Apenas por essa noite



Sirius olhou abismado para a ruiva quando ela terminou seu relato.

- Mas, Lily, como ele podia saber sobre tudo isso?

- Eu não sei, Sirius. E isso também não importa.

- Claro que importa! Mas, Lily... você tem certeza que Voldemort foi capaz de jogar essa maldição?

- Sim, Sirius. Não era uma encenação. Ele realmente me amaldiçoou com a Thanatus.

Sirius permaneceu em silêncio, sem olhar para a amiga.

- E Tiago? O que você disse a Tiago? Ele já sabe disso tudo?

- Ele esteve aqui. Era sobre isso o recado de Dumbledore. Ele me viu com Gideão.

- Por favor, Lily, não me diga que aquele idiota se deixou levar pelo ciúme e nem quis ouvir o que você precisava dizer!

- Não, Sirius... - ela disse num fio de voz - Ele não agiu como um idiota. Ele queria me levar de volta pra casa. Mas eu... Eu disse a ele que...

- Lílian? - Sirius perguntou pesaroso - Por favor, não me diga que mentiu pra ele...

- Eu menti. - ela falou quase num sussurro, deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto - Eu disse que não o amava mais, eu disse que estava traindo ele. Você sabe que ele é muito impulsivo, eu não podia arriscar... Eu precisava afastá-lo, Sirius. Para o próprio bem dele.

- Para o bem dele? - Sirius riu tristemente - Lílian, eu nunca vi o Tiago como ele está nos últimos tempos. Eu não duvido que ele acabe fazendo uma besteira. Ele precisa saber da verdade.

- Sirius!

- Ele tem o direito de escolher, Lílian! Você não pode simplesmente decidir sozinha o que é melhor para outra pessoa. Tiago precisa saber da verdade.

- Você não pode... - ela suplicou, tentado controlar as lágrimas.

- Eu tenho que ir agora, Lílian.

- Sirius...

- Eu não vou mentir para o Pontas. Ele merece saber a verdade. - Sirius colocou o casaco e abriu a porta - Até logo, Lily.



--------------------------------------------------------------------------------


Tiago parou a moto diante do prédio de Miranda. Ele sorriu ao perceber que ela já estava esperando. Sabia que ela não ia resistir. Miranda aproximou-se dele e o rapaz observou os cabelos negros dela, presos numa trança até o meio das costas. Ela usava um conjunto azul, bem justo ao corpo, e que mostrava com perfeição o porquê de Sirius ter passado os últimos meses dando em cima da professora. Miranda encarapitou-se na moto, segurando firme a cintura dele.

- Boa noite, Potter. - ela falou em voz baixa, junto ao ouvido dele.

Tiago sentiu um arrepio descendo-lhe pela espinha e uma sensação de liberdade que ele não tinha desde os tempos de Hogwarts.

- Me chame de Tiago, Miranda. - ele respondeu no mesmo tom - E boa noite para você também.

Ela assentiu com um sorriso e Tiago deu partida na moto, acelerando para sentir o vento frio bater-lhe no rosto. Algum tempo depois, ele estacionou na frente de um restaurante trouxa, ajudando a moça descer.

Foi só então que percebeu que estava no restaurante favorito de Lílian, onde estivera com ela diversas vezes. Aquilo estava começando a ficar ridículo, por mais que tentasse, sempre caía numa aramadilha de lembranças e voltava a ela. Ele jantou e conversou com Miranda quase sem perceber, enquanto virava copos e mais copos de algum líquido que ardia em sua garganta. O tempo passou sem que o rapaz percebesse e ele levou Miranda de volta pra casa, sentindo-se levemente zonzo. Só o que faltava agora era ter uma ressaca no dia seguinte...

- Você quer subir? - ele ouviu a moça perguntar.

Sem esperar um segundo convite, Tiago desligou a moto e seguiu Miranda pelas escadas até o terceiro andar. Ela abriu a porta, acendendo a luz, que ofuscou os olhos dele por alguns instantes. Miranda observou-o em silêncio até que ele se aproximou, enlaçando-a pela cintura, iniciando mais um beijo.

Era estranho... O beijo dele era tão cheio de... aquilo não era desejo, ela sabia perfeitamente. Mas não se importava. Se Tiago quisesse ir até as últimas consequências naquele dia, ela iria permitir.

Enquanto isso, o moreno sentia os olhos arderem. Já estivera numa situação comoa aquela. Há muito tempo, ainda na época da escola, nas férias do sexto ano, quando brigara e fizera as pazes com Sirius. Ele dançara com Lílian, mas ela, como sempre, acabou por fugir dele. Ele afastou-se de Miranda. Porque não conseguia esquecê-la? Pelo menos por uma noite, apenas uma noite...

Ela viu ele voltar-se para a porta. Não precisava de explicações para saber o que estava acontecendo com ele. Passara exatamente por aquele tipo de confusão quando seu marido morrera. Tiago olhou mais uma vez pra ela antes de acenar com a cabeça e sair. Na rua, uma garoa fina caía. O moreno olhou para o céu, deixando a água da chuva embaçar seus óculos.

- O que você fez comigo, Lílian?...



--------------------------------------------------------------------------------


Susan acordou com as batidas na porta. Olhando para o relógio, a garota se assustou. Quem estaria fazendo visitas às onze da noite? Ela levantou, colocando um robe por cima da camisola, enquanto as batidas ficavam cada vez mais insistentes. Finalmente, ela abriu a porta, encontrando Sirius.

- O que está fazendo aqui? - ela perguntou nervosamente.

- Eu preciso de ajuda. Ou melhor, nossos dois amigos cabeça-dura precisam de ajuda. - ele respondeu - Mas será que tem alguma coisa aí pra comer antes disso?

Susan deu passagem a Sirius, que logo se acomodou no sofá. Ela foi até a cozinha, voltando com um prato cheio de croissants que tinha comprado na padaria mais cedo. Sirius comeu em silêncio, enquanto a morena o observava com atenção. O que teria acontecido?

- E então? - ela perguntou quando ele acabou de comer.

- Estavam uma delícia.

- Sirius, eu não estou falando disso...

- Você já ouviu falar em uma maldição chamada Thanatus?

- O toque da morte? A Lílian passou um tempo pesquisando sobre feitiços antigos. Eu me lembro de ela falar sobre essa maldição.

- Voldemort amaldiçoou Lílian com ela no ataque do mês passado, quando eu passei uma semana aqui.

Susan empalideceu.

- É por isso que ela está numa "missão para a Ordem"?

- Você é bem rápida, não? - ele disse com um sorriso.

- E o Tiago?

- Ele não sabe de nada. A Lílian tem medo de permanecer ao lado dele, falou que ele era muito impulsivo... Ela mentiu pra ele, deixou que o coitado pensasse que estava sendo traído.

- Ai, meu Deus...

- Ela me pediu pra não contar nada a ele, mas eu não tenho certeza...

- Ele merece saber a verdade! - Susan levantou-se nervosa - Tiago ama Lílian de uma maneira que às vezes até assusta. Ele não vai conseguir ficar sem ela. Nem ela sem ele!

- Foi exatamente isso que eu disse a ela, pelo menos em parte. - ele afirmou, os olhos brilhando - Acho que eu vou falar com o Tiago...

Susan pôs-se na frente dele, que já se levantara, fazendo com que ele voltasse a se sentar.

- Tiago não vai receber você a essa hora, Sirius. É um assunto muito importante para ser tratado assim, de madrugada. Provavelmente ele está tão irritado que no momento em que você disser que quer falar sobre Lílian, ele vai botar você pra correr. Então, comece me explicando como descobriu isso. A Lily não ia simplesmente te contar isso sabendo que você iria correndo atrás do Tiago.

- Eu disse que Gideão tinha me contado tudo. Eu só sabia que alguma coisa muito errada estava acontecendo, o próprio Gideão me confirmou isso na última reunião da Ordem, depois de ter levado um soco do Tiago.

Susan assentiu, começando a andar de um lado para o outro.

- Por isso ela deixou o bilhete aqui, pra que eu fosse no hospital. Por isso que Tiago está daquele jeito avoado... Ele precisa saber... - Susan observou Sirius voltar a se levantar - Aonde pensa que vai? Não pode dar uma notícia dessas para o Tiago assim!

- Eu sei. Eu vou pra casa, dormir. Eu estava tão preocupado que vim pra cá assim que acabei de conversar com a Lily e acabei acordando você.

Susan sentiu a face esquentar. Ele prestara atenção no robe que ela usava por cima da camisola, fino o suficiente para quase revelar seu corpo.

- Não tem problema. - ela disse em voz baixa, sem olhar pra ele.

- A propósito, eu segui seu conselho. Escrevi para a Camille. Quando receber uma resposta, eu venho te contar.

- Pensei que Tiago fosse seu confidente. - a morena observou com um sorriso triste.

- Eu acho que ele já tem problemas suficientes. - Sirius sorriu - Bem, amanhã eu vou falar com ele. Tchau, Su.

- Tchau, Sirius.

Ele fechou a porta e ela caminhou até ela, trancando-a. Aquilo era realmente ridículo. Algum ser odioso estava achando muito engraçado brincar com seus sentimentos. Não bastava ter que amar Sirius em silêncio, ainda tinha que ouvi-lo falando de Camille...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.