Guerra



A casa estava estranhamente silenciosa. Sirius encarou as janelas escuras, que pareciam observá-los, como grandes olhos atentos. Um pouco mais afastado dele, James e Frank empunhavam suas varinhas, à espera. Lily estava mais atrás, com o resto do time de aurores que Moody designara para a missão.

Ele ouviu os passos curtos dela se aproximarem, e logo a ruiva estava ao seu lado.

- Fabian e Gideon acha que tudo está quieto demais. Eles receiam que tenhamos caído em uma armadilha. Não há nenhuma marca negra no céu.

- Esse lugar tem cheiro de morte, Lily. O ar está viciado - nem os animais se aproximam daqui. Pode apostar; quando entrarmos naquela casa, vamos encontrar muito mais do que imaginávamos encontrar.

Lily assentiu.

- Eu também sinto isso. Há qualquer coisa aqui que me dá calafrios até os ossos. Mas temos que esperar algum sinal, alguma movimentação. Se não houver nada, invadiremos a casa com o amanhecer. As pessoas têm medo das sombras.

Ela sentou-se ao lado dele, em silêncio. Por alguns instantes, tudo era quietude. Mas logo ela teve consciência de que era observada. Não precisava se virar para saber quem a observava. Sentira os olhos dele sobre si durante toda a semana. Ele parecia querer revirá-la pelo avesso, entender porque ela se recusara, porque ela não pudera se arriscar.

Mordeu os lábios, como sempre fazia quando se sentia nervosa. Como podia ficar com alguém que era incapaz de pedir perdão? Que era incapaz de reconhecer os próprios erros? Ele a machucaria de novo, na primeira oportunidade.

As horas se passaram lentamente. Os aurores já começavam a se inquietar com aquele silêncio forçado. Nada se movia no pequeno bosque ao redor da casa, nem mesmo o vento parecia querer se fazer presente ali.

A mente de Lily trabalhava a todo vapor. O que estava acontecendo afinal? Porque tinham sido mandados ali? Quem os mandara até aquele lugar? Não acreditava que aquilo fosse uma armadilha. Não sentia nada que pudesse dizer que estavam em perigo. E ela sempre fora muito sensitiva para esse tipo de coisa.

Sirius tinha razão. Aquele lugar cheirava a morte. E só. Não haveria comensais, não haveria emboscada. Aquilo era um aviso. Um cartão de visitas. Uma amostra de poder que poderia fazer alguns aurores mais jovens do esquadrão se acorvadarem. Uma jogada de mestre.

- Droga!

Sirius observou sem entender Lily levantar-se ao lado dele, caminhando diretamente para a frente da casa, sem se importar em ser vista ou não.

- Lily o que diabos você está fazendo? - ele gritou, levantando-se também e apertando a varinha, preparando-se para a luta.

- Segure o resto do esquadrão. Ninguém deve entrar na casa. - ela gritou de volta, empunhando a varinha e apontando-a para a porta fechada à sua frente - Alohomorra!

James esbugalhou os olhos ao ver Lily sumir sozinha nas sombras do casarão. O que aquela louca pretendia? Estava tentando suicídio?

Frank e ele se levantaram ao mesmo tempo, correndo para dentro da casa enquanto Sirius conversava com os irmãos Prewett e mandava o esquadrão ficar a postos, esperando ordens.

O cheiro de podridão atingiu em cheio a face de Sirius quando ele seguiu os amigos. Lily estava em pé, no meio da sala, a varinha apontada para o alto, iluminando todo o círculo aos seus pés. O rosto dela estava lívido, assim como o de James e Frank, que observavam atônitos o lugar.

Havia dezenas de cadáveres empilhados de qualquer maneira, alguns desfigurados, outros, já em estado de decomposição. O chão estava recoberto de sangue seco. Frank aproximou-se de Lily no exato momento em que ela cambaleava e a segurou firmemente.

Ela sentiu lágrimas escaparem de seus olhos ao mesmo tempo em que a ânsia a engolfava. Abaixando a cabeça, ela vomitou, sentindo na boca um gosto metálico, amargo. Gosto de sangue.

Quando se sentiu novamente segura em suas próprias pernas, ela se soltou de Frank, agradecendo com um aceno de cabeça. James e Sirius a observavam, preocupados, como se ela pudesse desmontar a qualquer instante.

- Vamos logo. - ela ordenou em uma voz rouca, limpando o canto dos lábios enquanto se virava para continuar a explorar a casa.

Eles a seguiram, desvendando os outros aposentos do casarão, todos cheios de corpos. Havia um porão magicamente ampliado, onde celas vazias revelavam mais do que eles podiam suportar. Não havia corpos no porão, mas havia sangue - sangue fresco. Não fazia muito tempo que alguém tinha estado ali.

As paredes das celas estavam recobertas de desenhos e nomes. Lily observou com atenção a lista que tinha diante de si e os sinais que se emendavam as letras.

- Isso é uma lista da morte. - ela resmungou baixinho - Provavelmente, aquelas pessoas lá em cima estão todas aqui. A maior parte é de nomes trouxas. Mas há alguns bruxos aqui no meio.

- Porque enviariam um esquadrão de aurores para um cemitério de prisioneiros? - Frank perguntou - Isso não é lógico. Esse não é nosso trabalho.

Lily tentou visualizar a ordem de missão que recebera mais cedo naquele dia. A assinatura final era de Moody. Mas a letra do relatório não era do chefe dos aurores. Ela conhecia aquela letra.

- Roockwood. August Roockwood. Foi ele quem deu ordem para a missão. Ele queria nos impressionar. Impressionar os aurores mais jovens. Mostrar a eles o poder de seu Lorde. Frank, mande uma mensagem para Moody agora. Eles têm que expedir um mandado de prisão para Roockwood antes que ele desconfie de alguma coisa. E chame o pessoal do Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas. Eles vão ter muito trabalho para fazer por aqui, tentando reconhecer todos aqueles corpos.

Frank assentiu e saiu do porão quase correndo. Lily, James e Sirius permaneceram ali, observando as celas vazias. A ruiva, que ainda estava lendo a lista marcada na parede, voltou sua atenção para uma pequena boneca, encostada junto às grades de uma das celas.

Ela se abaixou, puxando a boneca para si e observando o chão. Havia marcas de unhas no chão. Alguém fora arrastado dali à força. Eles não eram mortos no porão. Eram levados até o "açougue" lá em cima para encarar seus companheiros antes de seguir o mesmo destino. Respirando fundo, ela se levantou.

- Vamos embora. Quero ver Roockwood ainda hoje.




Lily desabotoou a capa preta, depositando-a sobre uma cadeira, observando Crockford e Fawcett em pé diante de August Roockwood.

- Descobriram alguma coisa? - ela perguntou, sem olhar para o homem sentado.

Crockford arregaçou a manga da blusa de August, revelando uma marca negra. Ela respirou fundo e encarou os olhos cinzentos do comensal, que a observavam com uma fúria maliciosa.

- Você é mais esperta do que aparenta, sangue-ruim. Não é à toa que o lorde a quer fora do caminho dele.

- Vocês deram alguma coisa para ele? Veritaserum ou coisa do tipo? - ela perguntou, estreitando os olhos, ao mesmo tempo em que Moody entrava na saleta junto com James e Frank.

Fawcett meneou a cabeça.

- Ele está cooperando. Se é que se pode chamar propaganda de comensal de cooperação.

Roockwood riu.

- Propaganda de comensal... Todos vocês vão querer estar ao lado do Lorde quando ele terminar. Todos vocês vão se arrastar aos pés dele. Até mesmo os sangue-ruins. Até mesmo você, Evans.

Lily lembrou-se da boneca que abraçara antes de deixar o porão daquela casa maldita e ergueu a mão, desferindo um tabefe sobre o rosto pálido de August.

- Quantos daqueles corpos que estavam no casarão você matou para o seu lorde, maldito? - ela perguntou entre dentes.

O comensal apenas riu.

- Tola... Ele está atrás de você, sangue-ruim. Ele quer cuidar de você pessoalmente, sabia? Deveria se sentir honrada.

Ela ergueu novamente a mão, mas alguém segurou seu braço, puxando-a para fora da saleta. Só quando a porta se fechou, ela pode encarar os olhos de James, que a observavam com a mesma preocupação que ele demonstrara quando tinham encontrado os corpos.

Arrancando o braço das mãos dele violentamente, ela deu as costas à saleta, e desapareceu no elevador.

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