Segredos
Capítulo 1 - Segredos
Era um belo dia de final de verão. Anna, Sophia e Michelle estavam sentadas à mesa da Corvinal tomando café. Bem, não "tomando café" exatamente. Não todas. Michelle estava com o garfo na mão, segurando-o no ar e girando-o em círculos, como se praticando algum feitiço. Aquela menina de cabelos castanho-claro e olhos castanhos estava sentindo de tudo um pouco, menos fome. Olhava atenta e sonhadoramente para a mesa da Grifinória. Anna notou a expressão no rosto da amiga e perguntou:
- Mi, tudo bem?
- Ahn? - respondeu Michelle, como se estivesse dormindo. Estava no mundo da lua.
- Você está com o garfo na mão há meia hora e nem tocou na comida. - Anna então olhou para o prato da outra, que estava vazio. - Você nem se serviu!
- Ah, bom... Não estou com muita fome... - respondeu Michelle com uma vozinha fraca e quase inaudível.
Enquanto Anna, que se sentava ao lado de Michelle, abanava a mão à frente do rosto da amiga que ainda estava olhando na mesma direção, Sophia, que se sentava à sua frente, olhou para trás para ver para onde Michelle estava olhando. Voltou o olhar para Michelle com um sorriso maroto nos lábios. Olhou para Anna e fez um gesto com a cabeça.
- Que foi? - disse Anna virando-se para onde Sophia havia indicado. - Aaah... Vi. - Disse retribuindo com o mesmo sorriso.
- Vocês viram o quê? - perguntou Michelle, agora realmente acordando do transe. - O que foi que aconteceu?
- Você estava olhando com uma cara de zumbi para a mesa da Grifinória desde o começo da manhã.
- Sério? Alguém notou alguma coisa além de vocês?
- Eu não acredito que você nem notou! - exclamou Sophia - Mas acho que só nós e o pessoal da Grifinória que estava sentado na direção em que você estava olhando notou... - Acrescentou, como se não tivesse importância, já se levantando para suas aulas.
- Ahn? Sério? Ah, Sophia! - reclamou Michelle quando percebeu a ironia da amiga.
- Deixa pra lá... A única coisa é que você vai ficar a manhã toda reclamando do fome. - foi a vez de Anna se manifestar, apontando para o estômago da amiga, também se levantando.
- Ha, ha, ha, muito engraçado! - Riu debochadamente Michelle já de pé e seguindo as amigas para as aulas. - Por que vocês não me avisaram??
- Nós tentamos! - disseram as duas em coro.
- Só uma perguntinha... O que tinha de tão interessante na mesa da Grifinória, hein dona Michelle Clairvoyant Batsmore? - Sophia perguntou inquisidoramente.
Michelle corou. Nunca havia contado às amigas o que sentia secretamente desde o terceiro ano por um certo grifinório ruivo de olhos azuis.
- É, eu também fiquei curiosa agora! O que a senhorita estava mirando dessa forma?
- Ah, bom, eh, uhm... Er, eu posso contar depois? A aula já começou. - disse, já se sentando ao lado das amigas na sala de Transfiguração.
- Desde quando você se interessa pelas aulas? - perguntou Anna, rindo.
- Anna! Eu sempre prestei muita atenção nas aulas!
- Sim, menos nas que a gente tem junto com a Grifinória...
- Agora vocês deram para implicar com isso, né? Ah por favor, eu prometo, eu juro que eu conto para vocês no nosso período livre, ok? Só não fiquem me incomodando por causa disso. Não agora.
Vendo a irritação repentina da amiga, as duas resolveram parar o assunto, por enquanto. Mas olharam-se concordando: não iam deixar de cobrar a promessa da outra.
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Enquanto isso, o "certo grifinório ruivo de olhos azuis", chamado Ronald Weasley, estava na aula de Adivinhação com seu melhor amigo Harry Potter. Eles não estavam prestando atenção no que a profª Trelawney estava falando. Estavam conversando, como sempre faziam naquela aula.
- O que você acha, então, Harry?
- Ah, eu não sei, isso é você que tem que decidir. Tem que pensar. Não é a mesma coisa que aconteceu com a Lavender? Se não tudo bem, vá em frente e conte. Se for, não enrola e toca a vida.
- Nossa, Harry! Cara, da onde você tirou isso? Achei que você fosse me entender. Sabe, também deve ter sido difícil com a Ginny. Eu entendi você.
- Ron, não me leva a mal, mas você está fazendo muito drama.
- Tudo bem, mas...
- Como vocês estão se saindo, meus queridos? - A profª Trelawney estava diante da mesa deles, olhando de um para o outro.
- Eh, bom... Nós... não entendemos... o que temos... que fazer. - Disse Harry, olhando de lado para Ron.
- É, foi isso.
- Vocês só precisam usar o livro de vocês como auxílio para ler a mão um do outro. O destino, está nas linhas, o passado nas ranhuras e o presente nos traços... - e foi se distanciando, cantarolando, pulando e representando.
- Você vê alguma diferença entre linhas, ranhuras e traços? - Cochichou Ron para Harry.
- Realmente, não. - respondeu, olhando a professora maluca de Adivinhação auxiliando Neville e Dean.
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As meninas já estavam no seu período livre. Estavam embaixo de um carvalho nos terrenos de Hogwarts. E nada de Michelle contar. Anna e Sophia, vendo que a amiga já não estava tão irritada, resolveram cobrar.
- Então, você não ia nos contar o que estava olhando?
E nada. Michelle estava mirando um ponto fixo na direção do lago acariciando o seu gato laranja, Ruffus, que estava no seu colo, procurando criar coragem para contar para as amigas o seu segredo mais secreto. Se era difícil contar para elas, imagina só para ELE. Nesse momento ela estava pesando o que era mais importante. O apoio das amigas ou... Ou o quê? Ela não sabia qual seria a reação dele. Finalmente decidiu que era importante ter uma camada a mais de alicerce caso a casa caísse quando ela decidisse que ele deveria saber.
- É que... Eu gosto...
- Sim? - responderam as duas juntas, esperançosas.
- Eu gosto de alguém da Grifinória. - disse isso tão rápido e atropeladamente que nem soube que tinha resumido três anos e meio de sofrimento e tristeza em seis míseras palavras.
- Mas isso é ótimo! Porque não nos contou antes? Desde quando? Quem é? Ele sabe? É claro que não, Sophia, como você é burra! - Sophia disse essas últimas palavras batendo um livro na cabeça.
- Seria esse alguém especial um certo garoto chamado RONALD BILLIUS WEASLEY? - disse Anna com um sorriso malicioso e gritando as últimas três palavras.
- Pshhh! Você quer que todo mundo ouça? Como você sabia? - reclamou Michelle cochichando repreendedoramente para Anna.
- Eu não nasci ontem, Mi. Eu percebo os sinais. Aliás, eu não sei como você não percebeu, Sophia.
- Ei, eu não estou o tempo todo com vocês!
- Eu sei, mas...
- Meninas! Chega! - nem olhou para elas quando disse isso. Mantinha os olhos naquele ponto tão interessante na direção do lago. - Era tão óbvio assim? - dessa vez perguntou olhando para Anna com um olhar que faria qualquer uma das duas confessar qualquer coisa. Estava muito aborrecida. Não podia ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. Estava se remoendo e punindo por dentro. Teria ela deixado tão evidente? Será que até ele tinha notado? Ela estava perdida. Mas uma coisa a ocorreu. Iria tentar evitá-lo o máximo possível. Era o único jeito. Isso iria afastar qualquer idéia de que ela sentia alguma coisa por ele da cabeça dele. Estava ela de novo mirando aquela direção.
- Mas você sabe, nós vamos estar aqui se você precisar. Você sabe como são os meninos...
- Bom saber... - deu um sorriso e virou a cabeça na direção das duas amigas totalmente diferentes uma da outra, mas que pensavam igual na maioria das vezes. Anna era uma menina de cabelos muito escuros, quase pretos, e levemente ondulados. Tinha os olhos castanho-escuros, e a pele morena. Anna era baixinha em relação a Sophia. Esta, era uma das mais altas do ano delas. Tinha seu cabelo castanho-chocolate e cacheado e os olhos castanho-claro, quase mel. Mas quando se olhava bem na luz eles ficavam levemente esverdeados. Anna gostava de esportes e não tinha muita paciência. Sophia era mais de se arrumar. Não chegava a ser patricinha, mas não podia negar que gostava de ficar horas na frente do espelho. As duas podiam discordar e serem implicantes uma com a outra se quisessem, mas normalmente isso não acontecia.
- Nossa já está quase na hora da próxima aula, melhor nos mexermos! - foi Anna que querbrou o silêncio. Era ótima nisso.
- É mesmo. - disse Michelle.
Levantaram-se e se dirigiram às estufas.
*Blergh! Herbologia!* pensou Michelle.
Depois de muitas cansativas aulas e trabalhos, saíam da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, quando passaram por três grifinórios. Harry, Ron e Hermione.
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Harry e Ron estavam seguindo Hermione, que ia apressadamente para a janta bufando. Ron não sabia o porquê de Hermione estar desse jeito, tampouco Harry sabia. Mas os dois sabiam que quando ela estava assim era melhor não mexer com ela e obedecer.
Mas quando eles passaram por Michelle, Anna e Sophia, Ron sentiu suas orelhas ficarem vermelhas. Anna e Sophia estavam olhando de Ron para Michelle, que não estava nem aí para os grifinórios (pelo menos fingia não estar). Seu plano estava dando certo. Ron estava se sentindo o último do mundo porque ELA nem sabia que ele existia. Bom, provavelmente já tinha ouvido falar, é o que acontece quando se é amigo de Harry Potter, mas... Não é a mesma coisa que notar uma pessoa.
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Michelle não sabia se estava conseguindo o que queria, mas estava se esforçando o máximo para não parecer interessada na reação de Ron. As amigas estavam achando muito estranha a cara de desentendida de Michelle, mas não comentaram nada para não fazê-la ficar tímida. Iriam conversar com ela mais tarde, numa hora mais oportuna.
*Não sei se vou agüentar essa pressão toda. Quase não consigo fingir. Mas se eu quero ter certeza de que ele não sabe, melhor continuar...* pensou Michelle, reforçando o fingimento. Mas ela não sabia que isso não a estava ajudando, só dificultando mais ainda a vida dela.
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