A vingança do Comensal

Capítulo 7 - A vingança do Comensal

Severo Snape acreditava que passara um dos momentos mais humilhantes de sua vida na sala de Dumbledore, quando em "gratidão" a Potter tivera que prometer guardar o segredo de Remo Lupin. Mas, para compensar, agora ele estava para ter a coroação de seus esforços.

- Snape, está pronto? - perguntou uma bela garota de longos cabelos muito negros e olhos azuis como os de Sirius.

- Sim, Black.

A garota abriu a porta que os separava de um salão repleto de gente. Comensais. Entre os muitos que ali haviam, Severo reconheceu Malfoy, que se formara quando ele estava no quarto ano. Evan Rosier e Antonio Dolohov, seus colegas de quarto, também estavam lá, assim como os irmãos Lestrange, Travers, Wilkes, Nott... Todos rostos conhecidos da sala comunal da sonserina.

E, é claro, acima de todos, sentado numa cadeira de espaldar alto que mais lembrava um trono, estava o Lorde das Trevas. Voldemort tinha os olhos vermelhos brilhantes, que exalavam poder. Olhos que lembravam uma perigosa serpente venenosa.

O descendente de Salazar Slytherin levantou-se. Snape olhou para Bellatrix Black, sua colega de turma, que também receberia sua marca naquele dia. Ela sorria maliciosa, lembrando a ele outra serpente. Todos ali eram cobras prontas para dar o bote quando se apresentasse a oportunidade, escondendo-se nas sombras durante o dia.

- Vocês passaram por todas as provas para se tornarem em mais um de meus leais comensais. Mas ainda existe algo a fazer para completarem sua iniciação. Malfoy?

Um homem jovem, de olhos cinzentos e cabelos de um louro quase branco se apresentou.

- Sim, milorde.

- Acompanhe os dois na primeira missão que lhes dou. Quero que matem alguém essa noite. Um pequeno aviso para meu amigo Dumbledore. Escolham a vítima e façam o necessário para que aquele velho perceba o que as mortes dessa noite significam. Percebam a honra que lhes dou. Isso será o ponto inicial de nossa luta. Não me decepcionem.

Os três assentiram e, após uma referência, saíram do salão. Bellatrix e Lúcio começaram a discutir sobre quem eles poderiam atacar. Severo suspirou. Não teriam chance contra uma família bruxa, ainda não eram comensais e as casas de bruxos estavam, em geral, muito bem protegidas. Seria muito melhor atacar trouxas. Trouxas pais de sangue-ruins.

"- Eu não sabia de nada. A... a Lílian viu o Seboso, digo... - Tiago começou a corar sob o olhar novamente divertido do diretor - Digo, o Snape, e me avisou."

As palavras de Potter naquela noite voltaram a mente do sonserino. Era culpa da monitora ruiva que o rapaz o tivesse salvo. Se ela não o tivesse visto e contado para o amiguinho grifinório, Snape teria descoberto o que queria e não teria nenhuma dívida dom Potter. Ele teria se safado perfeitamente bem sozinho.

- Se não se importam, Black, Malfoy, eu acho que tenho as vítimas perfeitas em mente.

Os dois sorriram, começando a ouvir a idéia de Snape.

*****

Minerva McGonagall calou-se quando a porta se abriu e o rosto gigantesco de Rúbeo Hagrid apareceu. Lílian observou divertida a velha bruxa caminhar até o guarda-caça. A professora de transfiguração e diretora da Grifinória odiava quando interrompiam sua aula.

- Senhorita Evans?

Lílian percebeu que a atenção de toda a sala tinha se voltado para ela, e corou de vergonha. Na verdade, ela ficou tão nervosa que não percebeu que Minerva empalidecera e tinha um olhar de piedade, muito semelhante ao de Hagrid.

- Senhorita Evans, por favor, o diretor que falar com você.

A ruiva levantou-se, recebendo um sorriso de Susan, que estava sentada ao seu lado e um olhar de apoio de Sirius, que também estava próximo. Um estranho pressentimento lhe inundou o peito e ela caminhou vacilante até a porta, de onde foi escoltada por Hagrid até o escritório do diretor.

Muitos anos mais tarde, Lílian ainda se perguntaria como conseguira ficar tão calma naquela sala, diante do olhar bondoso do diretor, enquanto sentia o coração explodir. Seus pais estavam mortos. Os dois haviam sido assassinados. E não fora por meios trouxas que isso acontecera.

- Mas, diretor... - a garota interrompeu a fala do velho bruxo, sentindo os olhos arderem, embora não houvesse lágrimas - Porque Voldemort mataria meus pais? Porque...

- Você é uma bruxa nascida trouxa, algo que os seguidores dele abominam, senhorita Evans.

- Me chame de Lílian. - a garota falou automaticamente, enquanto se lembrava das várias vezes em que fora chamada de sangue-ruim.

- Como quiser, Lílian. - o diretor sorriu, levantando-se e se ajoelhando diante da cadeira em que a jovem estava sentada - Além disso, você é uma excelente bruxa, melhor até que alguns puro-sangue que conheço. Isso faz com que a invejem. Por isso a escolheram.

- Mas PORQUE? Porque eles mataram? TEM que haver um motivo. Não saíriam por aí matando apenas por matar!

- Os Comensais matam por prazer, Lílian. A maior parte das mortes que ocorreram até agora foram para diversão daqueles que seguem Voldemort. Mas a morte de seus pais foi diferente. Foi um aviso, um aviso para mim. Eles deixaram uma marca no céu naquela noite. Receio que a guerra afinal tenha começado.

- E minha irmã? Petúnia também...

- Não. Ela estava na casa do noivo. Quando chegou em casa, já havia agentes do ministério lá. Tiveram que apagar a memória dela. Sua irmã acha que os pais morreram de morte natural.

Lílian suspirou e mergulhou em seus próprios pensamentos, não prestando mais atenção nas palavras de conforto do diretor. Cerca de meia hora depois, Dumbledore a dispensou das aulas, recomendando algum descanso. Sem saber aonde ia, Lílian acabou por entrar na sala dos monitores, que estava vazia. Ela olhou pela janela que descortinava o lago e a orla da Floresta Proibida. Alguns alunos aproveitavam as últimas horas do dia para passer lá embaixo, alheios a dor que ela sentia. A ruiva se encostou a parede e deixou-se escorregar até o chão, onde ficou encolhida.

Mortos. Seus pais estavam mortos. Ela ainda não conseguia absorver aquela idéia. Só aceitaria a verdade quando chegasse em casa no verão para passar as férias e não os encontrasse. Nunca mais sentiria o abraço amoroso da mãe nem o beijo suave do pai na hora de dormir.

- Evans?

Gideão Prewett acabara de entrar na sala e espantou-se ao ver a garota ali. E espantou-se ainda mais quando ela levantou a cabeça, deixando-o ver o rosto marcado de lágrimas. Ele cruzou a sala com passos firmes e se ajoelhou ao lado dela, abraçando-a. Lílian só sentira tanto conforto num abraço quando estava com a mãe. Ela deixou-se ficar, com a cabeça encostada no ombro do monitor-chefe. Quando finalmente achou seguro, o rapaz ergueu o rosto dela com delicadeza e limpou as lágrimas que ainda corriam.

- O que aconteceu?

- Mataram meus pais. - ela disse num soluço - Comensais.

- Lílian... Eu sinto muito. - ele ficou em silêncio por alguns instantes - Há alguma coisa que eu possa fazer?

A garota não se importou por ele tê-la chamado pelo primeiro nome. Na verdade, não fazia diferença nenhuma. Ela voltou o olhar para a porta que Gideão deixara entreaberta e pensou ter visto uma sombra se escondendo.

- Não. Não há nada que você possa fazer. A não ser que possa trazê-los de volta à vida.

Lá fora, Tiago ouvia com atenção o diálogo que se desenrolava. Fora na monitoria para tentar encontrar Remo, mas ele não estava lá. Ao invés de encontrar o amigo, descobrira porque a ruiva saíra mais cedo das aulas. Ele encostou-se à parede, desejando que pudesse ser ele a consolá-la. Mas não era.

- Lílian, eu sei que está doendo muito, mas seus pais não iam gostar que ficasse assim. Eles iam querer que você superasse isso e só guardasse na memória as lembranças dos momentos que tiveram juntos. Nenhum pai quer ver o sofrimento do filho.

- Mas...

- Você pode e deve chorar agora para aliviar o que sente. Mas, prometa que vai reagir. Que vai enfrentar tudo com o sorriso doce que sempre tem nos lábios. Eu sei que é difícil, mas você vai conseguir. Agora, prometa.

A garota assentiu, dando um tímido sorriso e Gideão a ajudou a se levantar.

- Você vai jantar?

Ela negou com a cabeça e caminhou para a porta.

- Até outro dia, Gideão.

Ele assentiu e ela caminhou para a torre da Grifinória, evitando os grupinhos de alunos que se encaminhavam para o Salão Principal, conversando alegremente enquanto pensavam no jantar. Finalmente chegou em seu dormitório e, após fechar o cortinado, deixou-se cair na cama. Nem agradecera Gideão pelo consolo que ele lhe dera. O rapaz tinha razão. Seus pais não iam querer que ela chorasse. Mas era tão difícil...

Ela ouviu as garotas entrarem no dormitório. Elas não conversavam animadamente como sempre faziam quando voltavam do jantar. Através do cortinado, ela viu um vulto parar em frente a sua cama. Emelina abriu o dossel e fitou a amiga com seus grande olhos castanhos.

- Lily...

As outras estavam paradas perto de Emelina. Susan tinha os olhos vermelhos, como se tivesse chorado. Alice e Selene sentaram-se na cama de Susan, que era ao lado da de Lílian e Emelina sentou-se na cama da própria ruiva.

- Dumbledore contou no jantar. Nós sentimos muito.

Grossas lágrimas voltaram a correr dos olhos verdes de Lílian. Emelina aproximou-se da ruiva, abraçando-a com força, sentindo os próprios olhos começarem a lacrimejar. Alice, Susan e Selene também aproximaram-se, abraçando a ruiva. Quando finalmente se soltaram, Susan sorriu para Lílian.

- Não se esqueça, Lily, que não importa o que aconteça, você nunca estará sozinha. Nós estamos aqui. Sei que isso não vai diminuir a sua perda, mas...

Alguém bateu à porta e Alice se levantou, abrindo-a. Para espanto de todos, eram Sirius e Remo.

- Como subiram aqui? - Selene perguntou.

Os garotos não responderam e aproximaram-se da cama de Lílian, abraçando-a como as garotas haviam feito. Remo entregou a ela um pequeno embrulho.

- Você não apareceu para jantar, e eu me lembrei de quando você foi me visitar na enfermaria. Precisa comer alguma coisa.

- Obrigada, Remo. - ela depositou o embrulho na cabeceira e virou-se para os dois marotos - Vocês fizeram as pazes?

- Eu segui seu conselho. - Sirius respondeu.

- E você já deve saber que ninguém consegue resistir a cara de cachorro abandonado que ele faz quando quer alguma coisa. - Remo completou com um sorriso.

Lílian assentiu e virou-se para a porta. Frank estava parado lá agora, acompanhado de Pedro. Selene, aflita, voltou a perguntar.

- Mas como é que vocês conseguiram subir aqui?!

- É segredo, Selene. - Sirius respondeu marotamente.

Os dois recém-chegados aproximaram-se. Pedro entregou timidamente uma barra de chocolate a Lílian, e Frank, um livro.

- Frank, a menina precisa de descanso, não de livros! - Alice bronqueou com o namorado, que apenas sorriu.

- Não, Alice, ele acertou em cheio. Eu preciso é ocupar a cabeça. Obrigada, Frank. E obrigada também, Pedro.

O grupo começou a conversar tentando fazer Lílian se esquecer um pouco do que acontecera. A ruiva participava da conversa embora com a atenção fixa na porta. Só faltava aparecer uma pessoa para completar a turma.

Mas Tiago Potter não iria subir, embora ainda tivesse um pouco da poção que faria a escada não reconhecê-lo como garoto. Sozinho na sala comunal cheia, o rapaz observava a porta do dormitório feminino, lembrando-se das palavras de Gideão na sala de monitores. Ele jamais conseguiria consolar ela. Ao contrário, ia acabar deixando a garota ainda mais irritada. Era melhor deixá-la em paz, pelo menos naquele instante. Embora finalmente tivesse percebido que realmente gostava da ruiva.

Ele voltou-se para as chamas que crepitavam na lareira e depois levantou-se, seguindo para o próprio dormitório. Precisava urgentemente descansar um pouco e pensar em tudo o que acontecera naqueles últimos dias.

*****

Snape admirou a tatuagem que brilhava em seu braço. Finalmente era um comensal. Ele fechou os olhos, lembrando-se dos corpos dos dois trouxas caídos no chão depois de quase terem enlouquecido com o Crucio de Bellatrix. Ela tinha se divertido muito com os gritos de dor deles, assim como Lúcio. Mas ele não vira diversão alguma, embora tivesse sentido um prazer muito grande em matá-los. Assim como um deus, ele agora tinha poder para destruir uma vida.

Poder... O poder corrompe e nunca saceia. Gostaria de ter visto a face da monitora grifinória quando soubera do assassinato dos pais. Uma pena que ela não estivesse no Salão Principal quando Dumbledore anunciou que Voldemort fizera mais vítimas. Potter também não estava lá. Com certeza estivera consolando a sangue-ruim.

Ele sorriu. Finalmente poderia se vingar de tantos anos de humilhação e ódio. Pois agora era um servo de Voldemort e uma parcela do poder do Lorde das Trevas pertencia a ele.

*****

Estava novamente diante do lago onde encontrara Helena pela primeira vez. A morena, sentada numa pedra junto à água, olhava-a com tristeza.

- Quando vai deixar de lutar contra si mesma?

- Você já sabe o que aconteceu?

- Não importa o que aconteceu, Lílian! Importa o que acontecerá. Siga seus instintos pela menos uma vez. Você sabe o que tem que fazer.

A ruiva olhou-a furiosa.

- Meus pais foram assassinados, mas só importa para você que eu vá para o Salão Principal e converse com a parede! Eu não vou fazer o que quer. Cansei desses sonhos. Eu parei de andar dormindo, o que com certeza era coisa sua, e vou parar de sonhar com você também. O sonhos são meus, a mente é minha.

- Está me expulsando, Lílian? Vai continuar fugindo de si mesma?

- Eu não quero mais saber de você ou de qualquer coisa que tenha a ver com sua Antiga Magia. Isso é só lenda, mito, nada mais que isso. Não vou mais perder meu tempo com seus impenetráveis mistérios.

Helena levantou-se e seu corpo brilhou com uma leve aura prateada.

- Faça como quiser. Você controla seu próprio destino, tem o livre arbítrio para decidir. Eu não vou mais tentar orientá-la. Terá que aprender pelo modo mais doloroso. Até algum dia, Lílian.

- Até nunca mais, Helena.

A floresta desapareceu e Lílian acordou com o sol começando a nascer. Dali a uma semana estaria de volta pra casa, livre daqueles malditos sonhos. Ela respirou fundo, vendo todas as amigas dormindo. Era hora de começar a ocupar a mente...

Como sempre, obrigado a todos que estão lendo a fic. No próximo capítulo eu prometo revelar um dos grandes mistérios da fic: quem matou Getúlio Vargas (ops... erro de script...). Esquece, leiam e descubram. Beijinhos,
Silverghost.

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