Dia de Neve
(Beautiful Day, U2)
“My only home was in your soul
-- Meu único lar era em sua alma --”
(Kid Rock)
O feriado de natal havia acabado, e à medida que os estudantes chegavam, os jardins de Hogwarts eram novamente ocupados.
Ainda era de manhã, e os marotos, que não haviam chegado há muito tempo, logo escolheram uma árvore que projetava uma grande sombra, e sentaram-se perto dela. Conversavam sobre como foi o feriado de cada um e discutiam sobre times de Quadribol, animados e distraídos.
Era um dia muito bonito, apesar do frio do inverno que pairava em Hogwarts, com o sol brilhando imponente e deixando que seus raios refletissem no extenso jardim de Hogwarts, quando pelas escadas de pedra do enorme castelo, apareceram três meninas risonhas, que haviam acabado de ajeitar suas coisas no dormitório feminino. Foi então, que ele a viu; ela passou por um trecho do jardim iluminado pelo sol, e seus raios pareceram refletir e clarear a silhueta dela, fazendo com que o maroto espremesse os olhos diante daquela claridade, e quase o impedindo de vê-la. Ela foi se aproximando aos poucos, com as amigas, até alcançar a sombra projetada pela árvore em que os marotos se encontravam. Não se viam desde o feriado de natal, e ela parecia mais bonita do que nunca. Abaixou-se para dar um abraço em Tiago, que estava ao seu lado, e seus cabelos lisos com pequenas ondulações nas pontas balançaram perto dele, emanando um perfume forte e adocicado, exatamente como ela. Parecia ser uma mistura única de diversas fragrâncias, que enquanto nela caía com perfeição, provavelmente qualquer outra que tentasse usá-la, ficaria péssimo.
Ashley estava muito bronzeada do sol que pegara durante a viagem que havia feito no feriado, quando foi para um país na América do Sul, onde o verão era muito intenso. Seus cabelos, antes muito negros, agora possuíam várias mechas douradas que, junto com sua pele morena, contrastavam mais do que nunca com aqueles olhos brilhantes e azuis, que agora pareciam ligeiramente mais claros. Sirius continuou observando-a, maravilhado... Ash estava simplesmente linda.
- Olá! – ela exclamou, encarando-o pela primeira vez em dias.
Aproximou-se calmamente dele e beijou-lhe no rosto. Ao toque daqueles lábios avermelhados em sua pele, Sirius, então, pareceu despertar, deixando que seu costumeiro ar maroto se apossasse novamente dele. Levantou-se em pulo, e cumprimentou também Lílian e Melissa.
- Vamos comer logo? – Sirius pediu, arrastando os amigos pelo jardim. – Minha barriga implora por comida!
- Você e o Pedro deveriam ser considerados almas gêmeas, sabia?! – comentou Mel, divertida, no que todos riram e o maroto fez uma careta de nojo.
- Falando no Pedroca... – Ashley, com sua mania de colocar apelidos em todos, começou, olhando para o amigo. – E aquela sonserina que você tentou se aproximar na festa de Halloween, hein?!
- Bem... – disse Pedro, meio sem jeito. – Acho que ela não gosta muito de mim.
- O quê?! – Ash exclamou, com um olhar indignado. – Pode me apontar essa menina, que vou bater um papinho com ela e...
- Não! – Pedro a interrompeu. – Obrigada, Ash, mas eu prefiro conquistá-la sozinho.
- É isso aí, garanhão! – exclamou Tiago, de um jeito brincalhão, dando tapas nas costas do amigo.
Os sete continuaram caminhando pelos jardins, até chegarem ao Salão Principal. Tudo parecia normal, como se não tivessem mexido em nada desde que deixaram o castelo para passar o feriado com a família. A sensação de retornar àquele confortante castelo era, sem dúvida, maravilhosa, mesmo com eles tendo passado pouco tempo fora.
Os grifinórios, então, foram se encaminhando para a grande mesa de sua respectiva casa, e sentaram-se para tomar o café da manhã. Foi divulgado um passeio para Hogsmead, que aconteceria dali a cerca de 1 mês, e um clima de excitação se espalhou por todos os alunos. Mas um, em particular, parecia estar momentaneamente alheio àquilo tudo, como se nem percebesse o que estava acontecendo a sua volta, como se seus pensamentos estivessem a quilômetros dali.
- Six, está tudo bem? – Ashley, que percebeu o olhar fora de foco do amigo, perguntou.
Sirius, por sua vez, apenas assentiu, ainda calado. A menina estranhou o jeito atípico do maroto, já que ele raramente ficava quieto ou aéreo ao que os outros conversavam. Supôs, então, que algo o afligia, mas preferiu não insistir no assunto – pelo menos naquele momento.
- Qualquer coisa, pode desabafar comigo, ok? – ela disse, por fim, afagando levemente os cabelos negros de Sirius, no que ele piscou com seu jeito maroto.
Ashley, então, percebeu Remo olhando algo por trás dela e chamando a atenção de Tiago e Pedro, para que eles olhassem também. Quando a morena se virou para descobrir o que era, viu uma carta vermelha, inicialmente com o ar inofensivo, indo na direção da grande mesa da Sonserina. Mas, na realidade, todos já sabiam exatamente do que aquilo se tratava: alguém havia mandado um berrador para algum aluno sonserino, e o show estava prestes a começar. E não foi surpresa para Ashley quando o envelope vermelho, ainda fechado, parou bem na frente de Snape. O garoto, com os cabelos negros de um aspecto um tanto sujo que lhe cobriam boa parte do rosto, rapidamente ruborizou, e por alguns instantes ficou paralisado, encarando o berrador, sem a menor idéia do que fazer. Até que pareceu despertar, e lembrou-se que, se não abrisse imediatamente o envelope vermelho, ele explodiria no meio do Salão Principal, o que seria muito pior; Snape, então, resolveu abri-lo de uma vez.
“- SEVERO, ONDE VOCÊ ANDA COM ESSA CABEÇA SEBOSA? ESQUECEU TODAS AS SUAS CUECAS AQUI EM CASA, FILHINHO! – começou o berrador, levando todo o Salão Principal a explodir em altas gargalhadas, e Snape ficar cada vez mais púrpura. Mas a voz do berrador definitivamente não era a da suposta mãe do sonserino; parecia mais com uma voz masculina, visivelmente afinada para a ocasião, é claro. – VOCÊ ESTÁ USANDO A MESMA CUECA DURANTE TODO ESSE TEMPO? QUE COISA IMUNDA! ONDE ESTÃO AS BOAS MANEIRAS QUE A MAMÃE TE ENSINOU? VOCÊ É MESMO UM RANHOSO!”
Assim que o berrador terminou, o Salão Principal inteiro já estava mergulhado em muitas risadas, e Snape rubro de tanta raiva e vergonha. Quase que inconscientemente, o sonserino virou-se para a mesa da Grifinória, afinal, apenas quatro garotos naquele castelo o chamavam de Ranhoso. Os marotos, então, trocaram olhares satisfeitos entre si, rindo muito em seguida.
- Sua voz afinada ficou perfeita como senhora Snape! – disse Remo a Tiago, ainda rindo.
- O Tiagão aqui mandou muito bem, eu sei. – o maroto gabou-se, passando a mão pelos cabelos castanho-escuros e despenteando-os, como de costume. – Foi uma ótima idéia para voltar do feriado com tudo, e mostrar para esses sonserinos o que os espera. – completou, sorrindo de um jeito malicioso, como se já estivesse maquinando diversas outras travessuras.
- Acho melhor sairmos logo daqui, antes que resolvam nos acusar. – Pedro alertou, já se levantando, no que todos acabaram por concordar.
Decidiram, por fim, ir para o salão comunal e descansar um pouco depois do almoço. Assim que adentraram o salão, foram logo para as poltronas perto da lareira, local que eles sempre costumavam ocupar – e com o frio do inverno invadindo o castelo, o calor da lareira por perto não era nem de longe uma má idéia. Os sete ficaram, então, bastante tempo conversando, cada um contando o que havia feito no Natal e no Ano Novo, colocando as novidades em dia.
- Ganhei “Hogwarts: Uma História” de Natal. – Remo disse, com a expressão animada, quando chegou sua vez de contar. – É muito interessante, vocês deviam ler!
- Remo, você já pensou em ser professor? – perguntou Melissa, de repente, no que o maroto balançou a cabeça, negando. – Eu acho que você podia pensar nisso! Adora ler, tem bastante paciência, é inteligente... combina com você.
Remo sorriu, assentindo. Tinha ficado feliz com os elogios de Mel; era boa a sensação de que ela prestava atenção no jeito dele, nas suas qualidades.
- É, talvez eu leve jeito para isso mesmo. – ele respondeu, satisfeito. – E você, já sabe que profissão vai seguir?
- Acho que curandeira. – falou Melissa, sorrindo com o jeito doce que tanto o encantava.
- Eu quero ter a minha própria coluna no Profeta Diário. – Pedro manifestou-se, com um ar um tanto sonhador.
- Ficar escrevendo?! Que coisa mais desanimada... – Tiago disse, se intrometendo. – Eu vou ser auror, igual ao meu avô.
- Sério, Tiago?! – exclamou Ashley, abrindo um discreto sorriso malicioso pelo canto dos lábios. – E você, Lily, o que vai ser? – ela perguntou astutamente, pois já tinha conversado com a amiga sobre isso, e sabia exatamente sua resposta.
Lílian, por sua vez, nem reparou nesse detalhe. Fez menção de responder, bastante empolgada com o assunto, mas alguém a interrompeu.
- Não se preocupe, Lily. Mulher de Tiago Potter não trabalha fora. – Tiago disse, alegre. – Fica em casa cuidando dos nossos sete filhos!
- Mas, como não pretendo ser “Mulher de Tiago Potter”... – falou Lílian, sem deixar de rir da idéia maluca do maroto. – Vou ser auror!
- Auror, também?! – exclamou ele, abrindo um largo sorriso, enquanto passava o braço pelos ombros da menina. – ‘Tá vendo, Lily... Somos almas gêmeas!
Todos riram do comentário de Tiago, inclusive Lílian, mesmo que discretamente. A ruiva revirou os olhos, ainda contendo o riso, e tirou o braço do maroto de seus ombros.
- Espera aí... Por Merlin, Tiago, sete filhos?! – exclamou Lílian, se dando conta do que ele tinha dito há pouco tempo.
- É, quero ter meu próprio time de Quadribol! – Tiago disse, arrancando novamente gargalhadas de todos.
- Ah, claro... – a ruiva falou, balançando a cabeça, tentando novamente conter o riso. – E você, Ash, o que vai fazer?
- Bom, como eu adoro estrelas, a lua, esse tipo de coisa... Acho que vou ser astróloga. – a menina respondeu, sorrindo. Não via a hora de estudar a fundo aquilo tudo, apesar de a idéia de deixar Hogwarts não ser das mais agradáveis. – E você, Sirius? Foi o único que ainda não falou.
- Não sei, ainda. – respondeu o maroto, dando de ombros, parecendo um pouco distraído. – Não gosto muito de fazer planos... O que acontecer, aconteceu.
Ashley observou-o por uns instantes, tentando entender o que estava acontecendo. Sabia que alguma coisa estava errada, e realmente queria saber o que, para ajudar o amigo, mas antes que pudesse concluir seus pensamentos, foi despertada pela sugestão de Melissa.
- Ei, gente, vamos lá para fora?! – exclamou Mel, olhando pela janela. – Os jardins estão cobertos de neve!
Todos concordaram com a idéia, e foram levantando aos poucos, indo em seguida para o grande portão do castelo, com a intenção de aproveitar o resto do domingo que ainda tinham, antes de recomeçarem as aulas no dia seguinte.
Assim que alcançaram os jardins de Hogwarts, Melissa saiu correndo pela neve e jogou-se nela, deitando de costas naquela imensidão fofa e extremamente branca.
- Eu adoro esse friozinho de inverno! – ela comentou, abrindo e fechando os braços e as pernas, a fim de fazer um anjo na neve.
- Friozinho?! – exclamou Pedro, com o tom irônico. – Estamos quase congelando!
- Deixa de ser frouxo, garoto. – Ashley disse, divertida. Após isso, abaixou-se, pegou um pouco de neve nas mãos e amontoou-a, fazendo uma pequena bola. – Pega essa, Pedroca! – exclamou, atirando a bola de neve no amigo, e gargalhando depois.
Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, uma outra bola de neve a acertou em cheio no rosto, fazendo-a cambalear para trás.
- Um por todos, todos por um, minha cara Ashley. – Tiago, o maroto que havia acertado-a em defesa do amigo, falou sorrindo.
- Digo o mesmo para você! – Lily disse, acertando outra bola de neve em Tiago.
Assim que a neve gélida bateu em sua barriga, ele arregalou os olhos, surpreso com a atitude de Lílian. Mas, logo em seguida, exibiu um sorriso maroto no canto dos lábios, e arremessou uma nova bola de neve na ruiva.
Melissa, que até então apenas assistia, pulou na direção de Lílian, jogando-a no chão e evitando que, no último segundo, a bola a acertasse.
A partir daí, uma guerra de neve começou, e os sete se espalharam correndo pelo extenso jardim de Hogwarts, jogando bolas e tentando acertar uns aos outros, sem se importar nem um pouco caso acertasse quem estivesse pelo caminho.
Remo viu um pouco de longe os três amigos encurralarem Ashley e Lílian entra umas árvores, e resolveu ir atrás da única garota que restava. Mas antes que pudesse localizá-la, sentiu a neve gélida batendo com forca em sua nuca. Quando virou-se para trás, Melissa sorria para ele, acenando de um jeito travesso. Remo, então, pegou um bocado de neve no chão e saiu correndo na direção da garota. Assim que Melissa o viu se aproximando, começou a correr também, fugindo do maroto. Ele a perseguiu durante um bom tempo pelos jardins, até que, quando a distância já não era tão grande, Melissa tomou um susto. Corria por uma parte quase lisa do jardim, onde não havia muitas árvores e, por conta da neve que cobria tudo, dava a impressão de o chão ser todo do mesmo nível; mas não era. Mel pisou em falso, em uma parte bem mais baixa do jardim, e acabou rolando pela neve. Remo, que vinha logo atrás, também não percebeu a mudança de nível, e acabou por rolar junto com a menina.
Os dois só pararam quando, enfim, bateram em uma grande árvore que se encontrava quase sozinha por ali. Como ela estava completamente coberta de neve, assim que os dois grifinórios deram de encontro à árvore, fazendo-a sacudir, uma grande camada de neve que a cobria desprendeu-se e caiu por cima dos dois.
- Mel! – exclamou Remo, depois de levar um certo tempo para conseguir se livrar de toda a neve que estava por cima dele. – Você está bem?
Mas, antes que começasse a procurar por ela, a garota jogou a camada de neve que a cobria para longe, e apareceu ao lado de Remo. Melissa parecia ter achado aquilo tudo muito divertido, pois ria muito, com os olhos até lacrimejando.
- O que foi? – perguntou o maroto, sem conseguir entender o motivo das gargalhadas de Melissa.
- Ai, Remo... – ela suspirou, parando de rir aos poucos. – Nós temos muito azar mesmo!
Melissa se aproximou um pouco mais do amigo, deitando ao lado dele e passando a olhar para o céu, ainda um pouco ofegante. Remo fez a mesma coisa que ela, mas não conseguiu deixar de observá-la pelo canto dos olhos. Mel estava muito bonita naquele momento, mais do que o normal. Sua pele parecia exatamente com a neve que os envolvia, branquinha e macia; suas bochechas estavam rosadas por causa do frio, com alguns fios louros grudados nelas; os olhos, agora espremidinhos por estarem contemplando o céu, eram da cor exata do cachecol que ela trazia envolvido no pescoço, um tom de verde-água muito bonito; e, por fim, seu cabelo liso e louro, que agora tinha vários pequenos pedaços de neve grudados nele, se espalhava naquela imensidão branca abaixo dos dois.
A garota, então, abriu um sorriso maroto e virou-se para Remo, um pouco risonha.
- Mas, sabe, Remo... – começou, enquanto amontoava secretamente um pouco de neve atrás de si. – Você tem muito mais azar do que eu! – e, por fim, tacou uma nova bola no rosto do maroto, correndo para longe em seguida.
[...]
Cerca de duas horas já tinham passado desde que a guerra de neve começou, e agora estavam todos cansados. Conforme a tarde ia chegando ao fim, o sol já começava a se esconder entre as montanhas ao longe, e a temperatura ia caindo cada vez mais, começando a ficar um pouco difícil de continuar lá fora no meio de toda aquela neve.
- Tudo bem, tudo bem... – Lílian, que estava encostada em uma árvore, comentou. – Nós nos rendemos.
Melissa sentou ao lado dela, arfando. Concordou, assentindo com a cabeça e exibindo uma expressão exausta.
- Mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria. – Tiago disse, sentando na neve, próximo as meninas. – Afinal, ninguém vence os marotos.
- Não exagera! – exclamou Ashley, gesticulando displicente com as mãos. – O Sirius, por exemplo, ficou mais branco que um boneco de neve, de tantas bolas que acertamos nele. – completou, para implicar um pouco com o amigo.
- Que mentira! Eu só estava... um pouco desatento hoje. – Sirius logo se manifestou.
Em seguida, para devolver a implicância, jogou o resto de neve que trazia em suas mãos no cabelo de Ashley. A menina deu um grito de susto, arrancando risadas de todos, no que Sirius a puxou para perto dele, rindo muito também, e a abraçou com carinho.
- Merlin, como você é chato! – Ash disse, com a voz abafada, pois seu rosto estava agora encostado no peitoral do amigo.
- Vamos logo para o castelo, antes que congelemos aqui. – falou Sirius, no que todos concordaram.
Quando chegaram ao salão comunal da Grifinória, cada um subiu para o seu respectivo dormitório, para tomarem banho e vestirem roupas ainda mais quentes. Assim que Melissa e Lílian terminaram de fazer tudo isso, logo desceram para encontrar os marotos novamente. Ashley foi a última a entrar no banho, e deixou-se ficar por muito tempo debaixo daquela água bem quente, que percorria todo o seu corpo e a fazia se sentir bem mais aquecida. Quando enfim terminou o banho, saiu do banheiro e colocou o seu pijama. Não estava com muita vontade de descer novamente, e já estava até ficando tarde. Resolveu, então, pegar um livro para ler, e deitou em sua cama. Depois de um tempo, deu uma rápida olhada no céu, e acabou dando uma parada em sua leitura para ir contemplá-lo um pouco. A noite já havia chegado, e o céu agora estava coberto de estrelas e uma lua minguante que se escondia timidamente atrás de uma pequena nuvem escura. Ashley debruçou-se na janela de seu quarto, e passou o olhar rapidamente pelo jardim, quando alguém lá embaixo chamou sua atenção. Ela avistou Sirius caminhando sozinho pela extensa neve que cobria o jardim, e correu para o seu malão, que estava agora atirado perto de sua cama. Trocou de roupa, colocando uma bem mais quente para agüentar o frio que provavelmente pairava lá fora, pegou o seu cachecol e rapidamente saiu para encontrá-lo.
Sirius já estava a algum tempo caminhando sozinho, deixando que a brisa gélida da noite batesse no seu rosto, enquanto ele pensava e remoia sobre alguns fatos. Tinha sido obrigado a passar o feriado na casa da sua família, por ordens de Walburga, sua mãe, e havia sido simplesmente o pior Natal de toda a sua vida. Ficara rodeado de pessoas que ele detestava, e tinha a plena certeza de que o sentimento era recíproco. Praticamente ninguém que estava na Mansão Black lhe dirigia a palavra, a não ser em situações de extrema necessidade, e tudo piorou quando Sirius teve uma grande discussão com Walburga. O garoto, na euforia do momento e com muita raiva, acabou esbravejando que iria embora de casa, no que nenhum familiar fez algum tipo de grande objeção. Ele acabou, então, passando os dois últimos dias do feriado na casa do Tiago, e desde então não conseguia parar de pensar no ocorrido. Sirius sem dúvida odiava praticamente toda a família e vivia dizendo que não fazia questão de nada vindo de algum Black. Mas a é verdade é que, lá no fundo, ninguém gosta de ser rejeitado, nem mesmo ele.
- Six! – ele ouviu, de repente, uma voz feminina exclamar um pouco mais atrás dele, e despertou brevemente dos seus pensamentos.
Quando virou, seus olhos azul-escuros encontraram Ashley sorrindo e caminhando na sua direção, e ele parou para esperá-la.
- Hey! – a menina disse, quando finalmente o alcançou. – Andando sozinho pela escuridão? – perguntou, rindo.
- Pelo frio, ficaria melhor. – Sirius respondeu, no mesmo tom divertido.
- É verdade... – concordou ela, ajeitando o cachecol vermelho que trazia envolvido no pescoço, enquanto os dois recomeçavam a caminhar pelo jardim coberto de neve. – Ei, está realmente tudo bem com você?
Sirius olhou para o chão por uns instantes, decidindo se abriria-se ou não com Ashley. Percebeu, então, que não precisava se esquivar; não dela.
- Para ser sincero, mais ou menos. – ele respondeu, por fim.
- Sabe, Six, todos nós temos problemas. – disse Ashley, entrelaçando carinhosamente sua mão coberta por uma luva a do amigo. – Mas é sempre melhor quando aceitamos ajuda.
- É sempre melhor quando temos uma família para ajudar, para buscar apoio. – ele a corrigiu, com um tom visivelmente amargo e ao mesmo tempo magoado na voz. – E eu não tenho família, esse é o meu problema!
Ashley suspirou, e encarou o chão por uns instantes, pensativa, como se escolhesse com precisão cada palavra que usaria. Lembrou-se vagamente de um comentário de Tiago, quando ele contou que Sirius agora passaria todas as férias com ele, até completar sua maioridade. Provavelmente Sirius brigara feio com a família, e estava chateado por isso, ela pôde concluir.
- O importante é que você está cercado por pessoas que te amam de verdade: nós, os seus amigos. E é disso que é feito uma verdadeira família, de amor, confiança, amizade; não de laços de sangue. Bom, pelo menos é assim que eu considero vocês seis. – ela disse, com um sorriso doce e carinhoso, como que para confortá-lo.
- É... você está certa. – Sirius murmurou, abrindo um fraco sorriso. Já se sentia um pouco melhor.
- Tudo sempre melhora um pouco quando colocamos as coisas para fora... Acho que ficamos mais leve!
Sirius assentiu, um pouco pensativo.
- Às vezes eu tenho vontade de gritar, para extravasar tudo. – ele comentou, rindo fracamente.
- E por que não?! – disse Ashley, olhando-o divertida.
- Gritar? Aqui no meio do jardim? – o maroto perguntou, incrédulo. Aquilo soava como absurdo até para ele, que não se importava muito com isso.
- Se você gritar, eu também grito. – confirmou Ash, parando de andar e olhando nos olhos de Sirius.
Ele, por sua vez, parou também de andar, e abriu seu típico sorriso maroto.
- Se não podemos cometer loucuras, então para que viver? – Sirius concluiu, preparando-se para contar. – Um... dois... TRÊS!
(Sugiro que parem a música lá em cima, esperem completar tudo antes de ver, e aumentem o volume na parte em que eles gritam, haha!)
Para quem não conseguiu ver o vídeo por aqui: http://www.youtube.com/watch?v=2tpgChJ2juo
N/A: Enfim, estou de volta! Não via a hora de estar com o computador de novo, e poder voltar a escrever essa fic querida. Resolvi tocar no assunto de quando o Sirius sai de casa, já que pelo livro da J.K. Rowling isso ocorre no sexto ano – que é o ano da fic. O capítulo foi bem light, é verdade, mas prometo emoções mais fortes no próximo! Dica do que vai acontecer? Um pouco mais sobre o que a Ashley esconde, e um clima mais quente entre Remo e Melissa (aliás, a partir do próximo capítulo mudarei os atores que eu escolhi para eles, para ser mais fácil fazer os vídeos e as imagens dos capítulos, então não estranhem). Portanto, sejam queridos com essa pobre autora que passou séculos sem a floreios, e comentem, que aí o capítulo 13 sai no Natal!
Beijinho especial para a Mah Lupin, porque ela é a que mais atura minhas besteiras no MSN, hahaha.
É isso então, beijos para todos!
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