Sara - Lágrimas e um Recomeço



- Capítulo Dois -

Sara


- Hum.. tá. - ele respondeu. Notei que ele fez isso meio distraído, mas não pude esconder minha incredulidade. "Quê? Harry Potter estava em seu juízo perfeito? Claro que não!" - pensei.
- Bem.. Harry, desculpe, mais o que foi que você disse? - sussurrei.
Ele não me respondeu nada.
"Ah Harry! Como eu queria que você me desse uma chance! Por que você só consegue olhar para mim como amiga? Será que não percebe que eu tenho uma queda por você desde os treze anos de idade? Será que não percebeu que eu fiquei soltando olhares pra você a noite inteira no Baile de Inverno do Quarto Ano? Ou você é estúpido o bastante para não ver, ou você realmente não quer ver" - pensei.
Droga. Por que ele tinha que ser tão bonito? Por que tinha que ter os olhos mais incríveis que já vi? Se ao menos ele estivesse todo bagunçado, com mau hálito e me segurando como a delicadeza com que um Urugutango descasca um coco... Mas infelizmente não. Ele estava lindo, cheiroso, cuidadoso comigo e tristinho...
Suspirei ao ter esse pensamento. A verdade é que eu não queria que ele me soltasse. Queria que ele me abraçasse e dissesse que me amava. Só que, eu sabia, isso não ia acontecer.
Era estranho tudo aquilo. Sempre consegui levar minha velha paixonite por Harry Potter na surdina, sem levantar suspeitas. Só que eu não queria mais isso pra mim. Não queria viver um amor alimentado de ilusões, como os personagens das histórias que escrevia. Eu queria amar e SER amada. Queria poder dançar, cantar e gritar que eu estava apaixonada. Queria que os beijos que tanto havia sonhado pudessem, finalmente, acontecer.
No fundo, cada situação que meus personagens viviam eram paralelas a minha realidade, cenas de meu cotidiano. O amor de Izabel, uma brasileira, por Cristian, um inglês: Era a MINHA vida que eu expunha ali. As cenas de amor, as declarações, o primeiro beijo apaixonado... Era o que eu esperava viver com ele. Era o que eu esperava viver com Harry.

Senti o clima ficar um pouco tenso com todo aquele momento "Planeta Terra Chamando Harry". Sabia que minha pele deveria estar vermelha como um tomate maduro e isso não me agradava nem um pouco, pelo contrário, só piorava as coisas. Afinal de contas, em quem Harry estava pensando? Será que ele não podia prestar atenção em mim por, pelo menos, uma dança? Será que eu era tão desinteressante assim?
- Vamos dançar outra música então. - sugeri, tentando fazer daquilo o mais casual o possível, como se fosse normal dançar com o garoto pelo qual sou apaixonada desde sempre. Harry fez que sim com a cabeça. - Hum... Mas o que podemos dançar?
- Você escolhe. - ele falou - As damas tem privilégios.
Sorri. Harry, como sempre, era um cavalheiro. Um cavalheiro lindo, claro.
- Está bem. Olha só, quero te mostrar uma coisa.

Soltei-me dele cuidadosamente e fui até a grama, onde estávamos sentados. Eu tinha descoberto uma coisa muito interessante entre os pertences de minha mãe, e praticamente a implorei para que a trouxesse para Hogwarts. Não que eu não conhecesse aquilo, mais não sabia que ela tinha um. Provavelmente deveria estar querendo me esconder para que eu não pedisse. "Tarde demais" - pensei. No final das contas, acabou que ela me deu o aparelinho.
Abri a bolsa que carregava e tirei um livro grande e ligeiramente grosso de Herbologia.
Sorri para mim - Aquilo só seria capaz de impressionar uma pessoa na face da terra: Hermione Granger.
Procurei um pouco mais e retirei uma coisa que Harry certamente devia conhecer: Um aparelho chamado MP3 Player, ou, como os ingleses chamavam, Ipood.
- É assim que as garotas estavam treinando para o baile? - ele perguntou ao se aproximar de mim e pegar o aparelho de minhas mãos.
Não podia ser mais perfeito! Nossos dedos se tocaram e tive a sensação de que meu estômago tinha dado um nó e senti minha temperatura corporal cair, como se eu fosse, a partir dali, feita de gelo.
- É. - respondi sorrindo, tentando não aparentar todas as mudanças químicas que estavam acontecendo dentro de mim. Peguei o aparelho da mão dele, dei o play e me levantei, para que pudéssemos dançar.
A noite já começava a cair e tudo estava ligeiramente escuro e frio. A neblina que antes tomara conta de toda a Hogwarts, já havia se decipado, permanecendo agora apenas nas partes mais altas. Aproximei-me dele e ele laçou minha cintura. A música começou a tocar.

Eu só quero estar
No teu pensamento
Dentro dos teus sonhos
E no teu olhar
Tenho que te amar
Sobre o meu silêncio
Num só pedacinho de mim..
Eu daria tudo pra tocar você
Tudo pra te amar uma vez...
Já me conformei, vivo de imaginação
Só não posso mais esconder
Que eu tenho inveja do sol que pode te aquecer
Eu tenho inveja do vento que te toca
Tenho ciúme de quem pode amar você
Quem pode ter você pra sempre

Eu estremeci: logo aquela música? Ah, não acredito! Ele continuou me guiando. Fiz de tudo para não encará-lo. Era doloroso, mais eu tinha que reconhecer: Estava apaixonada por Harry Potter e não era algo que eu poderia esquecer. E mais doloroso ainda seria encará-lo e ver que ele dançava comigo mas pensava na Gina... Ou na Chang... Certo, por que até elas tiveram uma chance com Harry e eu nada?
Queria que aquela música acabasse agora! Queria me soltar dele e sair correndo para o castelo, cair em minha cama e chorar o Rio Amazonas inteiro! Não podia suportar a idéia dele estar pensando em outra garota enquanto dançava comigo. Era humilhante.
Ao pensar nisso senti meu coração apertar, um nó subir pela minha garganta e meus olhos começarem a lacrimejar. Eu não entendia: havia mudado meu cabelo (confesso que gostei no novo visual, agora ele estava bem mais comprido), deixado de ser medrosa (pelo menos um pouco) e meu corpo estava ficando cheio dos lugares certos. E ele parecia não reparar em mim. Não do jeito que eu queria.
O que havia de errado comigo?? Aliás, o que havia de errado com ele, que não percebia que eu o amava?! Até a Lilá já havia percebido! Porque mesmo tentando eu não conseguia esquecê-lo? Será que eu não havia tentado com força de vontade o suficiente?
Mas, por outro lado, desejava que aquela dança durasse para sempre. Pelo menos eu o teria perto de mim. Às vezes penso que o amo tanto, que para vê-lo feliz voltaria para o Brasil e nunca mais colocaria os pés na Europa. Respirei fundo, tentando não chorar. Eu havia me deixado apaixonar, mesmo sabendo que ele nunca olharia para mim como mulher. A culpa era minha.


Eu tenho inveja do sol que pode te aquecer
Eu tenho inveja do vento que te toca
Tenho ciúme de quem pode amar você
Quem pode ter você pra sempre
Eu daria tudo pra tocar você, tudo pra te amar uma vez...


Continuei deixando-o me guiar. O máximo que podia acontecer era ele perceber de uma vez por todas que eu era uma ótima amiga, só isso. "Como se isso não fosse me machucar" - pensei.
De repente, comecei a perceber uma coisa: Eu não poderia apenas ficar esperando que ele me notasse. Tinha que me fazer notar. Eu tinha que escrever minha história de amor. Ele jamais imaginaria que eu gostava dele se eu não o fizesse entender isso, afinal, ele me via como uma irmã. Como ele ia adivinhar que eu gostava dele? Ainda mais se na matéria "Esconder a Verdade" eu só tiro nota dez?
Afinal de contas, já estávamos dançando a um bom tempo e ele não havia me soltado. Isso poderia ser um bom sinal. Não custava nada tentar. E se, na pior e mais dolorosa das hipóteses, desse tudo errado, eu o evitaria e fingiria que estava tudo bem e que nunca fui apaixonada por ele. Esconderia esse amor nem que fosse a última mágica que faria na vida!

Sorri: estava encontrando mais um sonho com poucas chances de dar certo que me fazia feliz. Enxuguei os olhos e os virei para aquelas duas lagoas verdes. Percebi que não seria nada difícil fazer ele notar que eu estava perdidamente encantada por ele. Deixei-me hipnotizar por aquele olhar e percebi que ele não havia ficado sem jeito. Ao contrário: manteve o olhar fixo no meu.
Parte um do plano, concluída.
Aos poucos fomos nos aproximando. Isso para nós era natural. Eu sabia que algumas garotas tinham inveja de mim, por que eu tinha Harry Potter me abraçando sempre que chorava e o tinha para mim durante noites inteiras deitados no sofá do Salão Comunal, olhando as estrelas e contando nossas frustrações. Éramos mais do que amigos: éramos cúmplices.
Eu enlacei seu pescoço com meus braços. Ele apertou seus braços em torno da minha cintura e eu senti uma onda de frio, uma insegurança sobre o que estava acontecendo, como se não soubesse o que seria de nós.
Apoiei minha cabeça em seu ombro, enquanto sentia que a onda de frio havia atingido também a ele. Era tão gostoso ter ele tão pertinho de mim. Era simplesmente mágico. Eu olhei para ele novamente: Harry sorriu simpaticamente sem mostrar os dentes e olhou no meus olhos mais um vez, antes de deixar que eu encostasse minha cabeça em seu ombro novamente. Eu sorri: sentia-me feliz com ele. Sentia-me apaixonada.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.