A Roseira
- Que diabos está acontecendo?- indagou Draco após ir de cara na grama. Ele tateou à volta procurando sua varinha, não podia enxergar um milímetro sequer no meio da estranha escuridão que acabara de lhes acometer.
Silêncio. Ouvia-se apenas o ruído de folhas que brotam de algum lugar, muito distante dali.
- Luna?- indagou Draco ainda sem entender o que estava ocorrendo. Ele olhou para trás esperançoso de enxergar o castelo de Hogwarts, mas esse também parecia ter sucumbido à escuridão.
- Uma luz se ascendeu no segundo andar.- murmurou, finalmente, a voz da garota.
- Como consegue saber que é no segundo andar?- indagou Draco irritado fitando a fraca e pálida luz ao longe.
- É um palpite.- disse a garota.- Lumus!- completou fazendo a varinha que calmamente segurava nas mãos acender.
- Por que não fez isso antes?- indagou Draco finalmente localizando sua própria varinha e indo apanhá-la.
- Eu gosto do escuro.- murmurou Luna dementemente.- Olhe, mais duas luzes fracas se acenderam.
Draco fuzilou-a com os olhos. Ele estava ali, de pé, pronto para seguir até o salgueiro. A garota por sua vez encontrava-se esparramada na grama, observando luzes de varinha que se acendiam no castelo.
- Será que você pode...- começou Draco sem terminar a frase, pois instantaneamente a lua voltou a brilhar no céu, assim como algumas estrelas e as luzes das velas de Hogwarts.
Luna olhou pra ele com um olhar incrivelmente autista. Ela foi se levantando lentamente limpando a camisola que agora estava meio suja de terra.
- Escuta, Luna.- disse Draco segurando-a pelos ombros.- Isso é uma crise? Isso é mais uma crise?
Draco olhou-a nos olhos tentando encontrar alguma lucidez por ali. A garota permaneceu imóvel e boquiaberta por alguns segundos até que sorriu.
- Eu estou bem.- disse ela se soltando de Draco e continuando o caminho que eles faziam antes rumo ao salgueiro lutador. Draco foi atrás.
- Acho que chegamos tarde.- murmurou Luna quando eles finalmente estavam próximos o suficiente para enxergar direito.
- Ou elas não estavam aqui.- concluiu Draco.
- Sim, elas estavam.- afirmou Luna veementemente.- Eu as vi segundos antes da escuridão.
- Você quer dizer que...?- disse Draco com a voz fraca.
- E deixaram o corpo de alguém.- disse Luna correndo até algo que de longe parecia um monte de terra. Draco caminhou até ela enquanto tirava seu cachimbo do bolso e o acendia. Quase o deixou cair quando percebeu de quem era o corpo.
- Perdemos a festa.- sorriu Luna. Draco fitou-a sem palavras por um segundo. Ela não sorria de forma feliz, mas era um sorriso.
- Onde elas estão?- indagou uma voz afoita.
Luna nem se importou. Permaneceu bem quieta, encarando os olhos vidrados e doloridos do cadáver de Blás Zambini.
- Elas morreram, Potter.- murmurou Draco ao recém chegado.- Todos nós chegamos tarde demais.
- Não pode ser, onde estão os corpos?- indagou Harry indo até Luna.
- Lançaram uma Maldição da morte nele.- balbuciou Draco parecendo indiferente àquilo.
- Porque não avisaram que Lestrange estava aqui? Onde estão Gui, Tonks, a Professora Minerva?
- Talvez estejam no meu bolso.- murmurou Draco secamente.
- Não pode ser. Elas devem estar em algum lugar, se estivessem mortas haveria corpos. - murmurou Harry mirando a luz de sua varinha a volta e olhando por entre as árvores da floresta proibida mais adiante.
- Seu padrinho traidor do próprio sangue não deixou o maldito corpo dele pra trás quando morreu!- despejou Draco.
- Mas não há nenhum véu por aqui.- concluiu Harry. Ele parecia estar em um estado eufórico, não conseguia ficar parado em um lugar muito tempo como estavam Luna ou Draco. Sinceramente ele achou que não estava pensando muito claramente.- Vou chamar alguém.- disse antes de tomar um impulso e sumir correndo na direção do castelo.
Seguiu-se um longo período de silêncio. Luna ainda encontrava-se presa aos olhos de Zambini. Draco olhava meio atônito à sua volta.
- Porque essa roseira?- indagou ele.
Luna deu ombros, mas alguns segundos depois se virou pra olhar também. De junto das raízes do Salgueiro Lutador enormes roseiras surgiam, crescendo muito rapidamente como um tipo de erva que se apossa de uma presa. A princípio Draco realmente achara que era uma erva, mas quando chegava a certo comprimento a ponta das ervas se abria como um botão e revelava assim uma porção de rosas negras.
- Todo grande bruxo deixa sua marca ao morrer.- murmurou Luna sonhadoramente.
- Eu disse que elas estavam mortas, mas é uma suposição!- retrucou Draco.
- Eu me referi à ela.- murmurou Luna.
- Meu Deus! O que aconteceu aqui?- indagou uma voz.
Os dois se viraram. Tonks e Gui vinham correndo pelo gramado na direção dele. Gui foi direto ao corpo de Zambini. Tonks tratou de tirar sua capa e coloca-la sobre os ombros de Luna.
- Onde está Potter?- indagou Draco olhando à volta.
- Madame Pronfey o está tentando acalmar.- informou Gui enquanto conjurava uma maca para colocar Zambini. Tonks encontrava-se estupefata, parada ao lado de Luna, encarando a roseira.
- Ele parecia um pouco estranho.- murmurou Draco sem realmente se importar.
- Me ajude aqui garoto.- disse Gui que tentava levantar, sozinho, o corpo de Zambini.
- Minha tia esteve por aqui?- indagou Tonks.- Porque isso só pode ser coisa dela.- completou indicando a roseira que continuava a crescer praticamente imobilizando o salgueiro.
- Eu acho que ela jaz aqui.- cantarolou Luna.
- Quando vocês chegaram aqui?- indagou Gui parando para observar a roseira também.
- Logo depois da escuridão.- informou Draco sentindo um vento frio lhe lamber o rosto.
- É melhor voltarmos pro castelo.- murmurou Tonks.- E me contarem o que aconteceu no caminho.
****
- Algum tipo de feitiço eufórico.- informou Madame Pronfey indicando um Harry de olhos arregalados sentado sobre um dos leito. Tonks acabara seguida de Draco e Luna.- Mas o efeito já está passando.
- Gui está lá fora, com um corpo.- disse a Professora de Defesa contra as artes das trevas.
- Um corpo?- indagou a enfermeira arregalando os olhos e correndo na direção da porta que dava para o corredor.
- Vocês ficam aqui, eu vou buscar Snape.- disse Tonks.
- Sim! Busquem-no!- disse Harry e voz mais alta que o normal.- Foi ele quem a ajudou a entrar.
- Acho difícil.- disse Tonks sinceramente.- Ele estava com Gui desde que deixamos uma reunião mais cedo.
Os três observaram Tonks deixar a enfermaria. Harry esfregou os olhos. Luna acabou indo se assentar ao lado dele. Draco por sua vez levou um dedo à gola e afrouxou um pouco o nó da gravata.
- Como você acordou, Luna?- indagou Harry apertando os olhos como se tentasse pensar.
Draco instintivamente olhou para Luna que olhou de volta e em uma concordância silenciosa eles decidiram que era melhor não dizer que a poção fora trocada por água.
- Não me lembro de nada.- murmurou Luna muito quietamente.
Seguiu-se um período de silêncio que foi interrompido quando Tonks voltou à enfermaria seguida de Gui e Snape.
- Foi ele!- murmurou Harry saltando do leito onde até então estivera assentado.
- Minerva nos pediu para seguir até sua sala.- cortou Gui.
Harry, ainda parecendo meio indignado, trocou olhares rápidos com Luna e Draco e acabou se juntando ao grupo que rumou até a diretoria. Quando a gárgula saltou para o lado perante a apresentação da senha correta, Tonks tomou a dianteira do grupo, sendo seguida por Luna, Snape e Gui. Harry ia tomar seu lugar na fila quando Draco o empurrou contra a parede do corredor.
- Eles vão querer saber de tudo.- disse Draco.- E se você abrir o bico sobre o que presenciamos entre Gina e Luna mais cedo eu juro que arranco sua enorme língua fora.
- Eu ainda não perdi a noção do que devo ou não falar.- murmurou Harry empurrando Draco e ganhando a escada circular que levava à diretoria.
Todos já estavam acomodados. Minerva por trás da escrivaninha, Luna assentada na cadeira do outro lado da mesma. Gui, Tonks e Snape de pé cada um em um ponto da sala.
- Eu quero entender o que acaba de se passar dentro dos terrenos da minha escola!- disse ela assim que Draco entrou e puxou a porta.- Quem se habilita a começar?
Ninguém se propôs. Minerva olhou para os dois rapazes de pé mais ao fundo. Harry ainda tinha os olhos meio arregalados, talvez o tal feitiço de Euforia não tivesse acabado de todo. Draco tinha os braços cruzados e uma expressão grave no rosto. Luna fitava o teto quando os olhos da professora Minerva recaíram sobre a garota.
- Porque alguém não começa me explicando como a Srta. Lovegood está assentada na minha frente, completamente acordada?- sugeriu a diretora.
- Papoula disse que não sabe como, mas as poções do sono foram trocadas.- apressou-se Tonks em explicar.
- Então Lovegood, a Srta. Acordou e achou que seria produtivo sair e dar um passeio por aí?- sugeriu novamente a professora lançando um olhar muito severo à garota.
- Eu não sabia bem o que estava fazendo lá.- murmurou Luna preguiçosamente.- Achei que não faria diferença ficar deitada olhando o teto ou dar uma volta por aí.
- Malfoy?
Draco piscou e encarou a diretora. Ele olhou rapidamente para Harry e depois de ajeitar o distintivo de monitor chefe finalmente se manifestou.
- Eu encontrei Lovegood no alto da torre Leste.- disse Draco distintamente.- Trocamos algumas palavras e então vimos movimentação próximo ao salgueiro.
- E por movimentação você diz...?- fez Minerva.
- Um duelo?- arriscou Gui.
- Duas mulheres conversando.- disse Draco.- Srta. Granger e Belatriz Lestrange.
- Está me dizendo que a Comensal estava calmamente conversando com um aluna dentro dos terrenos da escola?- indagou Minerva meio incrédula.
- Sim senhora.- confirmou Draco.
- A Senhorita também as viu, Lovegood?- indagou Minerva.
- Uhum.- fez Luna.
- Potter?
- Não cheguei à tempo.- murmurou Harry com as mãos nos bolsos do roupão de seu pijama.
- Onde o senhor estava?- indagou Minerva.
- Acho que em meu dormitório, dormindo.- disse Harry.
- Acha?- indagou Minerva.
- Não me lembro de muita coisa.- disse Harry sinceramente.
- Não se lembra? Lovegood tem uma desculpa para não se lembrar, mas você...?- despejou a diretora.
- Do que se lembra, Harry?- indagou Tonks.
Harry hesitou por um momento. Então olhou Draco pelo cantos dos olhos, o rapaz permanecia impassível.
- Eu, Hermione e Gina fomos à torre da Sonserina essa noite.- disse Harry.
Draco fez um muxoxo próximo de realização por Harry se entregar daquela forma. Harry o ignorou.
- Como entraram lá?- indagou a professora Minerva dessecando Harry com os olhos.- O que foram fazer lá?
- Hermione tinha a senha, e queria um determinado espelho.- disse Harry.
- Então você tinha o espelho!- disse Tonks virando-se para Draco.
- Então a Srta. Granger pegou o espelho nas coisas do Sr. Malfoy?- indagou a professora Minerva.
- Não.- disse Harry.- Pois o Sr. Malfoy acordou e a tocou de lá. Mas ele entregou o espelho à ela depois disso, pois caso contrário Belatriz Lestrange não saberia que seria seguro vir à Hogwarts essa noite.
- Isso é verdade, Sr. Malfoy?- indagou Minerva desviando os olhos para o rapaz.
- Sim senhora.- disse Draco.- Eu disse onde estava o espelho.
- Mas o que o senhor fez depois que deixaram a Sonserina, Potter?- intrometeu Snape sob olhares severos da diretora.
- Fomos procurar Gina.- disse Harry.
- Ela não estava com vocês durante a aventura na casa dos outros?- prosseguiu Snape de seu canto.
- Eu a deixei ir embora antes.- disse Harry.- Ela não estava se sentindo bem.
- Mas então você e a Srta. Granger foram procura-la?- indagou Minerva voltando a assumir o controle daquele inquérito.
- Não.- disse Harry.- Nós nos separamos e fomos procura-la em lugares distintos. Combinamos de nos encontrar no salão comunal em seguida. Mas Hermione não apareceu.- Harry engoliu em seco.- Resolvi ir atrás dela, mas trombei com Belatriz Lestrange na saída do salão comunal. Depois disso não me lembro de mais nada.
- Lovegood ou Malfoy viram a Srta. Granger depois disso?- indagou Minerva olhando de um para o outro.
- Só lá de cima.- disse Draco.
- Que diabos pretendia Hermione chamando uma Comensal da morte aqui?- indagou Minerva parecendo nervosa enquanto se levantava.
- Eu vi a Srta. Granger depois que deixei vocês.- Disse Snape com certa secura depois de algum silêncio.
- Eu sabia! Eu disse que ele tinha dedo nisso!- disparou Harry.
- Eu entreguei uma amostra da poção a ela.- disse Snape ignorando Harry.
- Você o que?- indagou Tonks arregalando os olhos.
- Ela tomou algo antes de tudo ficar escuro.- murmurou Luna sonhadoramente.
- Você não podia ver...- disse Draco.
- Podia sim.- retrucou Luna.
- O que aconteceu se ela tiver mesmo tomado a poção?- indagou Harry que até então não queria acreditar na possibilidade do final fatal daquela noite.
- A finalidade da poção era matar quem estivesse no corpo de quem a ingerisse.- murmurou Snape.- E parece que funcionou.
- Você não podia ter passado a poção em frente sem autorização do Ministério, Severo!- despejou Minerva se assentando novamente.
- Ela pode ter falhado, não pode?- indagou Harry.
- Se as duas sumiram e ouve o momento escuro é porque funcionou.- murmurou Snape parecendo em um estado surdo de triunfo.
- Eu vou chamar os aurores e mandar que vasculhem tudo ao redor.- murmurou Tonks.
- Tem também o rapaz morto.- disse Gui.
- Quem é ele?- indagou Minerva massageando as têmporas de forma preocupada.
- Blás Zambini.- interrompeu Draco.- Foi morto por uma maldição da morte.
- Como sabe, você por acaso o viu morrendo?- indagou a diretora.
- Os olhos dele estavam vazios e belos.- murmurou Luna sorrindo evasiva.- Ele teve que morrer para que a roseira tivesse forças para crescer.
- É melhor sair daqui antes que eu me irrite com seu papo lunático, Srta. Lovegood.- ordenou Minerva parecendo já muito irritada.
- Ela pode saber de mais alguma coisa.- disse Tonks.
- Srta. Lovegood, preciso que vá até a enfermaria e cuide de acordar a Srta. Weasley e lhe informar do ocorrido. Pode vestir algo decente antes. - disse Minerva.- E Ninfadora, quero aurores vasculhando tudo à volta. E também uma equipe competente do Departamento de Mistérios para me dar o parecer da tal roseira. Ó Céus, o que diremos ao Sr. e Sra. Granger...- murmurou a Minerva por fim enquanto lançava um olhar preocupado ao chão.
****
- Gina...
Ao ouvir o próprio nome em algum lugar Gina foi despertando lentamente, sua cabeça parecia prestes a estourar e seu corpo todo doía. Depois de um tempo ela finalmente abriu os olhos e pôde ver quem a chamava, era Luna.
- Você...- Começou enquanto se assentava.- Onde estou?
- Na enfermaria.- disse Luna calmamente.
Gina fitou-a com um horrendo aperto no peito. Não queria que ela estivesse ali. Lembrou-se então do que acontecera, aliás, do que provavelmente acontecera, porque ela não conseguia se lembrar exatamente de muita coisa.
Estava caminhando pelo corredor do terceiro andar, rumo à torre da Grifinória quando avistou dois olhos na escuridão. A princípio ela os encarou, sem conseguir saber a quem pertenciam. Eram frios e cruéis. Então os olhos desapareceram, ela se lembrou novamente do dia que tivera e resolveu que só havia uma maneira de conseguir apagar tudo aquilo de sua cabeça, mesmo que por pouco tempo.
Ela caminhou até a ponta oposta do corredor. Onde havia um armário escondido na parede. Ela se lembrava muito bem de que cerca de meia hora antes ela ajudara as irmã Patil a guardar bebidas ali. Aquilo seria o seu remédio àquela noite.
- Desculpa, mas eu não quero falar com você.- disse Gina meio secamente, sem conseguir encarar Luna.
- Falar sobre...?- indagou Luna calmamente.- Podemos deixar para falar de nossos verões depois, Gina, temos algo mais importante a tratar agora.
- Eu não quero falar sobre nada com você agora, Luna!- disse Gina irritada.- Por favor, saia daqui.
- Eu sinto muito Gina, apesar de não saber o que fiz pra lhe deixar tão brava.- disse Luna ainda calma.- Desde que eu me lembre não nos vemos desde que você me visitou no verão... mas eu realmente preciso tratar de um assunto importante...
- Me deixe em paz, por favor.- pediu Gina, os olhos se enchendo de lágrimas.- Eu não quero ver você, não me faça odiá-la Luna, por favor...
- Hermione morreu.
****
Harry ainda tinha o rosto entre as mãos quando ouviu alguém entrar na sala. Ele e Draco Malfoy estavam assentados no escritório da professora de Defesa contra as Artes desde que as equipes do Ministério chegaram através da lareira da diretoria. Harry não chorara ainda, mas mantinha o rosto baixo para não ter que encarar o retrato zombeteiro da comensal que ainda permanecia na parede.
Tonks pediu que eles esperassem. E Harry, de alguma forma, ali estava alimentando uma ínfima esperança de que talvez a poção desenvolvida por Snape pudesse ter falhado e Hermione aparecesse em algum lugar.
- Eles vasculharam toda a floresta proibida...- disse a voz de Gui Weasley.
Sim. Pensou Harry. Diga que a encontraram.
- Mas nenhuma delas fugiu por lá.- prosseguiu o primogênito dos Weasley.
- O que os homens disseram sobre a roseira?- indagou Draco. Parecia muito sereno pelo tom de voz.
- Nunca viram nada igual.- disse Gui.- O Ministério detectou um tipo de magia muito avançada sendo realizada na escola exatamente na hora da escuridão. Eles disseram que seja lá quem a realizou, provavelmente morreu junto com sua vítima.
- E os corpos? Porque não sobraram os corpos?- indagou Harry erguendo o rosto.
- Eles não souberam explicar. Talvez tenham se desintegrado.- disse Gui.- Tonks disse que é melhor vocês irem dormir um pouco. Ou ao menos tomar um banho e se trocar.
- Não precisaremos falar com ninguém, ou precisaremos?- indagou Draco parecendo preocupado.
- Vocês já convenceram Minerva de que não há mais nada a ser dito.- disse Gui.- E fique tranqüilo, Sr. Malfoy. O senhor não está realmente encrencado até o fim do ano letivo.
- E Snape?- indagou Harry.
- O que tem o professor Snape?- perguntou Gui em resposta.
- Ele está encrencado, não está? Quero dizer, ele entregou uma poção não autorizada à Hermione...
- O que importa para o ministério no momento é que a Comensal se foi.- disse Gui.- A poção será de alguma forma testada e, se estiver realmente boa, talvez Snape escape ileso.
****
Gina chegou a abrir a boca para pedir mais uma vez que Luna saísse, mas sentiu o peso das palavras da outra. Com algum esforço conseguiu voltar o queixo para seu devido lugar. Sentiu que precisava se levantar e chegou a fazê-lo.
Mal seus pés tocaram o chão e Gina sentiu uma horrenda tonteira, tudo à seu redor girava ao passo que sua cabeça parecia prestes a explodir. Teve que apoiar em Luna para não cair.
- Co- como?
- Lestrange a matou.- murmurou Luna com a voz fraca.
Gina forçou os olhos até conseguir finalmente focar o rosto da outra. Não tinha olheiras e tampouco os olhos vermelhos, mas tinha os olhos mortiços e apagados, como quando a Sra. Lovegood falecera. Aquilo não era algum sonho estranho, pensou Gina, era a verdade.
Então um gosto estranho lhe subiu à garganta, o que lê provocou uma consistência estranha na saliva. Gina então cambaleou até o banheiro da enfermaria e vomitou tudo o que havia em seu estômago com tanta violência que bateu a testa contra o encosto da privada. E quando não havia mais o que voltar, ela sentiu-se fraca e teria desmontado no chão, ali mesmo, se Luna não a tivesse amparado.
- Me tira daqui.- pediu Gina sem sequer abrir os olhos novamente.
- Melhor não, Gina.- murmurou Luna ainda sustentando a garota.- Você precisa de um banho e de cama.
- Eu não quero ver ninguém, e as pessoas logo vão aparecer por aqui.- murmurou Gina abrindo os olhos e fitando o chão logo atrás delas.- Que horas são?
- Umas seis e meia da manhã.- disse Luna.
- Perfeito. Me leve ao banheiro interditado, ninguém vai me achar lá.- disse Gina se apoiando em Luna para se reerguer.
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- Filho da mãe!- murmurou Harry cerrando os punhos assim que ele e Draco Malfoy deixaram a sala da Professora Tonks. Harry ainda trajava seu roupão surrado por sobre o pijama e as pantufas. Draco trajava as vestes de Hogwarts, mas estas estavam absurdamente rotas no corpo do monitor chefe. Tanto que até mesmo Harry não pôde deixar de reparar que aquilo o deixava deselegante.- Ele estava ajudando-a, não estava? Apesar de todos dizerem o contrário, ele estava de alguma forma...
- Não estava.- disse Draco Malfoy sem emoção.
- Como você pode ter certeza?- indagou Harry.
- Ela nunca se juntaria à Snape. Ela o achava um traidor.- murmurou Draco.
- Elas não pode simplesmente terem sumido, conte-me Malfoy, o que realmente aconteceu?- pediu Harry encarando o garoto louro de forma ameaçadora.
Draco fitou aquele Harry Potter semi-insano por algum tempo. Ele desconfiava do que realmente ocorrera, mas não sabia se queria dividir isso com seu grande rival. Pensando bem, Harry era um idiota tolo, nunca saberia aproveitar aquilo bem.
- Snape não sabe dizer se a poção esgotaria as forças da pessoa que a usasse provisória ou definitivamente.- murmurou Draco finalmente deitando olhos um tanto quanto piedosos sobre Harry.
- Então elas podem ter sobrevivido!- concluiu Harry sorrindo.
- Ninguém sabe, Potter.- disse Draco fitando a porta fechada da sala da Professora de DCAT.- A poção não foi testada...
- Então elas podem voltar... Sim, elas podem!
- Não.- concluiu Draco pensativo.- Quando alguém realmente grandioso cai, não há mais volta. Veja Dumbledore: bom ou mau, ele era o maior bruxo de nossa época e quando Ele caiu, Ele caiu como Lúcifer, para nunca ascender novamente...*²
Seguiu-se um momento de silêncio. Harry tentava digerir aquelas palavras. Draco pensava sobre elas. Então Draco baixou o rosto e começou a andar.
- Aonde vai?- indagou Harry.
- Eu preciso dormir.- disse Draco antes de parar e rir ironicamente.- Não! Eu não conseguirei dormir, mas preciso urgente de me trocar.- Ele recomeçou a andar, fez isso por mais uns dez metros e então parou e se virou novamente.- Se não se importa, Potter, acho que deveríamos voltar à nossa antiga e má convivência. Vou me formar e deixar Hogwarts no fim do ano, gostaria de manter a minha reputação de Sonserino.
Harry o observou sumir pelo corredor ainda tentando digerir as palavras dita na última conversa sociável que ocorreu entre os dois.
****
Com alguma dificuldade por estar praticamente sustentando o corpo de Gina, Luna empurrou a porta do banheiro interditado e entrou. Gina soltou um gemido quando Luna acidentalmente a deixou colidir contra um dos boxes.
Luna fez uma careta ao concluir que aquilo deveria ter doído e tratou de puxar Gina para longe. As duas seguiram até o ponto mais escondido do banheiro para o caso de alguém resolver passar por ali.
- Tente ficar em pé sozinha por um momento, Gina.- Pediu Luna. A garota ruiva tinha os olhos semicerrados e parecia estar mais desacordada do que ciente de si.- Gina!- repetiu Luna em tom mais alto dessa vez.
Gina abriu os olhos e se apoiou na parede enquanto Luna tirava o casaco e o usava para forrar o chão. Em seguida Gina caiu assentada sobre ele com um baque. Ela olhou ao redor cansada.
- Eu deveria tê-la esperado descer do dormitório sonserino.- murmurou Gina quando Luna foi se assentar ao lado dela.- A culpa foi toda minha.
- A culpa não foi de ninguém, Gina.- disse Luna evasiva.
Gina olhou a outra esperando que esta dissesse mais algumas palavras de consolo, mas ela não disse. Luna apenas a fitou amavelmente por longos minutos e Gina sentiu-se feliz por isso. Pois aquela era Luna Lovegood, a única pessoa no mundo capaz de fazer de seu silêncio a melhor opção para qualquer situação.
Gina acabou por deixar-se deitar no colo da outra e adormeceu. Não soube a certo por quanto tempo dormiu, só que assustou-se ao acordar e encontrar o banheiro escuro. Assentou-se, Luna sorriu pra ela.
- Que horas são?- indagou Gina.
- Qualquer hora depois do jantar.- disse Luna sem se importar.
- Porque não me acordou? Você tem que se alimentar, afinal de contas estava doente e...- começou Gina.
- Não se preocupe, eu estou bem.- disse Luna.- Acho que quem precisa de comida aqui é você. Eu devo ter um chocolate em algum lugar e...- ela tateou os bolsos das vestes.- É, acho que deve estar na outra.- Luna fitou Gina por um segundo, apesar de ter dormido o dia inteiro a garota mantinha uma aparência cansada.- Você está bem?
- Não sei.- disse Gina fechando os olhos por um tempo.- Acho que preciso voltar à Grifinória e falar com o Harry.
- Ele não deve estar bem.- concluiu Luna se levantando e estendendo a mão para ajudar Gina.- Quer que eu a acompanhe até a entrada?
- Não, obrigada.- disse Gina aceitando a ajuda.- Eu prefiro... eu preciso ficar sozinha.
- Tudo bem então.- disse Luna.- Mande uma coruja se precisar de mim. Eu provavelmente estarei acordada tentando encontrar Bruxos intergalácticos com o meu telescópio.
Gina concordou com a cabeça. Normalmente teria rido da ocupação da outra. Mas acabou deixando o banheiro e seguindo vagarosamente para a torre da Grifinória. Mal atravessou o buraco do retrato e Fred e Jorge vieram afoitos em sua direção.
- Gina! Por onde andou?- indagou Fred.
- Nos deixou preocupados.
- Eu me tranquei no banheiro assim que soube e acabei dormindo por lá.- disse Gina com a voz fraca. - Onde está o Harry?
- No dormitório, não quer falar com ninguém.- disse Fred.
- Andrômeda Tonks garantiu à mamãe que você estava bem em algum canto do castelo.- disse Jorge.- Ainda bem que ela estava certa.
- Então é mesmo verdade?- indagou Gina.
- Parece que sim.- disse Fred.
A caçula dos Weasley olhou de um para o outro. Não podiam estar brincando, já que nunca os vira tão sérios quanto agora. O gosto horrível daquela manhã lhe veio novamente à garganta e Gina abriu espaço entre os irmãos e subiu aos tropeços a escada até sue dormitório onde mais uma vez foi se trancar no banheiro.
****
Muitos, como o próprio Harry, não sabiam bem no que pensar sobre aquilo. Em dois dias a grande e sombria roseira crescera e simplesmente sufocara o salgueiro lutador. Hagrid e Profª. Sprout preocuparam-se com a possibilidade de aquilo se alastrar, mas isso não aconteceu.
Diziam os boatos que a monitora chefe, Hermione Granger duelara com a Comensal até que em um fenômeno inexplicável as duas se transformaram naquela planta. Acreditando nisso, nas duas primeiras semanas Harry esteve inconsolável, quase tanto quanto Gina.
Numa manhã de quarta feira Filch correu para um banheiro localizado no quarto andar, pois ouvira Pirraça arrumando uma quebradeira por lá. Ao entrar no banheiro, porém, encontrou Harry caído no chão, chorando.
A notícia das mortes da monitora e da comensal abalou as pessoas não só em Hogwarts. Os Weasley passaram semanas trajando negro em luto e os comensais presos pareciam em êxtase com a notícia. A Sra. Weasley provavelmente teria permanecido mais tempo desolada se não fosse o pequeno Tomas. Depois do incidente em Hogwarts se acanhara coma presença do garoto, mas logo ela identificou mais traços de Rony no bebê e bastou isso para que ela passasse os dias que se seguiram se dedicando à ele de novo.
Gina se sentiu surpresa ao saber que mesmo depois do incidente sua mãe estava criando seu sobrinho. Ela também passou dias, semanas, ou até mesmo meses inconsolável. Passara a noite fatídica pedindo que aparecesse algo que a fizesse esquecer o ocorrido entre ela e Luna naquela tarde. Agora se arrependia de ter desejado tanto esquecer aquilo a troco de qualquer coisa.
Harry aparentemente superou a perda antes da caçula dos Weasley. Depois de um mês já era visto com freqüência em suas aulas, apesar de raramente falar com alguém. Dedicou-se sagazmente ao quadribol,mais talvez que o próprio Olívio Wood.
Draco permaneceu em Hogwarts até quase o último dia daquele sétimo ano. Tornou-se muito sério em seu cargo de Monitor Chefe e não deu muito trabalho à ninguém. Nem pareceu disposto a fugir, mesmo sabendo que enfrentaria o Ministério assim que se formasse. Talvez pelo seu bom comportamento ninguém acreditasse que ele pudesse efetivamente dar no pé.
Draco e Luna tiveram poucas conversas depois daquela noite. Mal se viam, pra dizer a verdade. Mas naquela tarde de início de verão, logo depois dos testes, nenhum dos dois se surpreendeu aos se encontrarem por acaso ao pé da roseira.
Eles se cumprimentaram com os olhos e permaneceram em silêncio por alguns minutos.
- Você também acha que ela apenas teve que sumir?- indagou Luna finalmente.
- Sabendo que você concorda, eu não sei.- disse Draco com certo divertimento.- Ah! Venhamos e convenhamos, Luna, uma das duas sobreviveria.
- Era o que dizia a lenda.- concluiu Luna pensativa.
- Ela provavelmente se esconderá por muito tempo.- prosseguiu Draco.- Mas um dia ela vai voltar.
Silêncio. Os dois voltaram a observar a roseira apesar de nenhum dos dois estarem pensando nela.
- Às vezes quando olho pra pessoas queridas de meu convívio, me pergunto: Quando as conheci? O que senti ao conhecê-las? Quando elas se tornaram tão importantes em minha vida?- disse Luna ainda pensativa.- Isso me faz lembrar de coisas a muito esquecidas. Coisas que no fim me fazem rir.
Draco fitou-a aparentemente sem entender. Luna voltou a encarar a roseira por algum tempo, ainda pensava.
- O conheci na enfermaria. Tinha um arranhão no braço e fazia um escândalo suficiente para um caso de morte. Eu o achei um maricas. - disse a garota loura antes de rir com auto-reprovação. - Não é essa lembrança que quero despertar.
- O que fazia lá naquele dia?- indagou Draco se lembrando e corando um pouco.
- Eu não consigo me lembrar. Acho que estava passando por lá, simplesmente.- respondeu Luna com franqueza.- Mas diga, Draco Malfoy, quando a conheceu? O que sentiu ao vê-la pela primeira vez? Quando ela se tornou importante em sua vida?
- Hermione?- indagou Draco surpreso pela impertinência da pergunta.
Luna fez que sim com a cabeça. Draco olhou para o céu enquanto tentava se lembrar, fazendo a si mesmo as perguntas antes feitas por Luna. Acabou descobrindo curiosas respostas a algumas delas.
- *¹Desde a primeira vez em que nos vimos, me senti ameaçado por ela. Até aquele dia, naquele momento, todos me olhavam com desprezo ou medo. Até mesmo meu pai. Ela foi a primeira e única pessoa a me desafiar com um mísero olhar. E ela não parou por aí. Desafiava-me nas aulas conseguindo sempre ser a primeira em tudo, apesar de nascida trouxa. Então, em meu terceiro ano ela me acertou uma bofetada na cara. Eu deveria ter me sentido humilhado, eu sei. Mas não me senti, tampouco consegui finalmente odiá-la por aquilo. - Draco sorriu com simplicidade. - Pois eu acabava de perceber que ela não só seria uma grande mulher ou uma grande bruxa, mas seria a única bruxa a quem eu seguiria e respeitaria pelo resto da minha vida.
- Você a amou, Draco.- concluiu Luna com um sorriso maternal nos lábios enquanto fitava o rapaz.
- Eu a amei.- confirmou ele fitando o chão gramado.- Eu ainda a amo. Acho que posse dizer “a amarei”.
- Talvez esse fosse o desafio da sua vida.- disse Luna.- Realmente amar alguém. Como se sente tendo-no cumprido.
- Eu me sinto vazio. Como se acabasse de atravessar um vendaval atrás de uma bonita pena e quando minhas mãos finalmente pareciam prestes a alcançá-la, ela se desintegrou deixando só o ar. O nada. Por isso me pergunto qual o sentido nisso tudo? Como fica a minha vida, agora que já consegui o que havia para ser conseguido?
- Talvez seja a hora de deixar os sangues Malfoy e Black aflorarem novamente em você.- cantarolou Luna enquanto brincava com os próprios dedos.- E mostrar que tem tanta ganância dentro de si quanto seus antepassados.
- Eu não vou fugir daqui, roubar o garoto e me perder no mundo atrás de algo que eu nem sei se existe.- disse Draco muito racionalmente.
- E vai passar o resto da vida em uma vida morna negando a sua própria natureza?- indagou Luna parecendo um pouco irritada com a moleza do outro.- Você fez isso por ela uma vez, chegou a hora de fazer exatamente o contrário.
Draco aparentemente não gostara da idéia. Mas dois dias se passaram e ele acabou procurando Luna. Foi encontra-la deitada à sombra de uma árvore, junto a Gina.
- Grifinorianos fazendo bagunça pelo saguão de entrada, Weasley.- informou Draco ao se aproximar.- Acho que cabe a você detê-los.
Gina fitou-o por algum tempo tentando reunir forças para voltar aos velhos tempos e discutir com ele. Mas acabou se levantando e rumando para o castelo.
- Pronta para voltar às asas do papai?- indagou Draco.
- Sempre.- sorriu Luna.- E você?
- Eu o que? Pergunta se vou ficar ou fugir e me esconder?- perguntou Draco. Luna fez que sim com a cabeça.- Esconder, propriamente dito, talvez não. Mas ficar aqui esperando a maior idade é que não vai ser.
- E o que vai fazer?
- Talvez eu corra o mundo.- disse ele pensativo e sério.- Mas creio que acabarei me alojando no sul da França.
- Acreditando poder encontra-la.- concluiu Luna.
- Talvez. Resolvi brincar de ser pai.- disse Draco.- Devo partir antes do amanhecer.- continuou.- Aproveitando que o pássaro se fez novamente em cinzas.
- Ao reviver ele o encontrará novamente.
- Talvez eu o adote, se ele realmente for atrás de mim.- disse Draco em resposta.
- Então é a última vez que e o vejo?
- Creio que sim.
Silêncio. Ambos se perderam em pensamentos por algum tempo.
- Acho que vou para o dormitório.- disse Draco finalmente.- Preparar minhas coisas, pensar como pegarei o garoto.
- Então Adeus.- disse Luna sem olha-lo.
- Só que...- começou Draco hesitando.- Tem uma coisa que eu gostaria de saber, antes de partir.
- Diga.
- Você herdou mais de sua mãe do que a loucura, não foi?- indagou o rapaz.- Não falo de aparência física ou coisa assim.- completou rapidamente.
Luna permaneceu calada sem sequer olha-lo.
- Naquela tarde...- recomeçou o rapaz louro.- Você não estava no meio de uma crise, sabia muito bem o que estava fazendo.
Silêncio. Draco ficou olhando-a, esperando uma resposta ou um sinal de ofensa qualquer. Até que Luna sorriu, mas não o sorriso aéreo que costumava ser. Foi um sorriso sereno, adulto. O sorriso que Hermione costumava dar, às vezes.
- Vejo que Hermione não foi a única a notar certas peculiaridades sobre Di-Lua.- cantarolou ainda com um sorriso um tanto quanto maroto nos lábios.
Draco acabou por sorrir também.
- Estive pensando.- disse ele.- No passado, se as coisas tivessem se concretizado seríamos, de alguma forma, parentes. Mas graças talvez ao Lord das Trevas, nada foi ou é. Espero que você consiga melhor sucesso no futuro.
Luna sorriu novamente.
- Se um dia eu me casar, não terei vergonha em mostrar seu nome na tapeçaria da minha família, mesmo que por parentesco distante.- completou ele com um sorriso sincero, sorriso este que pouquíssimas pessoas tiveram o prazer de um dia vislumbrar.
- Casar.- riu Luna.
- O que tem? As coisas não renderam depois daquilo?- perguntou o rapaz.
- Sou apenas a garota que herdou uma doença maluca da mãe e que às vezes entra em crise e faz coisas malucas e sem nexo por aí.- disse Luna.
- Porque não fala claramente com ela então?- indagou Draco pensativamente.
- Eu não sei.- disse Luna evasivamente.
- Não sabe?!- indagou Draco perdendo toda a delicadeza posterior.- Como pode não saber?
- Não sei, simplesmente!- disse Luna francamente.- Talvez eu tenha medo.
- Talvez você tenha medo?- indagou Draco incrédulo.- E desde quando você tem medo de alguma coisa? Você é Luna Lovegood. O Lord das Trevas pode voltar do inferno e aparecer diante de você; e você não sentirá medo, pelo contrário, você o olhará sonhadoramente e dirá: Que mágico!
Qualquer pessoa sorriria ao argumento, mas Luna não sorriu. Ficou observando uma ave que voava ao longe enquanto cantarolava qualquer coisa.
Draco soltou um suspiro e finalmente deu sinais de que iria embora.
- Ela nunca cairá aos seus pés se você não estiver lá para pegá-la.*¹- murmurou ele. - Adeus, Di- Lua.- completou antes de dar as costas e ganhar os gramados.
Na manhã seguinte, ao encontrar a fênix que pertencera à Alvo Dumbledore em sua sala, Minerva McGonagall entendeu que o rapaz que a ave vigiava conseguira escapar. Ao chegar a notícia que o neto de Molly simplesmente desaparecera, Tonks afirmou que talvez isso fosse um sinal para que os Auorores continuassem a procurar a Comensal, mas ao olhar novamente para o pássaro e lembrar de Dumbledore Minerva decidiu nada fazer.
- A sobrevivência ou não de uma das duas não é mais da nossa conta.- disse à Tonks, mais tarde.- Cuidemos do presente e deixemos o futuro para os que ainda virão.
****
- O que vai fazer no verão?- indagou Gina, ela e Luna encontravam-se esparramadas à sombra de uma árvore, em meio ao gramado ensolarado de Hogwarts.
- Devo ir me distrair na revista.- disse Luna.- E você?
- Pensava em voltar pra casa, mamãe e papai voltaram para A Toca, e conhecer meu sobrinho.- disse Gina com um sorriso tímido.- Pretendia ficar por lá o restante do verão. Mas agora que o moleque sumiu eu acho que não quero voltar pra casa.
- E vai pra onde?- indago a garota loura.
- Não sei.- disse Gina tristemente.- Pra qualquer lugar...
- Pode ir me visitar, se quiser.- disse Luna distraidamente.
- Eu adoraria.
Luna quase sorriu ao escutar a última frase, mas esta, que era deveria ter soado com entusiasmo, soou com bastante tristeza.
- Acho que piraria se passasse o verão todo em casa.- continuou a garota ruiva.- Sem Rony e Hermione por lá o Harry não vai aparecer. E além do mais todos os meus irmãos já são adultos e independentes.
- Pode passar o verão todo comigo se quiser.- disse Luna sem olha-la. Gina parecia receosa.- Não se preocupe, eu e papai não iremos à nenhum safári ou coisa parecida. E você sabe que apesar de parecer, eu não mordo.
- Não acho que você morda.- disse Gina meio rindo, meio pensativa, enquanto se assentava.- Mas aceito o convite. Pode vir a ser um bom verão, ao lado de uma boa amiga.
Silêncio. Gina voltou a se deitar recostada na árvore e fitou a enorme roseira negra ao longe. Percebendo o que a outra olhava, Luna também se pôs a observá-la.
- Qualquer um que conheceu Belatriz Lestrange se lembrará dela ao olhar essas flores.- disse Gina depois de algum tempo em silêncio.- Há uma sublime e sombria beleza por trás das pétalas escuras.- Gina olhou pelo canto dos olhos para Luna que continuava imóvel.- Já de Hermione não há nada.
Silêncio.
- Todo grande bruxo, bom ou mau, ao cair deixa uma espécie de marca.- prosseguiu Gina.- Papai me disse isso, a respeito da cicatriz de Harry, quando eu era pequenina. Belatriz Lestrange deixou a roseira e por muito tempo, talvez para sempre, todas as pessoas que passarem por essa escola, ao deslumbrarem a beleza das rosas negras, saberão que ela simboliza toda a obsessão, toda a crueldade, toda a loucura, mas também toda a grandiosidade da comensal. Mas me pergunto, e o que foi Hermione perto disso tudo? O que ficou dela? Talvez ela fosse ainda maior, talvez não! Ela era ainda maior. Só que nada dela ficou, nada!
Luna permanecia calada. Sabia onde Gina queria chegar. Era o ponto onde ela e Draco haviam chegado e parado. Era o ponto a que talvez Harry ainda alcançasse.
- Me pergunto se ela se foi mesmo.- disse Gina finalmente.- Ou se está vagando por aí. O que você acha?
- Já faz meses.- disse Luna seriamente.- Se estivesse viva já teria voltado.- completou mesmo não acreditando nisso.
- Você é estranha.- disse Gina com certa decepção.- Você sempre sabe tudo, mas nunca o diz. Permanece sempre perfeitamente imparcial. Prefere que os outros remoam suas dúvidas a confirmá-las ou nega-las.
- Acha que sei porque Malfoy fugiu?- indagou Luna.
- Disso eu já tenho certeza.- disse Gina se levantando e olhando para Luna com expressão grave no rosto.
- Mas eu não sei.- negou Luna soando até bem convincente enquanto se assentava também.- E sobre Hermione, se eu realmente achasse isso provavelmente teria ido atrás dela durante algum ataque.
- A crise!- exclamou Gina.
- O que tem?- perguntou Luna em sobressalto.
Gina abriu a boca, mas fechou-a em seguida. Hesitou. Passara uma tarde se martirizando por um acontecimento. Na noite que se seguira, ela negou, a si mesma, os fatos e jurou que esqueceria o que aconteceu. Com o desenrolar da mesma noite ela realmente o fizera, e como ninguém, nem a própria Luna, nunca mais tocou no assunto ela acabou por subvertê-lo. Só não podia era negar que ele ainda a martelava por dentro, como se procurasse um lugar por onde sair. O dia já ia sumindo no horizonte e o sentimento mais íntimo de Gina Weasley parecia ter finalmente encontrado a oportunidade que tanto buscava para se mostrar.
- O que sente depois que elas se vão?- indagou finalmente.
- Depende.- disse Luna.- Geralmente me sinto vazia, por não lembrar o que ocorreu ou pela frustração de não conseguir controla-las. Mas na daquela tarde...
Ela se calou também. Falar daquilo talvez fosse um erro, pensou.
- Na daquela tarde...?- começou Gina sentindo, e sabendo muito bem porque, seu coração incrivelmente disparado.
- Tem algo que você precisa saber.- disse finalmente.- A loucura... as crises... elas geralmente vêm depois de fortes emoções... e daquela vez ela... ela começou bem depois do que você imagina.
Gina sentiu o estômago cair, ao passo que um estranho nó se formava em sua garganta. Sua respiração de repente disparou e ela não conseguia dizer nada, fazer nada a não ser olhar pra outra. Foi um rápido dia tentando convencer a si mesma que tudo havia acontecido graças ao surto de Luna, até descobrir que o que ela mais queria é que isso não fosse verdade, ou que o episódio se repetisse, por vezes e vezes e vezes mais.
Sentia-se estranha por isso, mas havia gostado... do momento. Tentara dizer isso à outra, mas ela provavelmente nem sabia do ocorrido. Tinha medo de ser interpretada mal, de perder mais uma amiga no meio de tantas irremediáveis perdas. Mas agora ela sabia, ela podia concluir que talvez tudo aquilo que sentia fosse recíproco.
E ela permanecia calada. Talvez esperasse que Luna se desculpasse, ou que dissesse que tudo foi um engano. Mas Luna Lovegood não costumava pedir desculpas por seus atos, talvez por não costumar se arrepender deles, ou talvez simplesmente por ser Luna Lovegood. Resolveu falar algo antes que o diálogo se perdesse nas reticências e ficasse por isso mesmo.
- Você...?
- Sim.- atravessou a outra calmamente.- Você se importa...?
- Ei!- era Harry.- Vim me despedir.- completou ao alcança-las.
- Despedir?- indagou Gina virando-se pra ele um pouco chateada pela interrupção.
- Parto logo cedo, antes do Expresso de Hogwarts.- explicou o garoto e sorrindo:- A Escola de Aurores me aceitou!
- Que ótimo!- disse Gina se levantando.
- Hermione ficaria orgulhosa de você.- disse Luna calmamente.
Harry olhou para ela que agora lentamente se levantava. A felicidade em seu rosto desapareceu.
- Acho que ela já nem se importava mais tanto comigo.- disse evasivamente.
- Cada um bate a cabeça na pedra que lhe parece mais macia, Harry.- comentou Luna como quem conta um caso feliz.- Mesmo que seja uma visão um tanto quanto distorcida do macio.
Harry ficou olhando-a por um tempo, calado.
- De toda forma parabéns.- completou, então, Luna estendendo a mão para o garoto. Ele aceitou e os dois se abraçaram em seguida.
- Eu...- começou Harry.- Queria falar com você Luna, em particular.
- hum...- fez Gina entendendo o recado.- Eu já estou indo... fazer um lanche!
- Quero dar uma última olhada no salgueiro.- disse ele indicando o lugar onde antigamente ficava o mesmo.- Vou lá enquanto vocês terminam o assunto.
Gina concordou e o observou distanciar-se e então se virou para Luna. Esperava um convite, ou uma simples frase que fosse. Mas outra característica marcante em Luna Lovegood era calar-se quando desnecessário.
- Na torre leste, após o jantar, então?- indagou a garota ruiva finalmente.
- Pode ser.- disse Luna deixando-se cair na grama novamente. Já era noite.
- Até lá, então.- disse Gina fitando a garota como se esperasse alguma palavra mais a ser dita, mas Luna simplesmente fechou os olhos por um momento, como se de alguma forma estivesse cansada.
Gina trepidou enquanto hesitava. Acabou dando as costas e rumando para o castelo antes que Luna abrisse os olhos novamente e, quem sabe, perguntasse o que ela ainda estava fazendo ali.
- Eu vou “caçá-la”- murmurou Harry ao voltar e assentar-se ao lado de Luna.
- Você sabe que será inútil passar o resto da sua vida esperando que ela volte.- disse Luna evasiva.
- Não era você quem acreditava que as coisas sempre voltam no final?- retrucou Harry.
- Toda regra tem sua excção.- disse Luna.- Elas eram grandes, Harry, o tombo do alto do pedestal com certeza foi fatal.
- A Comensal pode até ser, mas Hermione não teve tempo de ser tão grande assim, por isso ainda ressurgirá.- explicou Harry.- Não é você quem vai me convencer do contrário.- copletou se levantando.- Adeus Luna, cuide-se.
****
O maior problema de se adiar grandes atos é que na maioria das vezes se perde a coragem. Foi o que Gina pensou ao se assentar em uma poltrona do salão comunal e fitar o aglomerado de grifinorianos que aproveitava a última noite em Hogwarts.
Deve ter ficado por mais de hora tentando decidir sobre ir à torre Leste ou não. Acabou optando pelo não. Foi quando Dino Thomas surgiu de entre o grupo e se dirigiu a ela.
- Não vai participar da despedida?- indagou o rapaz se assentando ao lado de Gina, que deu ombros.- Até Harry e Lilá conseguem festejar agora, porque você não?
- Não é isso.- murmurou Gina monotonamente com certa secura.
Dino se calou por um momento. Ponderava.
- Nunca cheguei a faze-lo e talvez o tempo pra isso já tenha se passado, mas sinto muito pelo que aconteceu no início do verão passado.- disse ele.- Eu gostava muito de você... acho que quis me vingar pela sensação ruim de perda que você vinha causando em mim.
- Tudo bem.- disse a garota sem emoção, sem sequer olhar para o garoto.
- Mas e aí?- indagou ele tentando puxar assunto.- Como vai a vida? Está gostando de alguém?
- Partindo do pressuposto de que estou sozinha...- começou Gina impaciente, finalmente virando-se para o garoto.- Acho que não.
Dino encarou-a descrente por um minuto. Gina não entendia o porquê daquilo, das perguntas, da expressão duvidosa do rapaz.
- Porque estaria?- perguntou ela finalmente.
- Eu não sei.- disse Dino.- Acho que porque você está desde cedo aí nesse canto, com a cara de alguém que ama muito a alguém que deixou partir sem dizê-lo.
Ao ouvir a última frase Gina sentiu como se um líquido fervente estivesse lhe descendo pela garganta, até o estômago. Com a ausência de respostas ou argumentações da garota, Dino deu ombros e se levantou. Ela o observou distanciar-se.
A vontade de ir à torre Leste voltou a manifestar-se. Minutos antes, ela se imaginara futilmente chegando ao alto da torre e indo beijar Luna. Agora ela acabara de entender que o que ela queria, aliás, o que não queria era ter que passar aquele verão como nos últimos meses, tentando enganar seu coração.
Gina se levantou, novamente cheia de coragem. Respirou fundo antes de deixar o Salão Comunal. E sabe-se lá porque, ninguém pareceu sentir a sua falta.
A noite era clara e morna. Uma dessas noites longas e incômodas em que parece que nada de interessante irá acontecer. Os corredores encontravam-se desertos pelo motivo óbvio de que todos estavam ocupados na última noite na escola.
Ao alcançar o alto da escada circular Gina viu o vulto de Luna debruçada no para peito da torre. Caminhou lentamente até estar ao lado dela.
- Achei que mudaria de idéia e ficaria em seu Salão Comunal, para a festa de despedida.- murmurou Luna sem olha-la, perdida na noite sem fim.
- Tinha coisa melhor a fazer.- disse Gina fitando o perfil de Luna.
- Não lhe perguntaram aonde ia, na última noite em Hogwarts?- indagou Luna ainda sem se virar.
- Não.- disse Gina pensativa.- Pareciam simplesmente não se importar.- completou antes de arredar para o lado.
Uma das mãos de Luna encontrava-se calmamente repousada sobre o parapeito de pedra. Meio sem saber o que aconteceria depois daquele gesto, daquela noite, Gina repousou a sua sobre a da garota loura. Alguns gestos dizem mais do que palavras e assim tornam certos sentimentos ainda mais profundos e puros.
O mais estranho de quando se ama é a indiferença dos demais.*²
A locomotiva, quase vazia, deixara a estação de Hogsmead fazia já meia hora. Harry assistia monotonamente às sombras dos campos que passavam por sua janela. Estava deixando Hogwarts, e o melhor é que dessa vez não teria que ir à casa dos Dursley. Era agora livre, um homem, livre.
Se internaria na escola para aurores. Estudaria pelos próximos 5 anos e então ganharia o mundo. Buscaria ao último dos Black e talvez ao encontrá-lo encontrasse também as respostas que buscava.
Harry por um momento perdeu-se no próprio reflexo, no vidro da cabine. A cicatriz, em sua testa, ainda extremamente nítida.
Talvez não, talvez ele estivesse errado. Talvez todas aquelas pessoas estivessem realmente, no amplo sentido da palavra, mortas. E com elas todos os seus segredos estivessem para sempre enterrados, também. Mas era o tipo da coisa que se tem que ver para crer.
”E quando eu durmo... e o coração ainda
Procura na ilusão tua lembrança,
Anjo da vida passa nos meus sonhos
E meus lábios orvalha d'esperança!”*³
***FIM***
Notas: *¹ Frase dita pela Alex, personagem da Olívia Wilde, no episódio 5 da 2ª temporada de “The OC”, a frase original era: “...she can't fall for you if you're not there to catch her.”
*²: Mr. Dalloway, Virgínia Woolf.
*³: Álvares de Azevedo, não me lembro o nome do poema =].
*musica
Nota da autora: Um fim estranho e evasivo, para uma fic de uma autora tão estranha quanto o que ela própria escreve. Espero que tenham gostado da fic, aliás, dessa e da outra. Em fics pós HP5 eu me aposento aqui. Quem sabe depois no fim do ano, depois do vestiba eu volte a escrever?! Quem sabe...
Beijos e obrigada a todos que tiveram paciência de acompanhar esta fic até o final.
Julia Roquette.
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