Opposé
Ao final do ano Bellatrix, que recentemente atingira a maioridade, se casou com Rodolfo Lestrange. Hoje sei que a interpretação de felicidade dela não foi nada ruim, mas que também não foi das melhores. Creio que sedução era seu esporte favoito, afinal, não escondia o gosto por ter inúmeros admiradores. Lestrange era ciumento e apático, o que o fazia extremamente oposto à Bella, de quem se podia sentir a energia que emanava. Ela viria a encontrar, porém, um bom aliado na ambição pelo poder e no serviço ao Lorde das Trevas.
Lucius já não me parecia tão principesco nem tão brilhante como nos anos anteriores. Creio que era apenas minha impressão que assim o via, me encontrava muito mais confiante, apreciando as cortesias a mim dirigidas em razão de meu desempenho escolar e do meu crescimento. Decerto isso refletia em meu exterior. Troquei algumas corriqueiras e desinteressantes palavras com meu noivo durante as reuniões familiares e, embora já não me causasse tanto impacto como dantes, não me passava despercebida sua bela aparência, que se acentuara com o passar do tempo.
Naquelas férias esperei ansiosamente pela volta às aulas e, tendo chegado a Hogwarts, encontrei Nimue tão saudosa quanto eu. Obviamente nossa amizade se aprofundava e o que de início era apenas por motivos experimentais, tornou-se deliciosa rotina. Sempre que nos víamos sozinhas permitiamo-nos dar vazão às sensações reprimidas - agora já sem o constrangimento dantes.
O quarto ano em Hogwarts era aguardado com ansiedade pelas garotas e com um certo receio pelos nossos pares. Era o ano em que finalmente poderíamos participar do Baile de Inverno... Eu sonhava com aquele evento desde que escutara as histórias de Bella sobre como havia sido no ano em que ela esteve presente. Mas conforme os anos foram passando, chegaram aqueles últimos meses e finalmente o baile daquele ano veio sem causar-me a euforia que a espera por ele causara. Mal o evento me foi anunciado recebi uma carta de mamãe dizendo que Lucius seria meu acompanhante e que logo me enviaria o traje que deveria usar. Aquilo não me fazia nem mais feliz nem mais triste, apenas uma enorme indiferença havia em mim, contrastando enormemente com o entusiasmo das outras garotas, que cochichavam entre risinhos sobre seus pretensos pares e a súbita incapacidade dos garotos em olhá-las no rosto. Meu noivo também não parecia afetado pela expectativa do evento, decerto recebera semelhante correspondência.
Nimue estava ansiosíssima, como todas as outras fantasiava o que ocorreria no baile, especulava quem seria seu parceiro e o que se passaria quando estivessem juntos. O entusiasmo de minha amiga fez-se sentir em mim como a aguda mordedura de um Vorme Prateado - uma fria lâmina perpassava vagarosamente meu coração. Porque tinha ela a necessidade de provar os beijos de um garoto? Acaso não eram bom nossos momentos? Não eram doces os meus lábios, quentes os meus beijos e aconchegantes os meus braços? Senti-me machucada e abatida por várias semanas, nas quais tudo fiz para esconder o que se passava dentro de mim - e digo que fui bem sucedida, apesar de Nimue tê-lo notado. Dificilmente não notaria, apesar de tudo éramos extremamente ligadas. Não lhe disse o motivo e ela convenceu-se de que era apenas parte de meu ciclo hormonal com mais facilidade do que eu esperava - a bruma masculina anuviava-lhe a mente sem tréguas.
Logo meu vestido chegou pelo correio coruja. Era de um tecido leve e brilhante num belo tom de neve. Um modelo simples, tomara que caia com as costas descobertas, a saia abria delicadamente em direção aos pés. A simplicidade do traje seria compensada por um detalhadíssimo colar de prata e diamantes que cobria boa parte do colo com trabalhos em estilo barroco. Os brincos, o pequeno diadema e a pulseira completavam o conjunto no mesmo estilo. Aquilo me animou bastante e estaria ocupada até a noite do baile com dilemas estéticos. Chegado o momento, estava tão ansiosa que nem ao menos vi Nimue.
Me dirigi ao salão com um aperto no peito. Tomava todo cuidado para que cada mínimo detalhe se mantivesse no lugar. Finalmente encontrei Lucius. Creio que me sobressaltei frente àquela imagem. Ele era perfeito, num fraque totalmente negro, os longos cabelos presos por uma fita de veludo, emoldurando de prata o rosto magnificamente pálido. Obviamente não deixei que ele notasse minha impressão.
Ele me tomou cordialmente pelo braço e logo estávamos deslizando em floreios ao som da valsa. Meu par emanava um olor quente e amadeirado com aquele toque pessoal e inexplicável que as pessoas têm. Aquele perfume me inebriava, me fazia sentir leve e distante, o calor mexia com todos os meus sentidos e sensações, garantindo-me uma deliciosa lassidão acompanhada de uma estranha ausência mental. Quando dei por mim respirava pesadamente e havia me aproximado dele mais do que tencionava.
Malfoy demonstrava conhecer aquele tipo de situação, pois então deixava seu rosto tocar-me a nuca, fazendo-me sentir sua respiração na pele e o macio roçar dos fios preciosos que pendiam de sua bela fronte. Sentia-me tão excitada - e naquela ocasião eu já o sabia - quanto como quando eu estava com Nimue. Lucius era deveras experiente, e eu, novata no assunto, deixava transparecer claramente minhas sensações.
Terminada a dança, deixei-me conduzir aos jardins quase automaticamente. Rodeada pelas plantas que refletiam a argêntea luz da Lua, uma brisa fria que amainava a febre que dominava meu ser. Num clima de sonhos, fui tomada por braços fortes, envolvida por um perfume quente, embalada por um olhar melodioso, tocada por uma voz pesada e macia num turbilhão de confusas sensações que culminou num beijo , transfigurando-me em partícula ígnea de tudo, voando livre pelo todo, atingindo a velocidade da luz, tornando-me energia e voltando a ser animal mortal, frágil, submisso ao olhar daquele que agora renascia em minha vida.
Naquela noite, deixei-me estar entre braços e lábios numa experiência diversa das outras... Daquelas que tive com minha companheira... Era algo mais pesado, mais firme... Talvez fossem os sentimentos diferentes que deixavem os dois quadros com nuances desiguais...
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