Vida de auror
Olho-Tonto Mody virou-se pela décima vez naquele dia, irritado.
- Potter e Black! Pode-se saber o que é tão engraçado para que estejam rindo no meio de uma importante explicação sobre estratégia? Vocês podem dividir suas brilhantes conclusões com o restante da turma?
Frank e Edgar se entreolharam. Estavam para se formar na Academia de Aurores, mas nem assim os dois amigos deixavam de ser aquilo que sempre foram desde que ingressaram em Hogwarts: marotos.
- Na verdade, caro Olho-Tonto... - Sirius começou a explicar - ... estávamos imaginando como seria nossas vidas fora da academia se sempre seguissémos a brilhante máxima da "Vigilância Constante", porque, sabe como é, ainda não estamos a sua altura para nos lembrar de todos os tópicos da sua cartilha.
- Exatamente. - Tiago continuou - Muitas vidas e nádegas seriam salvas se sempre lembrássemos de não guardar a varinha no bolso traseiro da calça. Teríamos a absoluta certeza de que não morreremos pela mão de nossas queridas mamães quando elas oferecerem um delicioso suco que fizeram com suas próprias mãos especialmente para seus amados filhinhos, já que beberíamos da nossa própria garrafa sempre no bolso. Não esquecendo, é claro, de que, se deslocássemos um olho para a nuca, poderíamos nos precaver de receber punhaladas nas costas, como o pobre Júlio César. Enfim, seríamos absolutamente paranóicos. Infelizmente, ainda não conseguimos seguir todos os passos de nosso brilhante mestre, mas estmos quase chegando lá.
Alguns dos aprendizes riram levemente, tentando esconder-se do olhar penetrante de Moody. O velho auror sorriu tortamente e os dois rapazes logo reconheceram nos olhos dele um certo brilho maligno (que tinham visto muitas vezes em si mesmos, quando pensavam no "Ranhoso").
- Muito bem, como eu estava falando para vocês antes dessa brilhante observação dos nossos sagazes companheiros, esse ano o Ministério decidiu inovar nas cadeiras de nosso curso, incluindo técnicas de defesa pessoal e armamento trouxa. Precisamos de duas cobaias, digo, voluntários, mas acho que vou indicar em vez de esperar que alguém se apresente ao serviço. Potter e Black, estejam aqui no domingo, às sete da manhã.
- Domingo às sete? Você só pode estar brincando, Olho-tonto. - Sirius disse - A gente já passa a semana toda aqui e vamos ter que vir no domingo de mnhã também?!
- Você também pode simplesmente deixar a turma, Black. A escolha é só de vocês.
Os dois marotos fecharam a cara. Não tinham mais como discutir. Finalmente, Moody os liberou e enquanto saíam do prédio da Academia, numa rua pouco movimentada perto do Ministério, Tiago observava o relógio.
- A Lily vai me matar quando souber disso. Domingo é o único dia que temos para ficar juntos e esse velho sacana...
- Não se preocupe, Potter. - a voz de Olho-tonto soou atrás deles - Você pode trazer sua namorada para assistir às aulas. Tenho certeza que vai ser bom para ela aprender a se defender, já que você...
- Errr... Obrigado, professor, mas acho que ela não vai querer.
- Eu não diria isso, principalmente quando ela conhecer a professora de vocês.
- Professora? - Sirius perguntou - Não vai ser o senhor a ministrar as aulas?
- Eu serei apenas um espectador, Black. Em todo caso, fçam como quiserem. Com licença.
O auror aparatou e os dois rapazes caminharam até um galpão onde a moto de Sirius estava guardada. O maroto tirou as correntes dela, que pareceu com isso dar um ronco de satisfação.
- Se não vai ser o Olho-Tonto quem vai aplicar as aulas, talvez seja até bem divertido. - Sirius observou.
- Divertido para você. Como eu vou dizer para a Lílian sobre essas aulas? Hoje eu vou virar picadinho. Será que ela vai me fritar com batatas?
- Eu prefiro cenouras. - Sirius montou na moto - Não esquenta, Pontas, eu sei como fazer a Lily levar numa boa.
- Eu só espero que sim, Almofadinhas. Ainda sou muito jovem para morrer...
*****
- Deixa ver se eu entendi. - Lílian descruzou os braços, começando a andar de um lado para o outro na cozinha - Vocês dois se candidataram a aulas extras no domingo?
- É, Lily... - Tiago disse, dando de ombros - Você não vai me cozinhar vivo, não é?
- Está brincando, Tiago?! Eu vou fazer um jantar especial para comemorar! Vocês estão finalmente criando juízo! - a ruiva respondeu, radiante - Podem ir pra sala, eu preparo tudo sozinha hoje.
Os dois assentiram, saindo silenciosamente da cozinha, onde Lílian começara a cantarolar.
- Acha mesmo que foi uma boa idéia mentir para ela? - Tiago sussurrou baixinho.
- Você prefere voltar lá e acabar com toda a alegria e orgulho que ela está sentindo? Ora, vamos, Tiago, ela nunca vai descobrir que não nos voluntariamos a essas aulas extras. Deixa ela ficar feliz, pensar que estamos afinal "amadurecendo". - Sirius fez uma careta - Volta e meia nos perguntam quando vamos amadurecer. Será que temos cara de alguma fruta?
- Almofadinhas, você é um idiota. - Tiago disse rindo, deixando-se cair sentado no sofá.
- Mas graças ao idiota hoje você terá uma grande noite. Poucas vezes vi a ruiva tão radiante. Sabe, acho que estou com inveja de você.
- Sirius, porque você não vai procurar uma namorada ao invés de ficar filando rango aqui em casa e botando olhando gordo em cima da MINHA Lily?
- Você sabe, eu estou esperando ela te dispensar. - Sirius disse piscando o olho - Onde mais eu vou encontrar alguém que lave, costure e cozinhe, seja bonita e, ainda por cima, inteligente?
- Sirius... - Tiago disse, começando a ficar vermelho.
O moreno riu.
- Calma, Pontas. Você sabe que eu só tenho uma garota que realmente me prende a mente.
- Camille é noiva do Edgar, Sirius. Quando é que vai cair a ficha e você vai partir para outra? - Tiago respondeu sério.
- Você desistiria da Lily se ela estivesse namorando... o Remo, por exemplo?
- Ora, mas é lógico que não! - Tiago respondeu rápido.
- Então, aí você tem sua resposta. O Edgar é um cara legal e tudo o mais, mas eu realmente gosto da Camille. E não vou desistir dela. Nunca.
- Do que estão falando? - Lílian perguntou, entrando na sala de avental e com uma panela fumegante.
- Nossa, Lily, isso está com um cheiro bom... - Tiago disse, aproximando-se - O que é?
- Creme de frango. Arrumem a mesa para que eu possa servir.
Nesse momento, a campainha tocou. Os três se entreolharam e Sirius foi abrir a porta, deparando-se com Susan e Emelina.
- Boa noite, pessoal. - elas disseram, entrando.
- Boa noite. - os três responderam.
- Estávamos passando aqui na frente quando sentimos o cheiro, digo... - Susan emendou-se ao receber uma cotovelada da loira - ... digo, sentimos saudades e decidimos visitar minha querida maninha.
- O grande problema de se saber cozinhar são os amigos esfomeados que moram nas redondezas... - Lílian observou com um sorriso - Vá égar mais pratos, Tiago.
Susan e Emelina sorriram, aproximando-se para também ajudar. Logo estavam os cinco à mesa, comendo, bebendo e rememorando casos da época de Hogwarts.
*****
- E então, Moody, como vai ser a aula no domingo?
O velho olhou para Sirius com surpresa.
- Ansioso, Black?
- Muito. Então, pode nos adiantar alguma coisa? - Sirius continuou, olhando o professor com curiosidade.
Tiago, já na porta, observava com surpresa o interesse do amigo.
- Estejam na sala de duelos às sete. Eu estarei esperando com Dawlish.
Sirius deu um sorriso vitorioso e depediu-se do auror com um aceno de cabeça, começando a empurra o amigo para fora da sala.
- Pode-se saber o que deu em você? - Tiago perguntou emburrado.
- Eu só queria confirmar o nome da nossa querida e futura professora. Eu já levantei a ficha dela com Fawcett. Viúva, jovem, vive como trouxa, embora seja bruxa. E trabalha como tolicial.
- É policial, Sirius. - Tiago observou - Você disse viúva?
- Marcus Dawlish morreu há três meses, num ataque de Comensais. Ele era Auror. Deixou a viúva com um filho de colo ainda por cima.
- E você vai dar em cima dela? Cara, cê não presta.
- Ei, eu não estou morto. Enquanto espero a Camille se desocupar, eu tenho que ter meus "quebra-galhos"!
Tiago meneou a cabeça, embora sua mente estivesse em outro assunto. Uma viúva, uma órfã... Voldemort matara os pais de Lily também. Gostaria de conseguir entender o que o Lorde das Trevas pretendia. Não conseguia acreditar que grande parte daquelas pessoas tinham sido assassinadas apenas por diversão. Tinha que haver um motivo, por mais insano que fosse...
*****
Estava num barco envolto em brumas, em alto mar. Um vento cortante passava por ela, bagunçando as vestes que usava. Ela abraçou os braços nus, com frio, observando a nuvem de fumaça que saía de sua boca quando respirava. De repente, um pouco mais à frente da embarcação em que estava, as luzes de outro navio tremeluziram.
Lílian caminhou rápida até a amurada, tentando puxar a longa capa para mais junto do corpo, enquanto uma sensação de urgência a envolvia. Precisava fazer com que o outro navio saísse dali depressa.
- Preparem-se para o ataque! - gritou uma voz conhecida do cesto da gávea.
Lílian olhou para cima, de onde alguém descia rapidamente, enquanto muitos homens aproximavam-se da amurada, como se não a vissem, segurando pistolas, facas e arpões. O que aquilo podia significar?
O som de alguém pulando no chão tirou-a de seus pensamentos. Diante dela, estava um rapaz de cabelos dourados, quase brancos, e olhos de um azul sombrio, com um brilho de crueldade que ela jamais reconheceria pertencer àquele rosto. Hades.
O rapaz fez um sinal silencioso e o som de metal ecoou por toda aquela imensidão. Mas Lílian estava chocada demais para perceber isso. Estava agora em meio ao convés do grande navio, e, ao seu redor, uma luta desesperada se desenrolava. Um homem ensanguentado caiu a seus pés, com uma espada encravada no peito.
Hades aproximou-se do homem ferido, o capitão daquele navio, retirando a espada com um sorriso feroz. Em seguida olhou para a ruiva, inclinando-se levemente para ela.
- Adeus, minha senhora...
A sangue tingiu a túnica imaculada de Lílian. Ao lado de Tiago, a ruiva acordou assustada.
- Foi só mais um estúpido pesadelo. - ela tentou se convencer, enquanto olhava para a face adormecida de Tiago - Só mais um pesadelo...
*****
- Até que ela é jeitosinha... - Sirius sussurrou baixinho.
- Sirius, agora não! - Tiago respondeu no mesmo tom.
Miranda Dawlish tinha cabelos negros cacheados e olhos quase dourados. Embora fosse jovem, talvez apenas alguns anos mais velha que os dois marotos, não havia viço no olhar dela, sinal de sofrimento. Mas aquela ar de melancolia apenas lhe acentuava a beleza natural, na opinião de Sirius.
Ela conversou por alguns instantes com Moody antes de voltar-se para os dois, prendendo o cabelo enquanto caminhava.
- Olho-Tonto já me explicou mais ou menos quem são vocês. - ela disse com a voz firme - E confesso estar surpresa com o histórico de confusões que ambos possuem.
- Estamos aqui para discutir nossa vida pregressa? - Sirius perguntou com um sorriso.
- Você tem razão, Black. - ela respondeu, cruzando os braços - Tente me atacar. Ah, e sem varinha, por favor.
- Como? - o rapaz perguntou surpreso - Eu não posso atacá-la!
Moody soltou um grunhido e a mulher sorriu sarcasticamente.
- Pretende usar de cavalheirismo quando for atacado por uma comensal, Black? Tenho certeza que elas vão adorar...
O moreno deu de ombros, resignado e tentou, desajeitadamente, dar um soco na professora, que se desviou com uma facilidade impressionante.
- Isso é tudo, Black? Pensei que seria um pouquinho melhor...
Aos poucos, enquanto Miranda o provocava, Sirius ia levando as coisas um pouco mais sério e seus golpes tornavam-se cada vez mais certeiros. Miranda sorriu enquanto desviava de mais um soco. Os homens são tão previsíveis...
- Não use apenas as mãos, Black. O corpo todo pode ser uma arma poderosa no caso de perder sua varinha em combate!
Ele assentiu e, antes que ela pudesse perceber, passou uma rasteira nela, que caiu com tudo no chão. Sirius aproximou-se preocupado, visto que ela não se levantava e permanecia com os olhos fechados.
- Eu a machuquei, professora?
Ela sorriu, abrindo os olhos de repente e, num relance, quem estava no chão era Sirius, com Miranda sentada sobre o tórax dele, imobilizando seus braços. Sirius tentou se levantar, mas não conseguiu. estava completamente derrotado.
- Nunca abra a guarda, Black. Quando seu inimigo parecer derrotado, quem está mais perto da derrota é você. Como diz Olho-Tonto, vigilância constante!
A morena levantou-se, dando um passo para trás e virou-se para Tiago.
- Sua vez, Potter.
Tiago aproximou-se, passando por Sirius, que resmungava baixinho enquanto massageava o braço, onde uma mancha roxa começava a aparecer.
- Vigilância constante... Ela é tão paranóica quanto o Moody. Mas até o fim desse curso eu vou "amaciar" essa professora. Ah, se vou...
- Quem vai acabar amaciado desse jeito é você. - Tiago observou num sussurro.
- Quero ver você se sair melhor.
- Bem, veja um profissional em ação...
Sirius observou Tiago atacar Miranda sem piedade. A morena estava tendo mais dificuldade para apenas se esquivar e logo começou a atacá-lo também. Mas Tiago era bem mais rápido em quebrar os golpes dela. Mas Miranda acabou por derrubá-lo também, embora ofegante.
- Tem reflexos rápidos, Potter.
- Fui apanhador por seis anos.
- Na verdade... - Sirius interrompeu com um sorriso maroto - Ele tem prática em se esquivar de mulheres. A namorada dele é uma fera. Se não tivesse aprendido a responder, a essa altura não teríamos mais Tiago Potter para contar história...
- Sirius...
- Ei, eu por acaso estou mentindo?
Tiago suspirou resignadamente e Miranda riu.
- Certo então, agora que já temos uma idéia das fraquezas e acertos de vocês no combate físico, vamos passar para as armas de fogo.
- Porque vamos aprender a mexer com isso? - Tiago perguntou enquanto caminhavam por um corredor vazio - Os comensais vão duelar com varinhas.
- Precisamos usar todas as armas que estiverem ao nosso alcance contra os asseclas de Voldemort. - ela respondeu, parando diante de uma porta e abrindo-a. Era um enorme salão, cheio de alvos de todos os tamanhos e formatos. Em aparadores na parede, diversas armas aguardavam para serem usadas - Escolham suas pistolas. Vamos ver como está a mira de vocês.
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