Desistência



Cap. 3: Desistência.
A música parou. Bellatrix distanciou-me de mim quase que imediatamente, com uma expressão severa e indiferente no rosto.
-Porque lembrou que queria tanto dançar comigo se vai continuar com essa cara de desgosto?
-Eu não queria dançar com você.
-É claro que não...
-Você está com cheiro de álcool.
-Não diga!
-Se minha ou sua mãe perceberem, você vai ter sérios problemas.
-E eu me importo tanto com o que elas dizem, você não tem idéia.
-E você não sabe quando chegou ao limite, não é mesmo?
-Tá se referindo a bebida ou ao beijo que você adorou?
-Eu não adorei.
-Claro que não...
-Para de ser sarcástico, Sirius.
-Para de ser falsa, Bellatrix.
-Você não tem idéia de com quem está falando, não é mesmo?
-Tenho sim, Bella. Tenho sim.
-Continue com os seus joguinhos, Sirius... E eu vou tornar o seu verão, amargamente inesquecível.
-É uma promessa?
-Pode apostar.
-Mal posso esperar, Bella. Acompanha-me com mais um drink?
-Não abusa da sorte, primo.
-Sim ou não?
-Pretende me deixar bêbada antes de tentar qualquer coisa?
-Não... Pretendo de mostrar que você vai desejar estar bêbada quando eu estiver tentando alguma coisa.

Ele começou a andar em direção do bar. Por alguma razão inexplicável eu o acompanhei. Ele pediu qualquer coisa que não ouvi o nome para mim e outra cerveja para ele... Que falta de classe. Ele se sentou e puxou um banco para mim, deixando-o perigosamente perto dele. Sentei-me. Não sei mesmo porque estava fazendo aquilo... Não era eu! Não podia ser. Sirius me passou minha bebida.
-Obrigada... – Disse eu.
-Eu que agradeço.
-Diz-me logo o que pretende, Sirius, para que eu adiante o novo tapa em tua cara.
-Ainda não pretendo nada.
-Pensa que me engana?
-Sei que te engano.
-Você não tem a mínima noção da realidade.
-Nem você. Vai ver que é do sangue...
-O que é isso? – Disse eu, depois de tomar um gole. Era forte. Era forte de mais.
-Não importa. Que bom que gostou.
-Não costumo beber algo que não sei o que é...
-E também não fala com estranhos, Srta. boa menina?
-Em compensação eu falo com idiotas. – Era obvio que me referia a ele.
-E como vai o seu pretendente nojento, Bella?
-Muito bem, obrigada.
-Vai mesmo casar com ele?
-É o que parece.
-Por quê?
-Por que você acha?
-Até onde eu sei as pessoas se casam quando se amam, e eu sei que você não o ama.
-Não mesmo.
-Gosta dele, pelo menos?
-O bastante.
-Você é tão fria...
-Obrigada.
-Diga que nunca se apaixonou... Não acredito mesmo.
-É a mais pura verdade.
-Nem mesmo por mim? – Ele estava passando mesmo dos limites.


Bella olhou para mim.
- Ainda dá tempo de sair daqui, Bella.
- Nem pense nisso.
-Você não respondeu...
-É claro que não, Sirius. Você é meu primo.
-E se não fosse? E se não fosse, você gostaria mesmo de mim?
-Não.
-Duvido.
-Porque haveria de gostar?
-Porque eu sou tudo que você sempre quis, Bellatrix. Eu sou igualzinho a você, e você sabe disso. – Ela não sabia mais como escapar, dava para ver.
-Não, não é Sirius.
-Não tente fugir.
-Já disse que não tenho medo de você.
-Não é para ter.
-Então porque fugiria?
-Porque você tem medo do que você pode fazer. – Ela olhou para baixo. Era a primeira vez na minha vida que eu via Bellatrix Black abaixar a cabeça. – Você não tem nada a perder, Bella.
-Só minha dignidade.
-Seu orgulho, você quer dizer. – Ela voltou a olhar para mim.
-Você é meu primo!
-E? – Como se isso servisse de empecilho.
-E... Mesmo se eu quisesse, mesmo se eu desejasse... O que eu não faço...
-Você acaba de cair, Bella.
-Pra cima de mim não, Sirius. Eu não sou uma das suas amiguinhas ingênuas que se deixam levar por suas bobagens.
-Claro que não. Você é muito mais interessante.
-Desistiu de me insultar?
-Desistiu de se defender?
-Não preciso de defesa.
-Eu sei que não. – Eu me levantei. Fui para a varanda novamente. Três... Dois... Um...

Porque eu estava indo eu não sabia, de verdade. Eu podia estar prestes a fazer a coisa mais estúpida que eu poderia fazer em toda a minha vida.
-O que você quer, Sirius?!
-O mesmo que você, Bella. – Ele estava com os cotovelos apoiados nas grades.
-Como sabe o que eu quero?
-Como eu deixaria de saber? Estou vendo uma possibilidade de aceitação, Bella?
-Quem sabe...
-Mesmo? Bellatrix Black vai mesmo ceder?
-Admita, eu sou a única que não se deixa levar pelos seus joguinhos...
-Claro que você se deixa... Só é inteligente o bastante para armar o contra-ataque...
-Pelo menos admite que eu sou inteligente...
-Não tenha duvida disso. É uma das coisas que mais me impressionam sobre você.
-Chega disso. O que você quer, caramba? - Ele se aproximou de mim, sem hesitar ele me segurou pela cintura e sem pedir licença nem nada me beijou outra vez, só que muito mais bem beijado do que antes, com certeza. Por mais que meu fôlego acabava, mais vorazmente correspondia. E menos me interessava respirar ou não... Suas mãos me deixavam presa, de forma absurdamente delicada e, ao mesmo tempo, furiosa.
-Você que perguntou, Bella.
-Pois é... – Ele ainda estava perto.
-Sem tapa na cara?
-Por enquanto.
-Sabia que você cederia.
-Deixa de ser convencido.
-Deixa de tentar se enigmática.
-Sirius... – Eu tentei me “desprender” dele. Não tava dando muito certo.
-Só quero você, Bella.
-Tá querendo um pouco demais, Sirius.
-Eu gosto de me arriscar.
-Só você vai sair perdendo.
-Eu nunca perco, Bella.
-Tem uma primeira vez pra tudo.
-Com certeza.


Eu podia afirmar sob pena de morte o quanto Bella queria ir embora de lá comigo, era tudo que ela queria. Mas ela continuava hesitando. Não entendia o porquê, mas não tinha muita coisa que eu pudesse fazer, se tratando da mais teimosa das Black que já existiram e existiriam. Mas ela era linda quando estava confusa. Sim, ela devia estar pra lá de confusa... Sai de perto dela... Dei uns passos pra trás.
-Boa noite, Bella. Espero que se divirta no baile. Se mamãe perguntar diga que eu não estava me sentindo bem e fui pra casa mais cedo, diga à ela que pedi desculpas pela ausência. – Disse eu. Desaparatei e voltei pra casa. Aquele maldito e desconfortável quarto novamente... Sozinho. Que diabos...
Sentei na minha cama. Uma dor de cabeça infeliz começava a aparecer. Não tenho idéia de que aquela guria estava fazendo, mas com certeza tava mexendo comigo. Eu precisava fazer alguma coisa a respeito. Eu não faço o tipo que fica remexendo a cabeça por causa de uma garota, nunca precisei disso, é claro... Bella era diferente. Eu não queria mais insulta-la como antes, eu não queria a deixar irritada comigo, não... Eu queria que ela gostasse de mim. Eu queria que ela gostasse mesmo de mim. Isso não parecia normal, não mesmo. Desde que aquela maldita garota entrou pela porta nada mais estava normal. E isso foi quando, vindo sabe-se lá de onde eu ouvi um grande “splah”

-Nem esperou eu me despedir, Sirius.
-Você deveria voltar para festa, as pessoas vão começar a falar.
-Não pretendo ficar por aqui.
-Não?
-Já disse, só queria avisar que você não se despediu.
-Sabia que você viria atrás de mim. – Disse eu, com o sorriso mais maroto que pude improvisar no momento.
-De qualquer forma... Temos que conversar sobre esta noite, sabe.
-Claro. Amanhã falamos a respeito.
-Se você insiste.
-Aqueles idiotas na mansão já devem estar sentindo sua falta.
-Como se eu me importasse, você diz... – Ela disse e foi embora. Claro que você se importava Bellatrix. Isso era o seu defeito. Você se importava demais com o que pensariam de você se desfizesse essa imagem de dondoca que você se esforçou tanto para construir... Agora... Onde ela estaria... Dançando com algum idiota qualquer... Ela sabia muito bem o que estava fazendo, se sabia. Bellatrix Black não era nada ingênua não. Ela estava fazendo de propósito, porque sabia que se houvesse alguma coisa à qual eu estava vulnerável, era a ela. Maldita Bella... Ela estava mesmo fazendo de propósito só pra me ver jogado a seus pés fazendo tudo que ela queria que eu fizesse, e eu, o infame Sirius Black, tinha quase caído na armadilha. Bellatrix... O que é que você tanto tem de especial?

Voltei para a festa. Passei mais alguns minutos na varanda. Não queria voltar para o salão. Sirius... Mais que porcaria que você está tentando fazer comigo? Sentei-me no chão. Sirius tinha perdido a noção do perigo dessa vez, ele não sabia mais o que estava fazendo, realmente tinha exagerado.
Puxa vida... Eu estava tão inquieta, não conseguia entender por que! Nunca menino nenhum tinha me deixado em tal estado, era irritante. Era insuportável. Minha mãe apareceu, eu dei uma desculpa esfarrapada qualquer para estar lá fora, ela acreditou, para minha alegria.
-Onde está seu primo, Bellatrix?
-Ele pediu pra eu dizer que ele sente muito, mas não estava se sentindo muito bem e foi pra casa.
-Ah, certo. Tenho certeza de que Úrsula não vai ligar muito... E você, está bem?
-Estou com um pouco de sono, só isso... Não se preocupe. – Minha relação com a minha mãe, estranhamente, parecia relação entre estranhos, quando ninguém influente estava por perto.
-Quer ir pra Grimmauld dormir mais cedo? Andrômeda também está indo, vocês duas vão juntas.
-Bom, se ela também vai... Claro. Onde ela está? – Minha mãe chamou-a e logo ela aparece. Nós duas aparatamos em nosso quarto. Eu fui direto dormir, tentar parar de pensar em Sirius Black, maldito Sirius Black, ele já devia estar dormindo, pouco me importa. Nem nos ouviu chegar, devia estar dormindo... O que estaria fazendo?
Não faz diferença... Eu não devia estar pensando nele. Não há o que pensar sobre ele. O individuo é detestável. O que, Sirius, você tem de tão especial?

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