Capitulo I - Retorno à Hogwart

Capitulo I - Retorno à Hogwart



CAPITULO I - Retorno à Hogwarts


Hermione escolhia cuidadosamente o tijolo certo para abrir o arco que dava no Beco Diagonal. Mandara cartas a Rony e Harry para que eles viessem a encontrar e comprassem os materiais juntos, mas a Sra. Weasley já havia se encarregado dessa tarefa por eles. A garota, ao entrar no Beco, pegou sua carta de Hogwarts e correu os olhos pelos livros que teria que comprar.


Na Floreios e Borrões comprou livros, pergaminhos, penas e tinteiros. Depois foi ao Boticário renovar seu estoque de ingredientes para poções. Passou na Madame Malkin’s para encomendar novas vestes, porque suas antigas vestes grifinórias com certeza não lhe cabiam mais; e apesar de vir indicado na carta que ela deveria levar vestes a rigor, ela preferiu esperar e – quando necessário – compraria alguma coisa em Hogsmeade mesmo. Ao sair da loja, avistou um tumulto perto dali, em frente a uma vitrine espalhafatosa. Seus olhos se iluminaram e ela correu na direção da loja, já imaginando qual seria. Quando se aproximou da porta, viu em letras grandes e fluorescentes o nome que confirmou suas suspeitas: GEMIALIDADES WEASLEY.


O interior da loja estava abarrotado de gente de todas as idades; as prateleiras, lotadas de coisas em todas as formas e cores: gomas coloridas, frascos contendo poções suspeitas, varinhas que disparam feitiços em quem os atira e muitas outras esquisitices que Hermione não conseguia nem imaginar para quê serviam.


- Posso ajudar a senhorita? – a castanha ouviu uma voz galanteadora atrás de si. Virou-se e deu de cara com Jorge, que lhe sorria de um jeito muito estranho.


- Jorge? Não está me reconhecendo?! – ela perguntou, dividida entre a surpresa e a vontade de rir.


- Bem... – o ruivo pareceu ligeiramente confuso, tentando lembrar-se aonde já a vira; então logo seu rosto esticou-se novamente naquele mesmo sorriso suspeitíssimo – talvez dos meus sonhos?


Hermione não se agüentou e caiu na gargalhada. Jorge dando em cima dela era impagável. Ele pareceu meio ofendido.


- Ei, qual é a graça? – Jorge perguntou fechando a cara.


- Me desculpe, Jorge – Hermione tentava recuperar o fôlego depois do ataque de riso – Sou eu, hã! Mione... ? – ela falou como quem explica algo para uma criançinha, apontando para si mesma.


- Mio... o que? Hermione! – o ruivo arregalou os olhos e a puxou para um abraço – Merlin, juro que não te reconheci e...


- Qual é, não é como se eu estivesse parecida com a Delacour ou algo assim – a garota revirou os olhos e se afastou de Jorge.


- Tem certeza? Eu podia jurar que vi alguns garotos ficarem realmente desnorteados quando você passou, sabe... – Hermione revirou os olhos novamente e riu encabulada – Fred! Venha aqui!


Fred - o gêmeo de Jorge - que passava ali por perto, se desviou do caminho que estava seguindo e dirigiu-se até o irmão.


- Ei, moleque! Saia por aquela porta com essa poção de amor no bolso e vai ver a atração irresistível da minha mão pela sua orelha! – o ruivo ralhou com um garotinho, que rapidamente tirou um frasco cor-de-rosa do bolso e colocou-o de volta na prateleira, com um ar aterrorizado – Hermione!


- Como vai, Fred? – perguntou a castanha ao abraçá-lo – Ao menos alguém aqui ainda se lembra de mim...


- Oh, mas que injustiça! – Jorge protestou, com fingida indignação – Eu não pude vê-la das últimas vezes que nos visitou, lembra? Dá um desconto...


- Mas a que devemos a honra de sua ilustríssima presença em nosso humilde estabelecimento, mademoiselle? – perguntou Fred com uma reverência.


- Algo me diz que o Snape deve estar com muita saudade de mim... - os dois fizeram caretas de nojo ao ouvir esse nome – Então achei melhor passar aqui antes e voltar preparada para matarmos a saudade, se é que vocês me entendem.


- Quem diria! Hermione Certinha Granger planejando aprontar com um professor! – Jorge  olhava atônito para a castanha diante de sua expressão divertida.


- É, a França realmente te fez bem, Mione... só me perguntou por quê você não se tornou tão maneira assim enquanto ainda estávamos em Hogwarts sabe; teria nos poupado muitas detenções* - Fred comentou zangado, fazendo a garota cair na gargalhada novamente.


(N.A.: * considere como se, no 4º ano – antes de Hermione mudar-se para a França – ela já tivesse sido nomeada Monitora da Grifinória juntamente com Rony)


Os gêmeos mostraram a Hermione toda a loja e suas criações (algumas das quais utilizavam magias verdadeiramente complexas) encantaram a garota. Depois de um bom tempo conversando com Fred e Jorge e conhecendo a loja, ela despediu-se para continuar suas compras pelo Beco.


- Ei, Mione! – Jorge a chamara quando ela já tinha saído da loja carregando mais algumas sacolas – Só queria te pedir para não comentar nada com o Rony sobre eu ter te cantado hoje mais cedo. Sabe com é, pretendo viver mais alguns anos...


- Cala a boca, cabeça-de-fósforo! – Hermione deu-lhe as costas, o rosto da cor de um pimentão, e se afastou pisando duro deixando para trás um Jorge que gargalhava gostosamente.


A garota aproveitou e, ao passar pela Animais Mágicos, comprou um imenso pote da ração preferida de Bichento. Vendo que ainda faltava um certo tempo até que pudesse ir buscar suas vestes na Madame Malkin’s, sentou-se na Florean Fortescue para tomar um sorvete. Fez seu pedido e colocou o fone de ouvido. Durante o ano que passou em longe da Inglaterra, a garota se ligou muito a musica; mas não que antes ela não gostasse de musica, pelo contrário: desde os 12 anos tocava piano e arranhava alguma coisa no violão. Porém, como Beauxbatons é uma escola feminina e lá a mulher têm que ter outros talentos além de saber transfigurações e feitiços, durante o ano letivo a castanha teve aulas de canto, danças tradicionais francesas, instrumentos musicais à sua escolha e até etiqueta. Desde então, Hermione estava constantemente ouvindo musica e algumas vezes – geralmente quando a saudade dos amigos e dos pais apertava – ela até rabiscava algumas rimas.


Enquanto tomava seu sorvete e cantava baixinho acompanhando a musica, ela observava as pessoas passando pela rua. Foi então que um garoto chamou sua atenção. Primeiro porque ele era lindo; muito lindo. E segundo porque, bom... ele era realmente lindo. Ele parecia andar a esmo pelas ruas, com as mãos enfiadas nos bolsos da frente de sua calça jeans; o moletom azul escuro contrastava com sua pele muito branca e os cabelos loiríssimos. Hermione notou que ele não devia estar procurando por nada em especial, parecia só estar matando o tempo; olhava pelas vitrines sem realmente vê-las, uma vez que não parou nem na Artigos de Qualidade para Quadribol, aonde a nova Firebolt era exibida. Ele foi o único garoto que passou por aquela vitrine e não parou para ficar babando no novo design e na aerodinâmica perfeita da vassoura, o que fez a castanha notar que ele devia estar realmente imerso em pensamentos.


Talvez fosse por esse fato, ou porque Hermione estava reparando muito nele que ela percebeu nele um ar abatido. Como se alguma coisa o estivesse preocupando. Mas nem assim ele deixava de ser bonito. As linhas em seu rosto já lhe davam um ar másculo, mas sem tirar-lhe a suavidade dos traços; a postura elegante que seus ombros largos lhe impunham; o cabelo liso que caia por cima dos olhos (que a essa distancia a garota não conseguiu ver a cor).


Hermione achou melhor para de encarar o garoto antes que ele caísse duro e seco no meio do Beco. Voltou sua atenção para seu sorvete e continuou sentada ali na sorveteria até terminá-lo. Assim que o fez, pagou-o e foi buscar suas vestes que a essa hora já deviam estar prontas. Depois de sair da Madame Malkin’s, suas mãos estavam definitivamente sobrecarregadas de sacolas. Ela já se preparava para voltar ao início do Beco e ir embora quando reparou numa lojinha escondida mais ao fundo. “Palheta de Ouro” era o nome que se lia na fachada. Curiosa por nunca ter reparado naquela loja, Hermione decidiu entrar.


Ao entrar ela se deparou não com a lojinha que esperava, mas com uma loja imensa: prateleiras e mais prateleiras estavam abarrotadas de discos – trouxas e bruxos – de todos os estilos; nas paredes, pôsteres enormes a faziam ter a impressão de que estava num show das bandas bruxas, já que os bruxos neles se mexiam e cantavam. Ela andava fascinada pela loja, até que viu na parece do fundo uma infinidade de violões, guitarras, saxofones, baterias, pianos e muitos outros instrumentos. Ela se aproximou de um belíssimo piano de cauda e, largando as sacolas no chão, sentou-se em frente a ele.


Passou os dedos pela tampa de madeira reluzente ainda fechada e abriu-a. Posicionou seus dedos dobre as teclas e a musica fluiu sem que ela se lembrasse de ter mandado a ordem para que seus dedos a tocassem. Debussy. Fechou os olhos e ouviu as notas saindo do piano naquele som antiquadamente belo. Ela ainda não tinha pensado nisso, mas agora lhe ocorria que – uma vez que o piano e o violão que ela costumava tocar em Beauxbatons pertenciam à escola – ela estaria privada da música em Hogwarts. A castanha não gostou nada da idéia e, sem que se desse conta, aumentou o ritmo da musica.


A melodia que saia do piano chamou a atenção de outras duas pessoas que estavam na loja: uma vendedora (que logo se dirigiu para perto da moça que tocava, na intenção de empurrar-lhe o caríssimo piano) e um jovem que estava a algumas prateleiras, olhando discos. Quando a música começou a ficar mais rápida e cada vez mais complexa, o rapaz muito loiro se esgueirou para mais perto da fonte do som e ficou espiando a moça de longos cabelos castanhos tocar graciosamente, de olhos fechados. A musica era muito boa, e a emoção com que a garota a tocava parecia a deixar ainda mais bonita. O rapaz viu a garota diminuir o ritmo de suas mãos, até finalizar a melodia com uma nota longa.


O som dos aplausos que se seguiu ao fim da canção assustou tanto a castanha quanto o loiro. A vendedora aplaudia entusiasmada e se aproximou, dizendo:


- Parabéns, querida! Que mão boa você tem!


"Não só as mãos", Draco pensou com um sorrisinho.


- Ah, é... bem, obrigada – Hermione disse se levantando rapidamente e pegando suas sacolas – Me desculpe por ir entrando e tocando assim, é só que...


- Pare de bobagem, menina! Não há mal nenhum em ir se familiarizando com seu novo piano... – a mulher disse, esperta.


- Quem me dera poder levar um desses... – a castanha riu consigo mesma ao notar a intenção da mulher; como se ela pudesse comprar um piano caríssimo como esse – Mas... quem sabe um violão?!


O rosto de Hermione se iluminou com a idéia. Talvez não precisasse se privar totalmente da música...


- É claro, você parece ter um talento natural...


Enquanto a moça era conduzida pela vendedora bajuladora até o outro extremo da parede dos fundos, em direção aos violões, Draco se virou e dirigiu-se em direção à saída da loja. "Ela realmente parece ter mãos talentosas...” o loiro riu maliciosamente de seus pensamentos ao sair para o vento gelado que varria o Beco. "Todo esse potencial não devia ser desperdiçado..." Que a moça tinha talento para a música, isso ela tinha... mas, por Merlin, ela era uma gata! Por mais que tivesse apreciado vê-la tocar, apreciaria muito ver seus outros talentos também... Com um pouco de sorte ela iria para Hogwarts, aonde - longe de toda essa loucura de Guerra, e dos problemas de sua família - ele poderia voltar a ser apenas o Draco e mostrar a ela seus talentos.


Quinze minutos depois, Hermione saiu da lojinha com seu novo violão – que foi magicamente reduzido para facilitar o transporte até Hogwarts – e uma bateria-sem-fim para seu iPod. Se sentindo aliviada por saber que ainda teria sua música enquanto estivesse no Castelo, ela saiu feliz do Beco pelo Caldeirão Furado e tomou o metrô para sua casa.


Alguns dias mais tarde, Hermione acordou sem precisar do despertador. Abriu os olhos e virou-se na cama, olhando para o relógio em cima do criado-mudo. Ainda era cedo. Ela ainda pensou em voltar a dormir, mas sabia que não ia adiantar; já estava totalmente desperta. Levantou-se e foi para o seu banho. Enquanto fazia espuma nos cabelos com o shampoo, a garota sentiu-se novamente entusiasmada com a volta iminente à Hogwarts. Durante os dias que passou na casa de seus pais, ela mal conseguia conter a vontade de ir logo para King’s Cross e embarcar no Expresso. Sabia que, assim que pisasse no Castelo, sentiria falta de seus pais; mas a saudade daquelas grossas paredes de pedra e das escadas que sempre faziam os distraídos se perderem e dos quadros enxeridos nas paredes se metendo na vida dos alunos era muito grande. Após sair do banho e escolher uma roupa confortável, a castanha tomou sua poção redutora de frizz e de volume. Depois, passou um leve lápis de olho e um gloss: não queria ir produzida demais, senão já iriam falar que ela voltara da França fútil e cabeça-oca; mas também não queria ir desleixada demais, senão pensariam que ela continuava a mesma Granger que não ligava se estivesse usando uma saia xadrez com uma blusa de bolinhas.


Assim que conseguiu derrubar os pais da cama e encontrou Bichento após procurá-lo em cada cômodo da casa, a garota ia com os pais até a estação de King’s Cross ainda com certa antecedência. O Sr. Granger ajudou a filha a descarregar sua bagagem e, após ele e a esposa se despedirem dela, seguiram para mais um dia em seu consultório odontológico.


Hermione se dirigiu diretamente para a plataforma 9¾; assim que a atravessou, viu a gigantesca maria-fumaça vermelha já parada ali, soltando pequenas baforadas de fumaça. Sorriu felicíssima diante da cena familiar e foi logo procurar um vagão disponível, aproveitando-se de que a plataforma ainda não estava lotada. Ela andava pelo trem a procura de uma cabine vazia, cumprimentando alguns conhecidos durante o percurso. Ao encontrar um compartimento desocupado e grande o suficiente, ela jogou-se para dentro e guardou seu malão. Sentou-se vendo pela janela a quantidade cada vez maior de alunos que chegavam e sentia que seu peito podia explodir de felicidade.


E toda aquela felicidade exigia uma música. Hermione se levantou num pulo do banco e pegou seu iPod. Com um feitiço, fez a musica tocar por toda a cabine e, com mais um aceno de varinha, fechou as cortinas. A musica era animada e contagiante, e ela não conseguiu ficar parada.


"I know you like me


(Eu sei que você gosta de mim)


I know you do


(Sei que você gosta)


That’s why whenever I come around she’s all over you


(É por isso que aonde quer que eu vá, ela está sempre grudada em você)"


A castanha cantava alto e tentava imitar os passos que ela viu no clipe da musica, com certeza sem nenhum sucesso. Ela se esquecera completamente de que não estava no seu quarto, e nem sequer lembrou-se de lançar um abaffiato na cabine.


"And I know you want me


(E eu sei que você me quer)


It’s easy to see


(É fácil perceber)


And in the back of you mind I know you should be on with me


(E, no fundo da sua mente, eu sei que você deve estar comigo)"


“Maldito cargo de monitor!” pensava um rapaz loiro enquanto prendia seu distintivo sonserino nas vestes recém-colocadas e se encaminhava para os fundos do trem. “Mal embarco e já tenho que ir atrás dessas pestes! Ah, quando eu por minhas mãos nesses fanfarrões eu juro que...” Mas Draco não conseguiu completar esse pensamento. Na verdade, todos os pensamentos foram varridos para fora de sua mente ao abrir a porta da cabine fonte do barulho.


"Don’t cha wish your girlfriend was hot like me?


(Não gostaria que sua namorada fosse gostosa como eu?)


Don’t wish your girlfriend was a freak like me?


(Não gostaria que sua namorada fosse louca como eu?)


Don’t cha?


(Não gostaria?)"


Uma garota se balançava no ritmo da música que encheu os ouvidos do loiro. Ela não pareceu notá-lo, pois continuou dançando e rebolando de costas para ele. Draco tentava se lembrar do que é que ele tinha vindo fazer ali...


"Don’t cha wish your girlfriend was wrong like me?


(Não gostaria que sua namorada fosse cruel como eu?)


Don’t cha wish your girlfriend was fun like me?


(Não gostaria que sua namorada fosse divertida com eu?)


Don’t cha baby?


(Não gostaria, baby?)"


O sonserino ainda tinha uma vaga consciência de que não deveria estar ali olhando-a dançar; mas o jeito meio infantil com que a garota se movia ao tentar parecer sexy e, mesmo assim, conseguindo realmente o ser não deixava o garoto se mover. Draco ainda estava parado, com a mão na maçaneta, quando a garota se virou e deu de cara com ele ali, observando-a.


Hermione congelou ao se virar e deparar-se com um rapaz na porta da cabine, olhando pra ela com o queixo levemente caído. Ela já estava pronta para gritar quando reconheceu o mesmo rapaz loiríssimo do Beco Diagonal, e essa descoberta lhe roubou a voz. O garoto também pareceu assustado ao ser descoberto espiando-a e rapidamente se endireitou.


- Que diabos... – começou Hermione corada, mas a musica não deixava que o rapaz a ouvisse.


“Merlin, eu te amo! Não é que ela veio para Hogwarts, mesmo!?” Draco pensava enquanto via a moça se abaixar e pegar sua varinha, desligando o som. Ele estava claramente se divertindo por rever a garota do Beco Diagonal, ainda mais por flagrá-la numa situação tão embaraçosa.


- Posso saber o que é que você estava fazendo parado aí? Ou melhor – perguntou Hermione, sem saber se seu rosto ardia de vergonha ou de raiva – quem é que te convidou para entrar na minha cabine?


- Com a musica naquela altura, pensei que estivesse dando uma festinha e não tinha me chamado – o loiro respondeu irônico, entrando de vez na cabine e fechando a porta atrás de si.


- E isso não seria motivo pra você se manter afastado daqui, ao invés de vir sem ser convidado? – rebateu a castanha, cruzando os braços e levantando uma sobrancelha.


- Então realmente é uma festinha? – o rapaz perguntou, sentando-se perto da janela que ainda tinha as cortinas fechadas – Agradeça ao penetra aqui por ter vindo, então... porque pelo jeito fui o único.


- Primeiro: não, não é uma festinha! Segundo: se eu estivesse mesmo dando uma festa, com certeza ninguém a perderia – Hermione já estava perdendo a paciência. “Ok. Tudo que ele tem de bonito, tem de irritante. Fazer o quê, nada é perfeito!” – e terceiro: quem diabos é você?!


- Quem sou eu? – Draco deixou escapar uma risadinha de escárnio. – Você não precisa saber quem eu sou para entender que isso aqui – e apontou para o distintivo – pode lhe render uma bela detenção se continuar a se dirigir a mim nesse tom.


Hermione franziu a testa e focalizou pela primeira vez o distintivo que estava preso sob as vestes do garoto. Identificou um grande “M” sobreposto a uma bandeira da Sonserina.


- Sonserino, claro! – a garota revirou os olhos – Vocês conseguem se superar! Se bem que depois que aquela doninha quicante foi nomeado monitor nada mais me surpreende...


A voz de Hermione foi morrendo enquanto ela parecia ligar os pontos. Monitor da Sonserina... loiro até o último fio de cabelo... irritante... abusa do poder sem um pingo de remorso... tudo isso só a levavam a uma única pessoa.


E Draco, ao ouvir aquele apelido pejorativo, fez uma careta e tentou evitar as lembranças de tal fato. A gracinha do Moody rendera muitas gargalhadas ao trio-maravilha e... “Calma aí! Como é que ela sabe disso se nem sabe quem eu sou?!” O loiro examinou melhor a garota a sua frente e pareceu ter um estalo revelador. “Não, não pode ser... Mas, quem mais seria com esse nariz em pé, essa arrogância e toda essa repulsa pela Sonserina?!”


- Malfoy?! – perguntou a castanha, que estava com uma expressão muito engraçada, dividida entre o choque e o asco. Malfoy teria rido da cara dela, se ele também não estivesse com a mesma expressão em seu rosto.


- Granger?! – “Retiro o que eu disse... Merlin, eu te odeio!” o loiro fechou a cara. Por que é que aquela garota tão bonita tinha que ser logo ela? “Bonita? Você tem noção de que acabou de chamar a Granger sangue-ruim de bonita?”


- Ah, não! Que belo presente de boas-vindas... Obrigada você aí em cima, viu! – Hermione falou baixinho, mais para si mesma, olhando para o teto da cabine e levantando as mãos pro céu.


- E você realmente acha que foi agradável pra mim dar de cara com você antes mesmo de botarmos os pés no Castelo? - ele desdenhou.


- Quem veio até mim foi você, Malfoy, se você não se lembra eu estava quietinha na minha cabine até você aparecer e...


- Quietinha?! – cortou-a Draco, finalmente se lembrando do por que de ter ido até ali – O trem inteiro estava ouvindo sua musica trouxa nojenta! Menos 20 pontos para a Grifinória por submeter meus ouvidos àquele lixo!


Hermione se enfureceu, parecia pronta para começar um duelo com ele ali mesmo. Porém, tentou se manter calma para não arranjar uma detenção antes mesmo de chegar ao Castelo, uma vez que já conseguira deixar a Grifinória com um saldo de pontos negativo.


- É Malfoy... – a garota falou com uma voz suave – mas você bem que não achou assim tão ruim minha “dança trouxa nojenta”, né? Ou você estava babando por que pegou raiva mesmo? – ela fez uma cara falsamente angelical e encarou o loiro esperando ele sair dessa.


- Ora Granger... – Draco foi se aproximando da castanha em passos lentos e decididos, encarando-a fundo nos olhos – você voltou bem atrevidinha, não foi?


Hermione tentou esboçar um sorriso insolente, procurando não deixar transparecer que o instinto dela berrava “PERIGO, CORRA!” ao ver Malfoy se aproximar dela.


- Mas saiba que você não me assusta, Granger... pra mim você continua sendo exatamente a mesma sabe-tudo insuportável que sempre foi. E eu não pretendo aliviar pro seu lado, apesar da saudade imensa que eu senti de você – o loiro continuou, debochado, encurralando a garota contra a parede da cabine.


- Pois eu não senti falta nenhuma de você, seu loiro asqueroso – o peito de Hermione subia e descia rapidamente acompanhando a respiração acelerada da garota. “Você só está com medo, Hermione. Apenas com medo. É só por isso que seu coração está acelerado e de repente aqui ficou tão quente. Não tem nada a ver com esses olhos felinos e com esse cheiro delicioso...” Hermione tentava convencer a si mesma; afinal, aquele loiro por mais tentador que fosse, continuava sendo o Malfoy.


A proximidade entre eles, que Draco tinha a intenção de que parecesse ameaçadora, se tornou desconcertantemente excitante. Ele sentia a respiração quente da grifinória bater de encontro ao seu pescoço enquanto ela olhava para cima, fitando-o. Ele desceu os olhos do rosto dela para o decote de sua blusa, que agora que ele olhava de cima ficava bem mais pronunciado. Ela não reparou que ele a fitava desse modo descarado, pois a atenção da castanha estava voltada para os lábios finos dele, que se destacavam levemente rosados naquela pele clara, tão convidativos.


Fixando os olhos novamente no rosto de Hermione, Draco viu que ela observava sua boca, tão  concentrada que nem sequer notou que ele havia reparado. Ele sorriu de canto, convencido. “Nem mesmo uma sangue-ruim resiste aos meus encantos.” Hermione viu o sorrisinho torto se formar na boca de Malfoy, e involuntariamente mordeu seu próprio lábio inferior; e aquele gesto, sem que ela soubesse, atiçou ainda mais o loiro. Sem conseguir se conter, ele levantou uma de suas mãos e a postou meio hesitante na cintura fina de Hermione. Isso pareceu despertá-la de seus devaneios e ela voltou a olhá-lo nos olhos, espantada. Malfoy deslizou sua mão da cintura para as costas da garota, vencendo com um passo a pouca distância que ainda havia entre os corpos.


Hermione parecia ter desaprendido a respirar; era como se sua razão estivesse falando em Mandarim, porque ela não conseguia entender o que é que estava acontecendo ali. E quando ele enroscou sua mão fria nos cabelos da nuca da castanha, a razão dela realmente saiu para dar uma voltinha; ela não conseguia afastá-lo, muito menos parar de encará-lo vendo o olhar carregado de desejo que ele lhe lançava.


E então, o som de passos e gargalhadas quebrou o momento. Draco fechou os olhos e apertou um pouco mais forte a cintura e os cabelos de Hermione, parecendo realmente zangado e frustrado. A garota soltou-se dele depressa e, quando já estava a uma distancia segura, virou-se para ele novamente e falou:


- Não se atreva a me tocar novamente, está ouvindo Malfoy? – ela tentou parecer confiante e ameaçadora, mas sua voz tremida não ajudou na encenação.


- Fique tranqüila, Granger. Não quero correr o risco de pegar alguma doença – ele falou voltando ao seu tom frio e arrastado.


A porta da cabine se abriu e Hermione se virou, dando de cara com Harry, Rony e Gina. O sorriso que eles traziam no rosto congelou e transformou-se em fúria num segundo. Harry já estava levando sua mão em direção à varinha quando Malfoy falou:


- Não se dê ao trabalho, Potter. Já estou de saída – ele se direcionou para a porta da cabine. Ao passar por Hermione, que estava de costas para ele, trombou nela e sussurrou de forma que só ela ouviria – E menos 10 pontos por dançar tão mal, Granger.


A castanha sentiu seu sangue ferver de raiva e não se espantaria se estivesse soltando fumaça pelas orelhas. Ela ainda conseguiu ouvi-lo rir debochado enquanto ele se afastava da cabine.


- O que é que aquele aprendiz de Comensal estava fazendo aqui Hermione? – Rony, que estava quase da tonalidade de seus cabelos, perguntou para a garota ao entrarem na cabine e fecharem a porta – Ele fez alguma coisa com você? Por que se ele fez eu...


- Não, Rony. Eu estou inteira – respondeu Hermione se jogando num dos bancos – Ele só veio me dar as boas vindas. Ah, e a propósito, a Grifinória está com -30 pontos...


- Ora, mas isso não vai ficar assim! Deixa só eu pegar ele ou aqueles trasgos do Crabble ou Goyle por aí que eu lhes dou uma boa de uma detenção!


- Rony, se você sair abusando do seu cargo por aí vai estar fazendo igualzinho ao Malfoy. Não se rebaixe a tanto – Gina comentou sensatamente.


- Mas quem disse que eu pretendo abusar do meu cargo? – perguntou o ruivo com uma cara falsamente ofendida – É minha obrigação proteger os primeiranistas do trauma de topar por aí com aquela cara de bunda-de-macaco deles!


Todos caíram na risada. Mas ninguém ganhou de Luna, que tinha acabado de abrir a porta da cabine e se sentou no chão de tanto rir.


- Cara... de bunda... de macaco... – ela pronunciava debilmente entre as gargalhadas – Essa foi muito boa!


Os outros riram ainda mais da cena de Luna caída no chão gargalhando. Ela, que sempre mantinha aquele ar sonhador e levemente bitolado, ser pega em uma situação tão comum como uma crise de riso fez o trio cogitar a possibilidade de ela (quem sabe) ser normal. Gina, que por ser do mesmo ano da garota a conhecia melhor, convidou-a para sentar-se com eles. Ela aceitou de bom grado. Passaram a viagem toda conversando e rindo das doideiras de Luna, mas até ela parecia um pouco mais madura do que antes. Hermione se perguntava se havia sido um amadurecimento espontâneo da idade, ou se a Guerra de algum jeito teria lhe obrigado a por os pés no chão.


Quando os campos que eram vistos pela janela se tornaram mais selvagens e o aparecimento de vilarejos mais esporádico, Antônio Goldstein – monitor da Corvinal – apareceu na cabine em que os grifinórios e a corvinal viajavam.


- Weasley, a professora McGonagall está se perguntando por que é que você não apareceu até agora na cabine dos monitores – seguido a tal declaração ouviu-se um palavrão pronunciado por Rony, que saiu correndo desabalado da cabine – E ela também quer te ver, Granger.


- Me ver? – Hermione pensou alto, suas sobrancelhas unidas numa linha em sinal de confusão. Mas mesmo assim ela saiu da cabine e acompanhou Goldstein pelos corredores.


- Então, voltando pra ficar? – perguntou o corvinal, puxando conversa.


- Felizmente, sim – a garota respondeu, deixando escapar um sorriso – A França é ótima, mas Beauxbatons não chega nem aos pés de Hogwarts.


- Entendo... mas eu não acharia nada mal se me trancassem naquele castelo com todas aquelas francesinhas – Antônio comentou em tom de brincadeira.


- Isso é o que você pensa! Em um mês sua boca estaria pedindo férias de todos os biquinhos, mon cherie – Hermione falou a palavra em francês com um biquinho exagerado, arrancando risos de Antônio.


Quando alcançaram a cabine da monitoria, bateram na porta e entraram. Lá estavam a profª. Minerva e os monitores de todas as casas. Hermione sentiu náuseas ao rever a cara de buldogue amassada da Parkinson; como sempre ela estava pendurada no pescoço do Malfoy, que parecia indiferente aos carinhos em seu cabelo e aos olhares safados que a loira lhe lançava.


- Oh, srta. Granger! – exclamou McGonagall se levantando ao ver a castanha e cumprimentando-a – Bem vinda de volta.


- Obrigada professora – Hermione ficou meio encabulada com a inesperada demonstração de afeto da professora.


- Bom, imagino que a srta. esteja se perguntando o motivo de eu ter lhe chamado – a garota acenou afirmativamente – No seu quarto ano, como a srta. deve bem se recordar, você exerceu o cargo de monitora de sua casa muito satisfatoriamente. E agora, com a Guerra finalmente declarada, muitos pais retiraram seus filhos da Escola – Minerva parecia bem ressentida com esse fato, e a garota podia entender bem a vice-diretora, pois elas pensavam do mesmo modo. “Como se houvesse lugar no mundo bruxo mais seguro que Hogwarts” – E infelizmente a sua colega grifinória, Lilá Brown, foi uma dentre as várias que não retornaram. Ano passado, em sua ausência, foi a srta. Brown foi quem assumiu a monitoria da Grifinória; e uma vez que ela não voltará mais para preencher o cargo, gostaria de saber se a srta. aceitaria assumi-lo novamente.


- É claro, professora! Mas que pergunta – Hermione não pensou duas vezes antes de aceitar. Estava felicíssima por ainda ter a confiança dos professores de Hogwarts.


- Muito bem, então. É isso que lhe faz uma verdadeira grifinória, srta. Granger; a sua lealdade. Mesmo sabendo que seria muito mais cômodo na França, você preferiu voltar e lutar ao lado dos que preza. Será uma honra tê-la novamente em minha casa.


Agora Hermione entendia o porquê do afeto de McGonagall. Enquanto muitos fugiam da Guerra e se escondiam, ela voltara. Sentiu seu peito encher de orgulho pelas palavras da vice-diretora e uma quentura lhe subir a face. Ela só conseguiu balançar a cabeça num gesto afirmativo porque a voz lhe faltou. Rony estava se segurando para não cair na gargalhada ao ver Hermione quase às lágrimas por causa disso. “Ah, qual é! Não é todo dia que se recebe um elogio desses da McGonagall!” ela pensou em sua defesa.


- Agora, voltando a nossa reunião – McGonagall voltou a dirigir-se para todos no vagão – Nesse ano escolheremos os Monitores Chefes. Apenas um casal alcançará esse posto. O critério escolhido para selecionar os monitores-chefes, como sempre, será a pontuação obtida nos N.O.M.’s. Por favor, todos me entreguem suas cartas com o resultado dos testes.


Todos pegaram suas varinhas e transfiguraram seus N.O.M.’s. A maioria dos monitores não pareceu muito feliz com o critério de seleção, porque os testes dos Níveis Ordinários em Magia eram realmente difíceis e muitos alunos não se saíram tão bem.


- Vamos ver, vamos ver... – murmurou a vice-diretora recebendo os pergaminhos com as notas dos monitores. – Bem... entre o casal da Corvinal concorre o Goldstein, com 3 notas ótimo, 4 excede expectativas e 2 passável. Da Lufa-lufa o sr. Macmillan... bom, sinto muito Macmillan, o Goldstein já tem melhores resultados que os seus. Da Sonserina... meus parabéns, sr. Malfoy, nota ótimo em todos os seus 9 N.O.M.’s. Definitivamente temos o nosso monitor-chefe do sexo masculino.


Todos olharam espantados para Malfoy, que mantinha uma expressão indiferente. Só esboçou um sorrisinho convencido ao ver o olhar admirado de Hermione.


- Ei, a senhora ainda nem viu os meus resultados – Rony a interrompeu, ofendido.


- Pois bem, vamos ver então sr. Weasley – a vice-diretora estendeu a mão para Rony entregar-lhe o seu pergaminho.


- Eu não disse que eu tinha notas melhores, sabe... só te lembrei que a senhora ainda não tinha visto as minhas... – Rony falou embaraçado, fazendo os outros monitores darem risadinhas. Até mesmo Malfoy deixou escapar aquela risadinha desdenhosa dele.


- Ora, então não me faça perder meu tempo! Francamente... Srta. Granger, seus N.O.M.’s, por favor – Minerva apanhou o pergaminho que Hermione lhe estendeu e examinou-o – Ora, não é nenhuma surpresa... A monitora-chefe do sexto ano é você, sem dúvidas. 9 notas ótimo e 1 excede expectativas. Parabéns!


Exclamações de surpresa soaram pela cabine novamente. Hermione conseguiu ouvir uma voz enjoativa ao seu lado resmungar algo como “Sabe-tudo aparecida”, mas não ligou. Quando olhou para Malfoy, não se conteve em esboçar um sorrisinho vitorioso; ele parecia que tinha levado um tapa na cara. Certamente não esperava que alguém superasse seus resultados. Hermione levantou uma sobrancelha em sinal de desafio e Draco a fuzilou com o olhar.


- Os monitores continuarão suas rondas em duplas duas vezes por semana, das 21:00 as 22:30; Weasley e Parkinson, como vocês ficaram sem suas duplas patrulharão juntos – ambos esboçaram caretas de desgosto ao ouvir a noticia – Já vocês, monitores-chefes, irão inspecionar o trabalho dos outros monitores e patrulhar por todo o castelo três vezes por semana, das 21:00 as 23:00. Me passarão relatórios quinzenais de suas rondas e do desempenho dos outros monitores. Mas, para compensar tanto trabalho, terão dormitórios individuais, um salão comunal e uma biblioteca exclusivos e alguns outros privilégios.


Hermione vibrava! Ainda nem tinha chegado ao castelo e já tinha voltado a ser monitora, sido eleita monitora-chefe e – como se já não bastasse tal honra – ainda teria todos esses privilégios! Ela mal conseguia acreditar. Já Draco estava mais preocupado com o aumento nas obrigações de monitor que teria. Como se não bastasse ter que fazer rondas naquele castelo imenso ainda teria que ficar vigiando o trabalho dos outros... “Quem mandou ser tão inteligente?!” ele pensava cansado só de imaginar o trabalho que teria.


- Agora, voltem para as suas cabines e se troquem, já estamos quase chegando – Minerva os dispensou sem cerimônia nenhuma.


- Não consigo nem acreditar! – Hermione falava para Rony quando saiam da cabine e iam andando pelo corredor – Monitora-chefe! E ainda terei meu próprio quarto e...


- E eu como coleginha – a castanha parou de andar ao ouvir aquela voz arrastada – Admita, Granger... está nas nuvens com a idéia de dividir um salão comigo.


- Realmente... assim terei muitas oportunidades de te asfixiar com o travesseiro enquanto você dorme – Hermione falou virando-se e o encarando de braços cruzados.


- Não seja rude, sangue-ruim. Quem sabe a convivência comigo não lhe dê um pouco de classe.


- Vamos, Rony! Não vale a pena – Hermione segurava Rony pela camisa.


Ele estava tentando pular em cima de Malfoy desde que este chamara a garota de “sangue-ruim”. Draco seguiu pelo corredor deixando Mione para trás; esta tentava controlar o ruivo – o que era bem trabalhoso porque Rony já não era mais o garoto magricela e desengonçado do 4º ano: ele agora estava bem alto, e provavelmente devido aos treinos de quadribol do ano anterior (ele tinha entrado para o time da Grifinória como goleiro), estava bem mais encorpado.


- Mione, você devia ter me deixado dar uns sopapos naquele loiro aguado – bufou o grifinório, voltando a acompanhar Hermione pelos corredores – Não estou gostando nem um pouquinho da idéia de você e ele dividirem o mesmo salão comunal e a mesma biblioteca...


- Ora, Rony, faça-me o favor! Eu estou bem grandinha e sei me cuidar sozinha – ela se exasperou.


- Hermione, você sabe muito bem que ele pode ser perigoso! Ainda mais depois que Harry e eu colocamos o pai dele em Azkaban depois da batalha no ministério.


- Eu sei Rony, mas enquanto estivermos em Hogwarts e sob os domínios de Dumbledore ele não vai se atrever a fazer nada – Rony continuou resmungando – Chega, Rony... eu sei que não vai ser a experiência mais agradável do mundo, mas perigo real eu não corro.


- Eu só não gosto nada disso – o ruivo falou emburrado.


Hermione revirou os olhos e entraram na cabine.


- Que demora! Já estamos quase chegando, Mione, vamos nos trocar! – Gina exclamou pulando do banco ao ver a castanha e o irmão entrarem na cabine. Rony e Harry pegaram suas vestes e foram se vestir em outro vagão.


Hermione, Gina e Luna ficaram no vagão e, enquanto se trocavam, a castanha contou às outras a novidade. Logo sentiram a locomotiva diminuir a velocidade e Hermione e Rony já se encaminharam para as portas, para conduzirem os primeiranistas. Depois de entregá-los a Hagrid, os grifinórios seguiram para as carruagens que os levariam até o castelo. Conseguiram localizar Harry, Gina, Luna e Neville e embarcaram todos juntos.


Hermione aproveitou e olhou para frente da carruagem, aonde Harry lhe contou no ano anterior que vira os tais Testrálios. Mas ela – assim como Rony – não conseguiu os ver; e ela agradecia por não conseguir: só quem os via eram aqueles que já tinham visto a morte com os próprios olhos. Lembrou que Harry também contou-lhe que Luna os via, e mais tarde ficaram sabendo que quem ela vira morrer fora sua mãe. Hermione não conseguia nem imaginar como era viver com o peso de ter presenciado a morte da própria mãe; prometeu a si mesma, então, que tentaria ser mais tolerante com as birutices de Luna, afinal ela tinha mesmo um motivo para ser assim meio “desligada”. Se bem que, tendo um pai que é editor d’O Pasquim, é difícil que a birutice dela provenha de um trauma; provavelmente é genética mesmo.


Ao avistar a silhueta escura do castelo recortada contra o céu estrelado, Hermione abriu um sorriso de orelha a orelha. O salão principal continuava o mesmo, com o céu encantado brilhando sobre eles e as milhares de velas flutuantes iluminando as mesas. Sentou-se na mesa da Grifinória ao entre Harry e Rony e viu Dumbledore levantar-se na mesa dos professores.


- Bem vindos de volta – o diretor continuava com os longos cabelos e barba brancos, o oclinhos de meia-lua encarrapitado no nariz adunco e o rosto bondoso. Mas estava visivelmente mais enrugado e parecia muito cansado; quando ele abriu os braços, no ato costumeiro de tentar abraçar todo o salão, deixou visível sua mão direita e todo o salão prendeu a respiração: ela estava preta, murcha, parecendo queimada e sem vida – Oh, perdão... esta não é uma visão nada agradável antes do banquete. Minerva, por favor, traga os novos alunos para a seleção das casas.


A vice-diretora entrou carregando o banquinho com o Chapéu Seletor seguida de uma fila anormalmente curta de primeiranistas. O Chapéu cantou sua canção, longa e melancólica, e a seleção transcorreu calmamente. O banquete surgiu nas mesas e logo foi devorado e substituído pelas sobremesas. Quando já sentiam que precisariam de um guincho para rebocá-los da mesa, Dumbledore se levantou para fazer seu discurso inaugural.


- Uma grande noite a todos! Mais um ano de muita educação mágica aguarda a todos [...] O nosso zelador Sr. Filch informa que, além da imensa lista de objetos proibidos nos corredores do castelo que está afixada a porta de sua sala, foram adicionados a essa categoria todo e qualquer produto comprado na loja chamada Gemialidades Weasley [...] Os que quiserem jogar na equipe de quadribol devem se inscrever com os diretores das suas respectivas casas [...] Temos o prazer de dar as boas-vindas ao mais novo membro do nosso corpo docente: Horácio Slughorn. Um antigo colega que aceitou retomar o cargo de mestre das Poções.


- Poções?! – a palavra ecoou pelo salão.


- Por sua vez – Dumbledore continuou, com sua voz grave se sobrepondo aos murmúrios – O professor Snape assumirá o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.


- Não pode ser! – Harry exclamou indignado. Ele, como todos os outros no salão não entendia como Dumbledore, depois de tanto tempo, permitira a Snape que ensinasse a matéria que ele sempre sonhara – Bom, pelo menos tem uma coisa boa: Snape irá embora até o final do ano.


- Como assim? – perguntou Rony.


- O cargo é azarado. Ninguém o ocupa por mais de um ano. Quirrel até morreu... – comentou Harry com um tom propositalmente esperançoso.


- Harry! – a garota o repreendeu, se contendo para não concordar com ele e esperar ansiosamente para ver o que aconteceria a Snape no fim do ano.


Quando Dumbledore restaurou a ordem no salão e começou a falar de Voldemort, a tensão era quase palpável. Hermione inconscientemente desviou seu olhar para Malfoy. O garoto, ao contrário de todos os outros no salão, não prestava atenção no diretor e olhava para a mesa, fazendo seu garfo flutuar distraidamente. A garota associou a falta de interesse dele no assunto com o fato de que ele provavelmente tinha informações muito mais privilegiadas sobre Voldemort do que as que Dumbledore pudesse dar.


Mas Draco, ao contrário do que a castanha pensara, tentava se distrair das palavras do diretor porque não queria ter que lembrar-se da missão que lhe fora designada. Ele sabia, é claro, que o Lorde só lhe mandou cumprir essa missão para puni-lo pela falha do pai, no ataque ao Ministério. “Maldito seja o Cicatriz e o Pobretão! Se eles não tivessem se intrometido e frustrado meu pai, eu não teria que me envolver nessa Guerra e tomar partido assim...” ele sentia cada vez mais sua raiva aumentar. Ele não tinha nada a ver com aquela história, por que diabos tinham que mete-lo nela?! E ainda numa tarefa tão arriscada e... sem propósito! Deixou seu garfo cair com um baque na mesa de madeira. Já estava para levantar da mesa e se retirar quando o diretor finalizou seu discurso e deu-lhes permissão para irem para os dormitórios.


Aliviado, Draco levantou-se da mesa da Sonserina e - sem se preocupar com os primeiranistas que ele deveria guiar até as masmorras – ia seguindo em direção ao seu novo quarto de monitor-chefe. Porém, logo foi impedido de prosseguir por um par de mãos que lhe tampou os olhos.


- Agora não, Pansy – ele falou entediado, sem nem mesmo se virar para conferir se era ela.


- Draquinho, estava me perguntando se você não ia me levar pra conhecer seu novo quarto de monitor... – a garota falou sensualmente, virando Draco de frente para ela e colando seu corpo ao dele.


- Hoje não vai dar, eu não to afim de acordar cansado já no primeiro dia de aula – ele falava enquanto ela distribuía beijinhos por seu rosto e ia em direção a orelha.


- Mas eu queria tanto ver como é o salão da monitoria... a biblioteca... – ela ia descendo os beijos pelo pescoço dele enquanto falava, manhosa.


- Eu prometo que outro dia te levo lá, e te mostro quase todos os cômodos que você quiser – ele falou para que ela parasse; ele não queria dormir com ela (porque toda vez que dormiam ela achava que eles estavam namorando) mas desse jeito ela não estava facilitando as coisas – Pansy, eu tenho que ir.


O loiro pegou-a pelos braços e a afastou de seu corpo, antes que nem ele quisesse mais se soltar dela. Ela fez um beicinho, e ele só balançou a cabeça e lhe desejou boa noite. Seguiu seu caminho até o corredor aonde ele sabia ficarem os salões dos monitores-chefes e logo achou a porta que indicava ‘6º ano’. Viu um vulto parado em frente a porta.


- Oi? – a castanha tentava pela milésima vez – Aonde é que está o maldito quadro que deveria guardar a passagem dessa droga?! – ela resmungou chutando a porta.


- Ah, Merlin, dai-me paciência – ela ouviu atrás de si e se virou – Mesmo vivendo cinco anos no mundo mágico você ainda continua pensando como uma trouxa?


- Me poupe das suas gracinhas, Malfoy. A professora McGonagall não me passou a senha e...


- Mas isso aqui é uma porta, Granger, não um quadro para você precisar de uma senha! Porta, Granger; Granger, porta – ele falou irônico, como se apresentasse as duas.


- Ha ha ha – Hermione riu seca, sem nenhum traço de humor.


Malfoy só revirou os olhos e se dirigiu até a porta. Tirou sua varinha do bolso e a colocou onde ficava um buraco parecido com uma fechadura. A ranhura na porta pareceu acomodar perfeitamente a varinha de Draco, e se ouviu um ‘click’. Ele tirou sua varinha da ‘fechadura’ e olhou novamente para a grifinória com um ar desdenhoso:


- Bem vinda ao mundo mágico! – ela apertou os olhos e puxou seu malão para dentro do salão, esbarrando nele com força.


O salão comunal dos dois era bem parecido com o da Grifinória. Tinha algumas poltronas espalhadas em volta de um tapete, próximas a uma grande lareira; uma mesa estava prostrada mais ao canto, com quatro cadeiras em volta; uma escada levava para o andar superior e havia duas portas no andar de baixo. Hermione adiantou-se para a primeira e descobriu uma pequena cozinha, onde eles poderiam tomar algo ou fazer um lanchinho. Draco, por sua vez, dirigiu-se a outra porta. Abriu-a e com um aceno de varinha iluminou-a. Conseguiu ver então um cômodo apertado, com várias estantes cheias de livros; num canto, um sofá de dois lugares foi apertado entre as estantes.


O loiro ouviu um ofegar atrás de si e logo viu uma cascata de cabelos castanhos passar por ele e ir correndo até a prateleira mais próxima. A garota olhava os títulos e tirava vários volumes da estante, corria os olhos pelas primeiras folhas e já os colocava de volta.


- Pode ficar tranqüila, Granger, os livros ainda vão estar aqui pela manhã – ele zombou-a, mas ela não pareceu registrar o que ele disse e virou-se para ele, com um sorriso bobo no rosto.


- Você tem noção de que temos na nossa biblioteca particular – ela falou com orgulho – alguns livros realmente raros?! Por exemplo, eu já tinha procurado muito e nunca encontrei esse livro de Flamel. E até Snape já o mencionou, mas não creio que nem ele tenha um exemplar...


- Realmente impressionante – o sonserino falou entediado; ele não estava entendendo por que ela estava agindo assim, tão naturalmente com ele e isso o deixou meio desconcertado.


- Claro, claro... era demais esperar que você se interessasse por algo que não seja o seu próprio umbigo... – ela falou parecendo derrotada; colocou o livro de volta da prateleira e se direcionou para sair da biblioteca.


“Quem ela pensa que é para dizer o que me interessa e o que não me interessa?” Draco pensou furioso. Quando ela passou ao seu lado para sair pela porta, ele a puxou pelo braço bruscamente. Ela se espantou, não estava esperando por essa atitude. Ele olhou-a fundo nos olhos e sussurrou:


- Não pense que você sabe quem eu sou, porque você não sabe. Você não sabe nada de mim – soltou-a e subiu pisando duro até o andar de cima.


Hermione ainda ficou alguns segundos parada, visualizando aquelas íris azul-acinzentadas e tentando entender o que o enfureceu tanto.




N.A.: Bom, ai está o primeiro capitulo da fic :) Eu sei que ele tá longo e meio cansativo, mas é necessrio para entendermos o contexto da história e seu desenrolar. Agradeço à Bruna Potter e Elaine Martins Vaz pela paciencia de comentarem e pela atenção, espero que gostem desse cap também :) A musica utilizada no capitulo foi Don't cha - The Pussycat Dolls. Beijos e COMENTEM!

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