do outro sonho.
- Pesadelos.- repetiu ela enquanto puxava a luva negra que vestia uma das mãos. Era uma mão bonita de dedos longos e unhas bem feitas.
Rony sentiu uma de suas mãos sendo puxadas para cima. Havia nela algo que não deveria estar ali.
- Isso é meu.- murmurou a mulher.
A visão de sua própria mão foi sucedida por uma horrenda dor. Não conseguiu fazer nada além de gritar.
- Rony?
Rony abriu os olhos e viu Harry.
- Você está bem?
Rony ergueu as mãos na altura de seu rosto e viu que estavam sãs. Só então notou que havia acordado e estava no dormitório do sexto ano da Grifinória.
- Sim.- disse ele se assentando.
Ouviu-se o som de passos na escada e em seguida a porta do dormitório se arreganhou dando passagem à Hermione.
- O que está acontecendo aqui?- perguntou ela.
- Você ainda estava fora da cama?- perguntou Harry olhando as vestes de Hermione ainda caprichosamente vestidas.
- Rony teve um pesadelo.- informou Neville.
- O que você sonhou, Rony?- perguntou Hermione fitando-o.
- Foi só um pesadelo.- disse o garoto em quanto aceitava o copo de água que Simas segurava.- Eu estou bem.
Hermione o fitou de forma demorada de um jeito que lembrava muito a Profª. McGonagall examinando um aluno que diz estar doente para não assistir a uma aula chata de História da Magia. Na verdade ninguém ali nunca havia presenciado uma cena assim com a Profª. McGonagall, mas sabiam que não seria diferente.
- Se está tudo bem, Harry!- chamou Hermione.- Preciso falar com você.- completou antes de deixar o dormitório.
Harry e os demais companheiros de dormitório se entreolharam.
- Ela chega no meio da madrugada sabe-se lá de onde e diz que quer falar com você.- disse Simas.- Acho que isso é uma ordem.
- É.- concordou Harry enquanto vestia o roupão e calçava os chinelos.
Ao alcançar o alto da escada Harry pode ver Hermione assentada, inquieta, ao lado da lareira. Ela não parava de apontar para o fogo e, usando um feitiço convocatório, atrair labaredas até ela. Estas se dissolviam centímetros antes de alcançar Hermione.
Harry desceu com cautela a escada em caracol até o salão comunal. Hermione obviamente ouviu seus passos, mas não se virou.
- Accio fogo!- Harry podia ouvi-la murmurar.- Uediuósi!
Com considerável susto Harry observou a labareda verde voar em sua direção. Impulsivamente ele ergueu a mão para proteger seu rosto, mas a labareda, como com Hermione, se dissolveu.
- Podemos controla-lo.- disse Hermione para ele.
Harry venceu a distância que restava e se assentou defronte a ela.
- Eu estive com Hagrid.- disse Hermione.
- Pensei que tivesse ido procurar Malfoy.- disse Harry fitando-a levemente confuso e desconfiado.
- Não vamos começar com isso novamente, Harry.- disse a garota como quem pede para que não apaguem a luz.
- Ele soltou alguma coisa?- perguntou Harry fitando o fogo.
- Mais do que pretendia.- disse Hermione.
- O que ele disse?
- Que isso não é fogo normal.- disse Hermione.- E que é coisa de Dumbledore com os Inomináveis.
Harry sentiu um estranho frio na barriga ao ouvir a palavra “Inomináveis”.
Inomináveis eram os homens que trabalhavam no Departamento de Mistérios. Harry não tinha boas lembranças dessa parte do ministério.
- O que você acha que pode ser esse fogo, então?- perguntou Harry.
- Seja lá o que for tenho quase certeza de que ele estava por trás daquela porta trancada.- disse Hermione.
- A que derreteu o canivete de Sirius?- perguntou Harry.
- Essa mesma.- disse Hermione.
- Por que acha isso?- perguntou Harry.
- Intuição.- disse Hermione.
- Achei que não acreditasse em intuição.- disse Harry.
- Normalmente eu não acreditaria.- disse Hermione.- Vou despachar uma coruja à Rita Skeeter assim que o dia amanhecer.
- Não quer que eu dê mais entrevistas, ou quer?- perguntou Harry.
- Não mesmo.- disse Hermione dando um sorriso maroto.- Ela é uma jornalista, pesquisar coisas faz parte da profissão dela.
- Hermione.- começou Harry.- O que está tramando?
- Nada.- disse ela sorrindo.- Ainda.
- É como o Rony sempre diz: Você às vezes me dá medo.- disse Harry.
Hermione riu.
- Vou me deitar.- disse ela se levantando.- Boa noite, Harry.
Harry a observou seguindo até a escada que levava aos dormitórios femininos quando se lembrou de algo.
- Hermione!- disse ele se levantando e correndo até o pé das escadas.
- Sim.- disse ela se virando, porém sem descer as escadas de volta.
- Er...- começou Harry sentindo-se ruborizar.- Já sabe do baile de Inverno?
- Eu li sobre algo assim no quadro de avisos.- disse Hermione de forma cansada.
- Dizem que temos que arrumar nossos pares, não é mesmo?- perguntou Harry.
- Creio que sim.- disse ela.- Bailes geralmente são assim, não é mesmo? Os garotos convidam as garotas para ir ao mesmo.
- É.- disse Harry.- É isso aí! É como foi no nosso quarto ano.
- Pois é.- disse Hermione.- E o que tem isso?
Harry sentiu-se ruborizar ainda mais. Quase se esquecera de fazer o convite.
- Eu queria saber...- começou ele.- Digo, eu ainda não tenho par para o baile e você também não, eu acho. Não estou dizendo que você está encalhada...- continuou ele enquanto observava Hermione finalmente descendo as escadas.- Longe de mim, acho que vai aparecer um monte de caras querendo levar você ao baile...
Eles estavam frente a frente agora e Hermione tinha uma expressão divertida no rosto.
- É que ainda não houve tempo para convites.- continuou Harry. Encontrava-se completamente embolado.- É que você quase não permaneceu aqui no salão comunal hoje, só se alguém a tiver convidado lá fora e...
- Harry!- disse Hermione. O garoto parou de falar e olhou pra ela.- Você está querendo me chamar para ir ao baile com você?
- Não!- Embolou-se ainda mais, Harry.- Na verdade... é! É sim!
Por um momento Harry achou que Hermione iria gargalhar na cara dele.
- Eu entenderei se você não quiser ir...- começou ele, mas sua voz morreu quando Hermione jogou-se em seu pescoço. Sem saber o que fazer Harry acabou “alisando” as costas dela.
- Isso é um “sim’?- perguntou ele assim que os dois se soltaram.
- Isso é um “Lógico!”- disse Hermione sorrindo.- Uma boa noite, Harry.- Completou antes de subir veloz para seu dormitório.
***continua***
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!