N'A Toca
A suave luminosidade cinza daquela manha de julho entrava sorrateiramente pela janela do quarto onde Harry estava. Aquela manhã gelada fez a Toca parecer subitamente estranha e sombria. Algo que parecia impossível para Harry. Todos ainda dormiam e o silêncio era entrecortado por rajadas de vento. Uma sensação estranha tomou conta dele, como se devesse ficar alerta… como se o perigo rondasse. O que foi confirmado por uma pontada de dor que percorreu sua cicatriz.
Ele não pensou duas vezes, e usando sua capa de invisibilidade, verificou todos os quartos cautelosamente. O primeiro foi o do Rony. Ele dormia tranqüilamente enquanto abraçava o travesseiro. Depois foi o de Gina, ela parecia tão serena, que Harry andou o máximo de cuidado para não acorda-la. Hermione estava com ela, e também parecia dormir. O ultimo corredor era o quarto dos pais do Rony, e lá tudo parecia igualmente normal.
Mesmo após sua busca infrutífera, o garoto não estava tranqüilo. Ao contrário, ele sabia que algo ruim aconteceria em breve.
Quando Harry voltava pelo corredor mal iluminado, a única coisa que se movia na casa era Bichento, que corria atrás de um dos muitos ratos da Toca. Harry voltou para a cama e acordou com o pio de Edwiges, horas depois. E ao seu lado estavam Rony, Hermione e Gina, mas nenhum dialogo dos quatro conseguiu evoluir mais de um minuto.
Para o almoço estavam Harry, Hermione e os Weasley, menos Percy. O almoço teria sido a mesma festa de sempre, mas todos só falavam o necessário com Harry pois ele não pedira desculpas a Gina pelas ofensas, apesar dela já lhe ter pedido desculpas pelo soco que ele mereceu.
Harry estava se sentindo tão mal, que não conseguiu comer o delicioso frango que a Sra Weasley preparou. Resolveu ir passear no jardim, precisava de ar puro. Depois de meia hora de caminhada, Harry só havia chegado a uma conclusão; deveria pedir desculpas a Gina o mais rápido possível, mas antes de terminar o pensamento um aroma floral penetrou nas narinas de Harry: Gina estava por perto e essa era a hora de se desculpar.
Harry seguiu o aroma e encontrou Gina na colina onde Harry, Rony, Gina e Mione costumavam jogar quadribol.
- Gina -- começou Harry, que não sabia o que falar -- me desculpa…
- Pelas coisas idiotas e erradas que você me falou no dia do enterro do Dumbledore? -- Gina terminou a frase por Harry
- É, mais ou menos… -- Harry gostaria de que a Felix Felicius não tivesse acabado naquela noite, pois ele não sabia o que fazer ou falar -- e também pela forma estúpida que eu venho te tratando desde que saiu a foto do beijo de você e do Dino.
- Sei…, o culpado é o dragão adormecido dentro de você, e que agora acordou? -- questionou Gina
- Era o que eu ia falar…, na verdade eu não sei o que dizer -- Harry achou melhor falar a verdade por que ele não sabia o que dizer.
- Eu sei disso, a Hermione disse que você faria algo parecido -- Gina também resolveu falar a verdade.
- A Hermione sempre sabe tudo... -- foi a única coisa em que Harry conseguiu pensar.
- Vamos passear, eu sei que você já conhece todo o jardim, mas eu já estou cansada de ficar sentada… -- convidou Gina.
- E eu de ficar em pé como uma estátua -- comentou Harry
- Harry, você pretende me contar por que esta com esta cara? -- disse ela, parando abruptamente.
- Não é nada…
- Nada? Como pretende que eu acredite, se você mesmo não o faz?
- Acho que é a ameaça constante que paira sobre todos nós. Sinto que deveria fazer alguma coisa em vez de ficar parado aqui.
- O que você poderia fazer?
- Algo para ajudar… as pessoas acreditam que eu devo derrotar Voldemort! Elas querem que eu acabe com tudo isso. Elas esperam mais de mim do que ficar aqui de férias, de braços cruzados enquanto a guerra se forma!
- E você por acaso pretende sair por aí procurando o Lord das Trevas, que você nem sabe onde está? Harry, você não conhece o exercito dele, ou suas armas. Eles provocaram grandes estragos até agora. Mataram muita gente e podem estar aliados aos gigantes! A menos que você queira morrer esmagado por um, acho que não é a hora de agir!
- E quando será? Quando, Gina?
- Você -- e pousando a mão no ombro do garoto, continuou -- saberá quando chegar a hora.
- Mas Dumbledore morreu acreditando que eu destruiria Voldemort… eu não posso simplesmente deixar que sua morte tenha sido em vão! Eu… eu tenho que destruir as Horcruxes.
- Como você vai fazer isso?
Harry não respondeu, mas uma idéia já se formara em sua mente: “Bem, não é muito,… mas já é um começo…” Pensou confiante.
***
A manhã ensolarada inundava A Toca. O dia ia ser perfeito!Harry podia sentir a velha alegria do lugar voltando à tona. Ele ouvia o som de panelas e vozes vários andares abaixo. ‘A Sra. Weasley começou cedo com os preparativos…’ pensou Harry enquanto se vestia para descer os cinco lances de escada que o separavam da cozinha. Ele poderia facilmente aparatar, porém ele ainda não esquecera de quão desconfortável isso era. Por enquanto, preferia descer como um “trouxa”.
Quando o garoto entrou na cozinha, não a reconheceu. A peça parecia ainda menor do que de costume, e a mesa estava coberta com todos os mais variados pratos. Enquanto Harry olhava admirado para tanta comida, a Sra. Weasley batia freneticamente as panelas preparando mais e mais comida.
Uma cabeleira ruiva passou ao lado de Harry. Era Gina, que mesma suja de farinha parecia linda.
- Não se assuste com a quantidade de comida, Harry. -- E ele desviou o olhar da mesa, mesmo com o estômago roncando.
- Nossa família é maior do que você imagina. E ainda devemos esperar muita gente! -- Gina não parava para conversar, ela carregava bandejas e colocava lenha no fogo ao mesmo tempo em que olhava os livros de receitas.
- Er… precisam de ajuda? -- Harry timidamente perguntou
- Claro que não, querido? -- Respondeu a Sra. Weasley emergindo em meio a um monte de pratos.
- Onde está Mione? -- Ele se perguntava porque ela não estava ajudando na cozinha.
- Ela está no jardim, ajudando com a decoração! -- Veio a voz abafada da Sra. Weasley detrás da pilha de pratos
- E o Rony? -- Perguntou Gina
- O que você acha?
- Dormindo, é claro! -- Gina voltou à seus afazeres, enquanto Harry se encaminhava para o jardim banhado de sol
A luz da rua quase segou Harry. Ele percebeu que não tinha acordado até aquele momento. Aos poucos as imagens tomaram forma e ele viu o extenso gramado ser substituído por uma superfície lisa e brilhante e trepadeiras enroscavam-se graciosamente sobre arcos de madeira enfileirados. Harry sabia que o trabalho seria duro e intenso naquele dia. Ainda havia muito para ser feito, e Hermione parecia estar ciente disso também. Ela movia sua varinha em um ritmo alucinante, e sem pronunciar palavra, fazia coisas voarem pelos ares, flores crescerem, cadeiras aparecerem, e assim por diante. Junto com ela estavam Fred e Jorge. E os dois trabalhavam incansavelmente como a garota. O tempo gasto na loja havia se mostrado valioso, eles criavam efeitos mirabolantes em canto do lugar, além dos testes com os fogos que seriam estourados mais tarde.
Harry parecia estar sobrando ali também, então decidiu voltar e acordar Rony. ‘Se é para me sentir perdido, que pelo menos não seja sozinho’.
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