O Ritual de Apolo



Capítulo 11 – O Ritual de Apolo

Os quatro bruxos ainda estavam ali de pé na chuva torrencial que caía, olhando para o magnífico cavalo e para o diminuto dragão pousado sobre sua sela, e não havia nenhum deles que não estivesse impressionado com a visão à sua frente. O pequeno dragão pareceu não dar muita atenção aos bruxos boquiabertos diante dele, porque abriu a boca num enorme e cômico bocejo.

- Ei, nenhum de vocês vai falar nada? Vão só ficar aí olhando com cara de bobos? Francamente – disse, sentando-se nas patas traseiras e cruzando as dianteiras sobre o peito amarelado – nunca fui tão mal recebido na minha vida. Não é verdade, Petrus? Nunca fomos tão mal recebidos na minha vida.

O cavalo relinchou novamente, alegre, e caminhou até onde estava Harry e Gina. As duas bruxas arregalaram o olho, encantadas com a beleza do animal, e a bruxa ruiva estendeu a mão para tocá-lo. O cavalo baixou a cabeça afetuosamente, e deixou que ela o acariciasse.

Gina sentiu sua mão passar através dos pêlos macios do cavalo e correu os dedos por sua crina prateada, tão suaves que pareciam feitos de fios de seda. O cavalo cutucou-a gentilmente com a cabeça, satisfeito com o carinho, e fungou alegremente ao seu lado.

- Ei, e eu? Não vou ganhar carinho, não? - bufou o pequeno dragão enciumado, pulando na direção da cabeça e agarrando-se na crina – Afinal, eu é que sou seu mascote, não esse pangaré fedido. Eu quero carinho também!

O dragão segurou-se na crina do cavalo e esticou o longo pescoço na direção da mão de Gina, oferecendo-se para ela e balançando a cauda como um cãozinho faria para o dono, o que fez a garota esquecer-se momentaneamente da dor no rosto e dar uma sonora gargalhada. Os amigos também riram, e se aproximaram mais do dois animais, sentindo-se menos desconfiados de seu aparecimento repentino. Gina coçou a cabeça do minúsculo dragão com a ponta dos dedos, o que fez com que este relaxasse tanto o corpo que quase caiu de onde estava pendurado, ronronando alegremente.

- Obrigado, eu estava precisando disso – disse o dragão sonolento, quando Gina parou – Mas onde eu estava com a cabeça, esqueci de me apresentar à minha nova senhora. Meu nome é Drazztar – disse fazendo uma reverência a Gina com a cabeça – e sou um dragão de linhagem azul. Deste dia em diante sou seu novo servo, minha senhora, e se puder serví-la em qualquer coisa, é só me avisar.

Gina não sabia o que dizer, tão espantada estava com o pequeno dragão que se agitava à sua frente. Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas fechou-a novamente quando sentiu uma dor aguda no nariz onde o esqueleto a havia golpeado. Ela fechou os olhos, lacrimejando de dor, e Harry a abraçou ternamente.

- Para falar a verdade – disse o rapaz para o dragão – precisamos voltar logo para a mansão de onde viemos, antes que dêem pela nossa falta. Mas fica a uns vinte quilômetros daqui, sem algum meio de transporte rápido nunca chegaremos a tempo.

- Não se preocupe com isso, meu rapaz – disse o dragão animado, batendo no pescoço do cavalo – Petrus aqui pode dar um jeito nisso rapidinho, não é mesmo amigão? Mostre ao seu novo dono o que é que você pode fazer.

O cavalo relinchou novamente, batendo os pés no chão e balançando a cabeça. O pequeno dragão alçou vôo batendo as pequenas asas e pousou suavemente sobre um mourão de cerca próxima a Gina, virando-se para os quatro bruxos e fazendo sinal para que se afastassem do cavalo. Mesmo sem entender nada os quatro bruxos recuaram alguns passos, receosos do que poderia estar para acontecer, e ficaram observando ansiosos.

O enorme cavalo branco ergueu a cabeça para o céu e fechou os olhos, agitando a cabeça para os lados e arrepiando-se todo, como se um vento gelado tivesse começado a soprar naquele instante sobre seu pêlo longo. Repentinamente, uma luz prateada como a da lua cheia começou a iluminá-lo, como se estivesse emanando de sua própria pele, e iluminou tudo ao seu redor, envolvendo os jovens bruxos e o cavalo com sua luz.

Os quatro bruxos assistiram boquiabertos o corpo do cavalo começar a mudar rapidamente de tamanho, ganhando poderosos músculos, e seu pêlo branco e ralo ser substituído por uma pelagem amarelada e grossa. Sua crina avolumou-se e cobriu todo o seu pescoço, tornando-se marrom escura, e encurtou ao ponto de parecer a juba de um imenso leão, exceto pelo incrível fato de que eram feitas de longas penas de pássaro. Suas pernas traseiras foram engrossando até ficarem mais grossas do que o mourão da cerca, e o casco negro deu lugar a uma pata com poderosas garras felinas. Os pêlos cinzentos do rabo enrolaram-se sobre si mesmo e transformaram-se numa poderosa causa de leão.

Fascinado com a transformação, Harry assistiu maravilhado às patas dianteiras assumirem o formato de garras de águia e o focinho encurvar para frente num afiado bico amarelado. A cabeça cobriu-se de penas brancas, tão compridas e finas que pareciam longos pêlos brancos, e a cabeça triangular arredondou-se a transformou-se na cabeça de uma enorme ave de rapina, com seus olhos profundos e atentos. De ambos os lados do poderoso tronco do animal brotaram asas brancas de dez metros de envergadura que se esticaram no ar como se as estivesse espreguiçando. A enorme criatura, meio leão meio águia, agitou a cabeça para os bruxos suavemente, e tão repentinamente quanto havia aparecido, o brilho que a envolvia desapareceu por completo. O cavalo Petrus havia se transformado num enorme grifo de mais de cinco metros de comprimento.

Harry estava, em uma única palavra, estupefato. Tirando o fato de que acabara de presenciar a transformação do cavalo numa outra criatura, ainda havia o fato de que ela não era uma criatura qualquer. Era um enorme grifo, provavelmente o maior que já ouvira falar.

Harry jamais havia visto um grifo ao vivo, no máximo havia ouvido Hagrid comentar sobre eles em suas aulas de Trato das Criaturas Mágicas. Ele era aparentado ao Hipogrifo, que o rapaz conhecia muito bem na pele de Bicuço, mas assim como os primeiros eram meio águia, meio cavalo, os grifos substituíam a metade traseira do cavalo por uma metade de leão, tornando-os maiores e mais fortes que seus primos meio-eqüinos.

Os grifos, por outro lado, eram criaturas muito mais ariscas e perigosas que os Hipogrifos. Sua dieta consistia basicamente dos cavalos selvagens que conseguiam capturar nos campos ou qualquer outro grande mamífero que fossem capazes de abater e raramente eram vistos longe das montanhas rochosas onde construíam seus ninhos. A comunidade bruxa tinha bastante trabalho para manter os rebanhos de cavalos trouxas fora dos campos de caça dos grifos ou suas reservas nas montanhas.

Os quatro bruxos continuaram ali estáticos observando a enorme criatura mágica, à espera de algum sinal de que pudessem se aproximar, mas o grifo Petrus apenas balançou a cabeça alegremente e deitou no chão de barriga para baixo, inclinando-se para que eles subissem.

- O que estão esperando? - indagou o pequeno dragão, soltando uma faísca pelo nariz – Chegaremos mais rápido se formos voando! Subam logo, não podemos perder tempo!

Gina adiantou-se aos quatro e subiu nas costas da enorme criatura, deitando sobre seu pescoço e abraçando-o com força. Ela sentiu em seu rosto a maciez das penas que cobriam o pescoço largo e o cansaço começou a tomar conta de seu corpo. Ela fechou os olhos e começou a escorregar para o lado, sentindo o peso do próprio corpo triplicar sob a pressão da dor e do cansaço, mas a garota foi amparada por Harry, que subiu logo atrás dela e a segurou pela cintura para apoiá-la.

- Temos que partir logo, pessoal – disse Harry, enquanto se ajeitava sobre as asas do grifo – Quanto mais tempo demorarmos, pior será nossa recepção quando chegarmos à mansão.

Rony adiantou-se e estendeu a mão para ajudar Hermione a subir, o que ela fez com um sorriso encabulado no rosto, segurando-se bem firme em Harry, que estava à sua frente. O rapaz ruivo, então, subiu de um salto para as ancas do grifo e agarrou-se à garota.

- É isso aí, vamos nessa! - gritou o dragão, abrindo as pequenas asas e alçando vôo velozmente, ganhando o céu em poucos segundos – Para o alto e avante!

O grifo abriu as enormes asas e soltou um grito agudo de alegria que ecoou pela planície, baixando as asas num movimento rápido e alçando vôo, quase jogando os desavisados bruxos de costas no chão. Harry agarrou-se firmemente às penas do pescoço e sentiu Hermione fazer o mesmo em sua cintura, enquanto o grifo arqueava o corpo em movimentos rápidos para ganhar altitude no encalço do pequeno dragão que avançava, rápido como um andorinhão, em direção ao horizonte.

Harry nunca havia gostado de cavalgar criaturas aladas, preferindo o vôo suave das vassouras, mas desta vez fora um pouco diferente do que sentira quando cavalgara o hipogrifo. O corpo felino do grifo fazia com que os movimentos fossem mais suaves, principalmente quando o animal havia alcançado uma altura considerável e movia-se lentamente pelos céus, planando tranqüilamente pelas nuvens em direção à mansão de Morgan. Drazztar reduzira sua velocidade e agora acompanhava o vôo do grifo, planando ao lado dos bruxos com uma expressão contente no rosto.

Harry olhou para baixo e pôde ver o tapete quadriculado de plantações que se estendia a quilômetros abaixo dele, como uma imensa colcha de retalhos colorida de inúmeros tons de verde. Ele pôde ver a estrada pela qual tinham vindo serpenteando por entre as colinas em direção ao horizonte, e pensou ter sido capaz até mesmo de enxergar a pequena carroça com Iicha e os dois bruxos que haviam encontrado na vinda até a cidade. A chuva reduzira bastante sua intensidade, resumindo-se a uma garoa fina que açoitava as roupas já encharcadas dos quatro bruxos às costas do enorme grifo. Um relâmpago iluminou o céu acima deles, reboando ameaçador, avisando que a ameaça da tempestade ainda não havia acabado.

O rapaz pode se deixar sentir por aqueles breves momentos como se estivesse seguro. A lembrança de Sirius veio à sua mente sem avisar, e ele sentiu a saudade de quando estava ao lado do padrinho. Mesmo durante aqueles poucos momentos que haviam passado juntos, Harry sentira-se seguro perto dele. A falta que sentia do padrinho aumentava mais ainda sua decisão de empreender o ritual.

- Está na hora de descermos – disse Drazztar, passados poucos minutos de terem levantado vôo – a mansão está logo ali à frente.

Harry olhou para a frente e enxergou o telhado vermelho da alta mansão e o gramado verde que a rodeava, e inclinou-se para a frente instintivamente para fazer o grifo descer. O grifo inclinou o corpo lentamente para a frente, cuidando para não derrubar seus passageiros, e começou uma descida suave em direção ao bosque próximo da casa. Harry segurou Gina ainda mais forte, e com uma enérgica batida de asas o grifo deu um rasante curto por cima das árvores, reduzindo sua velocidade ainda mais e pousando graciosamente no chão, espalhando as folhas secas ao redor deles. Assim que terminou seu pouso, o grifo agachou-se nas patas dianteiras e permitiu que os bruxos descessem de suas costas.

Rony e Hermione desceram primeiro e ajudaram Harry a retirar Gina de cima do grifo. Apesar do inchaço em seu rosto ter diminuído bastante, a garota balbuciava coisas sem sentido e estava praticamente desacordada, obrigando o bruxo a pegá-la nos braços e carregá-la. O grifo sentou-se e Drazztar pousou sobre a sua cabeça, olhando para a bruxa que gemia no colo de Harry.

- Estão entregues – disse o pequeno dragão, piscando os olhos negros para os quatro amigos à sua frente – Levem-na para dentro, alguma das bruxas vai poder tratar essa concussão na cabeça dela. Eu e Petrus estaremos por aí, não se preocupem conosco. Os únicos que podem me enxergar são vocês, e ele pode se transformar em qualquer criatura, ele dará um jeito de se camuflar. Em poucos dias apareceremos por aí.

Harry acenou com a cabeça afirmativamente com certa pressa e virou-se na direção da mansão, carregando Gina nos braços. Rony e Hermione o seguiam a alguns passos atrás, rapidamente mas não o suficiente para levantar qualquer suspeita do que havia acontecido com eles. Rony ajudava Hermione a caminhar, já que era o único inteiro entre todos eles, e Harry notou distraidamente que o rapaz já não carregava a espada que havia ganho da bruxa. Apesar de achar aquilo estranho, não se preocupou com naquele momento. Tinha muito mais em mente.

Como Harry havia pensado, o desaparecimento deles não passara despercebido pelos habitantes da mansão. Assim que saíram da orla do bosque e enveredaram pela estrada que cruzava o gramado e o campo de flores os bruxos ouviram gritos aflitos que vinham de dentro da mansão. Num instante a Sra. Weasley surgiu pela porta de vidro e começou a correr na direção deles, com lágrimas correndo por seu rosto enrugado de preocupação, seguida de perto pela Sra. Morgan e seu criado bruxo. Harry sentiu o estômago afundar de culpa e preocupação. Afinal, nada daquilo teria acontecido se não fosse por ele.

A bruxa chagou ofegante até os quatro jovens bruxos e jogou-se sobre a filha desmaiada, arrebatando-a dos braços do bruxo e apertando-a forte contra o peito. Lágrimas de preocupação rolavam de seu rosto, fazendo o rapaz sentir-se ainda pior por ter convencido os amigos a o seguirem.

- O que aconteceu? – disse a Sra. Weasley, em prantos – Onde estavam? Estávamos morrendo de preocupação! Charles foi atrás de vocês mas não conseguiu encontrá-los! Minha nossa, olha o estado de vocês, parecem ter levado uma surra!

Harry tentou balbuciar alguma coisa, mas neste momento Gina soltou um gemido agudo que deixou a mãe ainda mais desesperada. A bruxa não esperou para ouvir as desculpas de Harry, precipitando-se correndo de volta à mansão, gritando por ajuda.

Rony e Hermione a seguiram lentamente em direção à mansão, cabisbaixos, sentindo-se péssimos por todos os problemas que haviam causado, mas Harry ficou mais um tempo ali onde estava. Ele olhou para o horizonte, onde a chuva ainda caía em torrentes, e teve a impressão de ver nas nuvens a forma da figura encapuzada que o havia atacado na estrada. O rapaz ficou se perguntando quem seria aquele novo inimigo, e quais eram suas intenções. Um trovão soou mais próximo, anunciando que a chuva encerrara a trégua que havia lhe dado, e Harry seguiu rápido para o interior da mansão atrás dos amigos.

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Algum tempo depois, quando parou para pensar naquele dia, Harry espantou-se em como ele havia demorado tanto para passar, e como as coisas haviam acontecido tão rapidamente que ele não tivera tempo para controlá-las. No espaço de apenas uma manhã, Rony e Hermione haviam finalmente ficado juntos, eles conheceram Madame Gertrudes e comprado as ervas necessárias para o ritual, haviam sido atacados por esqueletos que quase haviam matado Gina e surgira um novo inimigo em seu caminho. Era como se um ano de aventuras em Hogwarts acontecessem em apenas uma manhã.

Por mais incrível que parecesse, a Sra. Weasley engolira a história que Harry inventara na hora para explicar os hematomas que tinham e o desaparecimento deles do bosque dos unicórnios que supostamente deveriam ter visitado. Harry contara que, com a vinda da tempestade, esconderam-se numa caverna próxima que haviam encontrado. Quando a chuva passara e tentaram sair da caverna, Gina escorregara na lama que se formara na entrada da caverna e derrubara o resto deles, batendo por fim a cabeça numa pedra e desmaiando. Harry imaginara que fosse uma péssima história para explicar a lama e as concussões causadas pelos esqueletos, mas a bruxa pareceu ter acreditado e não fez mais perguntas a respeito, limitando-se a passar a mão pelos cabelos ruivos da filha que convalescia.

Os dias que se seguiram passaram lentamente na mansão. A Sra. Morgan havia providenciado um medibruxo da vila de Portville, que viera rapidamente tratar os ferimentos deles. Harry torceu para que ele não os reconhecesse, nem que tivesse visto a batalha que ocorrera nos arredores da cidade, mas o médico não deu nenhum sinal que tivesse presenciado algo. Ele passou algumas poções para Gina, para que o inchaço desaparecesse, e sugeriu repouso para os quatro bruxos. Os bruxos continuaram a se encontrar no quarto da moça, sussurrando planos de como fariam para executar o Ritual de Apolo.

- Escondi as ervas dentro de meu malão – disse Hermione com um sorriso maroto. Ela ficara encarregada de cuidar para que ninguém descobrisse as ervas que haviam trazido – Se alguém encontrá-las, posso afirmar que estou estudando matérias avançadas de Poções, para os N.I.E.M.s deste ano.

- Grande sacada, garota – disse Drazztar, que estava pousado em cima da cabeceira da cama de Gina – Gina aqui disse que você é a bruxa mais inteligente de sua turma! Ninguém vai desconfiar o verdadeiro motivo para o qual elas vão ser usadas.

Hermione corou de leve, mas Harry percebeu que a garota concordava plenamente com a opinião do dragão. Ele imaginou o que a Sra. Weasley pensaria se visse o pequeno dragão azul deitado em cima da cabeceira da cama da filha conversando alegremente com eles, e riu-se feliz. Por sorte, o dragão era invisível.

Drazztar havia explicado aos garotos, no dia anterior, que seu mestre o havia dotado desta capacidade, quando o havia criado. Ele não tinha entrado em detalhes, mas explicara que não era um dragão comum, mas tinha um laço mágico extremamente poderoso com seu mestre, como se fosse parte dele. Por esse motivo, ele era visível epenas para ele ou para as pessoas que soubessem de sua existência.

Já Petrus, o cavalo branco que havia trazido os garotos de volta à mansão, era um tipo diferente de criatura. Drazztar explicara evasivamente que o cavalo era um tipo de criatura metamorfa muito rara, conhecida apenas por poucos bruxos nos registros mágicos mais antigos. Sendo assim, sua verdadeira natureza permanecia um mistério até mesmo para o seu mestre anterior. Ele não era invisível, mas sua natureza mágica impedia que alguém o visse em qualquer forma que não fosse a que estivesse assumindo no momento. E era tão fiel ao seu dono que era praticamente impossível fazê-lo mudar de mestre.

Neste momento, Petrus estava deitado tranqüilamente aos pés de Hermione, na forma de um grande labrador branco. O “cachorro” havia aparecido nos terrenos da mansão no dia anterior, magro e faminto, e foi rapidamente adotado pelos jovens bruxos que se dispuseram a cuidar dele. É claro que os bruxos mais velhos olharam desconfiados para o cão faminto, mas vendo a vontade de Harry de manter o cão sob seus cuidados, acabaram decidindo que seria melhor mesmo ter um animal de estimação por perto enquanto os garotos se recuperavam de seus ferimentos.

- Ainda bem que minha mãe deixou a gente ficar com ele – disse Gina, rindo enquanto acariciava os pêlos macios do cão branco – Pobrezinho, estava tão faminto e magrinho!

Os quatro bruxos riram satisfeitos com a recuperação de Gina. O inchaço em seu rosto já há muito desaparecera e só restava uma pequena marca dos hematomas feitos pelo esqueleto que a havia golpeado. Harry estava ao seu lado, sentado na cama, acariciando seus cabelos vermelhos com um olhar distante.

- E então, como ficamos com relação a esse ritual que vamos fazer? – perguntou Rony baixinho para os quatro amigos – As férias estão acabando e logo estaremos indo embora aqui da mansão. Temos que fazê-lo o quanto antes.

- Concordo plenamente – disse Gina para Harry – Se temos que fazer esse ritual, é melhor que seja aqui mesmo, e não na escola. Se nos pegam em Hogwarts fazendo um negócio desses, nos mandam embora na hora.

- Então está decidido – disse Harry, levantando-se e beijando Gina na testa – hoje à noite vamos executar o ritual, naquele deck de madeira que fica ao lado do bosque negro. E não adianta me olhar desse jeito, Rony – disse o rapaz sorrindo, diante da careta que o amigo fez com a menção do local – agora você é nosso cavaleiro protetor, não precisamos ter mais medo de Sinistros.

Rony chegou a abrir a boca para reclamar, mas a menção de sua transformação em cavaleiro pareceu animá-lo e ele assumiu um ar pomposo e levantou a cabeça num ar cômico, como se imitasse um nobre. Os quatro amigos caíram na gargalhada e Harry passou a mão em seus cabelos vermelho-fogo, desalinhando-os, enquanto dava tapinhas em suas costas com a outra mão.

- Afinal – disse Hermione, contendo o riso e abraçando o rapaz – onde é que foi parar aquela sua espada? Não a vejo desde que voltamos de Portville.

- Eu não sei como isso aconteceu, mas ela simplesmente sumiu assim que eu montei no grifo – disse, olhando para Drazztar – E quando me dei conta, estava com isso aqui.

Rony estendeu a mão na direção dos amigos e todos puderam perceber que nas costas dela havia aparecido uma marca vermelha, da cor do fogo, como uma tatuagem. A marca lembrava uma estrela vermelha de quatro pontas rodeada com algo que parecia um cometa de fogo. O mais incrível era que a marca emitia um efeito brilhante conforme a mão de Rony se movimentava para os lados, dando a impressão que a imagem da labareda estava viva em sua mão.

- Não se preocupe – disse Drazztar com um sorriso – A espada está aí em sua mão, você pode tirá-la quando quiser. Há uma magia antiga de meu mestre nesta espada, que permite que seja carregada como uma tatuagem na pele de seu usuário. É bem mais prático e chama menos atenção, se quiser minha opinião, e acho que meu mestre foi genial em inventar uma coisa assim.

- Você vive falando desse seu mestre – disse Hermione, curiosa – mas nunca nos disse quem foi ele.

- Meu mestre foi um grande bruxo – disse o dragão, olhando pela janela para o gramado lá fora – Ele nos criou como se fôssemos parte dele, como se completássemos sua alma. Ele era um bom amigo e engenhoso pesquisador, mas os últimos anos de sua vida foram terríveis para ele.

- O que houve com seu mestre? – perguntou Gina, passando a mão delicadamente pela cabeça do dragão, que assumira uma fisionomia triste e pesarosa.

- Infelizmente, não posso lhes revelar – disse o dragão, fechando os olhos e balançando a cabeça - Não ainda. Quando estiverem prontos, descobrirão tudo o que precisam saber a respeito dele e de sua família, mas ainda é cedo para começarmos essa conversa. Temos coisas mais urgentes e importantes para tratar esta noite, como o Ritual de Apolo que querem fazer.

- O que tem o ritual? – perguntou Harry, interessado – Você sabe que ritual é esse e como ele funciona?

- Não – respondeu o dragão – por isso mesmo acho que vocês deveriam ter certeza do que estão fazendo antes de começar a executá-lo. Rituais divinatórios são magias complicadas porque o transe divinatório pode tornar-se tão real que a pessoa não é mais capaz de distinguir entre visão e realidade.

- Eu ouvi falar que pessoas destreinadas podem ficar em transe para sempre – disse Gina, assentindo com a cabeça – É um risco que temos que estar cientes.

- Não me importo – disse Harry, enérgico – Se vocês estiverem com medo de fazer, por mim tudo bem. Só quero que nenhum de vocês me impeça.

- Fica tranqüilo, amigão, ninguém vai te impedir – disse Rony, batendo nas costas do bruxo – Só vamos tomar algumas precauções para evitar que a gente se dê mal nessa.

- Então está combinado – disse Hermione – Hoje à noite, logo depois do jantar, todo mundo vai até o deck de madeira pra fazer o ritual. Eu já vou levando as coisas e deixo escondido no meio dos arbustos pra ninguém veja a gente carregando todos aqueles trambolhos.

Os quatro bruxos acenaram a cabeça, concordando silenciosamente, e saíram um de cada vez do quarto de Gina. Harry ficou por último, olhando para o pequeno dragão que soprava círculos de fumaça sobre a cama onde Gina estivera deitada. Drazztar olhou atentamente para o bruxo e estreitou os olhos, como se o analisasse, e após alguns segundos de silêncio, voou até o ombro do rapaz, pousando suavemente.

- O que é? - perguntou Harry, apreensivo.

- Sei que pode parecer idiota perguntar, mas você já sabe o que quer saber, Harry? - perguntou o dragão, fitando os olhos do bruxo – Daqui a algumas horas você estará executando um ritual de divinação poderosíssimo, espero que tenha parado um tempo para pensar no que quer descobrir.

- Já pensei no que quero saber – disse o rapaz – Não sei como funciona esse ritual, mas se tiver que perguntar pra esse Apolo o que quero saber, já tenho as perguntas prontas.

- Rituais de divinação não são jogos de perguntas e respostas, Harry – disse Drazztar, sorrindo – O que vai acontecer é que você terá uma experiência muito próxima da realidade, você vai viver as cenas como se estivesse lá. Muitas imagens não farão sentido, outras parecerão verdade mas não serão. Divinação é uma arte muito complicada.

- Como assim?

- A Divinação é um por cento ritualística e cem por cento interpretação – disse o dragão – Tudo o que você presenciar durante o ritual pode ou não ser levado ao pé da letra. São imagens que podem já ter acontecido, nunca acontecer ou estar acontecendo no momento em que você as vir. São fragmentos de passado e futuro que podem ter ou não acontecido.

- Quer dizer que tudo o que eu ver pode ser mentira?

- Não, o que estou dizendo é que tudo depende de você saber interpretar o que lhe for mostrado. O futuro não está gravado em pedra, ninguém sabe dizer com certeza o que ele nos reserva. A divinação apenas lhe mostra o que pode acontecer nesse emaranhado de futuros possíveis, se certas atitudes forem tomadas. O mais importante de tudo isso é que você tem que estar atento ao que o ritual quer lhe mostrar, e não ao que você quer ver. Esse é o maior erro entre os bruxos que tentam a divinação. Mantenha isso gravado na mente, e você se dará bem no ritual de hoje.

O dragão pulou do ombro de Harry e voou pela porta, passando a poucos centímetros da cabeça da Sra. Morgan, que passava tranqüilamente pelo corredor. Ele acenou para ela enquanto saía do quarto de Gina e seguiu para o seu, com as palavras do dragão ecoando em sua mente.

A tarde passou como uma brisa rápida, levando com ela os últimos raios do sol que se punha no horizonte e coloria o céu com nuvens rosa e amarelas. A noite se aproximou mais rápido do que Harry imaginava, e quando se deu conta, o véu negro dela já cobria tudo com suas estrelas. A lua nascia cheia no horizonte, substituindo a escuridão negra da floresta com seu brilho prateado e fantasmagórico.

Numa árvore próxima, uma coruja vigiava a noite silenciosamente de um galho mais baixo, observando atentamente qualquer movimento que pudesse lhe indicar a passagem de um animal que pudesse lhe servir de jantar. Ela foi surpreendida por um movimento bem maior do que esperava, na forma de quatro figuras encapuzadas que desceram a passos rápidos a estrada de cascalho. A vigia da noite, incomodada pelo movimento inesperado, abriu as asas e voou para longe dali, para caçar seu jantar sem ser incomodada.

Os quatro bruxos que haviam acabado de chegar se juntaram sobre o deck de madeira, olhando por sobre o ombro para a mansão para ver se estavam sendo vigiados. Como tudo parecia tão calmo como sempre nas janelas de vidro viradas para aquela direção, eles tiraram seus capuzes negros e os empilharam ao lado, mantendo-os perto.

Hermione e Rony se afastaram para os arbustos ali perto e voltaram trazendo a cuba, o punhal e as ervas que compunham o ritual, dispondo-os no deck no meio de todos. Os quatro amigos formaram um círculo ao redor da cuba e abriram o livro de rituais de Morgan, iluminando-o com a ponta da varinha.

- Harry – disse Hermione, folheando as páginas que descreviam o ritual – temos que nos dispor ao redor da cuba de acordo com os pontos cardeais e nossos elementos. Gina, como não temos ninguém do elemento ar, você vai assumir esta posição ficando no Leste, ao lado direito de Harry, que é do elemento fogo. Rony, que é da água, estará no Norte, e eu estarei no Oeste, em terra.

Os quatro bruxos se dispuseram como descrito por Hermione, e cada um deles pegou uma vela colorida com a cor de seu elemento, acendendo à sua frente com um gesto de varinha, colocando-a diretamente ao lado da cuba de prata.

- Bom, cada um de nós vai ter que criar seu elemento nestes pires – disse Hermione, distribuindo um punhado de pires que roubara da mansão de Morgan – Vamos começar do Sul, onde está o Harry, e seguir no sentido horário.

Os três bruxos assentiram com a cabeça e colocaram o pires à sua frente, pronunciando as palavras dos feitiços enquanto agitavam as varinhas.

- Flamamenti – recitou Harry enquanto agitava sua varinha para cima e para baixo, criando à sua frente uma pequena esfera flamejante que pousou sobre o pires, sem queimá-lo, e continuou ali flutuando e iluminando a cuba de prata.

-Terraementi – pronunciou Hermione, balançando a varinha para os lados e criando um punhado de argila sobre um pires que havia trazido de dentro da casa. A argila pousou sobre o pires e assumiu uma forma esférica, flutuando sem se deformar.

- Aquamenti – disse Rony, enquanto girava a varinha sobre movimentos circulares sobre o pires. Uma esfera líquida foi se enchendo sobre o mesmo, flutuando como se fosse um bolha de sabão cheia de água cristalina.

- Uentusmenti – pronunciou finalmente Gina, que rodava sua varinha em espirais à sua frente, formando uma pequena brisa que permaneceu rodando à sua frente, agitando seus cabelos suavemente. Apesar de não ser visível, os quatro bruxos podiam ouvir o vento assoviando enquanto rodopiava à frente da garota.

Como se estivesse esperando que o círculo se fechasse, o som externo dos grilos e do vento que soprava por entre os galhos das árvores silenciou-se por completo, como se uma redoma tivesse se fechado ao redor dos quatro bruxos. Harry sentiu o círculo de proteção se fechar ao redor dos quatro bruxos, ao mesmo tempo protegendo-os e firmando um compromisso de que aquele ritual tinha oficialmente começado. Dali para diante, eles teriam que ir até o fim.

Hermione pegou então um maço de ervas já separado anteriormente e distribuiu para cada um deles, pegando por fim um maço para ela e colocando sobre outro pires que havia pego na mansão. Todos eles repetiram seus gestos e atearam fogo a ele com a varinha, apagando em seguida com um sopro suave e deixando arder apenas uma pequena brasa, enchendo o ar com uma fumaça adocicada. Os quatro ficaram então imóveis, concentrando-se na cuba prateada à sua frente.

Lentamente, a fumaça das ervas começou a preencher tudo ao redor dos quatro bruxos, deixando o ar cheio de névoa branca atrás deles e no chão, dando a impressão que estavam flutuando em meio às nuvens. Uma fumaça mais espessa começou a se depositar no fundo da cuba prateada, formando uma nuvem que rodopiava lentamente movida por um vento invisível. Aquilo fez com que Harry se lembrasse imediatamente da Penseira de Dumbledore.

Imediatamente quando pensou nisso, o rapaz pôde perceber que imagens turvas como sombras começavam a se formar na névoa no fundo da cuba prateada. Inicialmente, estas imagens não eram nada mais do que vultos distorcidos e irreconhecíveis, mas lentamente foram assumindo uma forma mais nítida, a ponto que ele pôde começar a distinguir as faces que apareciam.

Então, com um movimento rápido, Harry pegou o punhal de prata e cortou a névoa como se rasgasse um véu de seda, exatamente como o ritual descrevia que deveria ser feito. O efeito foi um clarão cegante como um relâmpago e uma explosão de vozes e sussurros, que ecoou dentro da cabeça dos quatro bruxos. O clarão foi rapidamente substituído por imagens que se sobrepunham com uma velocidade impressionante, impossível de acompanhar.

Harry tentou concentrar-se, tentou formular em sua mente as dúvidas que tinha e nas respostas que desejava, mas havia tanta coisa passando pela sua cabeça que não conseguia concentrar-se em nenhuma. Subitamente, ele lembrou-se de Lothian e como se em resposta à sua lembrança, as imagens pararam de se sobrepor, formando uma única cena.

A primeira coisa que Harry viu foi que estava numa espécie de sacada de pedra alta e estreita no topo de um castelo que ele imediatamente reconheceu como sendo Hogwarts. Dali ele podia enxergar as montanhas que a rodeavam e o lago negro refletindo uma enorme lua crescente no céu, rodeada de estrelas. Uma brisa soprava lentamente e balançava os cabelos ruivos de uma linda garota que estava parada encostada á amurada de pedra.

Harry reconheceu Gina imediatamente. Ela estava usando um lindo vestido de festa rosa e tinha em seus cabelos uma linda tiara prateada que brilhava como se refletisse as estrelas do céu. Ao seu lado, vestido com um longo sobretudo de gala preto e azul, estava um bruxo alto de cabelos longos e prateados. Lothian. Ele tinha o braço passado por sobre os ombros da ruiva e acariciava seu rosto gentilmente com a outra mão, aproximando o rosto lentamente do dela, seus lábios abertos para receber um beijo apaixonado. Gina retribuiu o gesto, segurando-o gentilmente no rosto com ambas as mãos e beijando-o longa e apaixonadamente.

O coração de Harry gelou em seu peito, e ele sentiu como se o Sinistro o tivesse atravessado e deixado uma pedra de gelo no lugar. Ele tentou gritar, mas tudo o que conseguiu foi se concentrar no ódio que sentia pelo bruxo e pelo que presenciava em sua visão. As imagens reagiram ao seu sentimento, turvando-se como uma pintura que recebe um balde de água, e foram substituídas por outra cena.

Harry viu-se num corredor de pedra escuro, segurando a varinha e iluminando à sua frente. Parecia triste e cansado, e caminhava com dificuldades, mancando muito. A barra de seu uniforme de Hogwarts estava em retalhos, como se tivesse sido rasgada por algum tipo de animal.

À sua frente, uma luz alaranjada iluminava o teto e o chão da caverna e pulsava continuamente, como se estivesse viva. A cena adiantou-se como um filme que é acelerado, e Harry pôde ver a cratera de um enorme vulcão, como o que vira no Vale das Sombras. Um caminho irregular levava da caverna onde estava Harry até uma plataforma de rocha que flutuava sobre o magma fervendo abaixo deles, e sobre esta rocha, dois bruxos batalhavam, lançando e rebatendo feitiços um contra o outro.

Um dos bruxo o rapaz reconheceu imediatamente pelos cabelos longos e brancos e pelas vestes negras da escola com as cores da Sonserina. Era Lothian. Seu rosto estava contorcido numa careta demoníaca e sua varinha brilhava com uma aura violeta enquanto ele lançava feitiços numa velocidade impressionante contra um escudo conjurado pelo seu adversário, que tentava contra-atacar quando tinha oportunidade. Harry demorou mais alguns segundos para reconhecer o outro bruxo devido às luzes dos feitiços que Lothian lançava contra ele, mas quando o bruxo parou de atacar o rapaz sentiu o estômago despencar. O outro bruxo era Sirius.

Harry percebeu que os dois bruxos conversavam, mas não conseguia entender o que eles estavam dizendo. Ele próprio na visão subia desesperado o caminho estreito, correndo o mais rápido que conseguia, gritando algo que não conseguia entender. Quando chegou à plataforma, entretanto, e Sirius olhou para o rapaz, aparentemente surpreso por vê-lo, Lothian aproveitou o descuido do oponente e brandiu sua varinha para ele com violência, lançando a maldição da morte. A luz verde encheu a cratera e quando ela dissipou, Harry viu o padrinho caindo para trás, em direção ao magma fervente logo abaixo, os olhos abertos já sem vida.

O rapaz gritou em sua visão, mas a imagem já era substituída por outra, tão rapidamente como havia aparecido. Estava desta vez na câmara dentro do Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. Ele e Sirius batalhavam contra vários Comensais da Morte em frente ao Portal Negro. Harry estava novamente vestido com o uniforme de Hogwarts, mas desta vez não estava ferido como na visão anterior.

Entretanto, parecia que desta vez os dois tentavam entrar no portal negro, e não protegê-lo. Os Comensais da Morte defendiam o portal ferrenhamente, não recuando um passo de onde estava, lançando feitiços letais sobre os dois bruxos que se escondiam entre as pedras. Harry notou que através do portal, ao invés de uma cortina negra, podia enxergar o que pareciam ser os destroços de um enorme castelo negro, cujas torres eram rodeadas por enormes criaturas aladas.

O rapaz parecia escutar uma voz vinda de lá de dentro, mas não conseguia entender o que ela dizia ou a quem ela pertencia. Apesar disso, sentia que devia responder a esse chamado com urgência, que alguém estava em perigo, mas por mais que tentasse, não conseguia reconhecer a voz que o chamava. Harry começo a ficar desesperado, e tentou concentra-se mais para enxergar através da visão ou ouvir mais perfeitamente o que estava sendo dito. A visão alterou-se novamente, e uma outra imagem substituiu a batalha.

Nesta nova imagem, Draco estava de pé ao lado de Rony e Hermione, vestido com o manto dos Comensais da Morte, e tinha a varinha estendida sobre os corpos de Rony e Hermione. Eles pareciam no que parecia ser uma das salas do castelo negro que Harry vira na visão anterior, porque todas as pedras da parede eram negras e emitiam uma fraca claridade azul.

Rony e Hermione estavam no chão e contorciam-se de dor, claramente sob o efeito da maldição Cruciatus. Draco sorria e se deliciava de prazer ao ver os dois inimigos sofrerem aos seus pés, enquanto uma figura negra observava a cena das sombras. Harry reconheceu imediatamente a figura que os tinha atacado na estrada, e viu que ele sorria enquanto Draco torturava os dois bruxos.

A imagem turvou-se novamente, e foi substituída pela visão da figura negra enfrentando Rony nas ruínas de um pátio amplo, mas Rony estrava transformado no estranho cavaleiro que eles haviam visto na estrada. Os feitiços da figura negra não pareciam surtir efeito na armadura de Rony, mas o mantinham afastado.

A visão embaçou novamente, e começou a mudar tão rapidamente que Harry não conseguia distinguir o que aparecia, apenas fragmentos cada vez mais incompreensíveis de imagens. Ele se viu vestindo uma armadura de cavaleiro e montado em Petrus, cavalgando num desfiladeiro em direção a um castelo negro, mas a imagem rapidamente desapareceu para dar lugar a mais borrões coloridos.

A imagem voltou ao foco e mostrou Rony montado num enorme Drazztar, enfrentando Draco montado numa fera alada das sombras como a que o havia atacado no Vale das Sombras. Foi substituída por uma imagem de Harry e Sirius enfrentando uma multidão de esqueletos controlados pela figura negra, e a imagem desapareceu novamente, sendo tomada por borrões coloridos e imagens que se sobrepunham à uma velocidade estonteante. Harry tentava se concentrar para manter o foco, mas parecia que quanto mais tentava controlá-la, mais incompreensíveis ficavam as visões.

Quando por fim, os borrões pararam de sobrepor-se e formaram uma imagem concisa, Harry pôde ver Voldemort de pé atrás de Lothian, que continuava com a mesma expressão alucinada de quando matara Sirius, parados à frente de um derrotado Harry. Ele estava ajoelhado e ofegante diante do rapaz de cabelos brancos, sua varinha jazia em pedaços à sua frente, e o rapaz estava branco como cera. Lothian apontava a varinha para Harry num gesto ameaçador, preparando-se para o golpe fatal. Voldemort sorria e observava a cena, extasiado.

- Você nunca deveria ter vindo até aqui, Harry – dizia Lothian, enfatizando cada palavra com ódio mortal – Tirarei sua vida como tirei a vida de seu padrinho fraco, e finalmente meu caminho estará livre de você.

- Você é louco – sussurrou Harry, ajoelhado diante do inimigo – Não vê que ele o está manipulando, tudo o que ele quer é que você acabe comigo?

- Então somos dois que querem acabar com você. Você já viveu demais para atrapalhar os planos do Lorde das Trevas. A Ordem já foi destruída, seus amigos já estão mortos. Só restou você.

- Vai pro inferno, seu maldito – disse Harry entre dentes. Lothian sorriu.

- Não, Harry, quem vai é você. Avada Kedavra!

E num gesto rápido da varinha, Lothian lançou a maldição letal contra o bruxo. O clarão esverdeado preencheu toda a visão e tomou a consciência de Harry de assalto, fazendo com que sua cicatriz emitisse uma dor lancinante. Ele gritou, tão alto que parecia que seus tímpanos iam estourar, segurando a cabeça que parecia querer explodir.


Harry acordou sendo segurado pelos três amigos no chão de madeira do deck, Rony e Hermione tentavam acalmá-lo e impedir que ele gritasse para atrair a atenção dos bruxos na mansão de Morgan. Gina segurava a sua cabeça e tentava chamá-lo de volta à realidade, enquanto Drazztar e Petrus observavam de longe a cena.

Levou alguns minutos para que Harry se acalmasse o suficiente para que os amigos o deixassem se levantar. Ele caminhou alguns passos, sentindo dor em cada centímetro possível de seu corpo, suando em bicas, enquanto contava para os amigos cada visão que tivera durante o transe do ritual de divinação. Ele descreveu detalhadamente cada previsão que tivera, tentando recordar a maior quantidade de detalhes possível, para que os amigos o ajudassem a se lembrar, quando fosse a hora.

Quando o rapaz por fim terminou a narrativa, os quatro amigos ainda o observavam, silenciosos. Eles se entreolharam com terror nos olhos, e eles assentiram com a cabeça, como se estivessem concordando com alguma coisa que já havia sido conversada antes que ele despertasse.

- O que houve? - perguntou o bruxo, quase desejando que não obtivesse a resposta.

- Bom – disse Hermione, e Harry sentiu que sua voz tremia – nós acordamos antes de você, e estávamos conversando sobre nossas visões. Você sabe que eu não acredito nessas coisas, Harry, mas pareceu tão real, eu não sei o que pensar...

A garota desatou num choro desesperado e aterrorizado, abraçando o próprio corpo, e Rony a amparou, ainda mais branco do que o de costume. Gina olhou para Harry, seus olhos também em lágrimas, seus lábios tremendo, e disse.

- Vocês vão morrer, Harry – disse a garota, entre soluços – Todos tivemos visões diferentes, mas em todas elas a mesma coisa: vocês não sobreviverão a este ano.

A garota ruiva também desatou a chorar, e apoiou-se contra ele. O rapaz ficou ali, estático, tentando absorver as palavras dela. Então eles iriam morrer pelas mãos de seus inimigos até o final de ano, ele não era o único que havia previsto. Ele olhou para os amigos desesperados, e abraçou Gina, tentando afogar sua própria vontade de se desesperar. Ele queria encontrar alguma saída, alguma solução, mas naquela noite toda a esperança havia se apagado de seu coração, e a cena dele sendo morto pelas mãos de Lothian era a única coisa que ocupava a sua cabeça.

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