Déjà Vu

13 - Déjà Vu


07 de Junho de 1994.


Dia pior não poderia ter existido.

Tudo parecia ter dado errado para Nymphadora Tonks desde o instante em que abrira os olhos, até o presente momento, onde caminhava apressadamente de volta para o seu apartamento no centro de Londres. Começara o dia atrasada, para variar, o que já não era nenhuma novidade para ela. Mas ela podia jurar que as suas mobílias haviam criado vida durante a noite e mudado de posição já que ela, correndo contra o tempo, tropeçara um sem número de vezes nas coisas.

Mas até então, tudo normal.

Contudo, ela não podia contar que o mau humor de Rufus Scrimgeour, chefe da Seção dos Aurores do Ministério da Magia, havia tomado proporções homéricas naquela manhã. Não sabia se ela realmente havia feito algo grave ou se o homem havia sido atacado por algum diabrete da Cornualha. E só quando voltara do seu almoço é que ficara sabendo que tinha algo de errado com um dos relatórios que foram entregues a Scrimgeour e o homem lhe dera uma advertência à toa, sendo que nem fora ela que cometera o erro. Bom, de qualquer forma ela não iria se importar com os chiliques do seu chefe, porque nada iria estragar o seu bom humor.

O dia se estendera lenta e preguiçosamente, enquanto a jovem organizava os arquivos tediosos dos aurores “mais velhos, mais experientes e mais capacitados do que ela”. Ou seja, ainda era tratada como uma estagiária do primeiro ano. Tudo bem, ela ainda era uma estagiária, mas faltava tão pouco para se formar que ela já se considerava uma auror.

Tonks mal via a hora de se ver livre daquele lugar; de sair e ver gente. Ainda bem que tinha um programa praquela noite. E então ela poderia recompensar, à noite, todo o tédio pelo qual teve que passar durante o dia.

Praguejou baixinho, irritada, ao se lembrar do quanto fora “interessante” a sua recompensa durante a noite. Chegara em um barzinho freqüentado por jovens bruxos, onde tinha um encontro com o seu namorado, Bobby Benninghton... bom, Tonks tinha que admitir que fora bem interessante encontrá-lo aos beijos com uma garota de decote exageradamente generoso. Mais interessante do que a desculpa furada que ele deu, ao se deparar com Tonks: “eu pensei que fosse você usando uma aparência nova, Dora”, foi a azaração dolorosa que recebera da garota.

“Pelo menos eu fiz alguma coisa diferente, além de empilhar o relatório dos outros”, Tonks pensou sarcasticamente, arrepiando os cabelos curtos e de um loiro platinado.

Agora ela caminhava apressadamente pelas ruas da Londres trouxa, as mãos enfiadas dentro dos bolsos do casaco comprido, de volta para casa. Mas a noite estava tão bonita, que acabou por esticar o caminho um pouquinho e, quem sabe assim, conseguisse dissipar um pouco da sua irritação. Na verdade, nem ela própria sabia o motivo de toda aquela impaciência. Nunca gostara muito de Bobby, sequer havia se apaixonado pelo rapaz; fora apenas mais um caso, que ela sabia que não duraria muito tempo. Ainda assim, ninguém gosta de ser traído e levando-se em consideração o seu estado de espírito...


Nosso encontro aconteceu como eu imaginava
Você não me reconheceu, mas fingiu que não era nada


Tonks puxou o capuz do casaco sobre a cabeça, protegendo-se da garoa fina, atípica para aquela estação do ano. Estava em um largo, em frente a uma catedral trouxa. Vários bancos estavam dispostos ali, e as pessoas passavam apressadas, voltando para casa. Tonks sentou-se, observando a movimentação, pensativa, sentindo a garoa fina umedecer o banco onde estava sentada. O capuz de seu casaco permitia que ela apenas visse as pessoas que caminhavam à sua frente, sem se dar conta do que ocorria ao seu lado. Apenas pressentiu que um homem havia se sentado ao lado dela, mas não se deu ao trabalho de encará-lo.

Ficaram longos minutos em silêncio, cada um imerso em suas próprias preocupações e pensamentos, até que Tonks resolveu puxar assunto com o estranho. O dia já estava todo estragado, o que de pior poderia acontecer?

-Ei, amigo, tem um cigarro? - Ela perguntou, olhando para o lado, mas sem conseguir distinguir as feições do desconhecido, já que o poste de iluminação mais próximo estava queimado.

-Me desculpe, mas eu não fumo. - A voz da pessoa era baixa e rouca, mas tinha um certo calor reconfortante.


Eu sei que alguma coisa minha, em você ficou guardada
Como num filme mudo antes da invenção das palavras


-Eu também não, mas de repente fumar me pareceu uma boa idéia! - Tonks respondeu, soltando uma risadinha abafada. - Parece que relaxa, sei lá... - e deu de ombros.

-Dia cansativo? - O desconhecido perguntou, apenas por educação. Ao menos foi essa a impressão da jovem.

-Ah, nem me fale. - Suspirou pesadamente, tamborilando os dedos no assento do banco. - Sabe quando você tem a impressão de que o universo inteiro está conspirando contra você e tudo parece não caminhar direito na sua vida? Pois é, meu dia foi mais ou menos assim... - E começou a tagarelar sobre o seu dia, sobre o fim do namoro, sobre como as pessoas a tratavam como se fosse uma adolescente inconseqüente... - Eu vou me formar em auror em pouco tempo, tenho o mínimo de capacidade pra isso e... - E arregalando os olhos, pôs as mãos sobre a boca.

Só agora ela se dava conta de que estava conversando sobre o seu trabalho no Ministério da Magia, sem saber se o tal estranho era um bruxo. Imagine o constrangimento que seria se ele fosse trouxa? Ia, no mínimo, pensar que Tonks era maluca. E ela não sentia a menor disposição de lançar um obliviate no tal sujeito.


Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler nas nossas conversas demoradas


Notando o repentino silêncio da garota, o homem a tranqüilizou:

-Tudo bem, eu também sou bruxo. - disse com gentileza e em seguida estendeu a mão. - Prazer, sou Remus Lupin.

Tonks virou o pescoço para o lado tão rapidamente, que podia jurar que ouvira as suas articulações do pescoço estalarem. Com os olhos levemente arregalados, permitiu-se notar com atenção o rapaz que estava sentado ao seu lado. Era ele mesmo, Remus Lupin, como Tonks se lembrava sempre: o rosto de traços cansados, mas que sempre trazia um sorriso afetuoso; as mesmas roupas de segunda mão. E o olhar... sim, era o mesmo olhar vivo e terno, brilhando nos olhos âmbar. Era ele mesmo, ali, ao seu lado, como se tivesse sido conjurado por ela.

Depois de todos aqueles anos, depois de tudo o que acontecera, ali estava ele e Tonks nem sabia o que dizer. Ficou encarando-o, ainda de olhos arregalados, enquanto ele parecia desconcertado com a postura da garota, a mão erguida de chofre no ar.

-Remus?

-Sim, Remus Lupin! - Ele afirmou, um pouco acanhado. - E você?

-Tonks! - Arrastou-se um pouco para o lado, ficando mais próxima dele. - Sou eu, a Tonks. Você se lembra de mim, não é? Merlin, eu não acredito que é você mesmo, Remus!

-Tonks?

-Isso. Sou eu mesma, você se lembra, né?

-Tonks?!

Havia algo de errado ali. Remus continuava lhe sorrindo de maneira gentil, mas a voz dele parecia cada vez mais distante. O seu nome ainda era chamado, mas por uma outra voz, uma voz mais firme e grave:

-Tonks!!!


Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam


Uma mão forte tocou o seu ombro e ela abriu os olhos, subitamente. Atordoada, olhou para o alto e se deparou com um homem negro, alto e forte, que a olhava entre divertido e reprovador. O susto fora tão grande, que ela se desequilibrara da cadeira onde estava sentada, caindo para trás e batendo a cabeça dolorosamente na parede às suas costas.

-Kingsley? - Murmurou, a voz engrolada, notando que estava no seu cubículo no quartel dos aurores e Kingsley Shacklebolt, seu colega de profissão, a olhava interrogativo. A jovem levantou-se rapidamente, o corpo um pouco dolorido pela queda, ajeitando os cabelos de um roxo berrante. - Foi mal, acabei cochilando...

E tudo aquilo fora apenas um sonho; um sonho que por um breve segundo lhe deixara uma sensação gostosa por dentro, como se o dia de natal tivesse sido antecipado. Parecia ter sido tão real: ouvir a voz serena de Remus, sentir a sua presença...

-Pelo jeito a farra foi boa ontem, hã? - O auror gracejou, com sua voz de barítono. - Mas se o Scrimgeour te ver cochilando durante o expediente, vai implicar mais ainda com você.

-Farra? Quem me dera eu tivesse passado a noite na farra! - Tonks rebateu, indignada. - Eu saí tarde daqui ontem porque o nosso “querido” Dawlish deixou todos os relatórios dele na minha mão. Disse que “tinha mais coisas importantes a fazer do que lidar com relatórios”. - Bufou e agora sua voz parecia mais um sibilo sussurrante. - Sério. Qualquer dia desses vou dizer umas boas verdades praquele idiota! Quem ele pensa que é? Só porque fica puxando o saco do Fudge, se acha melhor do que a gente.

-Tonks! - Shacklebolt advertiu, olhando para os lados. - Aqui não é um bom lugar para se falar assim.

-Tudo bem, Kingsley, desculpa aí! - Tonks coçou os olhos, bocejando longamente. - Você tem alguma coisa pra mim? - perguntou, ao notar o monte de pergaminhos que estavam no braço do outro bruxo.

-Não, não, são os relatórios dos aurores que acompanharam o Fudge ontem em Hogwarts!

-Aconteceu alguma coisa lá? - A jovem parecia mais atenta e reparando num dos muitos cartazes dispostos no seu cubículo, perguntou: - Alguma coisa sobre o Black?

-Você não soube? - Shacklebolt apoiou uma das mãos na mesa e se inclinou mais, para poderem conversar mais reservadamente. - Ontem conseguiram pegar o Black em Hogwarts. Eu não tenho muita certeza já que ontem era o meu dia de folga e eu não estava por aqui, mas parece que foi um dos professores, Severus Snape, quem o prendeu.

-O Snape prendeu o Sirius?

-Sim, o Snape achou o Black na margem do lago de Hogwarts com o garoto Potter e mais outra estudante. Os três inconscientes e que por pouco não foram atacados pelos dementadores. Mas o absurdo nessa história toda é que depois que prenderam o Black numa das salas do castelo, misteriosamente o homem conseguiu fugir outra vez.

-Como é que é? - Tonks arregalou os olhos, surpresa. - Ontem conseguiram prender Sirius Black e alguém deixou ele fugir outra vez? Mas quem foi?

-Ninguém sabe, Tonks! Segundo me disseram, o tal Snape acusou o garoto Potter de ter libertado o Black. Como se isso fosse viável. - E Shacklebolt fizera um gesto de descrença, para dar mais ênfase às suas palavras. - E sem contar que temos um lobisomem envolvido no meio da história e que ninguém conseguiu me explicar direito o que ele tem a ver com isso.

-Lobisomem? Que história mais maluca... - Tonks suspirou, apoiando o queixo na mão direita. - Então nós voltamos à estaca zero! Quer dizer, se o Black conseguiu fugir outra vez de Hogwarts que é quase tão segura quanto Azkaban e com montes de dementadores por lá, vai ser barra achar ele outra vez, né?

-Pois é. E o Fudge deve estar bem irritado à uma hora dessas. Teve o Black nas mãos e viu ele fugir assim, como se fosse feito de ar!

-Que esquisito… - Tonks murmurou, pensativa. Passara o último ano ouvindo o nome de Black ser falado por todos e sempre da pior forma possível. Mal conseguia acreditar que aquele fugitivo de Azkaban, acusado de ter assassinado treze pessoas de forma cruel, também era seu primo, o rapaz de sorriso maroto e ar rebelde que ela conhecera no passado e que sempre fora tão amigo dela.


Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá


A história sobre a sua viagem ao passado fora mantida em segredo e, por um tempo, isso se tornara uma tarefa árdua para Tonks. Quantas vezes não quisera desabafar sobre aquele assunto com alguém e não pudera? Quantas vezes não teve vontade de contar sobre a sua aventura maluca, sobre as pessoas que conhecera, sobre o romance que vivera?

Era tão surreal pensar em Remus, que às vezes ela tinha a impressão que nada daquilo acontecera; como se tivesse sido apenas um sonho bom. E aquela sensação de ilusão ficava ainda mais intensa por ter a impressão de que nenhuma das pessoas que a conhecera no “passado” se lembrava dela agora. Snape era um exemplo. A metamorfamaga achou que quando voltasse para 1990, o professor de poções fosse ligar os fatos e implicar mais ainda com ela, por ter sido uma das “amiguinhas” dos marotos. Mas a garota podia jurar que havia dedo de Dumbledore nisso, com certeza algum de seus feitiços milagrosos, já que o professor de poções a tratava com o mesmo desdém e deboche de sempre; como se não se lembrasse de nada.

E durante o seu último ano letivo, quando ela olhava interrogativa para o diretor como se quisesse alguma confirmação de que ele sabia da história dela, ele apenas retribuía o olhar com um sorrisinho misterioso, sem nada falar; deixando-a com a insistente dúvida: será que Remus se lembraria dela? Será que ele se lembraria do romance breve que viveram, daquela história tão única?

Mas ela não tinha como saber e, por enquanto, permaneceria com aquela dúvida...


Eu salto pro alto eu vou em frente
De volta pro presente


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15 de Junho de 1994.


Ele já estava habituado com aquilo tudo, com aquelas constantes mudanças. Mas nunca sentira uma mescla de tão diferentes sentimentos confundir os seus pensamentos, como agora, quando deixava Hogsmeade para trás. Um fluxo absurdo de informações que congestionava o seu cérebro. Tantas revelações que foram feitas, tantas verdades descobertas. Não sabia se ficava feliz ou não com a constatação de que esteve errado por mais de dez anos: Sirius era inocente. Claro que ele ficava feliz. E muito. Era uma sensação relativamente boa, como se ele próprio se sentisse menos culpado com aquilo tudo, por ter confiado e acreditado no amigo.

Merlin, como era bom saber que Sirius não traíra James e Lilly; que ele não traíra a confiança que lhe fora depositada. Mas também havia o outro lado da questão: Peter Pettigrew.

Remus simplesmente não conseguia compreender como o ex-maroto pudera ter sido tão dissimulado, tão hipócrita… tão nojento. Como pudera não só entregar o segredo dos Potter para Lord Voldemort, mas também incriminar Sirius em seu lugar e se fingir de morto por todo esse tempo. Era crueldade demais, frieza demais. E ainda por cima utilizar a memória dos Potter para tentar ludibriar Harry e obter o seu perdão.

O futuro parecia mais incerto do que nunca para Remus Lupin.

O que iria acontecer a Sirius? Será que estava bem e em segurança? Será que permaneceria assim até que Pettigrew fosse encontrado e toda aquela história inusitada fosse provada? Será que o seu velho amigo conseguiria provar a sua inocência? Mas, por ora, aquela questão deveria ser deixada de lado por um tempo. O que importava era que Harry havia aceitado a inocência de Sirius. E Remus tinha quase certeza de que tudo iria se resolver a seu tempo, afinal, a verdade havia sido revelada.


Sozinho no escuro nesse túnel do tempo
Sigo o sinal que me liga à corrente dos sentimentos


Após uma semana em que o decisivo encontro na Casa dos Gritos acontecera, ele estava conseguindo digerir aquela história com mais facilidade. Embalado pelo movimento suave do expresso que o levava de volta à Londres, divagava entre seus pensamentos, relembrando o passado e pensando no que iria fazer dali em diante. Agora que a lua minguara, ele já voltava a se sentir um pouco mais forte e sadio; a sua última transformação havia desgastado-o muito e levando-se em consideração todo o seu cansaço mental, tornava a fadiga ainda mais intensa. Era certo que o fato de ter uma reserva de poção de acônito que fora “gentilmente” feita por Severus Snape e que chegara até ele durante o período que passou em Hogsmeade, lhe havia poupado o costumeiro desconforto.

E inevitavelmente a vergonha o oprimia, aquele sentimento que já lhe era tão bem conhecido. Apesar de dizer a si mesmo que as coisas seriam sempre assim, que a sua maldição nunca poderia ficar oculta aos olhos dos demais por muito tempo, era sempre o mesmo estado lastimoso de sempre. A mesma sensação de eterna imundície. Como se ele fosse um impuro. E nada iria mudar isso, nada seria capaz de esconder esse fato, como se houvesse um letreiro fluorescente em sua testa dizendo: “amaldiçoado”.

Havia algumas poucas pessoas que insistiam em dizer que aquilo era bobagem dele, um mero detalhe: que Remus não era uma pessoa impura, muito pelo contrário; afirmavam que pessoa mais digna do que ele não existia e que fora uma infelicidade, um lastimável infortúnio que o seu caminho tivesse se cruzado com o de Fenrir Greyback.

Contudo, por mais que se esforçasse para ser um bruxo normal, sabia que cedo ou tarde alguma coisa sairia errada. Ele quase não mordera um dos garotos na última Lua Cheia? Nem gostaria de imaginar o que poderia ter acontecido se Sirius não estivesse lá naquele momento para impedir.

Certa vez uma garota lhe dissera que o admirava por ser a pessoa que ele era: por nunca ter desistido, por ter sido sempre esforçado e gentil... será que hoje ela sentiria orgulho de tal espécie de homem? Alguém tão covarde que não tivera forças para enfrentar tudo de cabeça erguida e que simplesmente fugira, pedira demissão quando sentiu que as coisas poderiam tomar proporções catastróficas...

Um covarde... Certas vezes era assim que ele se sentia. Principalmente quando se recordava da garota que dissera admirá-lo, Nymphadora Tonks. Mesmo tendo sido tão breve, aquele havia sido o romance mais intenso de sua vida e por isso mesmo inesquecível. Como fora covarde em não ter dito o quanto estivera apaixonado, covarde por não ter ido atrás dela quando teve a oportunidade e por não ter procurado por ela após isso. Tonks tinha o estranho poder de fazê-lo se sentir uma pessoa normal, leve e despreocupado, sentimentos que ele só experimentara quando estava na companhia dos marotos.

Haviam feito amor uma única vez, mas havia sido tão especial, um momento tão único, que ele jamais seria capaz de explicar. Mas, na manhã seguinte um “até mais” foram as últimas palavras que ouvira da boca dela, que simplesmente sumira do planeta.

Era como se o chão houvesse sumido embaixo dos seus pés. Um mundo de incertezas, paranóias e teorias infundadas começaram a flutuar em sua mente. E aquilo que ele tanto temia, mas que ao mesmo tempo já esperava veio na forma de uma certeza: ela o abandonara, como cedo ou tarde quase todas as outras pessoas faziam.

Havia sido um capricho, uma aventura romântica e nada mais.

Começara a se isolar novamente, cercando o seu coração de barreiras que pareciam intransponíveis, quando uma visita inusitada de Albus Dumbledore lhe deixara mais perdido ainda. Achou que o diretor quisesse apenas saber como andavam as coisas com os membros da Ordem da Fênix, nada mais natural após o que acontecera aos Longbotton. A princípio esse fora o assunto em pauta, mas não pôde negar o seu estado de surpresa quando o diretor contara uma história - bastante absurda por sinal - acerca de Nymphadora Tonks. A cada palavra, Remus ficava ainda mais boquiaberto, totalmente incrédulo.

“Viagem no tempo? Vinda do futuro?”

Que loucura era aquela? Seria mais alguma desculpa furada, algum embuste para iludir o pobre lobisomem? Ele não podia acreditar naquilo, ele não queria... não queria acreditar que Tonks se entregara verdadeiramente a ele, que se fora embora sem avisar foi justamente com a intenção de protegê-lo de uma possível desilusão.

“Apenas não se esqueça, Remus” - Dumbledore lhe dissera antes de ir embora - “que ela sofrera com isso tanto quanto você e que terá que suportar esse segredo sozinha por um bom tempo”.

E aquelas palavras pesaram tanto em seu peito, que ele tinha a impressão de estar carregando um fardo com o dobro de seu peso, fazendo-o se curvar ante a verdade absurda daquele fato. E se Dumbledore dissera aquilo, certamente era verdade. A palavra do diretor era praticamente lei, para Remus.

-Vamos desembarcar em dez minutos, senhor! - A mulher do carrinho dos doces anunciou, sorridente, quando passara pela cabine que Remus ocupava sozinho no trem.

Ele havia se embrenhado tanto nas suas próprias lembranças e divagações que acabara perdendo a noção de todo o resto. Os seus poucos pertences: algumas mudas de vestes velhas e seus livros de Defesa Contra as Artes das Trevas estavam guardados em seu malão, não teria tanto trabalho para desembarcar. Ficou observando a paisagem quase melancólica de Londres se aproximando enquanto anoitecia. Aos poucos a locomotiva foi desacelerando, até estacionar na estação de King’s Cross, na plataforma 9 ¾.


Onde se encontra a chave que me devolverá
O sentido das palavras ou uma imagem familiar


Quatro anos antes ele estivera naquela mesma plataforma, sentindo-se estúpido e um pouco idiota com o que estava prestes a fazer: dera ouvidos a Dumbledore e uma mínima parte dele acreditara na história de que Tonks havia mesmo vindo do futuro por conta de algum misterioso feitiço. Aquela mínima parte havia ganhado uma acirrada disputa em seu interior, para que ele fosse averiguar se aquela história era verídica.

“Apenas dar uma espiada”, ele pensou, quando chegou na estação, no ano de 1990. “e se não for nada disso, eu viro as costas e vou embora. Apenas uma espiada”.

Céus, como ele se sentira estúpido por ter feito aquilo! Porque ir atrás daquela história após tanto tempo? Aquilo era passado, havia ficado para trás. Mas ele precisava tirar a limpo aquela história, talvez não fosse capaz de ter a consciência tranqüila. E qual não foi a sua surpresa quando vira uma garota adolescente de cabelos rosa-chiclete, que ao longe lhe chamara a atenção? Era ela mesma, ali, tão perto e ao mesmo tempo lhe parecendo tão inacessível...


Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam


Alguns poucos passos os separavam, mas ele não teve coragem de se aproximar. Ela parecia tão jovem, tão alegre... tão diferente dele, Remus. Ver ela ali, com os amigos, mostrava o quanto eles eram distintos, opostos. Que ele já não era o Remus maroto que ela conhecera pela primeira vez, ele estava mais velho, cansado. O que Tonks iria ver nele? Certamente ela o esqueceria em breve, arrumaria alguém mais jovem, que tivesse os mesmos interesses. Um alguém inteiro, saudável e que lhe desse a garantia de um futuro. Coisa que ele nunca poderia lhe dar.

Sim, ele fora covarde quando deixara que os seus antigos traumas pesassem em suas decisões e ele não desse chances ao que sentia. Ele queria, sim, ter ido atrás dela; queria ter tido certeza de que ela não o havia esquecido, de que ela se entregara tanto quanto ele, que ela também se apaixonara.

Mas aquele não era o momento para desenterrar aquelas emoções de um lugar tão profundo. Ele tinha que procurar um lugar para ficar, pensar no que iria fazer a seguir, arrumar um emprego. E, mais uma vez, recomeçar a sua vida.


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21 de Junho de 1994.


Fraco. Era assim que ele se sentia. Um fraco, um idiota que não teve forças para permanecer firme em sua decisão. Disse a si mesmo que não voltaria a procurar Tonks, que aquela havia sido uma história breve que ficara no passado. Tolo. Não conseguiu conter o impulso de procurá-la, nem que fosse para vê-la de longe, sem que ela soubesse. Como ele fizera anteriormente. Ele nunca fora assim tão... impulsivo. Onde estava o Remus cauteloso, cheio de reservas? De onde surgira aquele desejo obsessivo de vê-la, saber o que tinha acontecido em sua vida?

“Estúpido”, xingou-se mentalmente, mas ele simplesmente não conseguia se dominar. Como se uma estranha força agisse sobre ele, trancasse o seu lado racional e o deixasse levar-se apenas pelos instintos.

Se ele estivesse correto e se os planos de Tonks tivessem dado certo, hoje ela estaria prestes a se formar como auror, ou seja, poderia encontrá-la no Ministério da Magia. Ao menos ele tinha consciência de que entrar no Ministério para encontrá-la era uma loucura sem tamanho, mas não conteve o impulso de rondar a saída do Ministério, com a esperança de avistá-la ao longe. Era bobagem, Tonks poderia muito bem aparatar ou então usar a rede de Flu para ir embora, mas ele precisava fazer aquilo.

E no seu íntimo ele se perguntava se não havia sido enfeitiçado de alguma forma... ele não se reconhecia... tantas coisas com que se preocupar, tantas coisas a serem decididas e ele estava ali, como um amante desesperado que procura a visão de seu amor proibido. Lupin tinha a impressão de que aquela vontade urgente de reencontrar Tonks havia surgido após saber da inocência de Sirius. O passado havia voltado de uma única vez e ele não era capaz de separar as lembranças da época do assassinato dos Potter, do seu breve romance com a metamorfomaga. Tudo tão junto, tão emaranhado... Nunca aquelas lembranças haviam voltado tão intensas.

Ele só podia estar doente, não havia outra alternativa. Um delírio e nada mais.

E seria apenas o delírio que fizera a sua respiração se tornar mais acelerada e o seu coração bater mais forte? Seria delírio que fizera com que suas mãos formigassem e suas pernas fraquejassem? Seria delírio a visão de uma jovem de cabelos vermelhos e compridos sair apressadamente da passagem que levava ao Ministério da Magia? Seria um delírio de sua mente desvairada ver Tonks ali, novamente, tão perto e tão distante? E seria realmente ela? Ela era uma metamorfomaga, como ele poderia ter certeza?

Mas uma estranha atração simplesmente embotava o seu cérebro, impedindo-o de raciocinar. Apenas a visão de garota de cabelos coloridos havia sido o suficiente para que o lado inconseqüente do Remus maroto fosse desperto. Quando se deu conta caminhava apressadamente pela Londres trouxa, seguindo a garota de longe, sem o mínimo de cautela. Apenas alguns poucos metros os separavam e um grupo de transeuntes, vez ou outra, se interpunha entre os dois, fazendo com às vezes a garota sumisse do seu campo de visão.

Anoitecia e era verão. As ruas estavam movimentadas, com as pessoas indo e vindo, colocando-se entre Lupin e sua Ninfa. E uma pontinha de frustração gelou o seu peito e começava a se espalhar pelo seu corpo quando perdera a visão daquelas mechas cor de sangue. E quando já estava pensando em voltar novamente para casa e esquecer aquela história (o que vinha se tornando um hábito), sentiu um par de mãos o agarrar pela gola do casaco e o empurrar de encontro à parede de uma rua pouco iluminada.


Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá


-Qual é a sua? Eu percebi que você tá me seguindo faz tempo... quer o quê comigo?

E quando se recuperou do susto, Remus notou que uma jovem de cabelos negros, curtos e arrepiados encarava-o com os olhos estreitos, com uma das mãos dentro do bolso interno do casaco - certamente segurando uma varinha.

-Tonks? - Ele murmurou, encarando a moça à sua frente. Sentiu que a mão que o segurava pela gola se afrouxou, permitindo que ele respirasse com mais facilidade. - É você?

-Que maluquice é essa? - Tonks sussurrou de volta, notando o rosto do homem. Ele era magro, rugas precoces no rosto jovem e pálido, e com olheiras escuras abaixo dos olhos. Nos cabelos castanhos, alguns fios grisalhos brilhavam, iluminados pela luz alaranjada do poste; mas o olhar... Merlin! Tonks seria capaz de reconhecer aqueles olhos em qualquer lugar. Eram castanhos, mas brilhavam feito âmbar quando tocado pela luz do sol. Um detalhe muito particular e que só pertencia à ele.

Ela beliscou-se fortemente, para ter certeza de que havia sido outro daqueles sonhos idiotas que costumava ter. Achou que aquela sensação estranha de que estava sendo seguida - exatamente como no dia em que embarcara no Expresso de Hogwarts no seu último ano - fosse apenas uma paranóia sua. As possibilidades de encontrar Remus assim, ao acaso, pareciam mínimas, coisa de sonho mesmo; mas a dor incômoda que sentiu no braço por causa do beliscão lhe mostrou que ela estava muito bem acordada.

Segundos de silêncio e reconhecimento transcorreram onde cada qual tentava organizar os pensamentos, sem saber o que falar, sem saber o que fazer. Tonks estava começando a achar que havia algum poder superior que adorava fazer piada da sua vida. As quantidades de coisas estranhas que aconteciam com ela já eram suficientes para escrever um belo livro de ficção cientifica - daqueles que seu pai costumava ler. Se bem que ela gostava dessa vida inusitada que levava; nunca poderia reclamar de que sua rotina era maçante. Mas reencontrar Remus assim, do nada, fora uma verdadeira surpresa.

-Remus!?

E o homem finalmente conseguiu expelir o ar que estava preso em seus pulmões quando notou que a garota sorria. Aquele mesmo sorriso cativante e contagiante, que fazia surgir duas covinhas de cada lado de seu rosto. Ela podia mudar de aparência à vontade, mas nada seria capaz de apagar aquele sorriso, aquele brilho que só ela possuía.

Eles eram pessoas tão ímpares, tão diferentes em suas particularidades, que era exatamente isso o que os tornava cúmplices.

-Como esse mundo é louco! - Ela falou, rindo, os olhos brilhantes. E vendo o estado catatônico do homem, deu um tapinha amistoso no rosto dele. - Por Merlin, homem, fala alguma coisa!

-O que você acha de... hm, conversarmos em outro lugar...? - Ele falou, incapaz de dizer algo mais elaborado.

-Oh sim, claro! - Tonks assentiu, voltando a metamorfosear os cabelos, deixando-os novamente longos e de um vermelho vibrante. - Eu moro aqui perto, se quiser me dar a honra de sua visita...

Ele concordou, ainda incapaz de esboçar alguma reação. Nunca havia se preparado para um possível reencontro. O que dizer? Como se comportar? Dizer que sentira a falta dela durante os anos ou esperar que ela dissesse algo?

-Espero não ter machucado você. - Tonks quebrou o silêncio, enquanto os dois caminhavam. - Às vezes eu acabo sendo um pouco brusca, sabe. Mas eu não tinha reconhecido você na hora, foi meio que no instinto.

Lupin fez um gesto com as mãos, como se dissesse que estava tudo bem. Tinha medo de falar e que sua voz denunciasse o quanto aquilo havia mexido com ele. Continuaram andando, calados, e duas quadras depois chegaram no apartamento de Tonks.

-Olha só, não repara a bagunça! - Tonks se desculpou, assim que abriu a porta. - Eu nunca levei muito jeito com feitiços domésticos e quase nunca fico aqui.

E, pelo que Remus pôde observar, Tonks realmente não era muito habilidosa com feitiços domésticos, mas o lugar possuía o seu calor, o seu clima. Era quase contagiante ver a displicência da decoração com suas almofadas e objetos coloridos. Estava entrando no mundo dela. Observava com interesse o lugar, cada pequeno detalhe, desbravando aquele novo universo, tão diferente dele. Quando voltou à realidade, notou que Tonks voltara à sala trazendo duas canecas de chocolate quente.

-Continuo sendo um desastre na cozinha, mas consegui aperfeiçoar a receita do chocolate quente. - Tonks explicou divertida, entregando uma das canecas para o rapaz. - E então? Quanto tempo, não é? O que voc...

-Nymphadora...- Lupin interrompeu-a, falando lentamente. Sentou-se no sofá roxo da sala, mas sem dar muita atenção à caneca fumegante entre suas mãos. - Eu sei de tudo!

-Sabe? - Tonks arregalou levemente os olhos, sentando-se ao lado do rapaz no sofá.

-Dumbledore me contou. - O rapaz pigarreou e ergueu o rosto, olhando fixamente para a garota. - Sobre como você foi para o passado.

-Então você sabe... - A garota suspirou e começou a falar rapidamente: - Remus, eu não queria que tivesse sido assim... Eu queria ter te contado tudo, mas não podia. Não achei que você fosse acreditar, que fosse achar que eu era uma maluca que falava um monte de asneiras e... sei lá, talvez tenha sido insegurança minha. E tinha sido tão perfeito aquilo que aconteceu entre a gente que eu não quis te magoar com uma despedida. Você consegue imaginar isso? Digo, como eu ia contar isso se nem eu própria entendia direito? E...

-Nymphadora... - Remus sorriu, ao ver a afobação da garota. - Eu não estou pedindo explicações, apenas estou dizendo que já sei de tudo. - E, sem pensar, tomou as mãos dela entre as suas, deixando a caneca fumegante esquecida na mesinha de centro. Precisava sentir o calor do toque dela, saber que ela estava ali, de verdade, e não uma ilusão. - Acalme-se.

-Me desculpa? - Ela pediu, mordendo o lábio inferior. - Eu não deveria ter ido embora daquela forma, sem um bilhete, nem nada... Deixar você pensando que eu fosse uma cretina qualquer, que só usara você...

-Não tem motivos para pedir desculpas, Nymphadora... - Remus sussurrou, acariciando as mãos da garota. Fora tão natural, que ele nem se dera conta. - Deve ter sido difícil para você saber de tudo aquilo e não poder fazer nada. Eu não sei como você conseguiu suportar aquilo tudo e ainda se preocupar em saber como eu estava... é até vergonhoso eu ficar me sentindo mal sabendo a angústia que você teve que passar!

-Quando Dumbledore lhe contou? - Tonks perguntou, sentindo uma coisa engraçada apertar a sua garganta, quando ouvira Remus lhe dizer aquelas coisas, fazendo-a ter certeza de que ele não estava magoado.

Remus desviou a vista, encarando os próprios joelhos. Sentiu o rosto se aquecer, talvez estivesse corando; não tinha como afirmar.

-Remus... quando?

-Na semana em que você desapareceu! - Remus respondeu, tenso.

-Então você soube toda a verdade durante todo esse tempo.

-Sim! - Ele confirmou e acrescentou, receoso: - Eu até procurei por você uma vez, há alguns anos. Mas não tive coragem de me aproximar... - Vendo que Tonks ia falar, ele a impediu com um gesto. - Eu sei, parece estúpido. Nós poderíamos ter resolvido esse mal entendido há séculos, mas eu vi você ali, parecendo tão tranqüila e tão... jovem. Foi então que notei que eu já não era mais o “Aluado” que você conhecera, que havia alguns anos de diferença entre nós. E que você talvez não fosse se lembrar mais de mim.

-Foi na plataforma, não foi? - A garota perguntou bruscamente. - Foi na plataforma que você apareceu pra me ver, não é isso? -E franzindo a sobrancelha acrescentou: - Eu sabia que tinha alguma coisa errada naquele dia, eu sabia. E foi bobagem da sua parte não ter ido falar comigo.

-Você também não falou comigo antes de ir embora, então suponho que nós dois somos bobos! - Lupin sorriu, fazendo com que ele se parecesse mais ainda com o rapaz maroto que Tonks conhecera.

Tonks retribuiu o sorriso, sentindo uma leveza indescritível preenchê-la por dentro. E aquele estranho estado de dormência tomara conta dela, quando os olhares se fixaram. Somente aqueles olhos âmbar tinham esse poder de deixá-la assim, tão entregue. Por mais que tentassem explicar um ao outro a razão por terem se afastado, as palavras nunca seriam capazes de traduzir isso. Bastavam os olhares, os sorrisos e o toque de suas mãos. Tudo estava resolvido.


Eu salto pro alto eu vou em frente
De volta pro presente


-Sem mal entendidos? - Tonks perguntou, ainda sem desviar o olhar do rapaz.

-Sem mal entendidos! - Lupin confirmou, muito sério.

-Sem fugas?

-Eu espero que sim! - E mesmo que tencionasse fugir, Lupin não seria capaz, quando sentiu o toque aveludado das mãos de Tonks acariciar o seu rosto e conhecer cada detalhe novo ali, cada nova ruga esculpida pelo tempo em que estiveram separados. Ela estava fazendo aquilo novamente, deixando-o preso em seu olhar. Dócil e servil como um lobo manso. - E o que aconteceu no passado...?

-Aquilo já passou. - Tonks sussurrou e aquele sorriso meio atrevido, meio inocente começou a aflorar em seus lábios. - O que importa é o agora.

-Viver o momento, não é isso? - Arqueou as sobrancelhas, sorrindo.

-Pelo jeito você não esqueceu, hein? - Provocou, aproximando-se perigosamente dele.

Poucos segundos antes de sentir os lábios de Tonks tocarem os seus, Remus perguntou-se se os dois não estariam se precipitando demais. Haviam acabado de se reencontrar naquela noite, mal sabiam o que tinha acontecido na vida do outro. Não sabia se havia alguém na vida dela, se aquele sentimento intenso do passado não fora esquecido e apagado, se essa possível história que estariam iniciando fosse se tornar duradoura. Não sabia realmente o que sentia por ela, se aquele sentimento era recíproco, se apesar de terem ficado separados por tantos anos, Tonks o desejaria da mesma forma.

Mas aquele sempre fora o seu grande erro: se preocupar demais com pequenos detalhes, em vez de aproveitar aquelas oportunidades preciosas que surgiam. No mesmo mês, a vida havia sido generosa com ele em alguns aspectos: soubera de toda a verdade acerca de Sirius, possuía o respeito do filho de James, e agora reencontrara a garota que fora capaz de fazê-lo mudar. Tudo estava caminhando bem e ele tinha apenas que se deixar levar.

E quanto ao amanhã? O amanhã pertence ao futuro, e isso era o que menos importava no momento. O que importava era viver o hoje de maneira intensa e aproveitarem tudo, como se fosse a última vez.


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Notas da Tonks: Dizer que tudo terminou com um “e eles foram felizes para sempre” é besteira; isso só acontece em contos de fadas (aliás, não sei de onde os trouxas tiraram a idéia de que fadas são daquele jeito).
Como em todo relacionamento (sim, agora isso pode ser chamado de relacionamento), nós temos as nossas dificuldades, os nossos problemas. Como todo casal estamos aprendendo com a convivência a superar os obstáculos. Remus nunca vai ser completamente tranqüilo com relação à sua licantropia, assim como eu também tenho os meus problemas por ser um “pouquinho” inconseqüente.
Mas apesar de tudo, as coisas estão se resolvendo e nós estamos indo bem.


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Hm, acho que agora é a hora que eu anuncio que este foi o capítulo final de “shooting star”, não é?
Sim, pessoas, finalmente minha fic melosa chegou ao fim. Bem, não no fim mesmo, já que ainda teremos o epílogo, mas no geral a fic termina aqui. Eu sei que parece meio brusco e tal, mas foi mais ou menos assim que planejei terminar a fic.
Vou deixar pra fazer os comentários sobre o capítulo nas notas finas da fic, assim que publicar o epílogo (que espero botar no ar ainda nessa semana). E espero que: nem tenha deixado o final confuso e nem tenho perdido a mão no quesito “caracterização”, mas como vou explanar a minha teoria sobre o comportamento dos dois nas notas finais, espero a compreensão de vocês, ok?

Música tema do capítulo e da fic em geral: Túnel do tempo - Frejat.

Obrigado às pessoas que comentaram, aos leitores mudinhos, aos que votaram e etc...

Nos vemos no epílogo.
See ya!

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