Capítulo IV - Novidades e desc

Capítulo IV - Novidades e desc



Capítulo IV - Novidades e descobertas


 


A quinta feira amanheceu trazendo o vento frio característico dessa época do ano; os poucos raios de sol que se faziam presentes não eram mais suficientes para esquentar os estudantes que já perambulavam pelos corredores do castelo. Hermione acordou e se arrumou rapidamente, pegou sua mochila e saiu de seu quarto encostando a porta com cuidado atrás de si. Ela dizia a si mesma que só não queria ser indelicada de acordar Malfoy quando tinham ido dormir tão tarde na noite anterior; era só por isso estava saindo tão quieta e sorrateiramente de seu próprio salão comunal. É claro que ela não estava fugindo dele, como ele insinuara...


Ao abrir a porta, porém, quase estragou seus esforços e gritou de susto. Deu de cara com Pansy Parkinson.


- Ótimo, sangue-ruim. Pela primeira vez na vida fez algo de útil – a loira sonserina se recuperou do susto primeiro, retomando a expressão de nojo que sempre usava ao se dirigir a seus ‘inferiores’, passando por Hermione e entrando no salão comunal dos monitores – Já estava me perguntando mesmo como é que entraria nessa coisa.


- E o que é que você quer aqui dentro, Parkinson? – a castanha virou-se para acompanhar a outra com o olhar, enquanto Pansy analisava os móveis e passava o dedo indicador neles, vendo se estavam empoeirados.


- Olhar pra esses seus dentões é que não é, né Granger – a loira desdenhou e se virou para as escadas – Só vim fazer uma surpresa para o Draquinho.


Hermione viu Parkinson fazer um floreio com a varinha enquanto subia as escadas, e nas mãos da garota apareceu uma bandeja de café da manhã recheada.


- Sei que você ainda não aprendeu a olhar um relógio, Parkinson, mas ainda estão servindo o café no salão principal.


- Então chispa daqui e vai lá encher o bucho. Porque eu e o Draquinho com certeza vamos... nos atrasar um pouquinho.


A castanha não pode evitar o incômodo que sentiu ao ouvir essas palavras e se retirou do salão, deixando a porta bater atrás de si sem preocupar mais em fazer barulho ou não.


 


Pansy terminou de subir as escadas e se deparou com três portas. “Inferno sangrento, porque não me lembrei de perguntar qual é o quarto dele?” Resolveu começar do começo. Parou em frente à primeira porta e abriu uma fresta. Em cheio!


Entrou no quarto escuro e fechou a porta silenciosamente atrás de si, vendo o vulto sobre a cama se virar, ficando de bruços e resmungando alguma coisa. Procurou e achou uma cômoda onde depositou a pesada bandeja. Na ponta dos pés, Pansy se dirigiu até a beirada da cama. Na pouca luz que se infiltrava pelas pesadas cortinas ela conseguia ver as costas alvas subindo e descendo num movimento cadenciado. O mais sutilmente que pôde, apoiou os joelhos na cama e tentou chegar até Draco sem acordá-lo.


Mal sabia ela que ele já estava acordado desde que a porta bateu no andar inferior. Ouviu alguém se esgueirar para dentro de seu quarto e virou de bruços, fingindo rolar durante o sono, enquanto na verdade a mão esquerda apertou o punho da varinha sob o travesseiro. Sentiu o colchão afundar sob o peso de outra pessoa e ficou alerta, sentindo a aproximação. Quando percebeu que a pessoa já estava em seu alcance, abruptamente se pôs de joelhos e apertou a varinha no pescoço do invasor, que deu um grito agudo e histérico. “Calma ai, agudo e histérico?”


Pansy sentia seu coração acelerado pelo susto e viu a expressão de Draco passar de determinação para confusão, e de confusão para raiva num segundo. Logo depois ele liberou-a do aperto da varinha e perguntou:


- Por Salazar, garota, o que você tá fazendo aqui?!


- Bom dia pra você também, Draquinho – já recuperada do susto, Pansy roubou um selinho de Draco e levantou saltitante da imensa cama – Olha só o que eu trouxe pra você-ê!


Draco revirou os olhos para o ânimo matinal de Pansy e levantou da cama – sem se preocupar que estava só com a calça do moletom, afinal, ela já vira muito mais do que isso – passou pela loira e foi em direção à porta.


- Posso saber aonde o senhor pensa que vai? – ela perguntou, virando-se pra ele com as mãos na cintura, o tom possessivo se fazendo presente em sua voz. Draco se segurou para não rolar os olhos novamente.


- Só vou tomar um banho – ele respondeu, pronunciando cada palavra com uma lentidão excessiva, no mesmo tom que ele usava ao falar com Goyle – Não pira, ok Pansy? Fica sentadinha ai que eu já volto.


Enquanto andava pelo corredor, se espreguiçando, olhou para a porta do quarto de Hermione e imaginou se ela ainda estaria ali dentro. Entrou no banheiro imaginando a cara que ela faria se saísse do quarto e desse de cara com Pansy ali. Riu com gosto da imagem que se formou em sua cabeça, mas logo todo o humor da situação sumiu de súbito quando se deu conta de que, se isso acontecesse, Hermione não iria querer vê-lo nem se ele começasse a usar vestes de segunda mão e pintasse os cabelos de vermelho.


 


 


Por mais que tentasse se segurar, Hermione não conseguia impedir seus olhos de vagarem pela mesa da sonserina. E cada vez que se pegava fazendo isso ficava ainda mais nervosa consigo mesma, e principalmente com Draco – que não apareceu para tomar café.


- Por Merlin, Mione! – Rony exclamou, batendo o garfo no prato de forma estridente e atraindo a atenção da castanha – O que é que você tem?


- Oras, não tenho nada Ronald!


- Não, é claro que não – comentou Harry sarcasticamente – Com certeza não aconteceu nada pra você estar bufando feito aquele Rabo-Córneo Húngaro do Tribruxo...


- E me chamando de Ronald – completou o ruivo.


- E não ter nem relado nas tortinhas de abóbora, já que você quase não gosta delas – Gina se esticou sobre Neville, que estava entre ela e Harry, para completar. Hermione fuzilou todos eles com o olhar.


- Não é nada, já disse! – Bufou mais uma vez e pensou rápido em uma desculpa – É só que... eu não fiz a redação da McGonagall e a primeira aula é a dela, então...


- Ótimo! – Rony interrompeu-a, empolgado – Qualquer coisa que você disser a McGonagall vai acreditar, então você podia falar que a monitoria tem consumido todo seu tempo livre – o que não deixa de ser verdade – e eu poderia me incluir nessa também, já que além da monitoria eu tenho os treinos de quadribol e decididamente a ultima coisa em que eu iria pensar é em fazer uma redação estúpida sobre...


Hermione parou de prestar atenção na metade do discurso de Rony e pegou uma tortinha, já que elas pareciam estar realmente apetitosas. Guardou-a na mochila e levantou para acompanhar a multidão de alunos que já se dirigia para as aulas; Rony e Harry seguiram-na, discutindo sobre o ultimo treino da grifinória, no qual aparentemente o ruivo tinha conseguido fazer algum progresso. Entraram na sala da McGonagall e sentaram-se na carteira de costume, a menina entre os dois meninos. A professora longo entrou na sala e a turma ficou instantaneamente em silêncio.


- Bom, antes de mais nada, as redações... – McGonagall agitou a varinha e pergaminhos saltaram das mochilas por toda a sala e voaram em direção à mesa dela; um desses pergaminhos saindo de dentro da mochila de Hermione. Rony encarou a amiga com uma expressão traída.


- Olha só... não é que eu tinha feito?! – Hermione sorriu amarelo para o ruivo.


 


As aulas da manhã passaram numa velocidade incrível e conseguiram distrair Hermione de seu mau humor temporariamente. Ela entrou no salão principal para o almoço rindo com Gina da cara que Rony fez quando flagrou a ruiva e Dino sozinhos num corredor deserto e nem se lembrou de olhar para a mesa da sonserina.


 


Draco, que estava fugindo de Pansy que nem um inferius foge do fogo desde manhã, já estava sentado na mesa da sonserina junto com Blaise. Como um ímã, seus olhos se voltaram para as portas do salão no momento em que Hermione entrava. Viu-a gargalhando com a Weasley fêmea e se lembrou de quando ela riu assim com ele na noite anterior; sorriu de canto, involuntariamente.


- A traidora do sangue ou a sangue ruim? – Blaise, que levantou a cabeça para ver o que o loiro tanto olhava, tirou-o de seus devaneios.


- Ahm? – Draco piscou algumas vezes, tentando se concentrar no que o amigo falava.


- Quem é a da vez, a Weasley fêmea ou a Sabe-tudo?


- É, muito engraçado Zabini – Draco só conseguiu manter o sarcasmo na voz porque tinha anos de prática.


- Qual é, você não pode negar que as duas estão bem jeitosinhas... – Blaise comentou, observando as garotas se dirigindo para a mesa da grifinória – A Weasley é bem desenvolvida para a idade, e a Granger... Cara, ela sempre foi gostosa desse jeito?


Draco não respondeu, porque sabia que se abrisse a boca ia ser para azarar Blaise. Levantou bruscamente e bateu de propósito o cotovelo em sua taça de suco de abóbora, derramando-a inteira na camisa branca de Zabini.


- Merda, cara! – o sonserino se levantou, a camisa ensopada e tingida de laranja.


Draco saiu da mesa sem nem olhar pra trás, deixando um Blaise incrédulo olhando para suas costas. Trombou com várias pessoas e não se deu nem ao trabalho de olhá-las, ignorando seus protestos. Saiu para o pátio gelado e levantou a gola do sobretudo preto, ainda bufando. Tentava ignorar a voz em sua cabeça que lhe dizia: “Ei, qual é o seu problema? Você sempre gostou que seus amigos invejassem as garotas que você pega!”


Ficou andando no vento frio por mais alguns minutos – literalmente esfriando a cabeça – e, quando seu estômago protestou pela falta de comida, voltou para o salão principal. Sentou-se novamente ao lado de Blaise sem dizer nada, e este também não perguntou. Comeram em silêncio. O moreno estava conversando com outro sonserino ao seu lado quando Malfoy se levantou. Parou atrás de Blaise e, sem olhá-lo, disse:


- Ei, Blaise – mesmo sem nenhuma introdução, sabia que o amigo entenderia do que ele estava falando – Eu não vi a taça e...


- Ah, ok! – Blaise sabia que esse era o melhor pedido de desculpa que conseguiria de Draco e se colocou de pé num pulo, rindo – Com certeza foi um acidente e não teve nada a ver com a gostosa da Granger...


- Já vou avisando, Zabini – Draco estreitou os olhos, tentando se manter sério – Da próxima vez vai ser a jarra de suco inteira.


Blaise jogou a cabeça para trás e soltou uma sonora gargalhada, atraindo a atenção das pessoas que estavam sentadas próximas. Draco revirou os olhos para a extravagância do amigo e riu junto. Como já estava virando costume, seus olhos voaram para a mesa da grifinória e encontraram dois orbes castanhos o estudando com interesse. Draco esperava que Hermione corasse e desviasse os olhos ao perceber que tinha sido flagrada, porém o lampejo de timidez que cruzou o rosto da castanha foi rápido e ela não desviou o olhar; ao contrário, continuou encarando-o, indiferente. O sorriso que ainda brincava nos lábios do loiro escorregou de seu rosto e ele franziu a testa em confusão. “De volta à estaca zero, então?” ele pensou desgostoso.


Hermione viu Draco indicar a saída do salão discretamente com a cabeça e arqueou uma sobrancelha para o atrevimento dele. Mas ela não ia perder a oportunidade de ver até onde ia a sua cara de pau. Murmurou para os amigos alguma coisa sobre devolver um livro na biblioteca e se levantou, jogando a mochila nos ombros. Saiu sem nem olhar novamente para Malfoy, mas sabia que ele a seguiria. Logo ouviu os passos dele ecoando atrás de si mas continuou em frente até um corredor que ficava sempre vazio. Virou-se de súbito para encará-lo e o surpreendeu olhando para sua bunda. Levantou as sobrancelhas e cruzou os braços, mas ele nem se deu ao trabalho de parecer constrangido.


“Não é justo ele estar tão lindo com essa gola levantada e essa boca vermelha de frio quando eu tô tentando ficar brava com ele!”, e isso só a deixou ainda mais irritada.


- Desembucha, sangue ruim – Draco apoiou-se na parede e cruzou os braços também.


- Eu? Foi você quem me chamou, loiro aguado.


- Claro, do jeito que você tava me fuzilando com o olhar eu fiquei com medo de virar geléia no meio do salão principal – ele ironizou com a voz arrastada de sempre.


O silencio pairou entre eles por vários segundos antes de Hermione falar, com a voz carregada de tédio:


- Essa foi boa, hein. Não, foi mesmo, juro. Eu to me acabando de rir por dentro. Ha ha ha.


Draco bufou e se desencostou da parede, passando a mão no cabelo para jogá-lo para trás.


- Olha Granger, eu realmente não consigo acompanhar suas oscilações de humor, ok?! Achei que a gente tinha deixado as hostilidades para trás¹ depois de ontem à noite, mas to vendo que me enganei. O que foi, tá de TPM? Acordou com o pé esquerdo?


- Bom, você claramente acordou com o pé direito hoje, né – ela não pôde se impedir de comentar, irônica.


Draco já ia responder quando ele entendeu tudo. E não conseguiu evitar a gargalhada.


- Como eu disse, muitíssimo bem humorado – Hermione murmurou, azeda.


- Granger, isso tudo é ciúme? – o sorrisinho Malfoy se espalhou pelo seu rosto quando a viu corar – É por causa da Pansy, não é?


- Cala a boca, Malfoy – ela rolou os olhos, tentando parecer desinteressada – Eu não tenho nada a ver com o que você e a nojenta da Parkinson fazem ou deixam de fazer...


- Não mesmo – ele concordou se aproximando da grifinória – Mas, só pra constar, eu e ela só tomamos café da manhã hoje no meu quarto.


- É, é claro que eu acredito em você, doninha – ela retorquiu, consciente de que cada passo que ele dava o trazia para mais perto de si e não gostando nada disso.


- Mas devia – ele continuou a avançar, vendo que Hermione olhava para qualquer lugar menos para ele; acabou com a distância entre eles em poucos passos e segurou o rosto dela, obrigando-a a encará-lo – Não faz o meu estilo mentir pra agradar garota nenhuma.  Principalmente você.



Hermione só conseguiu pensar num jeito de arrancar aquele sorrisinho presunçoso do rosto de Draco.


Pela primeira vez ela tomou a iniciativa e agarrou os cabelos dele, trazendo-o para mais perto e colando seus lábios nos dele. De primeira o garoto não se moveu, estático de surpresa, mas meio segundo depois a abraçou pela cintura e correspondeu com o mesmo entusiasmo. Mas Hermione rapidamente interrompeu o beijo, se afastou alguns centímetros tentando entender o que é que ela tinha acabado de fazer e encarou Draco; o que não ajudou muito, já que ele estava com um ar adoravelmente confuso, os lábios entreabertos mais vermelhos do que antes. Sem pensar duas vezes ela agarrou-o de novo e dessa vez ele correspondeu de imediato, suas mãos correndo pelas costas dela enquanto as dela despenteavam os cabelos lisos dele. Novamente – mais cedo do que Draco queria – Hermione parou o beijo e, como se não confiasse em si mesma, deu alguns passos se afastando dele. Ela estava corada e completamente sem graça.


- Eu... é, eu acho que... – Hermione parecia estar com problemas para juntar as palavras, sentia sua face pegando fogo – Aula, é isso, tenho aula agora. Então... Bom, a gente se vê.


O loiro a viu virar-se e sair apressadamente, mas continuou parado, sem reação. Só quando ela dobrou o corredor e sumiu de vista foi que conseguiu se mexer, balançando a cabeça de um lado para o outro pra sair do transe, um sorriso irrefreável se abrindo em seu rosto. Ainda ficou alguns segundos contemplando o lugar onde ela desaparecera quando o sinal para as aulas da tarde tocou. “Essa Granger é definitivamente maluca” pensou, enquanto se apressava pelos corredores rindo sozinho.


 


Hermione ainda estava procurando algum buraco no qual pudesse enfiar sua cabeça e sumir quando chegou à sala do prof. Binns, alguns minutos atrasada. O fantasma, contudo, nem interrompeu seu discurso maçante sobre a Guerra dos Duendes ao vê-la se esgueirar para o seu lugar com um pedido de desculpas. Enquanto tirava da mochila seu exemplar de História da Magia, de Batilda Bagshot, Harry se inclinou sobre ela e sussurrou:


- Onde é que você estava?


- Biblioteca – ignorando o olhar desconfiado do amigo, desenrolou um pergaminho e esticou-o sobre a mesa.


- E por que é que você está corada? – questionou o amigo, arqueando a sobrancelha.


- Porque... porque eu tive que vir correndo, você sabe como eu perco a noção do tempo quando estou na biblioteca – quando viu que Harry ia perguntar mais alguma coisa, cortou-o – Agora fique quieto que eu já perdi o começo da explicação, não quero perder o resto.


Fingiu tomar notas da aula enquanto na verdade rabiscava o pergaminho a esmo, os pensamentos longe. O que diabos deu nela pra atacar Malfoy daquele jeito?! Por Merlin, ceder a ele era uma coisa... agora, agarrá-lo? Isso já era demais para a sanidade mental de Hermione. “Ele é uma ameaça à minha sanidade mental”, ela admitiu.


E ela nunca ia saber o que aconteceu ou deixou de acontecer realmente no quarto dele de manhã. Só lhe restava acreditar nele, apesar de ser o senso comum nunca acreditar na palavra de um sonserino. “E mesmo que tenha de fato acontecido alguma coisa, qual é o problema nisso? Não é como se a gente tivesse a exclusividade de um relacionamento ou qualquer coisa assim...” Ela quase riu só de pensar sobre um relacionamento entre ela Draco. Ela conseguia até ver a cara de zombaria dele se ele soubesse que esse pensamento sequer passou pela cabeça dela; podia até ouvi-lo se gabando, a voz arrastada e desdenhosa: “Vai sonhando, sangue ruim”. Essa constatação a tranquilizou; não tinha sentido ela sentir – e só Merlin sabe o quanto custou para ela admitir que sentia – ciúmes do Malfoy por causa de uns beijinhos casuais que eles vinham trocando. Claro, ela não estava acostumada a esses relacionamentos modernos, abertos. Mas pra tudo na vida tem uma primeira vez. “Por quê não?”, ela pensou. Hermione aprendeu por experiência própria que mudar é necessário e, às vezes, as mudanças – mesmo as mais inesperadas – podem ser para melhor.


Foi só quando o sinal indicando o fim da aula dupla de História da Magia soou e ela viu Antonio Goldstein atravessar a sala com grupo de corvinais com quem a Grifinória dividia aquela aula que Hermione se lembrou da descoberta que tinha feito na noite anterior.


- Tony! – o corvinal se virou e ela fez sinal para que ele a esperasse; virou-se, então, para Harry e Rony – Encontro vocês no Salão Principal, ok?


 


- Oi – ela cumprimentou o amigo assim que o alcançou e eles seguiram a maré de alunos que rumava para o jantar – Você ta bem?


A castanha fitou o rosto dele ansiosamente, procurando algum roxo ou um arranhão, mas, além as olheiras fundas, Tony estava intacto – ao menos onde era visível – e surpreendentemente animado.


- Eu estou bem; quem ta parecendo meio pilhada é você, Francesinha.


- Tem certeza? – o corvinal rolou os olhos diante da expressão desconfiada da garota.


- Mione, já não falei pra você parar de estudar tanto? Eu sabia que mais cedo ou mais tarde tanta informação ia acabar embaralhando seu cérebro...


Hermione deu de língua enquanto Tony gargalhava e passava o braço pelos ombros dela.


- Não preocupe essa sua linda cabecinha superlotada comigo, ok? – ele plantou um beijo no topo na cabeça dela e saiu em direção à mesa da sua casa, cumprimentando alguns conhecidos no caminho. Não passou despercebido para a castanha que essa mudança de humor literalmente da noite para o dia coincidiu com a mudança de fase da lua. Sabendo que Tony estava certo e que ele estaria bem – pelo menos até o mês seguinte – Hermione seguiu para a mesa da sua casa e sentou-se entre Harry e Rony.


 


Como não era noite de ronda, Hermione foi para o salão comunal da Grifinória com o resto dos seus colegas de casa após o jantar. Sentia falta do movimento e agitação constantes dali, apesar da calmaria do seu salão comunal ser bem vinda às vezes. E naquela noite o salão estava particularmente barulhento. Lilá Brown aparentemente tinha conseguido convencer seus pais a permitirem que ela retornasse à escola. Chegou pouco depois do jantar, acompanhada de uma satisfeita professora McGonagall e foi saudada com entusiasmo pelos colegas. Logo ela e Parvati – sua companheira inseparável – estavam cochichando e soltando risadinhas histéricas, como sempre, e todos voltaram para suas atividades anteriores. Para Hermione, porém, a volta de Lilá podia significar uma mudança maior. A castanha apressou-se em alcançar McGonagall antes que ela sumisse pelo buraco do retrato.


- Professora! – ela chamou, e a diretora da casa virou-se para fitá-la – Eu só estava imaginando se, agora que a Lilá voltou, ela vai reassumir seu antigo posto na monitoria.


- Ah, não. Eu já falei com a Srta Brown e ela concordou que, uma vez que você foi escolhida monitora-chefe e já está habituada com suas tarefas como tal, seria melhor que a Srta mantivesse seu posto – Minerva a garantiu.


Hermione agradeceu a professora e retornou para o salão comunal da Grifinória, onde ficou por mais algum tempo com os amigos até voltar para os seus aposentos. Ao chegar lá, porém, encontrou Malfoy jogado num sofá, a cabeça descansando num livro que estava aberto sobre o braço do móvel. Ele não se moveu quando a porta se fechou atrás da castanha e ela julgou que ele tinha caído no sono. Como tinha acontecido um mês antes, Hermione sabia que não ia conseguir simplesmente deixá-lo dormindo ali e deixar que ele se virasse quando acordasse pela manhã com o corpo moído. Aproximou-se do sofá e se agachou de frente para o garoto, abafando uma risada quando viu que ele estava dormindo sobre o braço direito e sua boca pendia aberta.


- Malfoy – Hermione sussurrou, enquanto levantava o braço para sacudi-lo pelos ombros. Mas antes que conseguisse tocá-lo, os olhos dele se abriram de supetão e sua mão esquerda voou para agarrar o pulso de Hermione no ar, quase a fazendo se desequilibrar de susto – Por Merlin, Malfoy! Algum dia você ainda me mata de susto!


- Reflexo – ele deu de ombros, largando o pulso de Hermione e se espreguiçando – Que horas são?


- Tarde – ela respondeu simplesmente, se levantando – Vai dormir, você ta um caco.


- Obrigada pela parte que me toca, Granger – Draco ironizou – Mas eu tenho que terminar essa redação do Binns. Como se alguém prestasse atenção na aula daquele fantasma incompetente – ele completou a ultima parte mais para si mesmo.


- Bom, você não parece ter prestado atenção mesmo – Hermione comentou espiando no pergaminho aberto sobre o livro – Quem deu inicio aos roubos das peças forjadas por duendes de clãs diferentes foi Brung, O Mercenário, e não Clarque, O Habilidoso.


- Ah, não! – Draco estava tão desolado com a idéia de ter que revisar tudo que já tinha escrito que nem se lembrou de ser rude com Hermione – Isso é ótimo! Agora é que eu não vou dormir nunca.


- Porque é que vocês garotos são tão dramáticos? – Hermione rolou os olhos e pegou a redação de Draco, se jogando no sofá ao lado dele – Me dá a sua pena.


- O que você vai fazer? – ele perguntou meio desconfiado, mas entregou-lhe a pena assim mesmo.


A garota não respondeu, só começou a riscar algumas frases aqui e acrescentar alguns detalhes ali. O sonserino ficou observando-a enquanto ela corrigia a redação dele, estupefato. Ela estava ajudando ele? Draco não pode deixar de imaginar se ela não estaria colocando as informações erradas de propósito só para ferrar com ele, mas descartou essa idéia. Hermione estava concentrada, as sobrancelhas levemente vincadas e o lábio inferior preso entre os dentes. Ele quase sorriu.


- Porque você está fazendo isso? – ele não pôde deixar de perguntar.


- Não é nada demais – ela respondeu displicente enquanto escrevia um parágrafo em baixo do texto de Draco – Eu estou acostumada a revisar as tarefas do Harry e do Rony. Não se sinta especial.


Porém, ao dizer a ultima frase, ela olhou para ele e sorriu, e Draco podia jurar que tinha visto um leve rubor tingir o rosto dela. Rapidamente Hermione voltou sua atenção para a redação e o garoto sabia que isso queria sim dizer alguma coisa. Ele sentiu uma imensa satisfação por receber dela o mesmo tratamento que os Dois Paspalhos e, apesar de não entender por que, alguma coisa morna brotou dentro dele. Talvez fosse só por ter, pelo menos uma vez na vida, os mesmos privilégios que o Menino-que-sobreviveu.


- Bom, agora só passe tudo a limpo e acrescente essa conclusão. Seu texto estava realmente bom e eu não tive que... – Hermione parou de falar quando encontrou o olhar penetrante de Draco sobre si – O que foi?


Mas ele não respondeu com palavras. Se aproximou devagar, sem tirar os olhos dos dela e levou sua mão até o rosto da grifinória, acariciando-o gentilmente. A castanha inclinou o rosto na direção da mão dele inconscientemente e sua expressão se suavizou. Os lábios de Malfoy encontraram sutilmente os dela e ele ficou só saboreando-os por um tempo antes de aprofundar o beijo. Draco segurava o rosto de Hermione entre suas mãos, guiando-a, enquanto as mãos dela encontraram seu caminho para repousarem nas costas dele. As línguas se buscavam e dançavam juntas vagarosamente, num beijo calmo e incrivelmente sensual. Ficaram mais alguns minutos assim – ou horas – e o beijo foi cessando gradualmente, virando selinhos e mordidelas até quebrarem o contato relutantemente. Draco ainda segurava o rosto dela entre as mãos e bem próximo ao seu quando abriu os olhos, sendo seguido pouco depois por Hermione.


- Esse definitivamente não é o tipo de agradecimento que eu geralmente recebo, não que eu esteja reclamando – a castanha sussurrou, ganhando um sorriso torto de Draco – Então... Boa noite.


Ela hesitou antes de aproximar seu rosto novamente do dele e beijá-lo na bochecha antes de subir para o seu quarto.


 


O dia seguinte amanheceu trazendo mais novidades. Quando desceu para o salão comunal Hermione notou um novo aviso no mural ao lado do panfleto da festa de Halloween da Corvinal. Era um anúncio para as aulas de aparatação que aconteceriam quinzenalmente em Hogsmeade. Mione se apressou em assinar seu nome nas linhas abaixo do recado e nesse mesmo instante Draco apareceu no alto das escadas.


- Novidades? – perguntou, descendo.


- Bom dia pra você também – ela replicou, mas não de maneira ríspida – Aulas de aparatação, começando sábado.


- Como? Não tem jeito de aparatar nem desaparatar dentro de Hogwarts.


- Hogsmeade – ela respondeu simplesmente.


- Pelo menos vamos poder sair do castelo – o garoto correu os olhos rapidamente pelo aviso e assinou também.


Hermione já estava cruzando a sala ao lado de Draco quando percebeu.


- Ei, como é que você sabe que não se pode aparatar aqui?


O garoto parou e se virou para olhar Hermione que tinha ficado parada alguns passos atrás.


- Acho que li em algum lugar – ele franziu as sobrancelhas, tentando se lembrar.


- Talvez em Hogwarts: uma história? – a castanha perguntou hesitante.


- É... – Draco pareceu pensar um pouco – É, pode ter sido.


Ele voltou a andar em direção a porta, só para parar novamente quando percebeu que Granger continuava parada no mesmo lugar.


- O quê? – o garoto perguntou, levantando as sobrancelhas como que a incentivando a falar quando ela continuou fitando-o como se fosse a primeira vez que o visse.


- Nada – ela negou com a cabeça, os cantos de sua boca subindo levemente num sorrisinho irrefreável enquanto voltava a andar.


- Você é estranha, Granger, já te disse isso? – o loiro sacudiu a cabeça também, desistindo de entendê-la.


- Pra falar a verdade – ela olhou-o enquanto abria a porta, o sorrisinho misterioso ainda nos lábios – Essa foi a coisa mais legal de que você já me chamou até hoje.


Com isso, virou-se e saiu pelo corredor, deixando para trás um sonserino tentando entender se isso tinha contado como ponto a favor ou contra ele.


 


A excitação era tangível enquanto os alunos esperavam em fila no Hall de Entrada para serem inspecionados pelo inconveniente Detector de Segredos de Filch antes de serem liberados no sábado de manhã. Aparentemente todos os alunos do sexto ano estavam indo para Hogsmeade para a primeira aula de aparatação, sem se importarem com o vento gelado e cortante precedente do inverno.


- Eu vou dizer a esse aborto mal-amado aonde ele pode enfiar esse maldito sensor – Rony resmungou enquanto ele, Harry e Hermione desciam as escadas para os jardins depois de ser submetido a duas vistorias por um zelador desconfiado; aparentemente Filch acreditava que Rony estava ajudando a contrabandear os produtos dos irmãos para dentro do castelo e isso lhe rendeu cutucadas extras em lugares inconvenientes com o Detector.


- Ah, Rony, não chame ele disso! – Hermione repreendeu Rony – Pra falar a verdade, eu tenho as minhas dúvidas...


- O quê? – o ruivo encarou-a como se ela tivesse perdido o juízo – Mas ele é um aborto Mione, não se lembra daquela carta do Feitiço Express que o Harry...


- Não, não isso – ela interrompeu-o; olhou para os lados e abaixou a voz antes de continuar, o riso em sua voz não totalmente camuflado pelo tom conspirador – Eu estou falando da parte do mal-amado. Já notei Filch rondando a biblioteca várias vezes quando eu fico lá até mais tarde...


- Yuck! Eu vou ter pesadelos pro resto da vida com a imagem que se formou na minha cabeça – Harry fingiu vomitar enquanto Hermione e Rony riam. Os três continuaram discutindo o possível caso de amor secreto entre Madame Pince e Filch enquanto a carruagem os levava até Hogsmeade.


Assim que todos os alunos chegaram vila foram guiados pelos diretores das Casas até uma área mais distante, um campo aberto grande o bastante para treinarem aparatação, mas não afastado o suficiente para chegar a ser perigoso. Foram recebidos por um bruxo miúdo que se apresentou como Twycross, o instrutor ministerial de aparatação. Ele explicou brevemente os três D’s (Destinação, Determinação e Deliberação) e instruiu os alunos a formarem filas deixando um metro entre si e o colega da frente; com um aceno de varinha, fez surgir um arco na frente de cada aluno e mandou que eles aparatassem dentro dele. Todos ficaram espantados com a idéia de já partirem para a prática tão depressa, mas tentaram mesmo assim. Como era de se esperar, ninguém conseguiu nada mais do que se desequilibrar ou levar um tombo quando tentaram “se deixar engolfar pelo vácuo”, como Twycross os dissera para fazer. Até o fim da aula, ninguém tinha conseguido aparatar ainda – com exceção de Susan Bones, que teria conseguido se não tivesse esquecido uma perna para trás. Os professores logo cuidaram da aluna estrunchada e não demorou muito depois disso para que os alunos fossem liberados e seguissem para o Três Vassouras para uma parada rápida antes de voltarem ao castelo.


 


Draco seguia com Crabbe, Goyle, Pansy e Blaise para o pub, mas não estava realmente prestando atenção na conversa deles. Já tinha passado e repassado o plano em sua cabeça durante a semana e sabia que estava preparado. Mas uma parte dele ainda relutava em usar uma Maldição Imperdoável em outra pessoa. “De um jeito ou de outro, eu vou ter que usar bem mais que um Imperius no final das contas”, ele se lembrou pelo que lhe parecia a milésima vez, mas isso não parecia tornar a idéia mais aceitável.


Assim que entraram no Três Vassouras e o ar morno os envolveu, Draco foi retirado de seus pensamentos pelo barulho das conversas e risos despreocupados dos sextanistas e sentiu na boca o gosto amargo já tão conhecido. Inveja. E sentir inveja daqueles idiotas só o deixava mais irritado ainda. Essa raiva súbita foi a fagulha que faltava para ele se convencer de que era sim necessário seguir com o plano para que pudesse tirar o mais rápido possível aquele peso de suas costas.


Instruiu os amigos a procurarem uma mesa enquanto ele se encarregava das cervejas amanteigadas e seguiu então para o balcão, onde uma atarefada Madame Rosmerta tentava se desdobrar para atender todos os pedidos. Só quando já estava quase chegando no balcão foi que Draco reconheceu o Trio-Maravilha parado ali, provavelmente fazendo seus pedidos também. Estava perto o suficiente para ouvir o Cenoura Ambulante se oferecendo euforicamente para ajudar Rosmerta a pegar mais cervejas amanteigadas no estoque; Weasley, porém, de tão empolgado, tropeçou nos próprios pés enquanto ia contornando o balcão e quase se espatifou no chão. Draco não podia desperdiçar uma oportunidade dessas e riu alto, fazendo Ronald se virar para ele com o rosto da cor dos cabelos e isso só serviu para acentuar ainda mais o sorriso cínico do loiro.


- Tropeçando nos próprios pés, Weasley? A cada dia você se supera – Draco zombou enquanto passava pelo ruivo e entrava atrás do balcão – Eu te ajudo, Madame Rosmerta.


Draco ainda lançou um olhar vitorioso para Ronald antes de seguir a mulher para dentro do estoque, evitando a todo custo olhar para Granger. Ultimamente ele estava procurando evitar encrenca com a garota o máximo possível; afinal, ele tinha conseguido um Excede Expectativas na redação que ela corrigiu para ele. Ao invés se focou na chance de ouro que o destino tinha botado em suas mãos: estava sozinho com sua pretendida vítima e não tinha tido que fazer nenhum esforço para isso. Depois de respirar fundo duas vezes, levantou sua varinha e apontou-a para as costas de Rosmerta enquanto ela o guiava para o fundo do estoque e realizou o feitiço de forma não-verbal, para o improvável caso de alguém estar perto o suficiente para ouví-lo. Assim que pensou "Imperio!", sentiu como se houvesse surgido uma extensão de seu braço esquerdo que se ligou diretamente à dona do bar. Ela parou de andar de supetão, ficando rígida. D. continuou andando até parar de frente para a mulher e olhar em seus olhos vidrados. 


- Nos próximos dias você vai receber uma encomenda. Um pacote grande e sem identificação que você não deve abrir em qualquer circunstâncias. Está me entendendo? - ela acenou positivamente com a cabeça - Bom. Quero que dê um jeito desse pacote chegar até Dumbledore. Não me importa como, não me importa os meios que você tenha que usar, quero que essa encomenda chegue ao Diretor. Aqui - ele tirou do bolso um galeão e estendeu para Rosmerta - Vai ser por esse galeão que nos comunicaremos. Carregue-o sempre com você, pois quando ele esquentar estará sinalizando que eu te mandei uma mensagem. Mande-me mensagens apenas quando tiver informações que possam me interessar sobre Dumbledore e os outros professores, ou quando conseguir realizar o trabalho que eu te passei. Fora isso, continue desempenhando suas funções normalmente, aja normalmente com as pessoas. Por enquanto é só.


Assim que ele terminou de falar, ela seguiu sozinha para o fundo do bar e usou sua varinha para levitar dois fardos de cervejas amanteigadas para levá-las para fora. Quando passou por D., ele pegou um dos fardos nos braços e seguiu-a de volta para atrás do balcão, continuando sua atuação de garoto prestativo.


 


Hermione viu Madame Rosmerta agradecer Draco por sua ajuda e ele e passar por ela e seus amigos sem um único olhar na direção deles. Desde a noite em que o ajudou com a redação de História da Magia, Mione notou que parecia ter se estabelecido uma trégua silenciosa entre ela e Draco. Agora não era incomum os dois sentarem juntos em seu salão comunal, fazendo os deveres ou lendo algum livro. Mas a gangue de sonserinos, é claro, não estava ciente disso e continuava a provocar o trio de ouro da Grifinória. E como o bom sonserino que era, o loiro continuava a rir quando Pansy zombava do cabelo de Hermione ou quando Zabini provocava Rony por seus péssimos resultados em Poções; ele não tinha sofrido uma transferência de almas, no final das contas. Mas essa mudança sutil não tinha passado despercebida por Hermione. 


Os três grifinórios pegaram suas cervejas amanteigadas e foram atrás de uma mesa vazia. Encontraram uma no fundo do bar e se sentaram - Rony e Hermione de um lado, Harry de frente para eles. Mal se acomodaram e a mesa em frente à deles foi ocupada por um grupo de garotas, entre elas Lilá e Parvati. A gêmea Patil não parecia muito contente por sentar-se no fundo do bar, ao contrário da amiga que se posicionou exatamente de frente para Rony e sorria de orelha a orelha. Hermione olhou de um para outro e quando viu as orelhas de Rony ficando rubras imaginou o que teria acontecido durante as rondas desses dois no ano anterior. E, para sua grande surpresa, a possibilidade de Rony ter ficado com alguém enquanto ela estava fora não causou nela o sentimento que ela esperava. Seu coração não ficou apertado e ela não perdeu o chão sob seus pés. Pelo contrário, o que ela pensou foi: “Como é que esse legume insensível não me contou!” Harry mandou uma carta para ela na França quando ele beijou Cho; claro, ele não deu detalhes – eca! – mas mencionou o fato. Hermione fez uma anotação mental para arrancar essa história de Rony mais tarde. E tentou não se preocupar muito com o que significava ela não ligar que ele estivesse com outra garota; e tentou ignorar mais ainda a voz em sua cabeça que a perguntava qual – ou quem – era o motivo dessa mudança.




Assim que terminou de “ajudar” Madame Rosmerta com as cervejas, Draco foi direto para o banheiro. Depois de expulsar os garotos que estavam lá dentro e trancar a porta, o loiro foi até a pia e jogou água no rosto. Apoiou as mãos na pia e ficou olhando a água da torneira escorrer pelo ralo por um tempo antes de fechá-la e enxugar o rosto. Ele esperava se sentir diferente de alguma forma depois de ter usado uma Maldição Imperdoável em outra pessoa; culpado, aliviado ou até orgulhoso. Sabia que isso tinha que ser feito e foi o que fez, mas não sentiu nada. Não tinha feito mal algum para a mulher para se sentir culpado, mas também não queria ter que fazer isso para se sentir orgulhoso por ter conseguido. O alivio viria quando ele conseguisse que o Lorde das Trevas soubesse de seus avanços, garantindo assim a segurança de sua mãe – pelo menos temporariamente.


Sabia que mandar o colar amaldiçoado ao velho não era um plano à prova de falhas, mas ele tinha que mostrar algum empenho logo. Enquanto não bolava um plano mais elaborado, o colar tinha sido a única solução que lhe veio à cabeça. Como as correspondências estavam sendo inspecionadas e ele não conseguiria trazer o colar para dentro do castelo, Draco teve que pensar em alguém que pudesse passar pelas barreiras de segurança para fazer isso por ele. Sua primeira opção foi render Filch com a Imperius, mas o zelador passava tempo demais em contato com Dumbledore para contar que o velho não percebesse que ele estava amaldiçoado. Depois pensou em pedir para que Snape recebesse o colar por ele, já que aparentemente as correspondências dos professores não passavam por qualquer inspeção, mas Draco ainda relutava em receber qualquer ajuda do padrinho. Por fim, concluiu que seria melhor alguém de fora do castelo que gozasse da confiança dos professores, e talvez até do diretor, para poder ser dispensado da revista obrigatória à que Filch submetia todos que entravam/saiam da escola. Como os habitantes de Hogsmeade eram o máximo de pessoas de fora com quem ele conseguiria ter contato, Madame Rosmerta lhe pareceu a melhor opção, a pessoa que seria mais útil ter sob seu comando. Sendo dona do pub mais popular do vilarejo e amiga de longa data de Dumbledore, ela sabia de tudo que se passava nos arredores e talvez conseguisse driblar os sensores de segredos e magia das trevas do zelador.


Saiu do banheiro e já ia saindo do bar quando escutou a voz estridente de Parkinson chamar seu nome. Com um suspiro cansado, mudou seu rumo e se dirigiu a mesa dos sonserinos.


- Draquinho, você demorou séculos para voltar e ainda não trouxe as nossas cervejas! – a loira reclamou, fazendo biquinho. Draco nem tentou se impedir de rolar os olhos.


- Você tem duas pernas e duas mãos, Pansy, pode pegar sua própria cerveja. O bar é logo ali; se você quiser eu desenho um mapa para você não se perder no caminho – Crabbe e Goyle riram, escandalosos, e o loiro piscou um olho cinicamente para a garota quando ela lhe lançou um olhar magoado; Zabini só estudava o amigo sem demonstrar reação.


Nesse momento a professora McGonagall entrou no bar e anunciou que era hora dos sextanistas voltarem para o castelo. Draco saiu do pub sem esperar ninguém, mas mal tinha subido a gola do seu sobretudo e enfiado as mãos nos bolsos para se proteger do vento cortante quando sentiu Blaise alcançá-lo.


- E então, está feito? – o negro perguntou, como se estivessem falando do clima.


- Ahn? – Draco tentou parecer desinteressado, mas sabia que Blaise o conhecia bem demais para tentar enganá-lo.


- Tudo bem se você não quiser me contar o que você está fazendo – os dois garotos atravessavam agora a rua principal do vilarejo – Mas não me julgue um Crabbe; assim você me ofende.


O loiro deu uma risadinha nervosa, mas não respondeu a pergunta de Blaise. Ainda preferia não envolver mais ninguém em seus ‘negócios’. Continuaram a subir em direção à estrada que os levaria a Hogwarts em um silêncio meio desconfortável. Logo, porém, um riso estridente e conhecido para os dois amigos se fez ouvir logo atrás deles.


- E você simplesmente olhou para baixo e viu que tinha esquecido as pernas dentro do Armário?


- Exatamente! – a voz grave de Montague respondeu, arrancando mais uma onda de gargalhadas de Pansy Parkinson, Vicente Crabbe e Gregório Goyle.


- Você não se cansa de contar essa história, Montague? – Draco rolou os olhos para a tentativa patética de Pansy de causá-lo ciúmes aparecendo pendurada no braço do garoto.


- Pansy aqui me pediu para contar como é aparatar – ele respondeu, e a garota agarrada nele bateu as pestanas em sua direção.


- No que você não deve ter sido de muita ajuda, uma vez que o máximo que você conseguiu foi se estrunchar, não é?


Montague ignorou completamente o comentário de Blaise.


- Eu tentei aparatar várias vezes, mas não conseguia. Era como se o ar se solidificasse quando eu tentava – contou o sonserino, franzindo ligeiramente a testa.


- Isso não poderia ser um feitiço anti-aparatação, poderia? – sussurrou Draco para Blaise.


- Mas então, experimentei aparatar num daqueles momentos em que eu ouvia os clientes na Borgin & Burkes, ao invés das conversas nos corredores do colégio, e então consegui – quer dizer, consegui mais ou menos.


Draco já estava cansado de ouvir essa história e já ia deixando sua atenção vagar novamente quando a informação penetrou seu cérebro.


- Espera ai, Montague – o rapaz parou abruptamente e se virou para encarar o colega sonserino – Vem aqui, me conta essa história direito.


- Ora, não era você quem estava reclamando por eu estar contando essa história novamente? – Montague arqueou as sobrancelhas, desconfiado quando o Príncipe da Sonserina lhe deu um sorriso enviesado.


- Sabe o que é – Draco esperou o colega emparelhar com ele e jogou então o braço sobre os ombros dele, guiando-o pela estradinha – Agora que estamos tendo aulas de aparatação eu imagino o quão difícil deve ter sido para você sair daquele Armário; é preciso semanas de aulas para aprender a aparatar e você teve que aprender sozinho, e ainda numa situação tão adversa... isso me fez ver os eventos sob uma nova luz, entende.


Montague, lisonjeado com a atenção de Malfoy – que raramente se dava ao trabalho de trocar mais de duas frases com outra pessoa além de Zabini – livrou seu braço das garras de Pansy, deixando-a parada indignada no meio da estrada, e seguiu em direção ao castelo contando animadamente e com detalhes para Draco o incidente com o Armário Sumidouro.                                              


Mais tarde, naquela mesma noite, Draco subiu até o corujal para mandar uma carta à Borgin, orientando-o a enviar o colar amaldiçoado para Madame Rosmerta, no Três Vassouras, e pedindo a confirmação de que ele realmente possuía o par do Armário Sumidouro que estava em Hogwarts. Exigindo a resposta o mais rapidamente possível, ele amarrou a carta e um saquinho com os galeões referentes ao colar na pata de uma das coruja-das-torres da escola e acompanhou a ave desaparecer no céu noturno.


 


 


N.A.:“Olha Granger, eu realmente não consigo acompanhar suas oscilações de humor, ok?! Achei que a gente tinha deixado as hostilidades para trás”¹: Admito, essa fala foi inspirada num diálogo de Twilight. Me processem então! Hahaha!


Eu peço MIL DESCULPAS pela demora! Eu estava viajando nas férias e meu pen drive com os capitulos ficou em casa, mas agora estou de volta ao meu lar doce lar e prometo que vou tentar atualizar mais rápido, ok? Esse capitulo foi mais curto e com menos Dramione, mas é essencial para marcar uma nova fase da fic. Agora o Draco e a Mione já estão se aturando melhor e a relação deles vai começar a tomar forma. Esperem mais romance nos próximos capitulos. Por outro lado, agora Draco tem um plano traçado para realizar sua missão e isso torna a coisa toda muito mais real para ele. Deixo vocês com a promessa de atualizações menos demoradas - se Merlin quiser! - e o pedido tradicional:


COMENTEM!!!


E agradeço muito a todos os leitores que deixaram suas opiniões e principalmente aos que, como a Rayane Tavares, não desistiram ainda dessa fic nem dessa autora! Obrigada, e eu prometo recompensá-los pelo incentivo. Beijos, até o próximo capítulo.

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