O irmão de Sirius



A noite estava clara, embora não houvesse lua. O cemitério estava em silêncio. Ninguém se atreveria a caminhar por ali àquela hora da noite. Exceto, talvez, por ele. Severo parou diante de um túmulo de mármore, onde a foto de uma jovem sorridente se destacava contra o fundo branco.

Meia hora se passou antes que passos pudessem ser ouvidos. Passos leves... Como os da jovem que descansava ali. Ele não se virou quando a ruiva parou ao seu lado. Ela também evitava olhar para ele.

- Onde está o Potter?

- Ele não sabe que estou aqui. Ou, provavelmente, ia querer matá-lo. Não que eu não tenha esse desejo. - Lílian respirou fundo antes de continuar - Nunca pensei que um dia estaria num cemitério à noite, na companhia do assassino dos meus pais e Comensal confesso, diante do túmulo de um membro da 7Ordem que luta contra os Comensais e seu maldito mestre. Afinal de contas, porque me chamou aqui?

- O lorde está atrás de vocês.

- Eu não precisava de você para saber isso.

- Ele planeja um ataque fuminante, assim que os outros membros mais fracos da sua ordem caírem. O lorde deseja a morte do seu marido... e do seu filho.

- Dumbledore já nos tinha dito isso. - a voz fria dela não saiu tão firme quanto ela queria.

- Mas ele a quer viva. Lestrange recebeu o encargo de sequestrá-la essa semana.

Lílian finalmente virou-se para ele, os olhos verdes faiscando de raiva. Mas ela não disse nada. Dumbledore confiava naquele maldito sonserino. E, na atual situação, eles precisavam dos olhos e ouvidos de Severo Snape entre os comensais.

Severo viu a ruiva voltar a caminhar, sumindo entre as lápides escuras. Ele voltou-se novamente para o túmulo.

- Até logo, Dorcas. - ele sussurrou antes de aparatar.


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- Então, o que você vai fazer agora que se formou? - Remo perguntou curioso.

- Semana que vem eu estarei no Ministério para fazer os testes necessários... Mas minhas notas nos N.I.E.Ms. forma suficientes para entrar no curso de auror.

Os dois caminhavam calmamente pelos jardins de Hogwarts. A música da festa chegava até eles quase como um sussurro e um vento frio os obrigara a conjurar casacos por sobre as roupas de gala. Finalmente, pararam diante de um caramanchão, onde a morena se sentou. Remo permaneceu em pé, um meio sorriso nos lábios.

Há cinco anos, eles tinham se abrigado sob aquele mesmo caramanchão, mas era então o baile de formatura dele. Tonks também parecia embalar-se nas lembranças daquele encontro. Ela ouviu o suspiro do rapaz e ergueu os olhos para ele.

Sabia que ele também gostava dela. Mas alguma coisa o impedia de se aproximar. Remo colocou as mãos no bolso do casaco e sentou-se também. Ela sorriu. No dia em que descobrisse o que o afastava, ele não voltaria a escapar dela...


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Fazia uma semana que tinha deixado Hogwarts e sua missão de espionar Dumbledore. Até aquele instante, ele não tinha ainda participado de nenhuma das noites de diversão dos outros comensais. E, sinceramente, ele se perguntava o que era divertido naquilo...

Régulo fechou os olhos, enquanto Bellatrix apertava o pescoço da pequena criança que acabara de se tornar órfã. Os corpos dos pais, estendidos no chão com expressões de terror, ainda estavam quentes. A gargalhada da prima ecoou pela casa.

- Morra, maldita sangue-ruim!

A pequena chorava alto, debatendo-se inutilmente contra os longos dedos de Bella, presos em sua garganta. Os vergões vermelhos atestavam a violência com que a comensal estava tratando a menina. Régulo não conseguiu mais se conter.

Bellatrix se virou no instante em que o primo caía de joelhos no chão, tirando o capuz e vomitando. Ela jogou a criança para o chão, que imediatamente se encolheu contra o corpo morto da mãe. Os outros dois comensais que estavam com eles se aproximaram para terminar o serviço.

Ela se ajoelhou ao lado do primo, os olhos com um brilho febril. Régulo virou o rosto no momento em que o clarão verde atingia a menina. Estava acabado. Mas Bella não parecia pensar assim. Com força, ela fez ele virar o rosto em sua direção, quase enterrando as longas unhas no queixo dele.

- O que está havendo com você, Régulo?

Ele sentiu as ânsias voltarem. Porque diabos se metera com aquela gente? Não aguentava mais aquela vida. Mas teria alguma chance de sair dali com vida se o confessasse? Bellatrix, no entanto, parecia adivinhar o que se passava em seu íntimo. Não adiantaria negar.

- Eu... Eu não... não quero mais...

Os olhos azuis dela se estreitaram.

- Está querendo pedir dispensa? - ela perguntou num tom perigosamente baixo - Bem, priminho, receio que eu não possa fazer nada por você. Porque não pede sua demissão diretamente para o lorde?

Régulo empalideceu enquanto ela o fazia levantar com violência. Sabia que Bellatrix não perdoaria seu momento de fraqueza. Mas e seu lorde?...


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Susan deitou-se cansada na cama, fechando os olhos quase que imediatamente. Acabara de chegar em casa. Estava atrasada, e acreditava que quando chegasse, Sirius já estaria lá. Mas não havia rastro do moreno.

Ela se virou na cama, tentando ver o relógio na cabeceira. Ia dar dez horas da noite. Passara quase três horas no St. Mungus, sendo examinada minuciosamente por duas curandeiras, uma delas, Hestia Jones. Lílian, que se formara a pouco mais de um mês, estava em outra ala e por isso as duas não haviam se encontrado.

A italianinha fechou os olhos. Grávida. Estava grávida de Sirius Black. Quem diria... Suspirando, ela voltou a se levantar. Passara dois meses acreditando que a comida de todo lugar onde ia estava estragada antes de desconfiar dos reais motivos de seus enjôos. E agora estava confirmado; ela ia ser mãe.

Esse pensamento lhe despertou um sorriso. Mas isso não foi suficiente para que se acalmasse. Alguma coisa estava inquietando-a profundamente. Susan caminhou até a pequena sacada da sala, observando o céu, que parecia prenunciar tempestade.

O que Sirius iria dizer quando soubesse? Ficaria alegre? Tinha certeza que o rapaz seria um ótimo pai, bastava ver como ele agia quando com Harry. Mas... ela suspirou de novo. Nunca entendera o que Sirius realmente sentia por ela. Ele jamais escondera dela que amava Camille.

"Mas Camille está morta e ele está com você", falou uma vozinha fraca, no fundo de sua mente. Sim, Camille estava morta. Mas estamos falando de Sirius Black. Quem garante que ele esteja contente estando amarrado a apenas uma mulher? Ele que era o galã da escola, que nunca passava mais de uma semana com uma mesma garota...

Esses pensamentos foram todos postos de lado quando ela ouviu um suave estampido um pouco atrás dela. Sirius acabara de chegar. Ela virou-se para ele, com um grande sorriso no rosto, que morreu logo ao ver o semblante do rapaz.

- Sirius... O que... O que aconteceu?

Podia ver com clareza o quão transtornado ele estava. Os olhos azuis estavam brilhantes, não sabia se com lágrimas ou com ódio. Ela se aproximou dele, mas antes que pudesse tocá-lo, ele se deixou cair no sofá, repelindo o abraço dela.

- Sirius, o que...

- Meu irmão está MORTO! - ele praticamente gritou - Ele era um comensal, mas quis desistir. E agora, eles o mataram. Eu perdi meu irmão porque ele era um covarde!

Susan sentou-se no sofá, ao lado dele, sem saber exatamente o que fazer. Ele estava reclamando porque Régulo desistira de ser um comensal? Sirius escondeu a face entre as mãos, mas ela ainda podia ouvir as palavras desconexas dele. Delicadamente, Susan começou a acariciar os cabelos negros do rapaz, que acabou por se encostar ao peito dela.

- Eu sinto muito, Sirius...

- Voldemort está atrás dos Potter, Régulo está morto... Camille está morta...

Ela sentiu o corpo enrijecer, mas ele não percebeu. Uma lágrima escapou dos olhos negros dela, indo se juntar às várias que ele já chorara.

- Sirius, você tem... - ela ouviu a voz tremer, mas em seguida falava com segurança de novo - Você tem que se acalmar. Nem tudo está perdido ainda e...

Ele ergueu a cabeça e Susan se surpreendeu ao perceber que ele lhe lançava um olhar raivoso.

- Calma? Como eu vou ter calma com tudo o que está acontecendo? Como eu vou ter calma sabendo que tenho um amigo que está me traindo...

- Remo não está te traindo, Sirius, pelo amor de Merlin, abra os olhos! Ele é seu amigo! Nunca Remo os trairia!

- Remo É UM TRAIDOR! Você não pode estar defendendo ele!

Ela se levantou, tremendo.

- Você está cego, Sirius! Está deixando de confiar em alguém que esteve ao seu lado mesmo nas maiores burradas... Lamenta a covardia do seu irmão pelos motivos errados, como se Régulo devesse ter ficado ao lado dos comensais até o fim para provar sua coragem... E chora por uma mulher que nunca, NUNCA te amou! Você está criando problemas atrás de problemas, e na maior parte, são apenas problemas imaginários. Pare de agir como uma criança!

Foi a vez de Sirius se levantar. Ele era bem mais alto do que ela, mas mesmo assim, Susan não desviou o olhar por um instante sequer. Sem que mais nenhuma palavra fosse dita, ele abriu a porta do apartamento, batendo-a com força ao sair, enquanto Susan finalmente se deixava abater, caindo sentada no chão, dando livre curso a todas as lágrimas.


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Miriam nunca se sentira tão cansada na vida. Ela se deitou calmamente em sua cama, na velha mansão Potter. Passara o dia brincando com o neto, uma das crianças mais elétricas que tivera a alegria de conhecer. Harry era exatamente como Tiago fora na infância, sempre pronto para mais uma brincadeira, sempre querendo descobrir coisas novas...

Fechando os olhos, ela sorriu. Gostaria que o neto fosse tão feliz quanto o filho fora. Infelizmente, Miriam sabia, não teria chance de ver o pequeno Harry crescer. Seu velho coração não agüentava mais tantas emoções e a saudade de Raymond começava a corroê-la, dia após dia.

- Sejam felizes, meus queridos. - ela desejou antes de adormecer.


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Lílian observou Tiago e Sirius lado a lado, enquanto o esquife era fechado. Ela sorriu calmamente, enquanto ninava o filho. Apesar da perda de Miriam, estava feliz pela sogra. Ela morrera em paz, dormindo, ao contrário de muitas outras pessoas que a ruiva conhecera.

- Lily?

Ela virou-se, encontrando a face de Susan.

- Quando vai contar a ele?

A morena estreitou os olhos.

- Do que está falando?

- Hestia me contou que você esteve no St. Mungus semana passada.

- Depois conversamos sobre isso. Como está meu afilhado?

- Querendo meter o dedo em tudo. É um consolo saber que não existe eletricidade lá em casa, ou ele já teria com certeza levado um choque por causa de uma tomada...

Susan sorriu.

- Eu vou jantar com Selene hoje de noite. Quer ir também?

Lílian suspirou.

- Eu adoraria, Su, mas... Eu estou tendo meio que... me esconder. Voldemort quer me sequestrar e, bem...

- Não se preocupe, eu já esperava uma resposta desse tipo. Selene vai viajar em breve, por isso pensei que podíamos nos reunir para fazer uma despedida. Mas podemos deixar isso para outro dia, Emelina também não anda muito bem, e Alice está sempre às voltas com Neville...

- Depois do almoço eu passo na sua casa. Tiago quer ficar um pouco na casa dos pais, mas eu não estou com vontade de ir com o Harry pra lá... Aquela casa não me traz muitas boas lembranças.

- Eu vou estar esperando. - a morena respondeu, dando uma última olhada em Sirius antes de aparatar.


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Dumbledore observou um pergaminho aberto em sua mesa. Vários nomes estavam escritos nele, muitos deles em vermelho. Ele suspirou, observando a janela, onde a lua cheia pendia assombrosamente bela.

Fawkes não estava lá. O diretor não sabia exatamente onde sua querida fênix fora, mas tinha certeza que, o que quer que ela estivesse fazendo, era para ajudar seu mestre. Seu verdadeiro mestre. O sentinela.

Helena e Hades... Lílian e Tiago... Eles não eram muito diferentes. Se fosse preciso, Lílian se sacrificaria, assim como Helena o fizera. Saberiam eles de toda a história? Ou o dragão escondera sobre sua morte e sobre o sacrifício da guardiã?

Ele meneou a cabeça, tentando expulsar esses pensamentos. Havia alguma coisa de triste no ar... Aquela noite seria uma noite de lágrimas...


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- Susan, você tem que dizer isso ao Sirius! - Lílian implorou.

As duas conversavam enquanto Harry brincava com a pequena vassoura que ganhara da avó em seu batizado. A morena acabara de contar tudo o que acontecera na noite em que Régulo fora assassinado e Lílian parecia não acreditar que Susan deixara de dizer a Sirius algo tão primordial.

- Se eu disse que estou grávida dele, ele vai se sentir na obrigação de ficar comigo. E eu não quero isso, Lily. Ele gosta da Camille.

- Pelo amor de Merlin, Susan! Camille está morta! O Sirius não pode ficar com ela! Dê a si mesma pelo menos uma última chance! Vocês estão jutnos há mais de ano, ele não ficou com voc~e esse tempo todo sem sentir nada!

- Eu não vou contar. - a mulher respondeu decidida - Ele não saberá por mim. E nem por você. Prometa.

Lílian suspirou.

- Algum dia você pretende contar que ele vai ser pai?

- Se eu tiver certeza que ele não vai ficar comigo só por isso.

- Certo. Eu prometo.

Susan deu um sorriso cansado e levantou-se.

- Tenho que me arrumar. Selene está me esperando a essa hora.

A morena sentiu algo envolvê-la pela perna e abaixou a cabeça. Harry estava abraçado a ela, tentando balbuciar alguma coisa.

- Madinha... - ele disse numa voz baixinha.

Lílian sorriu.

- Eu passei a semana tentando ensinar ele a falar isso. Desde que ele começou a falar mama, para ser exata.

Susan se ajoelhou no chão, abraçando o pequeno, que tentava ficar em pé, vacilante.

- Quer dizer então que o espertinho já está começando a falar? - ela beijou a testa do afilhado - Logo, logo, Harry, você vai ter com quem brincar.

Lílian tomou o filho nos braços e levantou-se.

- Bem, eu vou indo. Espero que essa sua decisão não se volte contra você.

Susan assentiu, indo fechar a porta.

- Tudo vai acabar bem.


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Sirius acordou suado, descobrindo-se no sofá de sua casa. Ele respirou fundo antes de se levantar e encarar o grande relógio sobre a lareira. Dez para as onze. Porque adormecera no sofá?

Ia subindo as escadas para seu quarto quando seu olhar cruzou com os olhos negros de uma certa italianinha, numa foto sobre o console da lareira. Aquela foto fora tirada no dia da formatura deles.

Ele se aproximou da foto, com um meio sorriso. Sentia falta de estar com Susan. Ela tivera razão quando dissera tudo aquilo depois da morte de Régulo. O rapaz respirou fundo. Talvez fosse hora de pedir desculpas e quem sabe...

Sirius sorriu, conjurando um casaco enquanto saía para a rua. Será que havia alguma joalheria aberta àquela hora?


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- Selene, se esconda!

- Mas, Su...

- VAI LOGO!

Selene saiu correndo pelas escadas, enquanto Susan tentava desesperadamente conter a porta, forçada por feitiços do lado de fora.

Não ia aguentar muito tempo... Estava fraca demais. Fechando os olhos com força, Susan deu um último suspiro e baixou a varinha. A porta explodiu em pedaços. Teria que enfrentá-los cara a cara agora.

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