CHAMAS DA GUERRA










Harry se pôs diante da porta de entrada e tocou a campainha. Esperou uns cinco minutos para tocar novamente, visto que não obteve resposta. Alguns minutos depois Tia Petúnia apareceu, resmungando e abriu a porta contrariada.

- Ah... – olhou-o com desprezo. – É você.

- Esperavam um hóspede mais interessante? – ironizou Potter, que entrava puxando a sua bagagem pesada. – Esperava que me buscassem na estação como de costume.

- Tínhamos esperanças que você desistisse de vir. – Fechou a porta num baque voluntário.

– Na verdade, esperávamos que você tomasse consciência que não é bem-vindo aqui. – O Patriarca da família Dursley apareceu de repente, bloqueando a passagem de Harry. Na sala de estar podia-se ouvir Duda assistindo TV entusiasmado.

- Eu sei que vocês não me suportam... – Harry disse sem um pingo de emoção. – E nem eu a vocês, mas infelizmente, para ambas as partes, nós teremos que fazer esse sacrifício.

Sem dar margem a argumentação de seus tios, Harry abriu caminho e subiu as escadas. Entrou no quarto que antes fora de Duda e sentou na cama desanimado. Retirou umas roupas limpas do malão e dirigiu-se até o banheiro para um banho. Quando voltou para o quarto, Edwirges encontrava-se no parapeito da janela segurando um rato morto no bico. Harry fez cara de nojo e guardou as coisas no malão. Não ia desfazer as malas, visto que pretendia passar pouco tempo lá.

Deitou-se na cama e esperou o tempo passar. Fixava o olhar no teto, tentando fazer uma lista mental das Horcruxes que teria de encontrar. Onde estariam? O medalhão, roubado por aquele que se auto-intitulou R.A.B., cujo objeto falso que substituíra o horcrux verdadeiro fora a causa daquela viagem frustrada com o diretor. O diário e o anel já haviam sido destruídos anteriormente, por ele mesmo e por Dumbledore, respectivamente. A cobra Nagini, que sempre anda com o seu mestre Voldemort. A Taça da Lufa-lufa, que Tom Riddle roubou daquela mulher gorda. O penúltimo, Dumbledore não havia dado certeza sobre o que era, sabia apenas que poderia ser algo da Corvinal. E finalmente Voldemort...

Três batidas fortes na porta do quarto foram suficientes para fazer Harry voltar de seus devaneios. Tia Petúnia chamava irritada para jantar. Ao olhar pela janela, percebeu que já havia anoitecido. Desceu as escadas lentamente e sentou-se à mesa com indiferença. Serviu-se de um pequeno pedaço de costeletas de porco e arroz integral.

- Como se não bastasse dormir debaixo de um teto que não é seu. Ainda pretende comer de graça. – Tio Valter enfiou furioso uma grande porção de batatas cozidas na boca. Duda deu risadinhas sarcásticas olhando para seu primo. Tia Petúnia olhava com indiferença para o prato à sua frente.
- Não estou aqui por necessidade, mas por lealdade. – Harry olhou fixo para seu tio e prosseguiu. – Dumbledore queria que eu voltasse aqui uma última vez, e querendo vocês ou não, eu vou ficar.

- Aquele velho gagá não sabe o que quer... – Tio Valter resmungou baixinho, mas não o suficiente para evitar que Harry o ouvisse.

Com um soco na mesa, Harry se levantou furioso. Retirou rápido a varinha do bolso esquerdo de sua calça, e a apontou para aquele homem à sua frente. Os olhos do garoto transpareciam uma fúria assassina. Petúnia segurou-se firme na cadeira e Duda quase cai de onde estava sentado.

- Nunca mais o insulte na minha frente.

- Você sabe que não pode usar essa coisa fora daquela estúpida escola. São regras desse seu mundo. – tio Valter tentava aparentar tranqüilidade, mas estava apavorado. – Você não é maior de idade ainda, corre o risco de ser expulso da escola por isso.

- A escola fechou suas portas. – O tom de voz de Harry era seco e frio. – Por que eu me preocuparia com expulsão?

O homem soltou um guincho de pavor, sem saber o que fazer. A varinha ainda estava firmemente apontada para ele. Depois de alguns movimentos bruscos com a varinha em punho, Harry se sentou terminou o jantar e se levantou novamente. Guardou a varinha no bolso. Levou o seu prato para a pia, lavou e o pôs no escorredor. Seus tios e o seu primo ainda estavam imóveis em seus lugares. Irradiando medo eles não conseguiam mover um só músculo.

- Só vou ficar até o meu aniversário. Até lá, não sou obrigado a ficar em sua presença. – Harry olhava para a mesa com uma indiferença e calma fora do normal. – Farei minhas refeições quando não houver mais ninguém na cozinha. Entendido?

Os três, que ainda estavam sentados em estado de choque, apenas balançaram a cabeça num movimento afirmativo.

- Muito bem. Então está combinado. – Harry virou-se para sair da cozinha. – Eu não os incomodo e vocês, por sua vez, não me incomodam.

***

Os dias seguintes foram tranqüilos. Todas as vezes que Harry descia para as refeições, encontrava um prato feito sobre a mesa. Seus tios ficavam na sala enquanto ele comia. Quando se esbarravam nos corredores, saiam imediatamente do caminho sem dizer uma só palavra. Vez ou outra, ele saía de casa para dar umas voltas e voltava antes do anoitecer. Na véspera de seu último dia, no entanto, a tranqüilidade estava ameaçada. Naquela tarde quente, Tia Guida apareceu sem avisar.

Valter quebrou o gelo com o sobrinho e suplicou para que ele evitasse sair do quarto. Harry não queria se indispor na véspera de seu aniversário, e concordou. Ficou enfurnado, dentro daquele quarto abafado, a mala já estava feita, apenas esperando o relógio dar meia-noite. Quando faltavam cinco minutos ele abriu a janela e pôs Edwirges para fora. Segurando firme a alça de seu malão, abriu a porta e desceu as escadas com determinação.

Ao pé da escada pôde ouvir uma risada forcada e enjoada. Era ela. Guida ainda estava acordada e estava conversando com o seu irmão. Harry tentou não fazer barulho e sair sem que ninguém percebesse sua presença, mas, infelizmente não conseguiu. O cachorro buldogue que Harry tanto desprezava mordeu-lhe a perna. O garoto deu um gemido de dor e chutou o bicho. Tia Guida apareceu logo em seguida, às suas costas, Valter fazia algumas caretas assustadas.

- Veja quem ainda está por aqui. – Guida fez uma cara de nojo pelo que estava vendo. Parecia que via um verme. – Vejo que continua sendo o vagabundo de sempre, dando trabalho ao meu querido irmão.

Harry se controlou para não virar e atacá-la com sua varinha.

- Valter, você havia me dito que esse moleque não ia pôr mais os pés nessa casa. – Ela virou-se para o irmão, numa duvida aparente. – Mas vejo que você tem um bom coração. Dar abrigo a um coitado desses. Eu não teria coragem.

- Aparentemente, ele já está de saída. – Disse o homem, um pouco assustado.

- Saindo às escondidas durante a noite? – Sorriu maldosamente. – Pelo amor de Deus, Valter. Veja se ele não está roubando nada. Afinal, os genes dizem tudo.

O sangue subiu à cabeça de Harry e ele não conseguiu se controlar. Sacou sua varinha e apontou para a mulher às suas costas. O relógio da sala bateu meia-noite. Tudo o que se passou nesse intervalo foi muito rápido.

Com um enorme estrondo a porta da frente explodiu. Harry caiu de bruços no chão ao pé da escada, ficando um pouco escondido entre a parede e o seu malão. Tio Valter bateu a cabeça forte na parede e desmaiou. Guida, no entanto, continuava consciente, olhando fixamente para o lugar onde antes era a porta. Três figuras encapuzadas entraram empunhando varinhas firmemente.

- Quem vocês pensam que são para invad... – Guida começou a questioná-los.

- AVADA KADAVRA. – Gritou a figura à frente. Tinha uma voz feminina irritante que Harry logo reconheceu, era Bellatrix. Guida encontrava-se agora estirada no corredor da sala, morta.

Ainda segurando a varinha, Harry pensou em tudo o que poderia fazer. Quando uma das pessoas encapuzadas cruzou sua vista ele chutou com força o malão que estava à sua frente, conseguindo fazer o Comensal da Morte tropeçar e cair. O malão se abriu e várias de suas coisas se espalharam pelo corredor.

- EXPELLIARMUS – gritou, apontando para uma das pessoas enquanto corria escada acima. Não pôde ver se acertara no alvo, sentiu apenas um sopro passar por ele, quando Bellatrix gritou “Crucius”, por pouco a maldição não pega nele.

Algumas pegadas apressadas foram ouvidas subindo as escadas. Harry tentava desesperadamente fugir dali. Tentava se concentrar em um ponto fora da casa, ele tentaria aparatar. Foi quando esbarrou em sua tia, que fora acordada pelo barulho e não sabia o que estava acontecendo. Sem falar nada Harry a puxou pelo braço e entraram no quarto de Duda. O seu primo ainda roncava, graças ao seu sono muitíssimo pesado.

- O que está acontecendo? – Tia Petúnia estava pálida.

- Não tenho tempo para explicar. – Apontou a varinha para porta e gritou: - Colloportus. Fique aqui. Aconteça o que acontecer, não saia.

- Mas o Valter...

Harry sentiu uma pontada de culpa por tudo o que estava acontecendo. Afinal, os Comensais estavam ali por causa dele. Lembrou da visão de guida morta no corredor, e o seu tio inconsciente ao lado do corpo. Por mais que odiasse seus tios, ele não podia permitir que se ferissem por sua culpa.

- Espere aqui. – Levantou-se de repente. E precipitou-se para sair pela janela. - Eu vou buscá-lo.

Antes de sair ouviu fortes batidas na porta, os Comensais estavam furiosos. Tia Petúnia gritava horrorizada. Duda enfim acordou e percebeu que era melhor ter continuado a dormir. Harry voltou de imediato. Agarrou-se em sua tia e em seu primo. Tentou focalizar um ponto fora da casa, com firmeza. Ele conseguiria.

- Segurem-se firme em mim.

Num estampido forte eles desapareceram antes de ver a porta do quarto explodir com violência extrema. Apareceram no jardim da casa. Harry caiu cansado. Duda caiu de joelhos e começou a vomitar. Tia Petúnia ainda estava tonta, mas ia em direção `Pa porta da frente.

- Volte. – Gritou Harry. e a segurou pelo braço.

- Mas o Valter ainda está lá dentro... – ela cambaleava.

- Eu disse que ia buscá-lo, não foi? Corra até a casa da Sra. Figg. Diga que os Comensais estão aqui. – Harry ajudou Duda a se levantar e empurrou a mãe para o garoto. – Vão rápido.
Pequenas labaredas foram vistas dentro da casa. Harry tentaria entrar. Antes, porém, não tinha alternativa senão pedir ajuda. Pensou nas possíveis pessoas a quem poderia chamar. Lupin foi quem lhe veio à cabeça, não queria estragar a tranqüilidade dos Weasley e Hermione pouco poderia fazer sozinha. Concentrou-se, então, em Lupin e no pedido de socorro, balançou a varinha e dela surgiu um grande cervo prateado, que rapidamente saiu cavalgando e sumiu de vista.

Harry respirou fundo e tomou coragem. Segurou firme a varinha e adentrou a casa com determinação. O corpo de Guida ainda permanecia estirado num canto. Seu tio, porém, não se encontrava mais lá. Harry revirou suas coisas espalhadas, a procura de alguma coisa. O fogo consumia a sala rapidamente. Não havia mais tanto tempo. Um vulto apareceu em frente a porta da cozinha e o garoto não teve tempo de pensar.

- Estupefaça. – Harry gritou e o vulto caiu inconsciente no chão. Com o barulho que havia feito, o garoto pôde ouvir os outros comensais se aproximarem. Ele finalmente encontrou o que estava procurando e agarrado a ela, correu para a cozinha. Harry pulou por cima da figura encapuzada que ele acertara a pouco. E se cobriu com a capa da invisibilidade que pegara.

Ficou um tempo imóvel, apenas esperando alguém aparecer. De repente, alguns passos começam a se aproximar da porta da cozinha. O coração de Harry começou a disparar.

- Wolfman, seu idiota, se deixou abater por uma criança? – Bellatrix chutou com força a cabeça do Comensal inconsciente. Harry apontava a varinha para a porta, pronto para lançar algum feitiço atordoador. Tio Valter surgiu então pela porta, segurado pelo braço pela mulher desprezível. – Apareça bebezinho Potter, onde quer que você esteja, senão eu vou ser obrigada a machucar o seu titio aqui.

Harry tremia, Valter nunca fora um bom tio, mas era um inocente. O garoto, porém, continuou calado. Bellatrix jogou o homem no chão e Harry pensou que podia atacá-la agora, mas de onde estava ficou impossível um possível ataque.

- Crucius. – Bellatrix gritou. Valter contorcia-se de dor estirado no chão da cozinha. – Crucius... Crucius. Como é bom o som daqueles que sofrem. È música...

- Pare com isso. – Harry falou, porém sem tirar a capa, para não denunciar onde estava exatamente.

- Onde está, cretino? – Bellatrix mudou rapidamente o tom de voz. Mas Harry nada falou. A mulher olhava em todas as direções, procurando de onde tinha vindo aquela voz. – Apareça, desgraçado. Posso fazer bem mais com esse maldito trouxa.

Bellatrix ouviu um ruído perto da pia e lançou um feitiço naquela direção. A pia explodiu, jorrando água por todos os lados. No armário, alguns pratos de espatifaram no chão.

- Não pense que eu tenho o dia todo, Potter. Vou acabar com a vida desse seu tio agora, se não aparecer. – Nenhuma resposta. – Eu avisei. AVADA KEDAV...

- Atrás de você. – Harry tirou a capa rapidamente. Quando Bellatrix virou-se para atacá-lo, recebeu uma forte pancada na cabeça. O garoto segurava firme um jarro, que havia quebrado na cara da mulher, que agora sangrava inconsciente em cima do corpo, também inconsciente do outro Comensal da Morte.

Harry correu até o tio deitado no chão. Ajudou-o a se levantar e correram para a saída. Antes de cruzarem a porta...

- Crucius

Harry sentiu uma forte dor tomar-lhe todo o corpo, juntou a forca que lhe restava e empurrou o seu tio porta afora. O homem hesitou um momento, voltou e tentou puxar o sobrinho pelo braço.

– Estupefaça. – Tio Valter caiu inconsciente no chão.

Enquanto passara o efeito do Cruciatus e tentando aproveitar o intervalo da magia, Harry lançou-se em direção a sua varinha que havia largado, quando caíra. Mas não houve tempo, recebeu outra onda de choque e dor, que percorria toda a extensão de seu corpo. Era insuportável. Pensava apenas em como poderia fazer tudo aquilo parar.

- Prefere morrer, garotinho? – conseguia ouvir vagamente o seu algoz falar. – AVADA KEDAV...

- Estupore

Tivera a nítida impressão de ouvir o chamado da Morte, mas não foi dessa vez. Antes de desmaiar, Harry só conseguiu ver o semblante de Lupin se aproximar. Sua visão foi ficando cada vez mais escurecida e enfim, não conseguiu mais ver ou ouvir nada.

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