IV
Duas crianças deitadas na relva alta de uma colina, observavam a abóboda celeste exibir sua infinitude estrelar. O vento soprava levemente, produzindo um assobio fantasmagórico, entremeado pelo canto dos seres notívagos.
O garotinho bocejou e apertou a mão de sua pequena companheira:
- Olhe lá - ele disse - Aquela estrela ali... sabe quem é?
- Não - a outra respondeu, esboçando um mínimo de curiosidade.
- É você - explicou o menino, lampreiro - E aquela outra ali sou eu!
A menininha nada disse, apenas suspirou e piscou os olhos sombrios, de longas pestanas caídas. O menininho insistiu:
- Cada um de nós é uma estrela... E as nossas estão entre as mais brilhantes, sabia?
- É claro que eu sei - ela falou de repente - e aposto que você sabe o que acontece quando morremos.
- O que? - o garoto virou o rosto, para encará-la.
A menina também virou o rosto. Os narizes de ambos estavam quase colados de tão próximos. Ela sussurrou, como se não quisesse que os grilos entreouvissem a conversa:
- Elas se apagam... E caem.
O menino piscou duas vezes antes de voltar a olhar o céu e murmurar uma resposta.
- Duvido.
Cabelos negros, outrora lustrosos como a noite serena, passaram esvoaçando por duas portas. A dona dos cabelos, uma mulher de porte tão altivo quanto arrogante, muito absorta estava com assuntos mundanos e obscuros, que nem notou a raridade da noite sobre ela.
Se tivesse olhado para o céu, um segundo que fosse, notaria que certa suposição, algo sobre apagar e cair, estava errado. A mais brilhante daquelas luzinhas suspensas irradiava como jamais...
FIM
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