Aquela-que-até-agora-foi-ignor



Aquela-que-até-agora-foi-ignorada

Era uma sexta-feira de julho muito chuvosa. As nuvens negras cobriam todo o céu naquele canto dos Estados Unidos da América. Trovões ressoavam para dentro daquele cômodo. Sobre a cabeceira havia um livro sobre grandes magos contemporâneos. A cama ainda estava desarrumada. Os lençóis de linho estavam amassados. Alguém saíra de lá há pouco tempo. Sobre a escrivaninha havia muitos jornais, dentre eles estava um jornal inglês com uma foto de Alvo Dumbledore, morto recentemente. Também havia um outro jornal, onde figurava de capa um menino de olhos verdes e cicatriz na testa. Várias folhas estavam amassadas perto de tais manchetes. Um pote de tinta estava aberto, e a cor dele era azul – turquesa. Perto do tinteiro havia uma foto antiga, onde estavam sete pessoas recém formadas. Uma pena arranhava um pergaminho novo, porém logo parou.

Uma mulher segurava a pena. Trajava uma camisola azul-marinho, que realçava seu busto. Seus longos cabelos loiros iam até a cintura. Estava descalça, sentada numa cadeira de mogno. Seu rosto era bonito, nariz arrebitado, lábios carnudos e belos olhos castanhos. Os olhos ainda focavam a foto. Lembrava daqueles tempos...

Numa manhã florida, ela bem mais jovem com aquele atrapalhado amigo passeavam pelos campos de Hogwarts. Era o dia da formatura. Todos estavam animados. Milhares de sonhos, de esperanças, de vida. Quando, repentinamente, ouve uma voz chamando-a:

- Soberba!– chamou um moreno alto, de olhos castanhos, chamado Thiago – Venham até aqui! Sirius está ansioso pra falar com vocês.

- Já vamos! – respondeu aquela bela adolescente loira de olhos castanhos – Espere um pouquinho só! E você, seu mané – disse ao amigo que a acompanhava – não vá aprontar uma das suas!

- Você sabe muito bem que faço sem querer – respondeu o amigo – Vamos, a Lilly e o Remo devem estar nos esperando, isso sem falar no Pedro.

Os dois foram em direção a Thiago e logo encontraram Remo, Lilly, Pedro e Sirius. Sirius estava com aquela bendita máquina fotográfica e resolveu tirar uma foto antes da formatura. Todos saíram lindos... Lilly, com aqueles olhos verdes magníficos e um grande sorriso no rosto, sempre ao lado de Thiago, que a abraçava. Pedro estava ao lado do rapaz, amigo de Soberba, e de Remo. Sirius beijou a face de Soberba, e ela corou.

Soberba relembrou ao olhar novamente aquela foto. Não sabia o que ocorreu com seu colega. Lembra-se que naquele mesmo dia da foto, Dumbledore desejou muita coragem, força e sorte para seu colega. Ela não entendeu até hoje o porquê daquela fala do querido diretor. Aliás, diretor que partira para um novo caminho. Quase todos naquela foto já se foram: Thiago, Lílian, Sirius. Pedro era um cretino traidor, aquele outro palerma desapareceu. Sabia somente que Lupin continuava vivo.

Soberba lembrou-se do que fez após Hogwarts. Um pouco antes da morte de Thiago e Lilly, ela partira para os Estados Unidos para ser uma grande aurora. Sabia que o curso nos EUA era muito mais puxado e mais avançado do que na Inglaterra. Decidiu separar-se de sua terra natal em busca de seu sonho. Logo nos primeiros dias naquela terra distante, soube da morte trágica de Thiago e Lilly, e de como Sirius foi preso, ao matar Pedro.

Tais acontecimentos abalaram tanto Soberba, que quase desistiu de tudo. Porém, ela encontrou motivação para ser a melhor aurora e assim, acabar com aquele crápula que matou seus queridos amigos. Aplicou-se aos estudos, fechando-se para o mundo. Tornou-se a melhor aluna da turma e se formou com louvor.

Prendeu muitos bruxos perversos nos Estados Unidos, dando a ela projeção e destaque. Assim, em pouco tempo, tornou-se uma integrante da elite Four. Os quatro melhores aurores dos EUA. Prenderam muitos chefões de crime organizado. Assassinos bruxos. Ela tornara-se a mais temida dentre eles e também a mais poderosa. Uma vez, ela enfrentou uma gangue de lobisomens sozinha e venceu a todos sem nenhum arranhão. Todos a temiam.

Porém, ao sair do trabalho, todos continuavam temendo-a. Ninguém se aproximava dela. Ela também não fazia questão. Deixaram-na só e ela ficaria só. Como todos a abandonaram, ela não queria saber de companhia. Não teve nenhum relacionamento durante 16 anos.

Muitos homens tentaram algum relacionamento, pois ela era belíssima. Corpo bem torneado, olhar profundo e muito centrada no que fazia, no entanto ela recusou a todos os pretendentes. Sabia que eles queriam somente o seu prestígio, a sua fortuna e o seu corpo. Fazia quase 17 anos que não sorria. Sempre séria. E assim viveu.

Mas tudo mudou quando recebeu a notícia da morte de Dumbledore. Ninguém mais poderia protegê-lo. Não poderia fazer isso. Quando soube que Sirius estava solto e que o culpado era Pedro, ficou mais aliviada. Sabia que Sirius poderia cuidar dele, afinal era seu padrinho. Ao saber que ele tinha atravessado o véu, recebeu uma fênix em sua casa, trazendo uma mensagem de Dumbledore, tranqüilizando-a, pois ele mesmo cuidaria dele. Mas agora, tudo mudou. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado está mais ativo que nunca e ele está entregue à própria sorte.

Soberba levantou-se. Andou um pouco pelo quarto e olhou pela janela. As nuvens negras choravam pelo mundo. Sim, um mundo entregue ao mal. As pessoas com medo, desprotegidas de um lunático com fome de poder. E Harry, pobre Harry! Ela lembrava do dia do batizado dele. Ele era um lindo bebê, principalmente com os olhos lindos da mãe. Sirius era o padrinho e ela a madrinha. Foi uma cerimônia muito bonita. Lupin estava pálido, como sempre. Lilly e Thiago estavam radiantes. Sirius continuava com aquele ar de moleque travesso. Pedro não compareceu. Uma lembrança a menos para estragar! Traidor...

A mulher loira, de quase um metro e oitenta, voltou para a escrivaninha. Começou a rever a carta que escrevia.

Caro Harry,

Você não me conhece, mas sou Soberba Demetrius, sua madrinha. Era grande amiga de seus pais e sinto muito pela perda deles. Estou voltando para Londres. Não se preocupe, estou do seu lado.
Sei que devo parecer uma maluca, nunca apareci nesses anos todos. Mas sempre te quis bem. Sempre recebi informações suas através de Dumbledore, mas eu mesma pedi que ele não falasse de mim pra você.
Espero que me compreenda e me entenda.

De sua madrinha, Soberba.

- Assim ele vai achar que sou uma maluca mesmo. E uma maluca manipuladora obcecada, que sabe de tudo da vida dele e que ele não conhece. – pensou Soberba em voz alta – Vai para o lixo essa carta!

E aquela mulher que ainda estava de camisola às 11 horas da manhã, pegou o pedaço de papel em que escrevia e o amassou, até formar uma bolinha. Com um gesto de sua varinha, que retirou debaixo do travesseiro, arremessou-a ao cesto de lixo.

- Já sei! – exclamou Soberba, pulando de alegria pelo quarto.

Querido Harry,

Estou voltando.

Soberba Demetrius

Com isso, ela dobra o papel e o coloca num envelope. Amarra na pata de uma coruja-das-torres. A coruja saiu voando em plena chuva. A carta tinha um feitiço impermeabilizante. Soberba então tira a camisola e joga sobre a cama. Entra no banheiro, abre o registro. A névoa toma por completo o recinto. Conseguia-se ver somente a silhueta de uma bela mulher. Soberba tomava uma boa ducha de água quente. Era o dia decisivo da vida dela. Pedira transferência para Londres há dois dias. Abandonaria aquele país e voltaria a sua terra natal. Com a água escorrendo pelo corpo, parecia que uma crosta se soltava. Era a Soberba obcecada pelo trabalho que se diluía na água quente, e uma nova Soberba aparecia.

Após o banho demorado, Soberba saiu revigorada, arrumando a cama, limpando tudo o que havia na escrivaninha. Notou que havia mais um maldito envelope roxo.

- Seu eu descobrir quem é que me manda esses recadinhos em envelopes roxos, esganaria com muito prazer. – disse Soberba com muita raiva ao abrir ao envelope.

Todos os recados eram iguais. Vinham em um envelope roxo, sem remetente. Dentro, em letras recortadas de revistas ou jornais, vinha um recado zombeteiro. A primeira vez que ela recebeu um desses foi quando venceu o monte de lobisomens. O recado que veio foi o seguinte: “ Sabe a razão de você não ser atacada pelos lobisomens? É que você é tão peluda, mas tão peluda, que eles acharam que você era uma do bando. E como você sabe, é feio um macho bater numa mulher”. Soberba, ao terminar de ler tal recado, quebrou a metade dos vasos que viu pela frente, e o pior que ela não conseguiu detectar quem mandara e como mandara, pois a casa dela era invulnerável e inviolável.

Ela abriu então o recado atual. No mesmo papel timbrado roxo, lá estavam as letras recortadas formando o seguinte recado: “Finalmente vai parar de fugir do seu passado. Tomou vergonha na cara, não é? Te vejo em Londres, ou aonde você estiver!”.

- Que pessoa pretensiosa! Como descobriu que eu estou partindo para Londres? – disse Soberba amassando com muita força o bilhetinho.

Mas Soberba tinha de terminar de se arrumar, afinal ela não poderia sair nua pela rua. Muitas pessoas até que gostariam de vê-la sem roupa, mas isso era falta de vergonha na cara. Escolheu um vestido azul-claro, e uma bela sandália azul-bebê. Ela sempre gostou de azul, desde quando entrou em Hogwarts. Colocou tudo em seu malão, pegou a sua varinha. Trancou a casa em que morava nos EUA. No jardim tinha uma placa com um vende-se.

Aparatou num moderno prédio. Pessoas e pessoas trafegavam naquele local. (Era o CIMEUA Controle Interno da Magia nos Estados Unidos da América). Andou depressa pelo saguão e tomou um dos elevadores existentes. Continuava com aquele malão e estava mais sorridente que nunca. A alegria irradiava por Soberba. As pessoas que a conheciam, estranhavam a mudança de atitude dela. Se ela já resmungava quando o dia era ensolarado, imagina o quanto mais ela reclamava nos dias tempestuosos.

Chegou até o seu gabinete. Abriu a porta e encontrou sentado em sua cadeira o General Western.

-Vi o seu pedido de transferência, menina. Você tem certeza que quer abandonar toda a carreira que fez aqui para ir a Londres. Você ficou maluca? – perguntou a voz grave do general.

- Com toda a franqueza, senhor: eu quero ir para lá. Se estiver abandonando tudo? Não, posso recomeçar graças às belas ações que fiz aqui. Porém acredito que está na hora de retornar à minha terra natal. Eles estão enfrentando grandes problemas por lá com Voldemort. E já que ele ressurgiu, devo acertar contas pelo o que ele fez a alguns conhecidos meus. E não adianta tentar me convencer do contrário, pois estou decidida. – disse Soberba com muita firmeza e convicção.

- Então essa é a sua decisão final. Boa sorte em Londres! – disse o general ao entregar um pergaminho para Soberba – Esta é a sua transferência.

- Obrigada, senhor.

E Soberba guardou o pergaminho no malão e outras coisas pessoais que estavam em seu gabinete. Despediu-se dos outros três companheiros de trabalho. Saindo do seu local de trabalho, resolveu ir até o aeroporto de táxi. Àquela hora Nova Iorque era muito tranqüila. Pouco trânsito. Seria a sua despedida daquele país. A chuva respingava nos vidros do táxi. O motorista não falava muito. O táxi estava travado, não conseguia fazer nenhum tipo de magia dentro dele. Soberba inalava algo azul e logo adormeceu.

Quando acordou, ela estava amarrada a um cano dentro de um luxuoso quarto. A cor predominante era o vermelho, com alguns traços esverdeados. Ela estava presa com uma algema ao cano. Trajava salto alto, calça jeans, uma camisa vermelha e uma blusa jeans. Estava sem sua varinha. A única coisa sua que permanecera era o seu belo colar, com um pingente. Alguém estava sentado numa poltrona defronte a ela. Ele fumava um charuto fedorento. Os cabelos pouco grisalhos denunciavam que aquele cafajeste tinha meados de 50 anos. Ele olhava Soberba maliciosamente. Seu nome era Steve. Um perigoso mafioso bruxo.

- Soberba, que prazer tenho em vê-la! – disse o cafajeste. – Vejo que hoje seremos só nós dois.

- Steve, o que você quer de mim? – disse uma ríspida Soberba.

- Você sabe que me deve. Lembra quando prendeu o carregamento de veneno de acromântula? Ele pertencia a mim. E quando prendeu o Cicatriz? Foi um belo desfalque em meu time. Além do mais, detestei o seu fora. Agora é a hora de você pagar. Acho que você é uma bela aquisição para o meu harém. – disse Steve num sorriso malicioso.

- Você me paga! Capturou-me para ser sua escrava sexual! Ordinário!

- Adoro mulheres ariscas! E não se esqueça que eu tenho algo aqui que acabará com a sua vida rapidinho!

Soberba antão, viu que faria o papel de escrava sexual. Mas ela tinha uma carta na manga que nem o mais alto escalão da magia sabia. Ela começou a dançar em volta daquele bendito cano. Retirou a blusa jeans e fez aparecer um magnífico pingente que usava. Ele era todo prateado, com três esferas cinzas. Cada esfera vinha de um pequeno fio prata. Soberba pegou o pingente entre as mãos e com palavras inaudíveis, o pingente começou a crescer. Transformou-se num báculo da mesma altura de Soberba. Continuavam as esferas conduzidas pelos fios prateados. As três esferas (branca, cinza e preta) saíam do longo cabo prata do báculo.

- Estupefaça! – bradou Soberba com o seu báculo apontado para Steve.

Uma grande bola vermelha saiu do báculo e fez Steve ficar desacordado. Logo ela se soltou daquele cano. Chegaram mais capangas naquele quarto horrível e cafona.

- Como você se soltou, sua vadia! – disse um dos capangas – Estupefaça.

- Protego! – disse Soberba conjurando uma barreira – E isso é por me chamar de vadia: Bombarda!

O capanga voou longe. Ainda haviam muitos capangas a serem vencidos. E o pior, um mais e fedorento que o outro!

- Você fedem hein? Suas mães nunca lhes ensinaram a tomar um bom banho? – desdenhou Soberba – Acqua!

Uma grande torrente de água saiu do báculo de Soberba, molhando os fedorentos capangas. Porém, eles começaram a pegar pesado.

- Avada... – tentou pronunciar um capanga muito molhado, mas um forte brilho o impediu, deixando-o inconsciente.

Raios vermelhos vinham em direção a Soberba. Ela estava ficando muito zangada. Com um gesto da varinha, ela dissipou os feitiços e numa explosão muito forte, ela acabou com os capangas e com o horrível quarto cafona.
Amarrou os bandidos bem apertados e conseguiu a sua varinha de volta.

- Acho que esse será um ótimo presente de despedida para o General Western! – disse Soberba vangloriando-se.

E ela aparatou em meio aos destroços do quarto.

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