Maternidade



Tiago depositou a mala sobre o sofá enquanto sua mãe ajudava Lílian a se sentar no sofá. A ruiva estava enorme e com dificuldade se acomodou, respirando profundamente como se sua vida dependesse disso.

- É o segundo alarme falso essa semana. - D. Míriam falou com um sorriso - Não falta muito mais querida...

- Eu não estou preocupada, D. Mimi. - Lílian sorriu - Mas quem está começando a ficar com os cabelos brancos é o seu filho.

O moreno sorriu. Chamara a mãe depois do sexto mês de gravidez da esposa pois não conseguia mais cuidar dela sozinho. Primeiro por causa das contantes variações de humor dela. Uma hora, a ruiva estava extremamente carinhosa, outra, parecia ter liberado todos seus instintos assassinos. Segundo porque isso ajudava Míriam Potter a superar a depressão em que caíra após a morte do marido. A velha senhora parecia ter revivido com a espera do neto.

- Mais um alarme falso e eu vou ter um infarte. - ele respondeu.

- E isso é porque não é ele quem sente as contrações... - Míriam observou.

Lílian sorriu de leve. A ligação entre ela e Tiago fazia com que ele tivesse uma pálida sensação do que se passava com ela. De certa maneira, podia dizer que ele também estava grávido. Os olhos dele se encontraram com os dela, e, como se adivinhando o que ela pensava, ele suspirou resignadamente.

Nesse momento, duas outras pessoas passaram pela lareira. Susan espanou a roupa enquanto Sirius tentava tirar a poeira do cabelo.

- Alice já teve o pequeno Neville. - a moreninha informou.

A ruiva assentiu. Tinham encontrado Frank (num estado de nervos muito próximo ao de Tiago) e a mãe dele no hospital. Alice já tinha entrado numa sala, em trabalho de parto. Depois que Lílian fora medicada e liberada, ela, Míriam e Tiago voltaram, mas Susan e Sirius tinham ficado por lá, na esperança de poder ajudar os amigos.

- Vocês já pensaram nessa turma no futuro? - Sirius sorriu, sentando-se no sofá, próximo a Lílian - Os nossos herdeiros? "Marotos - a segunda geração".

- Acho que Hogwarts não suportaria outros de vocês... - Susan riu.

- Pois eu tenho a ligeira impressão que ela vai ter que suportar... - Lílian respondeu, pensando em alguns de seus últimos sonhos.

Sonhos com um garoto franzino, montado numa vassoura, ou se aventurando pelos corredores escuros sob a capa de invisibilidade do pai... Sim, Hogwarts teria a sua segunda geração de marotos. Apesar de Voldemort e da guerra que acontecia (e da qual todas pareciam tentar protegê-la desde que descobrira estar grávida; até ser dispensada da Ordem ela fora!), seus filhos chegariam lá, com toda a certeza. Ela o sabia, e isso era provavelmente seu único consolo nos últimos tempos...


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Dumbledore olhou preocupado os documentos que se avolumavam em sua mesa. Era oficial agora. Carátaco Dearborn desaparecera. O velho auror procurara por meses a fio os autores do assassinato de sua filha e de seu genro. Sem resultados.

E agora, fazia quase quinze dias que ninguém tinha contato com ele. Talvez Carátaco tivesse encontrado afinal as respostas que tanto procurara. Infelizmente, ninguém poderia dizê-lo. Se Fawkes não o tinha encontrado, então era tarde demais.

O velho diretor se concentrou num pergaminho a sua frente, escrito em letras verdes brilhantes. Um folheto sujo, de propaganda anti-trouxa. Um folheto encontrado numa sala de aula, provavelmente esquecido por um de seus alunos.

Voldemort conseguira chegar a Hogwarts afinal. Não fisicamente. E isso é que era mais perigoso. Não havia igualdade de condições naquele embate. Dumbledore suspirou e lembrou-se inconscientemente da profecia.

- Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar... Amanhã o mês chegará ao seu fim. O filho dos Longbottom já nasceu. Mas... o herdeiro da guardiã...

Fawkes cantou tristemente, como se concordasse com os pensamentos sombrios que iam pela alma de seu mestre.


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Susan ergueu-se suavemente, retirando o braço de Sirius, abraçado a sua cintura. Ela sentou-se na cama, observando o moreno dormir. A face dele estava séria, como poucas vezes a vira.

Ela suspirou. Embora tentasse fingir que nada estava acontecendo, Sirius mudara. Ele estava cada vez mais sombrio, mergulhado em seus pensamentos. Cada vez mais distante, desde a reunião em que Dumbledore anunciara a morte dos Bones. A morte de Camille.

Talvez ele ainda amasse a loirinha. Embora fosse extremamente carinhoso com ela, Susan sabia que não tinha Sirius completamente para si. Sempre soubera disso. Mas a perspectiva de estar perdendo-o para uma sombra era um golpe forte demais para ela.

Com cuidado, ela passou os dedos sobre o rosto dele, e a expressão do rapaz se suavizou. Susan sorriu de leve, sem perceber uma lágrima perolada escapando de seus olhos.


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Tiago se pegou sonhando pela milésima vez com um pequeno garoto de cabelos negros rebeldes e olhos intensamente verdes, voando numa vassoura. Ele suspirou sonhadoramente quando Sirius entrou no cubículo. O outro maroto segurou o riso ao perceber que o outro estava, literalmente, sonhando.

Lentamente, o maroto se aproximou do amigo.

- BUUUUU!

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! - Tiago pulou da cadeira, segurando o peito - Você quer me matar de infarte?!

- Pontas, você esqueceu? VIGILÂNCIA CONSTANTE!

- Eu estava pensando...

- No filho que quer ter. Eu já sei. Há tempos é a única coisa em que você pensa...

Tiago sorriu.

- Você também estaria assim se fosse com você. Sabe, Sirius, eu nunca pensei que me veria como pai. Mas, hoje, eu me pergunto se existe outra coisa tão maravilhosa quanto isso. Apesar dele ainda não ter nascido, eu o amo tanto que até me assusta.

- Assim como você ama a Lily. - Sirius sorriu - Eu também estou ansioso pelo meu afilhado.

- Pois é... Mas o que você veio fazer aqui?

Sirius bateu na cabeça.

- Eu me esqueci... Tia Míriam está querendo falar com você, na lareira.

O rapaz saiu do cubículo, logo dando de cara com a face aflita de sua mãe na lareira.

- Mãe, o quê...

- Rápido, Tiago! Acabaram de levar a Lílian para o St. Mungus. Dessa vez ela está realmente em trabalho de parto!

Tiago olhou para o relógio, sentindo o coração acelerar. Tinham tido dois alarmes falsos na última semana e ele correra a toda para o hospital nas duas vezes. Eram onze e meia da noite do dia 30 de julho de 1980.

- Eu estou indo, mãe. Você está em casa?

- Eu só esperei para te avisar. Vou aparatar agora.

Ele assentiu e Míriam desapareceu nas chamas da lareira. Sirius tocou o ombro do amigo.

- Vai dar tudo certo, companheiro. Dessa vez, é pra valer.

Tiago sorriu.

- Eu assim espero.

Os dois aparataram, Tiago para o St. Mungus e Sirius para a casa de Susan, a fim de avisar a morena. O futuro papai correu pelo hospital, sob o olhar severo de vários curandeiros, sentindo uma angústia crescente acompanhada de uma dor fina no peito.

Os gritos de Lílian puderam ser ouvidos assim que ele entrou no corredor da ala de maternidade do hospital. Logo localizou a porta de onde se originavam os gritos, mas antes que pudesse entrar, sua mãe lhe barrou.

- Você não pode entrar aí, Tiago.

- Mas...

- Nada de mas. Isso não é para os seus olhos.

Pouco depois Sirius e Susan chegaram.

- Como ela está? - a italianinha perguntou.

O grito que veio através da porta fechada foi resposta suficiente. Tiago ficou repentinamente pálido e Sirius o segurou enquanto ele escorregava para o chão.

- Tiago, o quê...

- Eu acho que vou vomitar...

Míriam observou o filho com apreensão.

- Eu vou procurar alguém.

Sirius ficou ajoelhado junto ao amigo, preocupado.

- Tiago, não é você quem está dando a luz, cara! Te acalma!

Susan já desaparecera dentro da sala de onde vinham os gritos. Tiago apenas revirou os olhos em resposta. Nesse momento, Míriam entrou no corredor, seguida de outro rapaz que Sirius logo reconheceu.

- Remo? O que está fazendo aqui?

- Até ontem foi lua cheia. Eu estou no hospital para me recuperar. - Remo também ajoelhou-se ao lado de Tiago - Cheira isso, Pontas.

Remo colocou um pequeno frasco com um líquido incolor sob o nariz de Tiago e lentamente a cor foi voltando às faces do maroto. Míriam também entrou na sala onde Lílian estava. Os gritos tinham cessado.

Os três marotos permaneceram em silêncio no corredor do hospital. Tiago continuava sentado molemente no chão, os olhos fixos no nada. Sirius observava os amigos com os cantos dos olhos, em especial Remo. O forte sentimento de desconfiança continuava no moreno. Enquanto isso, o lobisomem, sentado ao lado de Tiago, se deixava perder em seus próprios pensamentos.

O tempo passou sem que eles se dessem conta disso. Eram quase duas horas da manhã quando a porta voltou a se abrir, deixando duas curandeiras, Miriam e Susan passarem.

- Ela quer vê-lo, meu filho. - Míriam sussurrou para Tiago.

O moreno se levantou lentamente, ajeitando os óculos sobre o nariz e fechando atrás de si a porta que o separara de Lílian. A sala estava numa penumbra confortável. Os dois únicos pontos de luz vinham das mesas ao lado da cama em que a ruiva estava recostada, tendo em seus braços uma pequena trouxinha. Ela ergueu a cabeça quando o pressentiu.

- Ei, Harry, olha o papai. - a voz dela saiu suave, quase como uma canção de ninar.

Tiago se aproximou de mansinho, notando olhos intensamente verdes a observarem-no. Mas não eram os olhos da esposa. Eram os olhos do seu filho. Harry ergueu as mãozinhas rechonchudas, um sorriso nos lábios pequenos. Lílian estendeu o bebê para Tiago, que o pegou com um certo medo. Harry tentou tocar seus óculos, deixando nas lentes as pequenas marcas de suas digitais.

- Bem vindo ao mundo, Harry, meu filho. - o moreno disse com a voz embargada, sorrindo para o pequeno em seus braços e para mulher que contemplava a cena muda, os olhos brilhantes de lágrimas - Bem vindo.

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