Thanatus
- Você acha que eles vão aparecer? - perguntou Sirius, enquanto acabava de tomar um milk-shake.
- Não... Deve ter sido alarme falso, paranóia do Moody - Tiago observou - Afinal...
- VIGILÂNCIA CONSTANTE! - os dois disseram ao mesmo tempo, rindo.
- Mas, sério, Pontas... Você acha realmente que não vai acontecer nada? - o moreno fez bico - Assim não tem graça ser Auror. Eu não tô a fim de ser apenas mais um burocrata naquele ministério cheio de aranhas.
- Sabe, eu concordo plenamente com você. Mas, mudando radicalmente de assunto, como vai com a Dawlish?
- Não tenho mais certeza se, depois de tantos hematomas, quero continuar investindo nela. Mas quem sabe eu não a convido para sair?
- Ela não vai querer. Tem um filho pequeno para cuidar, lembra?
- Eu não faço questão. Gosto de crianças.
Tiago suspirou, meneando a cabeça e observando da entrada da lanchonete em que estavam a rua cheia de gente. Ao longe, o céu começava a se pôr.
- Porque alguém iria atacar uma cidade como essa?
- É a idéia que os comensais têm de diversão. Porque não dizimar a população trouxa de uma cidade perdida no meio do nada quando não se tem mais o que fazer? - Sirius respondeu - É o tipo de coisa em que minha mãe não gostaria de se meter, mas adoraria que acontecesse. Não duvido que o Régulo esteja engajado em algum grupo "comensal-júnior".
Tiago observou o amigo em silêncio. Sirius não gostava muito de lembrar que pertencia à família Black. Ele estava abrindo a boca para responder quando os dois ouviram uma explosão, seguida de gritos.
Não era alarme falso ao final das contas...
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O pequeno camundongo observou de cima de um bueiro os sete comensais espalharem-se pela rua principal da pacata cidade. Uma grande cratera no chão escondia o corpo de um casal, as primeiras vítimas daquele fim de tarde. Havia sangue no chão.
Pedro observou com crescente terror a chacina que se desenrolava a sua frente, torcendo para que o plano de Bellatrix desse errado. Ela seria castigada, ele não teria nada a ver com o acontecido, ninguém sequer saberia que ele estivera ali, assistindo. Mas quando Tiago e Sirius despontaram no início da rua, ele teve que se resignar.
A idéia de Bellatrix era simples. E, exatamente por isso, brilhante. Através de um comensal infiltrado no quartel general de aurores, ela descobriu que Moody estava fazendo patrulhas diárias pelos pontos de maior possibilidade de ataque, de modo que apenas os aurores novatos permaneciam no ministério: Potter, Black, Longbottom e Bones. Dolohov tirara os dois últimos do caminho e plantara a denúncia sobre a "festinha" de comensais. Olho-Tonto tivera que deslocar Tiago e Sirius para a área, achando que não era nada demais. E, bingo!
A morena contava justamente com o instinto heróico que os dois marotos possuíam. Eles iriam enfrentá-los sem pestanejar. E ela não havia se enganado. Ignorando as recomendações de Moody, lá estavam eles, prontos para o combate.
- Ora, ora, mas se não são os sete anões? E onde está a Branca de Neve? - Tiago perguntou com um sorriso irônico.
- Acho que ela está muito ocupada com seu sono de beleza. - Sirius retrucou, no mesmo tom do amigo - Realmente uma pena. Queria tanto conhecê-la...
Rapidamente os comensais se espalharam sob as ordens da menor deles, que, apesar de estar escondida pelo capuz negro, podia ser reconhecida como uma mulher. Sirius e Tiago se entreolharam, colando suas costas em seguida, de modo a se protegerem mutuamente.
- Crucio!
- Protego!
Bellatrix observou um pouco mais afastada os feitiços cruzarem o ar. Embora fossem apenas dois contra sete, conhecia o primo e o outro da escola. Potter e Black eram primeiros alunos em sua época, sem fazer qualquer esforço. Com certeza três anos de academia tinham melhorado ainda mais os dois bruxos. Só havia uma maneira de vencer: separar a dupla.
- Lestrange. - ela chamou o comensal mais próximo a ela, o irmão de seu namorado.
Ele aproximou-se dela rapidamente.
- O que houve?
- Chame o Avery e o McNair. Ataquem o Potter com o expelliarmus quando me ouvirem gritar imperio. Façam com que ele caia longe do Sirius, entendeu?
Lestrange assentiu e aproximou-se dos outros colegas. Bellatrix caminhou até o namorado, que também se mantinha um pouco mais afastado do combate. A missão dele era apenas observar e reportar-se ao Lorde na hora certa. A morena observou que ele tinha a mão enluvada na bainha de uma espada. Com um sorriso, ela parou ao lado dele.
- Quando Potter cair, quero que ataque Sirius pelas costas com sua espada. Depois, aparate e avise a milorde que está tudo pronto.
Ele continuou em silêncio, mas ela sabia que ele tinha entendido. Ela afastou-se novamente, parando diante de Sirius e retirando o capuz que escondia seu rosto.
- Longo tempo, não priminho? - ela perguntou, observando que havia um comensal caído no chão ali perto e que os outros estavam concentrados em Tiago.
Sirius a olhou com desprezo.
- E certamente não há prazer nenhum em voltamos a nos ver.
Ela sorriu, apontando a varinha para ele.
- Imperio!
- EXPELLIARMUS! - gritaram três vozes em uníssono.
Tiago, que até aquele momento lutava sem dificuldades contra dois comensais, não conseguiu bloquear o feitiço e foi violentamente arremessado para o chão, para longe de Sirius. O outro maroto só percebeu o que acontecera ao sentir a espada de Lestrange perfurando sua carne, enquanto os outros comensais o cercavam. Conseguira resistir ao feitiço de Bellatrix, mas percebeu, tarde demais, que caíra na armadilha dela.
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Lílian ouviu os gritos das pessoas que corriam apavoradas antes mesmo de aparecer na entrada da pequena vila. Estava cansada, tivera que aparatar e desaparatar muitas vezes naquele dia, enquanto expandia sua sensibilidade ao máximo, procurando as auras dois dois amigos. Sem ligar para o fato de que começara a correr na direção contrária a dos trouxas que fugiam, ela chegou à rua onde se desenrolava o combate no exato instante em que Tiago caía desarcodado. Um dos comensais desaparatou, deixando Sirius, sangrando profundamente, a lutar com outros três de seus malditos companheiros. O maroto tenatava desesperadamente se desembaraçar do grupo de atacantes que o cercavam para ir ajudar o amigo. Ela fechou os olhos paralisada. Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo.
Os olhos azuis de Sirius voltaram-se para a entrada da rua, como se adivinhando que ela estava ali. Com fúria redobrada, o moreno atacou os comensais, antes de voltar-se novamente para ela.
- Lílian, sai daqui!
Ela não se moveu, observando um dos comensais aproximar-se sorrateiramente do amigo. Ele estava sem capuz. Os olhos verdes da ruiva estreitaram-se ao reconhecer a atacante. Bellatrix Black.
- Crucio!
Dessa vez, Sirius não suportou a dor e caiu de joelhos no chão onde seu sangue começava a formar uma poça. Ele também desmaiou e Lílian finalmente voltou a sentir a sensibilidade do corpo e correu na direção dos amigos. Aos pés dela, um círculo de vento apareceu, num tom sinistramente vermelho, espalhando-se à medida que ela andava, como um olho de furacão. Bellatrix sentiu um calafrio.
- Aparatem, RÁPIDO!
Apenas um comensal, aquele que caíra, permaneceu no local. E, quando o círculo o tocou, ele simplesmente desapareceu como se fosse fumaça. Lílian tirou do pulso seu relógio, presente de Tiago, e um brilho prateado reluziu sobre ele. Imediatamente ela colocou a pulseira nas mãos de Sirius, que, segundos depois, desapareceu.
Em seguida, um pouco mais calma, ela caminhou até o namorado, ajoelhando-se para colocar a cabeça dele sobre seu colo enquanto procurava ver o quão machucado ele estava. Bem, ele também estava bem machucado e havia um corte razoavelmente grande na cabeça, onde ele batera ao cair. Mas nada muito preocupante.
Antes que pudesse dar um jeito de ir embora com Tiago, passos soaram na rua vazia. Lílian levantou a cabeça e sentiu o coração acelerar. Caminhando na direção dela, estava um homem de pele pálida, acentuada pela capa negra que ele usava; olhos avermelhados chios de malícia e de um brilho cruel, e um sorriso zombeteiro nos lábios finos. Embora nunca o tivesse visto, sabia exatamente quem ele era. Voldemort.
- E eu achava que hoje teríamos caça pequena... Mas vejam o tamanho do peixe que caiu em minha rede... ou eu deveria dizer ratoeira? - ele sorriu irônico, observando um ratinho amarelado que sumia dentro de um bueiro - Há muito que eu desejava conhecê-la, guardiã.
Talvez, se ele tivesse dito que era a rainha da Inglaterra, aquelas palavras não tivessem efeito sobre ela. Como poderia ele saber? Pouquíssimos eram aqueles que conheciam seu segredo.
- Vejo que está surpresa. Não tanto quanto eu, certamente. Como um ser tão pequeno e frágil como você pode conter tanto poder?
O choque desapareceu para dar lugar ao desprezo.
- Eu não sou uma coisa para "conter tanto poder". - ela respondeu levantando-se para postar-se à frente do corpo do namorado.
- Que cena tocante... Está querendo me enfrentar, menina?
- Eu não sou uma menina. E, se for para morrer, eu prefiro que seja lutando.
Voldemort riu.
- Você tem idéia do quão ridícula está sendo? Porque eu a mataria?
- Se não vai me matar, quer o quê então? Me convidar para dançar? - ela perguntou irônica, cheia da coragem sem limites, própria dos grifinórios.
O homem deu um passo à frente, mas Lílian não se moveu.
- Mais ou menos isso. - ele apontou a varinha para ela - Imperio!
Como se uma bala tivesse sido interceptada em sua trajetória, uma pequena explosão prateada ocorreu no espaço entre eles.
- Acha mesmo que pode me controlar usando o Imperio?
- Não, eu já esperava que isso acontecesse. - ele sorriu - Na verdade, o que tenho para você é muito mais interessante.
Ele voltou a apontar a varinha para ela, enquanto seus olhos dilatavam-se, ficando completamente vermelhos, como globos de sangue. Lílian sentiu a temperatura subir, como se tivessem acendido uma fornalha sob ela.
- Thanatus.
Embora Voldemort tivesse apenas sussurrado, Lílian ouviu perfeitamente o que ele dissera. A maldição que separara Helena de Hades, o toque da morte. Diante da ruiva surgiu uma garota de olhos claros e gentis e Lílian sentiu como se tudo tivesse parado, até mesmo o tempo. O sonho. Aquela era Thanatus, o anjo da morte. Lentamente a garota se aproximou da ruiva, estendendo a mão para tocá-la no peito.
Por mais anos que se passassem, a ruiva jamais conseguiria descrever a sensação que percorreu seu corpo naquele momento. Era como se toda a vida que existia nela houvesse evaporado, como se cada célula se tornasse uma pedra de gelo, rasgando-lhe a carne e a alma. Quando o toque cessou e a garota desapareceu da mesma forma que aparecera, restou em Lílian apenas o sentimento de perda.
- Você não pode...
- Eu pesquisei muito, minha cara, para criar minhas próprias maldições. Sei que apenas pessoas ligadas por um sentimento muito forte podem lançar essa maldição. Mas acredito que, a essa altura, você já tenha percebido que o maior poder que possuo é o ódio. Se não acredita em mim, porque não tenta se aproximar de seu amado Potter para se certificar? Eu imagino o que vai sentir com ele morrendo em seus braços, apenas porque você o tocou com as pontas dos dedos.
Lílian olhou para suas mãos e, num delírio febril, imaginou-as cobertas de sangue.
- Seu... - ela avançou para cima dele, pela primeira vez na vida sentindo vontade de acabar com a vida de alguém.
- Hoje não, minha cara. Eu não estou preparado para morrer.
Antes que ela se aproximasse o suficiente, Voldemort desapareceu. Ela ajoelhou-se sobre o lugar em que ele estivera, sentindo as lágrimas a lhe queimarem os olhos. Ela sabia que era verdade. Vira a garota, sentira o toque dela. Nunca mais... Nunca mais poderia tocar alguém, nunca mais poderia sentir Tiago...
Repentinamente, ela se levantou. Ainda havia Tiago. Ele precisava de cuidados. Lílian aproximou-se dele, mas parou antes que pudesse tocá-lo. Precisava de algo que pudesse transformar numa chave de portal. Inconscientemente, ela levou a mão até o pescoço, onde o cordão de Hades repousava.
Lílian segurou o pingente com força, arrancando o cordão de seu pescoço, que ficou levemente vermelho. Sem se importar com a dor que sentia, ela observou as lágrimas se misturarem com o brilho prateado da aura em sua mão.
- Adeus, Tiago. - ela disse num sussurro, abrindo a mão.
O cordão caiu sobre o peito do rapaz e, pouco depois, o moreno desapareceu. Ao longe, o sol finalmente começava a se pôr.
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