Verão Búlgaro
Cap. 25 – Verão Búlgaro
By Surviana
Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.
Por favor, não me processe! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros.
A estrada serpenteava pelo bosque de coníferas e Hermione vislumbrava o verde da paisagem recostada no vidro do carro. Nunca antes estivera na Bulgária, mas pelo tanto de cartas que trocava com Vítor o ambiente lhe parecia familiar, só não a fazia se sentir em casa. O vento quente que entrava pelo vidro aberto do carro bagunçava seus cabelos; estava tão perdida em pensamentos que quase não se deu conta que já haviam chegado na entrada do pequeno vilarejo.
As cores das casas eram sóbrias e todas elas possuíam um ar pesado e frio, embora estivessem no alto verão. Ela se perguntou o quanto haviam andado desde a estação em Sófia, checou o pulso e ficou surpresa ao perceber que o relógio tinha parado, provavelmente no meio da viagem. Deu uma batidinha no vidro tentando fazê-lo “pegar no tranco”.
– Não funcionam aqui. – o condutor do carro disse displicentemente ao ouvir o barulho dela checando-o pela terceira vez. – Agrada a Barba Mata.
– Ah – Hermione só respondeu, esperando que ele não notasse sua confusão. - Barba Mata...
– A magia da Bulgária sabe? Para a nossa primavera permanecer para sempre. Vê as flores? – Ele apontou um morro distante, - Não murcham nunca. Você deveria voltar em Março para a comemoração do feriado. Há mais de mil anos, crianças e adultos de Samokov andam pelas ruas com adornos barulhentos vermelhos e brancos, e as árvores – ele apontou o bosque que serpenteava a estrada por onde tinham vindo – são salpicadas de martenitsas. É lindo!
Hermione perguntaria o que eram as tais martenitsas se não tivesse avistado Vítor nesse exato instante, mesmo assim, fez uma nota mental para pesquisar a palavra. Ele conversava com alguém na varanda de um dos chalés mais distantes e estava tão sério e absorvido pelo assunto que nem se deu conta que ela e Marckov, o motorista tinha se apresentado em algum momento da viagem, haviam chegado. Hermione pôde notar o quanto ele estava mudado desde o final do torneio tribruxo. Ele agora aparentava ter muito mais que vinte anos, muito disso atribuído a responsabilidade que assumiu pela sua escola quando Karkarof simplesmente fugiu ao saber do retorno de Voldemort. A barba estava por fazer e uma ruga na testa deixava sua expressão mais carrancuda ainda do que quando se conheceram.
Hermione suspirou. Vítor era mais um dos que haviam entrado para a imensa lista dos prejudicados pelo lorde das trevas. O pensamento dela voou até a Rua dos Alfeneiros e sentiu uma pontada de dor ao pensar em Harry. O diretor Dumbledore fez questão de mantê-lo isolado de todos e nem ao menos cartas foram permitidas, cada dia que passava Hermione só apenas podia imaginar a raiva e frustração que Harry devia estar sentindo com tudo isso.
Alcançaram o chalé no instante que Vítor se despedia do bruxo, ele ainda ficou pensativo por alguns instantes antes de se virar abruptamente para o lado oposto e seus olhos pousarem em Hermione observando-o. Ela não pode deixar de notar uma expressão estranha em seu rosto, antes que ele a ocultasse com um sorriso.
– Assumo daqui Marckov, – disse ao motorista.
Vítor estendeu a mão e apertou os dedos de Hermione com força antes de puxá-la para um abraço carinhoso. – Você está bem Hermionini? Não consegui dormir esta noite, com a expectativa da sua chegada.
Hermione não respondeu, fechou os olhos absorvendo o momento do abraço. Na verdade era ela quem tinha ido até ali para checar se ele estava bem. Os pais dela precisaram ser persuadidos durante dias e concordaram em deixá-la ir ao vilarejo, com a condição de voltar a Sófia no mesmo dia. A preocupação com Vítor havia se intensificado depois da afirmação de Harry sobre o retorno de Voldemort e a sua coragem grifinória a fez tomar a decisão de visitá-lo nas férias, mesmo sob protestos dos pais.
Entraram em um dos chalés, uma placa charmosa indicava que ali era uma casa de chás, e Vitor pediu Airian para si mesmo e para Hermione, sentaram-se um em frente ao outro sob uma das janelas do charmoso chalé.
– Como estão todos depois do tornneio? Por aqui temos ouvido apenas rumores, meias verdades… – Perguntou ele.
– Não sei muito sobre todos, fomos afastados quando as férias começaram, Harry por exemplo, está incomunicável até hoje. Talvez só nos vejamos novamente quando retornarmos a Hogwarts. – Disse ela com a voz triste – Sei sobre todos quase tanto quanto vocês daqui.
– E houve baixas em Hogwarts? Algum professor... – A voz dele era dura – fugiu também? Como o Karkarof?
Hermione não respondeu. Não queria pensar em Snape, ou enlouqueceria. Não que ele fosse fugir, mas não queria imaginar os riscos que ele estava correndo diante da função que desempenhava junto aos comensais da morte. Estendeu a mão para tocar a bochecha de Vítor e o fez olhá-la. – Eu vim para checar se você está bem. Se fosse apenas para trocar essas informações continuávamos na carta não é mesmo? – Falou com doçura.
Vítor relaxou um pouco a expressão carrancuda e pousou sua mão sobre a dela. – Certamente Hermionini, focê gostou do Airan? – Ele apontou a taça na mesa.
– Eu simplesmente adorei! – Respondeu ela sorridente. – Tem um sabor delicioso.
Engataram a conversa sobre essa e outras bebidas da Bulgária e várias delas tinham nomes tão curiosos que Hermione decidiu que faria uma pesquisa sobre nomes de bebidas típicas de outros países do mundo no restante das férias.
– Venha Hermionini, vamos dar uma caminhada para que eu lhe mostre a vila. – Ele a convidou ao mesmo tempo que a puxava da cadeira, que ela só não caiu porque num rápido reflexo ele a segurou antes do encosto bater no chão.
Hermione sorriu, sentiu saudades desse jeito truculento dele, Vítor, embora extremamente tímido emanava a energia do quadribol em todas as suas atitudes, fazendo com que fosse enérgico até quando tentava ser gentil. Saíram do chalé e Vítor pousou um dos braços sobre os ombros dela, começando a apontar cada uma das edificações e contando casos engraçados sobre os moradores. Segundo ele, a maioria deles eram de famílias bruxas conservadoras, e os chalés serviam apenas para as famílias aproveitarem a estação das flores. A medida que os jovens bruxos das famílias foram se casando, adotaram o vilarejo como moradia e por isso ele quase era um distrito agora, dado todo o crescimento populacional.
Era tão raro conversar amenidades com Vítor que Hermione tentou a todo momento se divertir ali. O tempo sombrio, que todos previam que estava por vir, foi completamente esquecido enquanto ela ria e se divertia com as histórias da Bulgária. Todo mundo sabe que viajar faz muito bem para o astral, e no caso deles, passar um dia na companhia um do outro estava sendo extremamente agradável, um alento em meio a todo caos que os aguardava. Era engraçado como aqui na Bulgária, especialmente aqui no distrito, Vítor podia ser uma pessoa normal, sem garotas correndo atrás dele e soltando gritinhos, sem meninos o olhando com admiração, Hermione reparou que todos que os cumprimentaram tratavam-no como uma pessoa comum e essa era a primeira vez que eles conversavam em um ambiente tranquilo assim.
Passaram pelo coreto da praça e lá um grupo de meninas ensaiava, segundo Vítor, para a seleção do "Le Mystére Des Voix Bulgares", um coro feminino muito famoso no mundo inteiro, inclusive o trouxa. O canto delas deixou Hermione encantada e ficaram parados lá por três sequências seguidas de canto. Era impressionante como a melodia entrava pelos seus ouvidos e instantaneamente transmitia uma paz absoluta. Hermione ficou tão maravilhada e absorta admirando-as que quando a mão de Vítor lhe puxou com mais força, assustou-se.
– Precisamos ir. – Disse ele de repente, enquanto a puxava em sentido contrário ao de onde tinham vindo.
– Mas por que? – sua confusão desfez-se quando as meninas búlgaras que ensaiavam, saíram correndo. Só aí Hermione ouviu o som de vozes alteradas. – O que está acontecendo?
Eles já dobravam a esquina seguinte quando Hermione avistou-os: homens encapuzados e usando máscaras. Um arrepio percorreu sua espinha e trouxe a sua memória a final da Copa Mundial de Quadribol. O pensamento de que com o retorno de Voldemort esses visitantes seriam bem mais cruéis do que foram naquela vez, aterrorizou-a.
Vítor praticamente corria agora, arrastando-a pela mão, no final da viela seguinte, entraram em uma ruazinha lateral que Hermione jamais teria notado se ele não tivesse guiando seus passos e saíram nos fundos de um dos chalés da praça que margeava o bosque. Diminuíram o passo e Vítor, já com a varinha erguida, fez sinal para que ela fizesse o máximo de silêncio possível.
– Eles só estão aqui em busca de aliados. Eu ouvi rumores sobre essa visita, mas não os esperávamos tão cedo. E focê Hermionini, é um alvo e tanto, não consigo imaginar o que fariam com a melhor amiga de Harry Potter. – Ele apontou a entrada quase oculta de uma trilha, na beira do bosque. – É a sua melhor chance, dois quilômetros naquela direção e focê vai encontrar abrigo em uma cabana. Lá tem uma lareira, a rede de Flu ainda está livre de intervenções, você vai falar “Dvorets Vrana" e ela te levará no palácio de Sófia. Pegue seus pais e volte pro seu país.
– Mas e você? - A voz de Hermione saiu mais estridente do que o normal.
– Ficarei bem. Consegui respeito trazendo a delegação da escola em segurança quando voltamos de Hogwarts, não me fariam nenhum mal.
– Não posso deixar… – uma janela estourou há poucos metros de distância e o som de vozes alteradas chegaram até eles. Vítor a olhou com desespero.
– Você precisa ir agora Hermionini! Se lembra que não pode usar magia fora da escola? Vai ter que correr! Vai!
Hermione permaneceu imóvel, Vítor constatou algo que não tinha passado ainda pela sua cabeça: se ela sofresse um ataque não poderia se defender, primeiro porque não sabia como, já havia lido tudo sobre feitiços, mas praticá-los num combate nunca foi possível. Segundo, porque o rastreador de magia por menores de idade a identificaria, o que acarretaria em sua expulsão de Hogwarts. Ela o olhou horrorizada.
– Não posso me defender sozinha Vítor…
Ele a segurou pelo rosto – Se você correr agora, não precisará usar, confie em mim! Alcance a cabana e use a lareira, é seguro. – E ele a beijou, transmitindo a urgência da situação e despedindo-se ao mesmo tempo.
Hermione soltou-se dele e correu até a trilha, era estreita demais e parecia ter sido aberta recentemente, nos primeiros metros galhos engancham em seus cabelos mas ela não para de correr um minuto sequer. Mesmo a uma boa distância ela ainda achava que ouvia sons de vozes cercando-a, e o medo de ser pega a preenchia completamente impelindo-a a continuar.
Não sabia ao certo quantos metros tinha adentrado no bosque até que perdesse o fôlego e diminuísse o passo na esperança de recuperá-lo. Quando a dor no seu peito atingiu o ápice ela escondeu-se atrás de uma das árvores que margeavam a trilha curvando-se em busca de ar. Precisou de muitos minutos para que sua respiração se ajustasse e saiu do esconderijo de volta a trilha. Apressou o passo e voltou a correr bosque adentro, ouvia o som da mata agora: insetos zumbiam próximos a seus ouvidos, pássaros piavam agourentos acima de sua cabeça e algo assustador rastejou muito próximo de si enquanto ela corria, mas nada de vozes humanas.
E foi nessa segurança de não ouvir mais palavras humanas que o medo diminuiu e a esperança de estar perto da cabana a alcançou que Hermione desacelerou a corrida. Sem o intervalo de um segundo sequer, o brilho de um feitiço passou raspando pela sua cabeça e ela olhou horrorizada para a sombra escura à sua frente, antes que conseguisse parar completamente, a mão de um comensal tapou sua boca e a arrastou da trilha, levando-a mata adentro.
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O ardor familiar da marca negra já nem incomodava tanto. Severo olhava pela janela do chalé de sua família e repassava mentalmente as ordens do Lorde das Trevas para a missão em Durmstrang. A ordem era clara: busca por aliados. Todo o plano devia ser secreto e sem surpresas e, caso alguma situação saísse do controle, deviam fazer parecer um acidente trouxa. Era um trunfo que o Lorde das Trevas queria manter a todo custo: a descrença no seu retorno.
Estariam em cinco e ele lideraria a equipe, graças a sua antiga aproximação com Karkarof, o covarde ex-diretor da escola da Bulgária. Estaria acompanhado de Avery e Nott e de mais dois bruxos novatos no círculo, jovens e sem nenhuma inteligência e que, Severo tinha absoluta certeza, seriam a sua pior preocupação.
Apanhou a capa sobre a mesa e colocava o primeiro pé fora da casa quando as chamas verdes encheram a lareira e um Alvo Dumbledore de túnica roxa se materializou na sala. Levantou uma sobrancelha questionadora. Ele havia informado que estaria em missão, o que diabos o diretor de Hogwarts fazia ali?
– Severo, meu caro – começou o diretor – Desculpe-me a visita inesperada, mas com as corujas sendo interceptadas e a Rede de Flú monitorada, precisava vir pessoalmente lhe fazer recomendações sobre essa missão específica.
– Recomendações? – repetiu o professor carregando a palavra na esperança que ele entendesse o sarcasmo. – Intrigante um bruxo do bem ter recomendações sobre uma investida de comensais da morte, desaprovação seria uma palavra mais apropriada.
Dumbledore ignorou a fala do mestre em poções.
– Antes mesmo de comunicar a Ordem da Fênix eu vim pessoalmente aqui, há um pormenor na sua investida desta noite que, creio eu, você desconhece. – O tom era sério e Severo deixou de lado o sarcasmo para ouvir mais atentamente. – Por razões óbvias, manteremos Harry isolado dos fatos que vem acontecendo na comunidade bruxa, além disto, me preocupa muito o fato de Pedro Pettrigrew ter convivido com as crianças, durantes alguns anos da escola.
– Já Conversamos sobre esse fato e informei que qualquer observação feita por aquele rato, no que diz respeito aos alunos de Hogwarts, será tratada como prioridade. – Respondeu Severo.
Dumbledore continuou fala como se nenhuma frase tivesse sido dita por Severo.
– Isso me levou a constatação de que ele presenciou tudo sobre o laço afetivo de Harry e seus amigos.
Severo só ouviu, queria muito saber o que diabos isso tinha a ver com sua missão, mas não interromperia mais o Diretor ou ele mesmo se atrasaria para a chave de portal.
– Se bem me recordo, durante o período letivo passado, a srta Granger iniciou uma amizade com o Sr Krum. Fato esse que inclusive ocasionou a participação dela na segunda tarefa do Torneio Tribruxo, correto?
– Correto. – A voz de Severo continha um desagrado maior que o natural.
– Também me recordo que nosso querido Dobby, nos informou sobre a conversa dos dois ao final do fatídico ano letivo. – Severo nada falou, lembrava-se bem da informação trazida pelo elfo na última reunião do colegiado de Hogwarts e a sensação que sentiu ao ouvir o que Dobby falou, continuava lhe desagradando. – Uma visita a Durmstrang.
– Eu acredito que a srta Granger deva estar preocupada com o bem estar do seu querido amigo Potter e não esteja pensando em visitas amorosas. – Tentou soar o mais displicente possível, esperando que Dumbledore encerrasse o assunto.
– De fato Severo, ela respondeu minha carta sobre a proibição de passar informações para o Harry enumerando sessenta e cinco motivos para não escondermos nada dele, mas concordou em não informá-lo de nada. Ambos sabemos bem o quanto a senhorita Granger é leal a seus amigos e que ela consigo uma carga de preocupação para com eles quase que maternal.
Severo o observou calado.
– Acontece, – prosseguiu o Diretor – que pessoas que possuem esse tipo de comportamento costumam prezar seus amigos independentemente do tempo em que os conhece, ou, da reciprocidade desse sentimento de amizade. – Dumbledore fez uma pausa longa demais e lançou um olhar reprovador ao mestre em poções que desviou o olhar para a lareira vazia. – O fato é que uma das informações que recebi esta manhã trouxe ao meu conhecimento que os pais da senhorita Granger estão registrados em um charmoso hotel da capital Sófia. E, corajosa como uma boa grifinória, tendo recebido um convite de um querido amigo, somado a preocupação por ele ter sido um dos campeões atacados no Torneio, aposto alguns torrões de açúcar com você, de que a senhorita Granger foi fazer uma visita ao querido amigo.
Severo cerrou o punho, o peso daquelas palavras lhe alcançando com tamanha rapidez que Dumbledore com certeza constatou a mudança em seu rosto.
– Só estamos há uma semana desde o fim do Torneio e muito me admira trouxas planejarem viagens tão rapidamente assim. – soltou um muxoxo impaciente.
Dumbledore o olhou por cima dos oclinhos e Severo continuou voltou a contemplar a lareira tentando controlar uma raiva latente.
– Quero lhe pedir que você verifique se a família Granger está segura, e apanhe a senhorita Granger. Molly os aguarda até o fim do dia, na sede da Ordem da Fênix. Com sorte, ela estará na companhia dos pais curtindo as férias.
Severo respirou fundo. – Eu torço profundamente para que a senhorita Granger esteja com os pais. – Havia um misto de preocupação e cansaço na sua voz. – A missão conta com dois aspirantes a idiotas e eles farão qualquer coisa para levar um precioso presente para o Lorde das Trevas, e qualquer coisa que atinja Potter, se enquadra nessa categoria.
– Por esse motivo, você é a pessoa mais preparada para impedi-los Severo. Confio em você – Dumbledore despediu-se com um aceno de cabeça e chamas verde esmeraldas irromperam da lareira quando ele se foi.
Severo consultou o relógio no bolso das vestes, teria exatos 30 minutos na capital antes de encontrar o grupo de comensais na vila. Apressou-se e assim que estava a distância dos feitiços de proteção do chalé, aparatou e desaparatou exatamente no centro do Quadrado da Tolerância*. Pegou a rua lateral da Sinagoga e quase chegava ao hotel quando o casal Granger descia a rua sorridente com uma câmera fotográfica à mão. O seu olhar cruzou com o da Sra Granger e ela sorriu para ele, mostrando-o ao sr Granger.
– Professor, que surpresa! – O sr Granger estendeu a mão e cumprimentou-o, forçando Snape a esboçar um sorriso, ele falhou terrivelmente.
– Sr e Sra Granger, que agradável surpresa. Não é muito comum a preferência do turismo de férias pelo leste europeu. – Respondeu ele esperando que isso puxasse o gancho para a conserva a seguir.
– Esse é o bônus de ter uma filha quase pesquisadora, sugestão dela esse roteiro. – A senhora Granger respondeu animada, ao mesmo tempo em que virava-se para fotografar uma borboleta que passava à sua direita.
– Uma curiosa e excelente escolha. – observou o professor – E onde exatamente se encontra essa excêntrica pesquisadora de roteiros? – Tentou soar divertido, repetindo as palavras da mãe de Hermione e torcendo para que eles não percebessem a impaciência em sua voz.
– A Hermione foi visitar um amigo em vilarejo próximo, volta mais tarde. – respondeu o sr. Granger – Ela comentou que havia uma escola bruxa aqui na Bulgária e que seria incrível conhecê-la, tentamos até ir junto, mas ela disse que não conseguiríamos entrar, trouxas sabe. – ele apontou a si próprio e a mulher que ainda buscava por fotos da borboleta.
– Ah sim, Durmstrang, uma excelente escola. Coincidentemente estou com um horário marcado lá neste momento, assuntos acadêmicos. – estendeu a mão e cumprimentou a ambos. – Prazer em revê-los, aproveitem a estadia. Se cruzar com a srta direi que os vi, – Severo seguiu rua acima enquanto os Granger foram pelo lado oposto da rua.
No instante que se despediu deles, Snape praguejou alto, porque uma simples missão de busca por aliados a centenas de quilômetros de distância de Hogwarts não podia ser tranquila? Porque diabos tinha que ter envolvimento de alunos seus em algo tão fora do ambiente escolar? Checou o relógio novamente e agora tinha menos de dez minutos até encontrar o grupo. Aparatou direto na entrada do vilarejo e se encaminhou para o centro da praça. Mais a esquerda do coreto onde um coral ensaiava, um grupinho de bruxos conversava e Severo se dirigiu até eles, os garotos pararam o assunto quando perceberam sua aproximação.
– Procuro Vitor Krum. – Severo prontamente falou.
– Eu acredito que ele estará indisponível por algumas horas. – Um deles respondeu enquanto os outros se entreolharam e sorriram.
A expressão de Severo Snape passou de impassível para furiosa em questão de segundos e um dos garotos estremeceu. – Na casa de chás. Ele costuma ir muito lá. – respondeu apressadamente evitando o olhar enfurecido de Snape.
Severo contornou o coreto e seguiu para o chalé identificado como casa de chá, passava da primeira fileira de casas quando estacou e se escondeu nas sombras de uma delas. Um casal se abraçava exatamente na frente da calçada do seu destino, reconheceu imediatamente a cabeleira inconfundível de Hermione, soltou um palavrão baixinho. Chegara tarde, agora teria que contar com a sorte para que os comensais jovens não aprontassem bobagens ou pior para que nenhum deles esbarrasse com ela e a reconhecesse.
Seguiu para o ponto de encontro dos comensais atento a tudo a sua volta. Duas casas de influenciadores bruxos locais seriam visitadas no próprio vilarejo deixando a visita na escola para o final do dia, numa clara intenção de intimidação. Avery e Nott concordaram em deixar que ele usasse sua fama de mestre de poções em Hogwarts para ter acesso à escola e conversar com os professores mais simpáticos a causa. Essa opção agora não lhe parecia tão boa, visto que Granger ainda estaria na vila, a mercê de dois dos mais cruéis comensais da morte e seus aprendizes enquanto ele estaria no castelo. Precisava de um plano B, e rápido.
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Hermione viu com horror a estrada desaparecer da sua vista enquanto era arrastada pelo bosque, não conseguia gritar, o comensal usou um feitiço para silenciá-la e agora mantinha um aperto em seu pescoço que a sufocava e a fazia quase perder os sentidos pela falta de ar. Seu desespero aumentando a cada passo que era forçada a dar bosque adentro e somente quando a constatação de que estava perdida lhe atingiu, ela começou um embate corporal para forçar o comensal a soltá-la.
Reuniu todas as forças que sua adrenalina jogou em sua corrente sanguínea e acertou uma cotovelada no diafragma do agressor, pego de surpresa ele afrouxou o aperto e ágil, Hermione escapou.
Não conseguiu correr mais que cinco passos e o feitiço da perna presa a derrubou. Em reflexo a investida, puxou a própria varinha e lançou o Expeliarmos antes que o comensal lhe lançasse mais alguma maldição. A varinha dele voou direto para a mão de Hermione e ela conseguiu soltar as amarras da perna. Levantou-se num ímpeto e correu na direção de onde vieram, buscando alcançar a estrada mais uma vez. Com ele em seu encalço, Hermione tinha certeza que desviara da rota para a estrada, mas o medo de ser alcançada só a impulsionava para correr o mais rápido que pudesse, ziguezagueando entre as árvores na esperança que ele não a alcançasse. Em vão, no instante seguinte ela sentiu o peso dele sobre si derrubando-a de encontro ao chão, sua cabeça fazendo um barulho estranho quando encontrou o chão de terra e cegando-a por uns instantes, ao mesmo tempo um líquido quente escorreu pela lateral de seu rosto. Sentiu as varinhas serem arrancadas de sua mão e foi obrigada com violência a ficar em pé quando ele a puxou com um solavanco, a cabeça doeu vertiginosamente e a fez estremecer.
– O que estava pensando sua idiota? – vociferou um garoto, sim, um garoto não tão mais velho que ela própria, apontando sua varinha para ela. O medo a consumiu e ela não conseguiu esboçar nenhuma reação, soltou um soluço involuntário.
Ele riu. – Quer chorar de verdade belezura?
Hermione tentou libertar-se do aperto em seu braço, ele impôs mais força ainda.
– Não vai fugir de novo, preciso de uma cobaia para a maldição que tenho treinado e você será uma isca perfeita, andando, vai! – Ele a puxou pelo cabelo, compelindo-a a ir andando na frente, pressionando a todo momento a varinha em suas costas.
A cabeça de Hermione latejava tanto que ela via estrelas cada vez que forçava-se a dar um passo, suas mãos tremiam e o sangue no seu rosto ainda escorria. Não conseguia mais pensar em absolutamente nada para escapar daquela situação, seu coração estava tão acelerado que ela conseguia ouvir batida por batida em seus ouvidos.
Antes de surgir a uma clareira no meio do bosque o comensal atrás de si deu um sorriso irônico. - Diversão!
Bem no meio dela, uma cabana que parecia construída de pedras se destacava do verde das árvores. Ali era tão afastada de tudo que Hermione estremeceu imaginando o que a esperava. Quando alcançaram o primeiro degrau de acesso a ela, vozes puderam ser ouvidas. Eram palavras agressivas, uma discussão. Um som alto de pancada, seguido pela batida de uma porta ainda foram ouvidos antes que Hermione fosse empurrada para dentro do recinto. Um cheiro forte de álcool atinge suas narinas e ela tenta adaptar seus olhos ao ambiente escuro.
– Que lixo é esse? - Outro bruxo tão ou mais jovem que o primeiro se aproxima de Hermione, ela se encolheu mais ainda junto à parede, mas ele puxa seu queixo para obrigá-la encará-lo, um olhar gélido e cruel examinando-a curioso.
– Estava fugindo pelo bosque, então pensei, já que teremos que esperar o “chefe”, podíamos nos divertir. – respondeu o captor de Hermione.
– Não tinha nenhuma mais bonita? – falou novamente o comensal, empurrando-a de volta ao canto escuro.
– Não precisa de beleza para ser uma boneca de treino de maldições. – Devolveu o primeiro.
– Vocês ficarão em maus lençóis quando o “chefe” voltar. – Falou uma terceira voz mais grave – Ele se orgulha das missões limpas e vocês estão ferrando com tudo.
– Não tem porque ele saber, antes disso consigo acertar um Avada Kedrava que dará inveja a qualquer um. – ele sorriu de um jeito tão esquisito que o dono da terceira voz o olhou com impaciência. – Pros fundos, vamos! – Ele colocou Hermione de pé e saiu empurrando-a para a parte de trás da cabana.
Já do lado de fora, os dois comensais jovens, riram quando um deles a jogou de encontro a grama do quintal. Hermione suava e tremia, a mente inebriada de pavor e milhões de pensamentos de morte invadindo sua cabeça e seus pés não ajudavam, eles simplesmente recusavam-se a sustentar o peso do seu corpo. As batidas do coração de Hermione se intensificaram ainda mais. Uma boneca de treinos? Então seria assim que acabaria sua vida?
– Ei, belezinha! Vamos começar a festa! – E desferiu o primeiro feitiço.
Hermione se contorceu em dor, não tinha ouvido as palavras proferidas e não sabia qual feitiço tinha lhe atingido, mas a dor que ele gerou em seu corpo era alucinante e indescritível. Sentia seu corpo inteiro tremer e se contorcer involuntariamente, sua cabeça girar e uma ânsia de vômito subir por sua garganta. Esse feitiço durou exatos 10 segundos, para ela no entanto, durou horas a fio.
Os comensais riram.
Quando o feitiço terminou, ela tremia incontrolavelmente, suava e estava completamente gelada, não deu tempo de se recuperar e já sentiu o golpe do segundo feitiço. Sentiu a própria mente escurecer, a dor agora em um nível mais absurdo e tão insuportável que um desejo de morte invadiu-a, implorando para livrar-lhe daquele tormento. Não percebeu, mas o instinto de sobrevivência lhe fez começar a rastejar, embora não conseguisse mover mais que um centímetro de cada músculo, tamanha a dor que sentia. Estrelas apareceram na escuridão de seus olhos e estava prestes a perder os sentidos quando uma voz estrondosa proferiu o protego.
O feitiço escudo foi tão poderoso que os dois comensais caíram de costas no chão, levantando-se em seguida e baixando a cabeça para a figura escura a frente deles. Hermione ouviu a mesma voz do feitiço expulsando-os dali com uma indecorosa ameaça de morte e a promessa de uma punição severa. Ela tentou levantar a cabeça para identificar seu salvador, não conseguiu, só piorou ainda mais a dor alucinante que vibrava em seu peito. Um gemido saiu de seus lábios antes que pudesse controlar. A figura negra se aproximou dela e abaixou-se checando seu pulso, o capuz ainda cobria-lhe parcialmente o rosto e sua visão embaçada não o reconheceu de imediato, mas o tom de voz duro e preocupado quando ele falou, encheu seu coração de alívio, era o professor Snape.
– Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Ele apertou seu pulso mais firmemente enquanto tirava de dentro das vestes um frasco pequeno, destampou e fez com que ela tomasse dois goles.
– Meus pais, eles… – A cabeça dela girou mais forte bem no local da pancada que levou no bosque, a poção tinha diminuído consideravelmente as dores em seu corpo, mas ainda não conseguia encontrar forças suficientes para levantar.
– Quieta. – Disse ele – Hora de ser cuidadosa senhorita Granger.
Ouviram passos vindo da casa e Severo colocou-se de pé, arrastando-a com si próprio. – Cabeça abaixada e calada – Sussurrou para ela.
– O que aconteceu aqui? – Perguntou uma voz feminina que Hermione ainda não ouvira aquela noite.
– Aconteceu exatamente o que previ quando você sugeriu trazer dois inúteis a tiracolo. - O tom dele era monótono, exatamente o mesmo tom que usava quase quando dava explicações sobre os ingredientes nas aulas de poções.
– E essa daí? – Disse ela aproximando-se.
– Essa? – Disse ele baixando o tom a um sussurro quase mortal. – É a sujeira deles.
A mulher deu mais dois passos em direção a eles, Hermione estremeceu. Snape pousou a mão no ombro dela, empurrando-a delicadamente para trás dele e colocando-se entre as duas.
– É bruxa? – Insistiu a mulher.
– Para a forma como trataram-na, provavelmente sangue ruim. Agora, – sibilou ele – você vai pegar os seus apadrinhados e ir explicar ao Lorde das Trevas o porquê de ambos não terem cumprido a discrição solicitada.
A mulher soltou algo parecido com um lamento. – Devíamos vir todos, você é o líder e…
– Eu falei agora. - Interrompeu ele – Ou vocês três vão se juntar a ela numa cova rasa.
Hermione ouviu a mulher se afastar e a porta bater em seguida. Soltou a respiração que sequer havia se dado conta que estava prendendo. Levou a mão até a lateral do rosto onde o sangue tinha endurecido e grudado seu cabelo. Sua visão ainda falhando terrivelmente e a respiração entrecortada. Apoiou o peso sobre ele, que delicadamente apoiou-a em seu braço esquerdo. Ouviu ele murmurar um feitiço e lembrou vagamente que leu sobre feitiços de camuflagem que tinham aquela pronúncia.
– Só preciso que você aguente um pouco mais. – Ele lhe disse antes de a colocar no colo e aparatarem.
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N/A: São anos e anos parada, sem inspiração e eu bem sei que nenhum pedido de desculpas justificará esse abandono. Mas estou aqui para dizer que vocês precisam de um final e eu também. Durante todo esse tempo, esteve em meu coração esse desejo de estar de volta. Espero que me perdoem e me acompanhem até o fim, merecemos isso. Obrigada. Com carinho, Sú.
Este capítulo inicia a jornada do quinto livro, Ordem da Fênix. A boa notícia é que há uma frente boa de capítulos e que as atualizações semanais estarão garantidas por um bom tempo.
Referências:
1 - Barba Marta é uma figura folclórica da Bulgária, uma senhora temperamental e nesse dia todos querem fazê-la feliz, para que Barba Marta leve o inverno embora, trazendo a primavera com saúde, felicidade, prosperidade e fertilidade.
2 – O Quadrado da Tolerância tem este nome porque em apenas um quarteirão há uma igreja ortodoxa, uma igreja católica, uma sinagoga e uma mesquita, provando que é possível a convivência de todas as crenças em harmonia :)
3 - Fontes sobre a Bulgária: http://www.infoescola.com/geografia/geografia-da-bulgaria/
4 - Airian – Iogurte e água, bebida típica não-alcóolica do verão búlgaro.
Comentários (1)
Não consigo descrever minha felicidade em ter você de volta escrevendo essa fic maravilhosa! Com toda certeza vou lê-la do início para lembrar da história toda e estou ansiosa pelo desfecho!
2019-02-01